Zack:
Eu não sei bem como começar um livro.
Mas não posso deixar de tentar criar um. Então, vou começar me apresentando.
Meu nome é Zack, tenho 16 anos e bem... Você alguma vez, já teve a sensação de que tudo na sua vida parece ser um grande mistério? Em algum momento, você já parou pra pensar que, tem tantas coisas que não sabemos e que se fossem reveladas, as mais variadas coisas poderiam vir acontecer em suas decisões de vida? Talvez você só seja mais uma pessoa normal que está lendo esse livro, e talvez... Você não esteja entendendo o porquê de eu estar te perguntando essas coisas, ou até mesmo, de te fazendo questionar sobre tudo isso ao mesmo tempo em um único momento. Mas quero que você pare, pense e reflita, será que realmente sabemos tudo de nossa própria vida ou existência? Ou será que simplesmente você aceitou as coisas que lhe disseram, e acreditou naquelas palavras porquê eram ditas por pessoas que você julgava serem confiáveis?
Se mesmo assim você não foi capaz de entender esse sentimento, e se mesmo assim, você não conseguiu entender os pensamentos e conclusões por trás dessas palavras sinceras, ao qual decidi escrever nessa primeira página do livro. Eu tenho apenas um único pedido a fazer a você nesse momento. Leia este livro com atenção, com consideração e a mente pronta para ser desafiada. E não estou falando só por desafios, verdades ou até mesmo realidade. Estou falando sobre pessoas, estou falando de entender que nem sempre seremos iguais a todo o momento, pois a igualdade... É uma grande mentira por trás de palavras doces e meigas que você costuma ouvir. E assim, tendo total conhecimento disso, um dia você poderá mostrar ao mundo, qual sempre foi o seu diferencial, a sua especialidade, o porquê de você mesmo com tantos problemas, ainda sim ser importante para o mundo em que vive.
Por isso eu digo, repito e te aviso, afinal, é minha vida inteira que será contada nesse livro, e ela nunca foi sobre mentiras, mas sim sobre verdades a serem descobertas. Verdades que se eu tivesse tido consciência desde o início, talvez, não tivesse me tornado a pessoa que sou hoje. E está tudo bem não saber de tudo, está tudo bem, você não ter plena consciência das coisas, mas, para que as coisas funcionem, basta você ter a vontade necessária, para querer mudar tudo. E não se engane, você não precisa mudar o universo, o mundo, ou as pessoas. Você só precisa mudar o seu próprio destino, pois quem sempre escreverá ele... Será você mesmo.
[...]
– ZACK, VAMOS RÁPIDO!! VAI SE ATRASAR PRA ACADEMIA!! – Ouço meu pai gritar do andar de baixo – E A PROPÓSITO, FELIZ ANIVERSÁRIO!!
– CERTO PAI, JÁ VOU DESCER! – Grito em resposta.
Que ótimo, é meu aniversário e mesmo assim tenho que ir pra Academia Estudantil de Lafilía, bela ironia. Sinceramente eu não gosto muito de ir para Academia, principalmente porque todos me julgam pela minha aparência. Eu sou meio anjo, meio demônio... É... pois é... Uma longa história.
Ao menos é o que meu pai me contou quando mais novo, ele disse que esse é o motivo também de eu ter marcas demoníacas nos olhos, busto, braços, e enormes asas negras. Sim, tenho enormes asas negras. Grandes e penosas como as de uma águia, mas negras e reluzentes como as de um corvo. Sem falar que são fortes e resistentes, como as de um Dragão. Não sei muito sobre minha origem, a única coisa que sei é que meu pai biológico foi um Anjo de classificação Pura, e minha mãe biológica por outro lado... Uma Demônia de classificação Sombria, mas o que isso significava? Boa pergunta. Minha aparência não difere tanto da dos humanos, tirando meus olhos de anjo que são extremamente dourados, com pupilas rasgadas que imitam as de um predador, e é claro que não podemos esquecer das minhas características demoníacas. Tenho cabelos negros lisos e bagunçados, pele clara, e 1,73 de altura.
As pessoas geralmente não gostam de ficar perto de mim, elas me olham torto, tem medo de chegar perto. Como se estivessem me julgando ou abominando minha aparência, e sinceramente, querendo ou não, eu entendo elas...
Mesmo com tudo isso, eu ainda tenho uma amiga na academia, seu nome é Rafaella, e a propósito, ela é uma demi-humana. Os Demi- Humanos são criaturas bestias humanóides, geralmente carregam com sigo características animalescas em seu físico, desde a caudas, garras, dentes afiados e pelos pelo corpo. E no caso de Rafa, estamos falando de uma Demi-Humana Raposa das Neves. Rafa faz parte do clã das Raposas da Montanha... Ou pelo menos fazia, até o seu clã Inteiro ser aniquilado por causas das quais ela não quis me revelar, ou simplesmente diz não saber. Porém, ela é motivo suficiente para eu querer ir a Academia Estudantil de Lafilía, e só por esse motivo, eu teria um porquê de querer sair de casa e colocar o pé na estrada. Não gostaria de deixa-la sozinha, já que temos algumas coisas em comum. Então rapidamente me arrumei, coloquei minha blusa branca com um trançado dourado no peito, a sobrepondo em baixo do meu casaco de couro preto, em seguida vesti minha calça e coloquei o cinto que meu pai havia me dado de presente no meu primeiro aniversário naquela casa. A fivela era de prata, ornamentada em um formato de asas abertas, calcei meu par de botas de couro, pegando minha mochila e correndo em direção a escadaria para baixo. Rapidamente corri para encontrar meu pai que estava tomando seu café. Aliás, conheçam meu pai adotivo! Um homem responsável e fiel ao reino como fazendeiro, seu nome é Olisses. Uma aparência amigável mas um tanto cansada devido a idade, barba cheia e branca, assim como seus cabelos encaracolados, cheio de mechas brancas onde já foram cabelos negros um dia, olhos castanhos e um grande sorriso no rosto. E agora que estão devidamente apresentados, sem pensar muito, acabo passando por ele, indo direto a porta que me levaria ao lado de fora da casa.
– Até mais pai! Logo estou de volta! – Sem qualquer intenção de parar, já estava puxando a porta, pronto para deixar aquela casa.
– Filho! – Ele me chama atenção sem precisar mover qualquer músculo, e então sou obrigado a parar de imediato, me virando a ele – Não vai comer nada?
– Eu como no caminho! – Volto até a mesa e pego o pão que ele preparou para mim com um sorriso levemente sem graça – Até mais pai!
– Até mais! Se cuide! Sabe do que eu já havia conversado, e te avisado sobre...– Ele se despede ele com um sorriso no rosto tentando me alertar de algo, mas decidiu desistir no momento em que percebeu que já estava longe – Esse garoto...
Podem me dizer o que for, mas eu nunca vou me cansar dessa vista incrível. Constituída por grandes áreas e terrenos gramados, algumas grandes plantações e um céu lindo, esse lugar pode realmente te encantar. A minha direita se encontra o bosque, e a esquerda o celeiro da fazenda, você pode avistar alguns animais, e até vários cercados. A minha frente, uma estrada de chão me guiava, levando-me diretamente ao Reino de Lafilía, onde se encontra a Academia Estudantil do Reino, uma instituição feita com o propósito de educar as crianças e jovens, de modo geral, os filhos daqueles que não pertencem a classe nobre da região. Existem várias academias como essa espalhadas por todo o Mundo Mítico, afinal, veio a se tornar uma lei marcial entre todos os reinos após o período de paz que se instaurou junto aos reis. O objetivo deles é fazer com que pessoas das mais variadas classes, possam ascender carreiras, ou até mesmo, descobrir talentos naturais, com base em um sistema meritocrático e de esforço próprio. Obviamente meu pai é um fazendeiro que não muito rico, e sobrevivemos da nossa própria colheita, venda de ferramentas, agricultura e pecuária. Estava correndo na estrada que me conduzia ao reino, a brisa suave batia em minhas penas, me despertava a vontade que tinha de voar, mas infelizmente, nem tudo são flores. E aqui vai o meu primeiro segredo para vocês, eu ainda não sei voar, quem sabe um dia? Né? Como fui criado por humanos não aprendi a usá-las da maneira correta, pra falar a verdade eu não sei nem quem eu sou direito, então, não é de se esperar que tenha habilidades com vôo, entende? Normalmente eu já teria chegado ao meu destino rapidamente se pudesse usufruir desse meu poder natural, mas acho que vou perguntar para algum senhor pássaro se ele pode me ensinar a voar quando ele estiver ensinando seus filhotes. E... Obviamente isso foi uma brincadeira, não leve a sério.
O dia estava lindo, o céu azul tinha poucas nuvens e curiosamente dois dragões voavam acima de minha cabeça. Pois bem! senhoras e senhores, sejam muito bem vindos ao Mundo Mítico, no caso... O meu mundo! Onde você encontra dragões, seres mitológicos, demi-humanos, ou até mesmo... Um anjo metade demônio. Aqui, o místico é real, a magia se torna fundamental, e o limite é até onde o céu alcançar. Continuando a correr pela estrada que interligava a área rural com a capital, me faz lembrar das mais diversas vezes que pude presenciar criaturas fantásticas, sejam elas grandes ou pequenas. Mas também, me faz lembrar que certo dia, enquanto eu e meu pai trazíamos mercadorias para vender na feira mensal que acontece no centro da cidade, um guarda nos parou e nos alertou sobre um constante ataque de dragões nesta área. E isso de certa forma... Me fez parar de correr um pouco, e pensar que talvez... Só talvez, eu já estivesse caído na armadilha de quem eu havia visto voando há alguns minutos atrás. Uma sensação de perigo tomou conta do meu corpo, senti meus sentidos ficarem alertas. Quando finalmente estava quase saindo do bosque, uma enorme cabeça vermelha saiu de dentro das árvores, e com olhos dourados incandescentes, vi seu focinho bufar. Era uma beleza mortal diante aos meus olhos, aquele era um Dragão Infernal. Ele abriu sua boca, e ali foi dado seu rugido, me atacando sem qualquer hesitação. Estimo que deveria ter no mínimo 5 metros de altura por mais uns 8 de largura, era jovem e ainda estava crescendo. Em seguida, ele me atacou usando sua pata, que me fez voar até uma árvore, e a mesma acabou por partir-se ao meio com o impacto. Sentindo-me zonzo, mas já imaginando que seu próximo ataque seria o bafo de fogo, forcei minha percepção voltar ao normal, pois, qualquer erro naquele momento, e vc poderia me chamar de corvo gigante flambado. Sim, eu estava com medo, mas por puro instinto, coloquei minhas asas na frente do meu corpo. Meu escamoso assassino soltou suas chamas, deixando o clima daquele local extremamente quente, tudo ao meu redor se queimou mas... Comigo nada havia acontecido.
Quero dizer... Aconteceu, mas não o que eu estava esperando. Minhas asas se tornaram rígidas como metal e as penas ficaram afiadas como facas, quase me cortei ao tentar toca-las. Quando ele parou de cuspir fogo minhas asas voltaram a ser macias e leves novamente. O dragão parecia confuso, e eu não o julgava, também estava confuso, nunca me havia acontecido algo assim alguma vez, e se aconteceu eu não consigo me lembrar. Ele decide me atacar novamente, dessa vez com as garras, coloco minhas asas a minha frente mais uma vez, e elas faíscaram quando as garras se chocaram com a metálica superfície que minhas penas haviam criado. Na tentativa de me proteger, arranquei uma das penas, e corri até a sua pata direita que estava mais próxima a mim, cravando a lâmina penosa entre suas falha na armadura de escamas, acertando-o sob a sua couraça. O vi sangrar um pouco, ele rugiu de dor, parecia totalmente assustado, provavelmente não estava esperando essa reação, e novamente ele tomou uma atitude, me atacando mais uma vez, com outra patada, e mais uma vez me jogando contra outra árvore do bosque.
Senti minha visão escurecer, e a última coisa que consegui ver, foi um ser que parecia viver na floresta, aparentava ser metade lobo e metade homem, pulando sob o dragão e o levando para longe.
[...]
Abro meus olhos lentamente, com minha cabeça doendo um pouco ainda após tomar tantas bordoadas. Olhei ao redor, mas aparentemente estava sozinho, e percebendo o quão atrasado estou ao ver a posição do sol, me levanto desesperadamente, e começo a correr em direção a academia mais uma vez, mesmo que ainda estivesse um pouco machucado com o que havia a acontecido..