Dois de Março de 047 - Pós Hecatombe.
Abri meus olhos lentamente, estava tudo confuso em minha mente, eu via apenas relances de algumas luzes fortes e minha cabeça zumbia fortemente.
Tentei me colocar de joelhos, com um corpo relativamente fraco, que respondia mal aos meus comandos.
Olhei aos arredores, e via por destroços por toda parte, haviam fumaças negras partindo de chamas de diversas cores, resultado dos químicos presentes na cidade flutuante.
Caminhei me apoiando em tudo que conseguia encontrar, nada ali poderia me ferir mais do que a própria dita onde de choque.
Na realidade meus sentidos foram gravemente afetados e por isso estava nessas condições.
Tentei levitar, porém estava sem ponto de referência para me equilibrar, estava muito tonto e sentia que ficaria indefeso se voasse significativamente alto.
Sinceramente eu estava com os pensamentos confusos, eu lembro de ver Mary ferida nos braços de Vanessa e em seguida ao olhar para baixo ser atingido pelo o impacto.
Elas estavam a algumas centenas de metros acima de mim, então provavelmente foram menos atingidas e talvez estivessem na circunferência do local.
Minha visão estabilizou aos poucos, e meu corpo estava se recuperando lentamente. Então consegui correr entre os destroços procurando por algum dos heróis.
Finalmente ganhei confiança e peguei impulso voando no ar.
Estava a vinte metros de altura, quando avistei em direção ao sul algumas pessoas em pé.
Me propulsei em direção delas rapidamente, com certa dificuldade eu pousei quase me ajoelhando e cambaleando para o lado, alguém me aparou e ao olhar para seu rosto eu via Marcos com uma expressão preocupada.
"Você está bem?"
"Sim..."
Respondi com certa dificuldade, parecia que eu tinha sido nocauteado por um campeão cruzado de boxe quando tinha um corpo frágil.
Todos estavam lá, ao olhar para o chão eu vi Mary ajoelhada e Vanessa, junto de Zaya e Wang checando seu estado.
Vanessa não tinha me visto chegar, ela deu uma olhada para trás e arregalou seus olhos, veio em minha direção e me abraçou, suas mãos tremiam visivelmente e seu coração batia rápido.
Seus cabelos eram castanhos escuro, e ela tinha um rosto oval, olhos grandes de coloração preta, costumeiramente sempre tinha um olhar meigo porém sua expressão agora era aflita.
Eu a abracei e comecei a dizer sem mesmo pensar duas vezes.
"Está tudo bem, está tudo bem..."
"Eu perdi tudo Iakami, eu perdi tudo!"
Ela caiu em lágrimas e soluços e afundou seu rosto em meu peito enquanto falava, eu não conseguia imaginar a dor que ela sentia naquele momento, perder tantas pessoas sem mesmo ter a chance de retaliar.
"O QUE ACONTECEU PORRA?"
Wang colocou as mãos na cabeça e andava de um lugar para o outro, ele falava desesperado e tinha um olhar psicótico, como todos alí ele não conseguia entender.
"Como não tivemos leituras de uma fenda dimensional abrindo?" Marcos falou de forma nervosa, porém sem elevar o seu tom de voz como os demais.
Vanessa se afastou de mim e olhou para o chão antes de encarar ele e responder de forma genuína.
"Está certo, Mary e eu conversávamos e de repente teve esse ataque e... Não tínhamos leituras, não estava dentro do prazo como isso é possível, tínhamos que prever, essa tecnologia foi baseada nos poderes de Mary, usando minhas habilidades e as de Fernando."
Seu tom de voz oscilava, seus olhos estavam vermelhos, como todos alí ela estava muito suja e tudo isso era uma visão realmente triste.
Zaya cruzou os braços e olhava tudo com olhos desconfiados, ela deu as costas a gente e olhava para as nuvens.
Eu me sentei enquanto respirava fundo, e Marcos foi até Mary ver a condição dela.
A mesma parecia estar em um estado de torpor, não respondia bem quando as pessoas falavam com ela, e seu olhar era morto e estático.
"Mary? Acorde Mary, você tem que nos ajudar..."
Disse Marcos, segurando pelos os ombros e balançando leventemente com um olhar amargo.
"Ela não vai responder, ela é uma empata e milhares de pessoas morreram e provavelmente ela sentiu os sentimentos finais de muita gente ao mesmo tempo."
Marcos a soltou e ficou olhando para o chão como se pensasse em algo, ele então limpou a fuligem de seu rosto
Já Zaya não tinha se mexido e encarava o céu, ela fez uma expressão séria e então disse.
"Prepare-se, a inimigos vindo"
Todos exceto Mary, se alinharam um ao lado do outro, e suas auras douradas explodiram e jogaram poeira para todos os lados.
Zaya estava no meio, e pegou Mary em seus braços e então disse.
"Assumirei a liderança, e cuidarei de dar cobertura e reagrupar vocês durante o combate, irei fazer saltos e puxar vocês caso necessário."
Todos concordaram porque Zaya era uma estrategista nata, seus poderes eram muito mais complexos do que simplesmente correr, e ela sabia aproveitar isso de forma muito eficaz em equipe.
"Wang, vá para os destroços e forge algo para abater aquelas criaturas." Ela apontou e Wang acenou e concordou, com uma expressão feroz em seu rosto.
"Elas estão usando armas?" Naquele momento que Marcos perguntou, os demônios de destacaram das nuvens. Na realidade parecia um enxame de insetos que se comportava como um cardume, eram tantos que dava impressão da nuvem cair no chão.
"Sim..." Zaya respondeu realmente surpresa, porque tudo isso era novo pra ela assim como pra eles.
"Como isso é possível? Pensei que eram apenas os demônios maiores que tinham inteligência para usar ferramentas." Eu não segurei e deixei escapar.
"Pare, hoje foi a prova que não sabemos nada da raça do inferno, não temos o direito de ser arrogantes." Disse Wang me repreendendo na primeira oportunidade que teve, eu simplesmente ignorei e acrescentei algo que não deveria passar batido por nós.
"Tomem cuidado e Vanessa, vimos um martelo tão grande quanto a cidade flutuante desaparecer após o ataque." Eu disse olhando para ela de lado, estava dando essa informação porque era o mínimo que poderia fazer para a ajudar naquele momento.
"Qual seria o nível de poder para ter um efeito igual esse?" Disse Wang de forma franca.
"Ok, Chega de conversa e avançasse pessoal!" Zaya falou pulando para frente e desaparecendo com um barulho estranho, parecia que ela tinha se teleportado mas na verdade ela tinha aberto algo semelhante a um buraco de minhoca.
Todos seguiram as instruções, Wang não exitou e decolou e foi em direção ao centro dos destroços.
Marcos fechou os olhos e começou a sussurrar algo enquanto caminhava para frente com passadas rápidas e então subitamente ficou suas mãos na terra seca, criando cratera em volta dos seus braços.
Eu estralei meu pescoço e respirei fundo, comecei a flutuar para cima, até ficar em um nível aceitável, no ar fiz uma posição de combate.
De cima eu tinha uma visão panorâmica da destruição, haviam pedaços contorcidos de metal por todos os lados e um vórtice estava se formando no centro, pouco a pouco o ar foi esquentando e os metais eram derretidos e iam na direção daquilo.
"Realmente esse cara sabe como dar um show."
Obviamente me referia a Wang, em seguida olhei para Marcos, observando podia se ver o solo em volta dele mudando sua textura, enquanto suas aura dourada diminuia e parecia ir para o chão como raízes.
Enquanto eu olhasse ao redor de mim, de vez em quando veria distorções espaciais aparecendo aqui e ali, indícios do Dom de Zaya.
Respirei fundo novamente, e inspirei no mesmo ritmo, então ergui meu punho fechado na altura do meus olhos, com o outro braço na mesma posição de 90° eu tampei minha cintura.
Uma das minhas pernas foi para trás e fiquei em uma posição como se fosse largar em uma corrida, mantive meu torso ereto e olhava para frente concentrado.
Eu estava no ar e mantinha essa posição enquanto a horda vinha de encontro comigo. Momentos antes do impacto eu fechei os olhos e foquei todos meus sentidos, eu ouvia o bater de asas das criaturas, seu respirar, escutava até mesmo o ronco vindo do fundo de suas gargantas enquanto rosnavam.
Uma criatura alada com uma arma de bronze que se assemelhava a uma lança longa, tentou me estocar adiantando dos demais. Porém tudo que se podia ver era ela entortar como se fosse um fio mole sendo balançado, a criatura não resistiu às vibrações e soltou a arma, quando olhou de volta para mim eu já não estava mais lá.
As criaturas voavam em círculo na posição que eu estava, como urubus, porém estavam relativamente perdidas.
Até que se pode ouvir estalos, tão altos quanto armas de alto calibre, pessoas normais veriam claros dourados antes do som, e os demônios alados caíam igual mosquitos indo para um aparelho elétrico especializado a matar essas pragas.
O estilo principal que eu utilizava, era baseado nos quatro pontos de noves do Muay Boran, joelhos e cotovelos eram minhas armas principais. Eu os usava aplicando energia em pontos minúsculos, e atingia as criaturas a qualquer oportunidade.
Cada golpe não parecia afetar externamente, porém os órgãos internos eram liquefeito com a junção do efeito onda e impacto.
Eu não podia ter um dom próprio, porém minha noção de artes marciais e de como circular energia dourada era refinada a um nível que rivaliza com os cujos ditos.
Eu costumo sempre lutar sozinho para limpar a região do Farol de Alexandria, o que me deu tempo para cultivar essa habilidade técnica a um nível único.
As criaturas tentavam arremessar suas armas em mim, porém movimentos sutis de quadris tornavam esses ataques inúteis. Logo se formou um perímetro estranho a um raio de três metros ao meu arredor, como se eu estivesse preso a um globo da morte.
Minha intenção não era fugir, porém me preocupava quanto tempo eu poderia aguentar já que precisão e letalidade gastavam muita energia física minha.
Os meus golpes eram rápidos e tinham forças por trás equivalente de trens de carga, as criaturas não explodirem já demonstravam o quanto elas eram poderosas.
Logo pude ouvir um estralo da terra, o chão estava se abrindo e eu não podia enxergar direito o que acontecia, porém eu tinha uma ideia.
Aquele era o dom de Marcos em ação, do chão um caule grosso surgiu e cresceu, logo após ele outros surgiram consecutivamente até dar uma dúzia.
Todos tinham vinte metros de altura, e seus caules eram grossos porém tinham uma textura que dava a impressão de parecer estranhamente macio.
Do topo, algo semelhante a uma flor verde se abriu, ela tinha caminhos vermelhos talhados nela, como veias de sangue, e caminhos iguais porém mais finos e delicados em dourado.
Logo um cheiro de sangue se espalhou no ar, e as criaturas do inferno olharam para aquelas coisas, e começaram a se dispersar e ir até o mesmo.
Ao se aproximarem delas, espinhos saíam de cavidades ocultas e as empalavam, e puxava os corpos lentamente de volta.
Os demônios pareciam ter ficado mais estúpidos, apesar deles serem as coisas mais semelhantes com humanos fisicamente que vimos a quase meio século, ainda assim eles tinham um limite claro de inteligência.
As criações de Marcos, pareciam se aprimorar absorvendo o sangue dos demônios, suas carcaças caíam naquela coisas estranhas e lá grudavam em algo pegajoso. Logo depois se podia observar elas sendo digeridas, e do caule vários bolsões misteriosos se formavam.
Marcos finalmente tirou seus braços de dentro da terra e mudou sua posição, e aquele era o seu esquema estranho de combate.
O fervor inicial dos demônios tinha diminuído, porém não abaixei o ritmo de ataque. Aquela horda era extensa demais, e pareciam que eles estavam se espalhando pelo o continente como uma praga viva.
Eu poderia lidar com um número limitado, mesmo que graças ao espaço que eu tinha poderia me movimentar mais livremente e ser mais ativo.
Esse era o principal problema contra grandes Hordas, normalmente utilizariamos soldados normais com armamentos feitos por nossa energia, que aliviaria nossa tensão.
Porém não tinha nada que pudéssemos fazer nesse caso, todos estavam mortos e não podíamos pedir reforços. O certo era diminuir o enxame do inferno a níveis insignificantes e localizar o senhor do Inferno que os liderava, que era a ameaça real que não podia ficar em nossa dimensão.
Enquanto pensava nessas questões, escutei um barulho semelhante a de uma espada cortando o nada, porém ele oscilava como se estivesse mexendo. Logo percebi que eram Centenas desses barulhos, ao observar eu via objetos triangulares que se pareciam bumerangues, mas que eram afiados como lâminas com pontos dourados saindo de seu centro.
Eles voavam em todas as direções, decepando o que estivesse na frente, como vespas sem parar eles atingiam os demônios de todas as formas.
Aquilo era o dom de Wang em sua forma bruta, ele usava sua criatividade para moldar os metais e imbuir sua vontade a eles, isso implica que enquanto ele tivesse energia e tempo, ele poderia criar armas mais poderosas e complexas.
Se ele tivesse premeditado tudo isso, provavelmente ele teria feito armas futuristas de verdade para os humanos, e estaria equipado com o melhor. O mais interessante é que ele pode pegar energia emprestada para forjar desde que tivesse a permissão.
Naquele ritmo as coisas melhoraram para nós, Vanessa estava lutando no ar utilizando técnicas de luta livre, o que resultava em torções e desmembramentos dos inimigos de todas as formas possíveis.
Zaya estava saltando em um perímetro que eu não conseguia rastrear totalmente, porém as criaturas não conseguiam se espalhar como antes graças a isso, toda vez que uma delas se afastava demais ela usava seu dom para criar um efeito onda poderoso que resultava em algo semelhante a ser pego como vítima de acidente carro.
Poderíamos terminar de matar todos esses demônios em uma hora se continuasse assim, havias dezena milhares deles, porém cinco de nós era realmente um poder avassalador.
Mas em um certo ponto escutamos um martelar forte que nos fez perder a concentração momentâneamente, sentimos uma dor aguda na cabeça e ficamos ligeiramente tontos. Parecia metal batendo com metal, era algo que eu já tinha ouvido antes em algum momento da minha vida.
Eu olhei para todos os lados, procurando pela a fonte do som, assim como os outros não conseguia localizar até que houve outro martelar intenso.
Naquele momento enquanto agonizava e tentava não ser pego desprevenido eu me lembrei e gritei para alertar a todos.
"É O SOM UM MARTELO ACERTANDO METAL É O GRANDE DEMÔNIO!"
Porém já era tarde, subitamente uma criatura que parecia uma mistura de corvo e homem, saiu da sombra de Marcos, e de sua mão um martelo de forja surgiu.
A criatura brandiu a arma contra Marcos que foi pego desprevenido, o mesmo foi atingido no estômago com tanta força, que era possível ver a marca exata no abdômen.
Ele foi arremessado para longe, e atravessou duas das suas criações antes de parar cravado dentro de uma terceira já inconsciente.
A criatura viu a cena e sua expressão relaxou e ela parecia rir, tudo que os heróis ouviam era um grasnado de corvo alto, tão alto que podia ser ouvido a dezenas de quilômetros, era de gelar os ossos e seus instintos gritavam perigo.
Toda vez que aquela coisa gargalhava, ela batia o bico como se batessem placas de metal.
A criatura que possuía um olho azul escuro, então liberou sua aura. A energia liberada era negra e azul, se espalhava a partir dele pelo chão e ar como tinta em uma tela branca.
Ele abriu seu par de asas negras, que estranhamente se dividiram em duas como se fizesse Meiose.
Era possível ver um terceiro par de membros, um braço forte segurando o martelo e o outro aparentava estar amputado e ainda ferido.
Aquela coisa era um poder acima de um Duque do Inferno.