Dois de Março de 047 Pós Hecatombe.
Pradaria No Continente Norte Americano.
Marcos tinha se levantado, sua aura no momento era muito mais intensa do que o normal, e isso era consequência de um atributo único seu.
O mesmo estava de frente ao caule da grande árvore, os cipós exóticos os dava um perímetro de defesa ao se mexerem em poderosos arcos no ar, criando nuvens de poeiras escuras naquele mundo frio e morto.
Ou por suposto era isso que ele pensava, o mesmo não tinha ideia do nível de força pertencente a aquele Marquês e não estava confiante de sua segurança.
"Vamos lá, eu preciso dar um jeito nisso..."
Ele pensou, e então ele refletiu sobre sua atual situação.
Suas criações poderiam absorver toda a energia dos demônios mortos por elas e a purificar, os bolsões que cresciam nos caules de suas criações eram justamente isso, uma espécie de bateria com um poder misterioso.
Ele poderia controlar as plantas desde sua estrutura principal e alterar suas características livremente. Sem ter erros genéticos ou coisas similares, desde que tivesse energia suficiente em seu corpo como primeira condição.
A segunda condição era programar as predefinições para sua criação em batalha. Funcionava como um prompt de comando, e ele poderia justamente fazer salva vidas como ocorreu.
A terceira condição era o tempo, além disso se o mesmo tivesse caído longe de sua árvore e não dentro dela, provavelmente ele teria morrido no local por seus ferimentos serem extremamente graves.
Ali na sua frente estava um ser que naturalmente trazia a perversão de sua criação, ele se sentia indefeso e tudo que tinha para ganhar tempo era aquela única árvore com poder concentrado de milhares de demônios mortos.
E a energia deles era absurdamente anormal para o nível, seria difícil até mesmo para humanos com naves com energia dourada lidar com eles.
Ele deu uma breve olhada em Zaya que estava em uma pose de meditação de olhos fechados, em seguida deu um leve sorriso de canto de boca.
Atrás dela, ele via Wang em uma pose semelhante a de um monge. As peças da armadura que ele usava se desprendiam e flutuavam no ar, o circulando e moldando seu tamanho como se fosse um líquido.
Ele então encarou o demônio e falou em voz alta, após ter uma estúpida ideia que contraria as condições de seu dom.
"Se você disse seu nome, perdoe-me porém não o ouvi enquanto tirava um cochilo."
Ele dizia aquilo com ironia, mas ele realmente tinha essa estúpida curiosidade porque se morresse ele saberia quem foi o desgraçado que o matou.
"Malphas, o Marquês armeiro do Inferno e comandante direto de vinte e seis legiões Demoníacas."
O mesmo disse fazendo uma pequena reverência e tendo uma voz verdadeiramente eloquente, porém seus olhos diziam uma história contrária tendo um olhar provocativo.
"Armeiro? Então esse filha da puta é só um ferreiro? E quase me matou com um movimento?"
Marcos pensou enquanto estalava a língua com desdém, ele costumava ser um cara calmo porém o mesmo teve seu ego ferido, ele esfregou a nuca e se alongou enquanto continuava.
"Que seja, então Malphas, meus colegas querem respirar um pouco então vamos conversar um pouco que tal?"
Marcos então fechou os olhos após falar com tom de desafio, após isso a grande árvore que mantinha toda aquela energia secou lentamente, e dela veias douradas quase que instantaneamente se formaram na direção dele.
Sua pele começou a secar e seus cabelos ficaram cada vez mais grossos e longos, após um tempo era como se seu corpo tivesse uma textura de uma oliveira.
Após aquele show, ele tinha uma aura dourada e essa aparência estranha e olhos brilhavam e cintilavam como chamas.
"Escute, está na hora da árvore dar frutos."
Ao falar isso ele apontou seus dedos para o chão e deles cipós saíram e perfuraram o solo, ele então voou para cima até eles se esticarem bem e puxou usando uma força até então nova para ele.
Os cipós acharam rochas ocultas e se entrelaçaram nas mesma, e depois foram puxadas, como uma espécie de um único mangual primitivo.
Ele foi em direção a Malphas quebrando a barreira do som, chegando a distorcer levemente o espaço. Quando estava a cem metros dele, o mesmo contra atacou com um grasnado bizarro, e voou de encontro a ele mostrando suas garras e levando seu braço para trás com o martelo.
O mesmo quando pegou uma boa distância, retraiu os cipós ejetando a rocha para frente como balas de canhões.
O demônio não diminuiu seu impeto e socou a rocha com tanta força, que se não fosse a onda por trás do impacto diriam que era uma bola de terra.
Ele continuou avançando e quando estavam prestes a se encontrar, raízes saíram de seu peito fazendo sons como se algo se quebrasse e envolvendo a besta demoníaca.
A mesma o xingava e quebrava elas sem parar, porém raízes menores se espalhavam e restringiam seus movimentos.
Ele então batia suas asas desesperadamente e o ar cortava Marcos sem piedade, o mesmo gritava de dor porém não parava, o que ele estava fazendo era uma sobrecarga de energia e usando uma fusão temporária com sua última criação e isso o custaria muito.
O pior de tudo foi que ele forçou uma mescla instável de seu DNA, e ele iria ficar quase morto após alguns minutos.
Malphas falava uma língua desconhecida e então uma fumaça estranha começou a sair de suas asas e envolveu os dois homens que subiam no céu rapidamente, aquilo era o poder do tipo maldição pertencente a um Marquês.
Marcos percebeu que sua energia estava sendo minada, como se o tempo passasse mais rápido para ele, os comandos estavam se tornando ainda mais limitados.
Em desespero, ele mudou anatomia de seus braços, formando longas estacas e espetando o demônio sem parar como uma escavadeira, o mesmo reagiu bicando seu pescoço enquanto subia a velocidade de seu vou.
O mesmo apertou e um estalo foi audível, era como uma árvore seca sendo quebrada, e um buraco foi talhado no pescoço do mesmo. Estava uma bagunça, como um tronco velho que tinha uma coloração interna com um líquido vermelho e alguns menores dourados vazando.
Os olhos de Marcos arregalaram de terror e ele começou a perder a consciência, Malphas sorriu e o agarrou com suas duas patas mergulhando no ar.
"Fez muito arlade para alguém tão medíocre, porém não se preocupe que você não é um desperdício... Farei um belo trono em meu novo domínio com seus troncos."
A voz grossa tinha um deboche cruel, e no final da frase gargalhou, ele começou apertar o corpo maltrapilho do homem como um graveto porém antes disso ele sentiu um gelar em uma de suas asas.
Seu vôo vacilou e ele inclinou para o lado, soltando o corpo de Marcos no ar.
Ele batia suas asas com uma expressão distorcida e bufava de raiva e dor, ele olhava para todas as direções procurando seu agressor.
O mesmo estava confiante de lidar com todos, e o irritou que bastou um descuido para eles o atacarem e acertarem seu símbolo.
Ele viu uma das suas grandes e poderosas asas negras despencar.
"Desgraçado apareça!"
Ele gritou aumentando a altitude até chegar em um lugar acima das nuvens, até que da sua frente algo como uma distorção parecendo um funil apareceu e de lá saiu Zaya.
A mesma estava cercada por uma armadura esguia, as fendas pareciam ainda mais finas do que quando Wang a usava, parecia mais delgado e veloz e tinha um brilho perigoso, como se ela fosse uma lâmina viva.
"Você vai pagar por seus pecados."
Após fizer isso ela fez uma posição de corrida e desapareceu, o demônio então começou a rir lentamente.
"Pecados? HahahahaahahaAhaha!"
Algo pareceu mudar nele, o Ódio em seu olhar com lembranças de um passado quase imemorial
"Desgraçados vocês que estão pagando por seus pecados! Hipócritas nojentos!"
Naquele instante, um portal se abriu do lado dele e um braço que estava cercado por uma armadura quase que se assemelhava a uma espada passou quase dividindo seu bico ao meio, ele desviou por pouco.
Ele ergueu seu martelo que naquele momento tinha um tamanho proporcional a suas grandes mão, e o fez crescer instantaneamente contra a mulher.
Ela não recuou, e o efeito onda junto a ela colidiu com aquele martelo gigante, fazia parecer que armas divinas se chocavam.
O espaço dobrava em volta dos impactos e Zaya usava seu corpo como uma própria arma, evitando se chocar diretamente para não ser esmagado de forma brutal por Malphas.
Ela habilmente desviava a trajetória, e tentava reagir em uma abertura nos poderosos impactos.
Zaya saltou novamente e enquanto corria ele definia um ponto para parar, quando ela corria ela podia controlar alvos de seu poder e isso era perfeito para evitar acidentes.
Ela via as imagens como se tivesse em um túnel, essas imagens eram como um retrato bidimensional da realidade que fluía lentamente.
Até que em um dos planos ela viu algo preto distorcido e aquele era o reflexo de seu inimigo, ela curvou seu corpo correndo em sua direção e antes dela colidir com ele, a mesma viu aquela coisa se voltar para ela e ficar tridimensional e pular em cima dela.
Por debaixo daquele elmo triangular que remetia a uma louva Deus, ela fez uma expressão de choque.
Malphas saltou como um predador e o martelo agora tinha o tamanho do seu antebraço, ele arremessou nela, porém ela foi sábia e conseguiu torcer seu corpo para o lado e desviar.
Mas a consequência disso foi uma reação em cadeia que destruiu todo o efeito "buraco de minhoca" de sua habilidade, que desabou como um túnel volátil e instável.
Era a primeira vez que ela vivenciava isso e foi assustador para a mesma, a energia disparou ela sem qualquer equilíbrio no ar junto de Malphas que agarrou sua cabeça com o braço que era igual ao de um humano.
Zaya estava realmente assustada, ela estava dando tudo de si e suas habilidades ainda estavam no melhor estado até hoje por causa da armadura de Wang.
Ela tinha um aproveitamento e controle de energia graças a isso que nunca teve antes, e mesmo assim não foi suficiente para causar danos a aquela coisa.
Isso a fez perguntar quanto energia Marcos absorveu para ferir tanto o torso do demônio e mesmo assim acabou em um estado horrível.
Sua expressão de desgosto e dor era visível, o grande Marquês apertava a cabeça dela como uma águia tentando devorar uma serpente.
"Então é assim que os tais Bastiões da humanidade caem?"
Ele desceu perfurando as nuvens com Zaya imobilizada, ele então pousou com ela abaixo de suas garras, o peso de seu corpo a machucava e a pressão que ela sofria era muito grande, a mesma mal suportava aquilo.
Então Malphas suspirou, passou a mão em seu peito, em seu outro braço humanoide que tinha sido amputado antes mesmo do confronto principal começar, e por fim olhou para sua asa cortada.
"Eu sei que há mais de vocês escondidos, apareçam antes que eu ceife a vida dela!"
O mesmo ameaçou, sua voz não era muita alta, era apenas calma, se espalhando e reverberando por toda a região como um sussurro.
A algumas centenas de quilômetros dali, Vanessa estava ajoelhada com olhos lacrimejantes, ela se levantou olhando para o horizonte e disse para Iakami que cuidava de Mary.
"Temos que ir, você ouviu…"
A mesma falava em um tom ancioso e quase desesperado.
"Não vai dar Vanessa, não temos chances e Zaya nos deixou em um perímetro seguro, ela deu a nós uma chance e ela com certeza já sabia das consequências…"
Iakami simplesmente respondeu de forma quase direta, externamente ele parecia quase insensível.
"Se não formos mais morrerão, melhor nós do que milhões… São pessoas indefesas e eu não acredito que você está me falando isso, logo você não!"
Ela logo retrucou, enquanto andava e esfregava as mãos no rosto, sentindo uma grande agonia e aflição, ela então o encarou enquanto sua voz oscilava.
"Isso é idiota, você pode fugir e ir para longe daqui, não a mais porque ficar."
Iakami se aproximou e tentou segurar as mãos dela, sua voz foi para um tom calmo a tentando persuadir, mas logo afastado e Vanessa ficou muito irritada.
"E o que eu ganharia com isso? Recomeçar em outro lugar? Eu perdi minha vida hoje e derrotar aquilo é meu dever, SEU DEVER TAMBÉM! ISSO NÃO É APENAS RECOMEÇAR!"
Ela tinha um rancor na voz, que oscilava graças ao choro, ela falava gritando e seu rosto estava vermelho.
"Eu não…"
Por um tempo ele ficou em silêncio, ele estava pensando em muitas coisas ao mesmo tempo, ele queria falar algo porém não sabia como ou o que.
"Não importa, nada disso importa, é só pensar comigo, eu sei que não vamos conseguir e vou te perder, pensa isso é óbvio e eu não quero morrer!".
Então ele finalmente perdeu a calma, ele bateu no peito enquanto falava e a encarava, como se não acreditasse na falta de lógica que a mulher que amava tinha.
"Iakami, não há nada para se pensar, não preciso pensar, não devo pensar, preciso apenas agir e você não me escuta! Você tem que me escutar, não ignore o que estou falando e não fale essas coisas."
Ela falou isso apontando com o dedo para ele com olhos vidrados, sua respiração era ofegante e então Iakami entendeu.
"Vanessa, droga…."
Ele relutou um pouco, olhou para ela naquele momento, então pensou em tudo que aconteceu e percebeu que a mulher meiga a qual conheceu morreu junto com a cidade, e jamais voltaria.
"Não fale esse tipo de coisa também, não quando somos o que nós somos… É o maior pecado que poderíamos cometer."
Vanessa então continuou dando as costas para ele.
"Fique, eu estou indo sem você, fique com Mary e garanta a segurança dela."
Ela falou essas coisas com uma voz pesada, seu olhar se tornou triste porém ninguém poderia ver isso.
"Vanessa por favor!"
Já Iakami falou desesperado, ele queria a segurar e dizer, que não a deixaria ir sozinha, que ele queria então ir junto dela mas essas palavras nunca saíram.
Naquele momento eles escutaram alguém falar atrás deles.
"Vanessa tem razão."
"Mary?!" Os dois olharam assustados e correram até ela.
"Se não formos agora nós três, a maioria morrerá e se aquela coisa imbuir sua vontade nesse mundo e criar um domínio, seu nível de poder estará completo."
A Mary não parecia mais se infantilizar enquanto falava, ela foi direta e sua voz parecia cansada.
"Como assim? O que isso significa?"
Iakami não entendia muito bem a dinâmica dos demônios, já Mary graças ao seu dom era a mais apta para compreender seus mistérios.
"Ele não está no seu ápice apesar de ser imensamente poderoso, as barreiras entre dimensões ainda o restringem, porém ele tem força para matar todos nós antes de conseguirmos chegar em um lugar seguro."
Ela continuou a explicar enquanto se colocava de pé, o olhar de Vanessa era ainda mais feroz do que antes já o de Iakami parecia ficar em choque.
"Tem certeza?Como sabe disso?"
Ele perguntava com a voz quase pausada.
"Eu vi, se formos agora a uma chance e se tentarmos fugir ele virá atrás antes de sairmos do continente."
Mary quando estava em situação de combate, era profissional como um médico que deve diagnósticar alguém com algo ruim, ela sabia que era um mal necessário.
"Isso é impossível… Não pode ser Verdade!"
Iakami temia, pela sua vida naquele momento e pela de Vanessa principalmente.
"Iakami pare por favor, você sabe da confiança que tenho em Mary e seu dom."
Vanessa então vendo a expressão do homem, decidiu intervir.
"Ainda a tempo, os outros não estão mortos, eu posso sentir."
Já Mary não dava pausa e tentava os convencer a qualquer custo. Por um momento o homem se afastou das duas mulheres, olhou para o céu e então olhou para onde deveria estar Malphas.
"Então não há jeito, e você consegue lutar?"
Sua voz se acalmou, seu olhar se tornou afiado e o mesmo parecia ter focado no que importava pra ele.
"Minha mente está turva, porém o choque já passou, se sobreviver irei ficar bem…"
Já Mary pareceu se surpreender com essa reação e respondeu apressadamente.
"Então não a jeito?"
Ele perguntou para sí mesmo e respirou fundo.
"Olha, eu sei que essa é uma escolha difícil, eu sei plenamente disso, porém temos que fazer algo e essa é nossa responsabilidade, eu peço a você por favor venha!"
Vanessa não entendia os pensamentos internos do seu amante, ela foi ao seu lado e o pedia ajuda, ela acreditava que o mesmo queria fugir porém não era mais verdade isso.
Ela nunca saberia como a mente dele estava uma bagunça e ele nunca entenderia o luto dela.
"Eu..."
Ele queria dizer algo antes de ir, porém sentiu que seria hipocrisia demais dizer qualquer coisa, então apenas concordou com a cabeça.
Finalmente os três se alinharam e se destacaram no céu, como três flechas douradas.
Eles tinham um objetivo hoje, deter Malphas.