Chapter 26 - 3.8

O homem que estava na sala estava perfeitamente vestido com um casaco azul escuro, com calças pretas e um sorriso no rosto. Sua aparência elegante e refinada condizia com seu status de príncipe, mas não escondia a arrogância que a realeza possui. Digno de ser um dos homens mais bonitos do império, pois seu corpo parecia uma obra de arte e combinava perfeitamente com o ambiente à sua volta.

O segundo príncipe do império Yulard, Aiden Irsen Yulard. O homem que teve vários méritos e conquistas na recente guerra contra Torzik e um dos candidatos ao trono. Ele era um espinho nos olhos dos nobres que apoiavam o primeiro príncipe e é conhecido como ardiloso e astuto por aqueles a quem é próximo.

Ele olhou para Cédric com um sorriso misterioso e mexeu em seus fios loiros brevemente, vendo que seu amigo de infância não mudou nada durante o período de guerra que estavam separados. Embora ele tenha ido ao campo de batalha também e até participado, ele e o Grão-Duque estavam em locais diferentes, sem tempo para se encontrarem.

"Você não mudou nada. Tsc." Estalou a língua, enquanto reclamava alegre da aparência indiferente de Cédric. "Pensei ter dito para parar de me chamar de 'Sua Alteza'."

"E pensei ter dito que não poderia." Respondeu. "Minha educação não me permite fazer isso."

"Se você se importasse mesmo com sua educação, teria se curvado e me cumprimentado direito, antes de sentar e falar comigo." Apontou o príncipe, para o comportamento com um traço de zombaria em seus olhos. "Não me chame mais assim."

"Devo te chamar como, então? Sua Alteza Real, o príncipe herdeiro?" Cédric retrucou, um pouco franzino. Esse amigo dele é o único que pode trazer um lado infantil dele o suficiente para retrucar.

"Me chame de Aiden, apenas." Respondeu. "Ou devo te chamar de Grão-Duque Noir também?"

"Se Sua Alteza quiser."

Aiden assistia a indiferença de Cédric. Parecia que ele podia até ver o mesmo dando de ombros para si. Discutir não o levaria a nada. Contudo, mesmo assim, havia um sorriso contido em seus lábios.

"Tudo bem, então, a que devo a honra de sua presença? Mesmo quando vou te visitar ou requisito, você some."

"Vim discutir sobre o Duque Santos."

"Aquela cobra velha? Não há nada de especial nele. Somente truques baixos que mal podem criar danos. Estou um pouco surpreso por ele ainda tentar estender suas garras para a família imperial. Quanto mais velho, mais ambicioso." Disse o príncipe, relaxado, enquanto falava sobre a principal força de seu inimigo político.

Cédric não falou nada, ele simplesmente abriu seu casaco e retirou uma carta do bolso interno. O papel era branco e de baixa qualidade, era óbvio que era barato e comum, que poderia ser encontrado em lojas plebeias em todo o império. Ele simplesmente esticou seus braços e entregou para Clark.

O príncipe nada disse, mas ergueu a sobrancelha e abriu o papel dobrado. As palavras que estavam escritas fizeram suas sobrancelhas franzirem momentaneamente e depois um sorriso surgiu em seus lábios, escapando uma risada. Mesmo quando ele fazia tais atos, continuava bonito.

"Isso é verdade?" Questionou a veracidade, olhando nos olhos negros de Cédric.

O nobre assentiu.

"Não sei se o chamo de ousado ou estúpido." Abaixou o papel, pondo-o na mesa. Por fim, pegou um pouco do chá preparado e bebeu. "Não, ele é mesmo um tolo. O que vai fazer?"

"Se Sua Alteza permitir, retribuirei o que ele fez em meu domínio." Disse sério, mas Aiden conseguia ver sua irritação. Se ele tivesse saído para a guerra e um idiota teria se aproveitado de sua ausência para fazer bobagens em seu jardim, ele também estaria zangado.

"Não tenho nenhuma objeção. Mesmo se eu disser não, você faria, não é?"

Um sorriso maldoso estava em seu rosto. Os olhos até estavam curvados em meia-lua. De repente, ele estava sério, não havia mais a astúcia habitual em seus olhos. Somente uma frieza anormal.

"Lembre-se, não faça nada desnecessário. Ele ainda é o líder da facção aristocrática e não quero que isso se torne um motivo para ele usar contra mim. Ele pode ser estúpido e com falta de inteligência, mas se ainda viveu até agora, ele tem algo com que confiar. Tome cuidado."

Aquele era o olhar que Aiden colocava quando o assunto tinha maior importância. Embora ele pareça despreocupado, brincalhão com os próximos e malicioso, quando estava lidando com fatos sérios poderia ser considerado assustador por seus subordinados, pois ele poderia usar toda sua inteligência e astúcia para lidar de maneira limpa e eficaz.

É por isso que Cédric acreditava que ele seria um bom governante. Aiden sabe ser responsável quando é necessário e possui princípios morais básicos, o peso de seus status era pesado e, por isso, reconhecia seus deveres. Quase todos da família imperial eram assim, mas ele se destacava entre eles.

"Sim, Sua Alteza."

"Ah, se pelo menos meu pai me permitisse lidar com ele." Aiden suspirou.

Ele há muito queria remover o Duque, mas seu pai não lhe permitia e sempre o advertia para não pensar dessa maneira. Não era como se ele fosse fazê-lo mesmo, ele entendia a utilidade do Duque Santos, já que é sempre melhor ter um inimigo conhecido do que um que não se sabe nada. Mas, às vezes, esse homem era uma pedra no sapato, não causava dano real, mas era um incômodo.

'Bem, não é como se algum dos planos dele fossem dar certo, de qualquer maneira.'

Aiden terminou seu chá, focando-se em Cédric novamente.

"Você já pensou sobre isso? A proposta de meu pai."

Cédric nada falou, apenas o olhou. Aiden logo continuou, pois o Grão-Duque não sabia do que ele estava falando. O homem que era seu amigo de infância só se interessava por poucas coisas.

"O casamento entre você e minha irmã."

"Eu disse não." Respondeu curto.

"Eu sei. Há rumores de como você recusou tal proposta, o que é crível. E eu também tinha confiança que seria assim." Explicou ele, vendo o rosto bonito de seu amigo, enquanto brinca com a xícara em suas mãos. "Meu pai disse que você teria até a Cerimônia da Vitória para lhe responder em definitivo, mas vai que você mudou de ideia."

"Eu não mudarei."

"É uma pena para Elise, então. Ela estava até animada para se casar com você. Ela sempre teve uma queda por você desde jovem." Falou. Lambendo o canto dos lábios e erguendo o mesmo canto. "Eu não queria isso e nem ele. Ele sabia que você recusaria e somente te ofereceu para calar a boca dos nobres. Embora eu não goste da forma como ele está usando sua filha para criar conexão com aquele mercenário, não deixo de admitir que é uma decisão sábia como imperador."

"Eu também acho." Concordou o Noir. Ele não gostava de política, mas tinha que admitir que o imperador era um dos melhores em seu palco.

Cédric levantou-se ao término de suas palavras. O assunto que ele viera discutir já foi feito e ele conversou brevemente com seu amigo. Ainda havia assuntos a tratar, principalmente sobre seu território, cujo ficou longe por algum tempo.

"Já vai?" Indagou Aiden.

"Sim."

"Tudo bem." Aiden assentiu, assistindo Cédric caminhar até e abrir a porta. Mas antes que o nobre desse o primeiro passo, ele falou novamente. "Conheço os motivos para ter dito não. Só espero que eles se realizem. "

Cédric parou e ouviu atentamente a fala de seu amigo. Não disse nada por um tempo, antes de se virar para Aiden brevemente e respondeu-o.

"Eu também." E saiu.

Aiden olhou para a porta fechada e suspirou, pegando a xícara e olhando para o fundo. Ele sabia os motivos para Cédric ter recusado, só esperava que realmente seu amigo pudesse realizar tal desejo. Talvez o desejo dele também tenha se tornado parte seu.

Olhou novamente para a porta e franziu o rosto por ter notado algo somente agora.

"Depois diz que a educação não lhe permite. O bastardo saiu sem se despedir de mim." Reclamou e amaldiçoou-o.

*

O branco puro se estendia por toda aquela área. Pilares de mármore e outra pedra tão branca, semelhante ao marfim. Havia estátuas de homens e mulheres, até animais também, todas espalhadas pelos corredores daquele enorme prédio e seus anexos. Sacerdotes corriam e andavam para todos os lados, enquanto os visitantes também caminhavam com diferentes objetivos em mente, uns para orar, outros para confessar e alguns para visitar um familiar. Os raios de sol que entravam através dos vitrais nas janelas tornavam toda a cena como se fosse uma paisagem em uma pintura a óleo. Era incrivelmente belo.

Brandon observou para a imagem a sua frente, percebendo que realmente fora afetado um pouco pela bela aparência do lugar. Não é de se estranhar, afinal, o próprio templo foi projetado para ter elegância, beleza, uma estética agradável, mas que mostrasse certa imponência. Um lugar digno para se chamar de lar dos deuses e crer neles, pois esse local era considerado uma terra sagrada para todos os fiéis e representa o centro do poder religioso no império por ser a sede.

Ele estava em frente à uma estátua de pedra de um homem com o torso de fora, uma lança e pele de animal como matéria-prima de suas roupas. Esse era o Deus Yuas, um guerreiro que possuía uma força sobre-humana, uma coragem sem limites e um coração indomável; dizem que sua história se remete à uma pequena tribo e que ele era seu melhor guerreiro contra forças estrangeiras. A estátua de tal deus foi erguida porque um cidadão do império foi escolhido por ele, e foi classificado como um Deus Menor por estar no corredor e não ser um dos três patronos de Lucan.

Brandon estava a observando, enquanto pensava na história que o sacerdote que os guiava contou. Ele acompanhou James em sua jornada pela capital visitando os pontos turísticos principais de Aster e depois que almoçaram decidiram ir direto para o templo. Como pensava, as ruas estavam iguais às do comércio, cheias de gente, e um longo muro tão grande quanto a de uma residência de um nobre se estendia por todo aquele lugar. Um portão também estava no centro e aberto, com pessoas entrando e saindo, vestindo as melhores roupas que tinham para mostrar respeito ao entrarem em um lugar sagrado. Isso era o quanto a fé era importante para eles, sempre demonstrada com sinceridade, independente da classe ou status.

O trio havia entrado e um sacerdote logo os acompanhou para mostrar todo o templo, contando as histórias dos deuses, seus nomes e poderes, era fascinante de certa forma. E caminharam pelo lugar até agora, com Brandon na estátua e James e Nott juntos do sacerdote.

"Agora nós iremos até o salão principal. A essa hora deve ter acabado a oração e é liberado para transitar por ali até a próxima sessão."

Brandon foi acordado de seu devaneio pela voz do sacerdote que disse um pouco alto, atraindo sua atenção para eles três. O sacerdote vestia uma túnica verde e roupa bege, com um detalhe representando o deus que ele acreditava, e sua aparência era bonita, com os cabelos castanhos e olhos cor de mel, quase dourados. James e Nott logo concordaram e seguiram o sacerdote, e Brandon também, afastando-se da estátua de um deus.

"Irmão Brandon, o templo não é realmente algo lindo?" James perguntou, meio-afirmando.

Como cidadão do império, James tinha uma afeição por tal lugar igual aos outros. Embora prefira magia e não gosta muito da ideia de viver em prol de uma divindade, ele admirava tais seres que podiam estar acima de tudo no mundo terreno e alcançarem um nível totalmente diferente.

"Sim. Acho também que é bonito."

"Fico muito feliz em ouvir isso de vocês, senhores." O sacerdote falou, sorrindo gentilmente para eles três. "Isso me deixa orgulhoso. O Templo de Lucan é muito mais antigo que este império e mesmo assim continua tão lindo. Às vezes imagino como seria na época que ele foi erguido ou quem foi que construiu tal edifício, ele deveria ser um gênio para fazer algo e ter uma ótima visão."

O sacerdote apontou para uma estátua – uma mulher sentada com uma flor em sua mão e uma coroa de flores em sua cabeça, além disso suas roupas eram simples, como um vestido –, enquanto continuavam. Brandon olhou para a figura, simplesmente focando no sorriso mínimo, mas a paz que havia na expressão ainda era vista.

"Ela é Zéfira, uma deusa com o foco em plantas. Sua história de origem remonta de ter nascido de uma flor que florescia em um lago e que criou vida com as lágrimas de um jovem com coração partido; a história conta como ele a ajudou a conhecer o mundo e ela com sua amizade à consolá-lo. No fim, eles se apaixonaram e quando ele morreu, a deusa conservou seu corpo em cima do lago ao qual nasceu e rodeou o lugar com as flores que ele mais estimava quando estava vivo." Ele olhou para eles. "Sabe por que estou contando isso? É porque essa é a estátua mais antiga. Não é a dos três patronos nem de deuses com ranks mais altos, mas essa. Não sabemos porque foi a primeira, mas algumas teorias sugerem que o arquiteto fosse um escolhido por ela ou fosse o próprio amado."

"E qual você acha que é a certa? Senhor sacerdote." O de cabelos roxos perguntou curioso. Esse assunto também era misterioso e interessante, já que os magos gostavam de saber a razão das coisas.

"Hum… Acho que é a mais provável que ele fosse escolhido. Já que se fosse o amado, deveria ter feito com ela como centro. Se fosse eu, teria feito isso." Ele bateu os dedos no queixo antes de responder.

O grupo se afastou da estátua até não mais vê-la ao virar para a direita e seguir reto, mas o sacerdote continuou a falar sobre a estátua da Deusa Zéfira.

"De qualquer forma, não é curioso o fato dela ser a primeira? Qual seria a razão para o arquiteto genial do templo construí-la primeiro e não os patronos? Eu gostaria muito de saber se estivesse naquele tempo." Um traço de entusiasmo e decepção apareceu em sua voz. "E mesmo que o templo seja chamado de Templo de Lucan, com exceção da sala dos patronos, o lugar que ela está e a sala que guarda é a parte que mais foi trabalhada. Você pode notar se observar atentamente. Mas ainda é tão bela apesar da idade." Um suspiro saiu de seus lábios. "Talvez ele só tenha se emocionado com a linda história de amor dos dois."

O sacerdote terminou calando-se um pouco. Ele não disse mais nada, mas continuou os guiando até o salão principal. Para os devotos, mesmo que não sejam seus deuses, os assuntos que remetem aos motivos de suas origens são importantes e podem carregar peso, afinal, o passado deles podem servir como exemplos de aprendizado para eles.

Brandon ouviu-o e não pode deixar de pensar. É inevitável. Quando se está ouvindo as histórias bem-sucedidas da vida amorosa dos outros e compara com a sua, um gosto amargo surge em sua boca junto a um leve peso no coração. Ele é indiferente em frente aos outros, mas se estivesse sozinho, um sorriso depreciativo e melancólico teria crescido em seu rosto.

'Não pense nisso.'

Balançou a cabeça duas vezes. Ele não podia se deixar abalar pelas suas emoções, ao menos quando estava acompanhado de James e Nott. Não queria preocupar ambos com sua tristeza que estava tentando conter. E nem queria se sentir assim.

Tudo estava bem.

Uma respiração profunda foi feita e a ansiedade que crescia lentamente foi diminuída. No entanto, depois disso, também não conseguiu evitar e admirou a sorte de Zéfira. Ela nasceu e conheceu o amor de sua vida, mesmo que na época fossem desconhecidos, o amante era alguém que ficou com ela até o fim de sua vida. Não teve que conhecer a dor de um coração partido igual seu amado e nem uma escória como parceiro. A história parece como se fossem destinados.

'A sorte dela é realmente ótima. Eu sei que isso é errado, mas estou com um pouco de inveja dela. Também gostaria de ter essa sorte e conhecer um companheiro.'

Um companheiro. Alguém que estava ao lado. Era isso que ele queria.

Nunca acreditou nos contos encantados que sua mãe lia para ele quando criança, mas sempre admirava quando o casal ficava junto frente às dificuldades. Achou que Phillip poderia estar ao seu lado igual a eles, mas o tempo mostrou que havia se enganado. Por fim, ele estava um pouco cínico se poderia realmente encontrar alguém que fizesse isso.

Talvez estivesse somente desiludido por estar ferido.

Contudo, ainda tinha esperança que poderia encontrá-lo.

Era um pouco estranho para ele pensar dessa maneira dividida em dois lados, mas não havia o que fazer. Era complexo. E sentia-se um pouco tolo, era como se houvesse uma luz nele que não se apagava por nada, até aumentando para provar que sua esperança estava certa.

Claro, tudo isso em seu coração, enquanto não havia nada para prová-lo. Tudo que lhe estava era sua única opção: a espera.