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Chapter 102 - Capitão Mckenzie

Desde o momento em que pisara numa quadra de vôlei, Milles desejara ser o maioral. Os mais velhos sempre diziam que ele era talentoso e tinha potencial para jogar profissionalmente, e quando questionado sobre quem seria a sua fonte de inspiração no esporte a resposta sempre seria Jake Mckenzie, o seu primo.

Milles se transferiu para a escola Montreal para ficar perto de seu primo e aprender mais técnicas de vôlei com ele. Os dois se tornaram titulares e conseguiram fortalecer o time ao ponto de alcançarem as regionais. No ano seguinte toda a aura dourada havia se perdido quando Jake deixara a escola e o time.

Imaginava que com a saída de Jake do time, o título de capitão cairia em seu colo graciosamente.

Até tudo ser arrasado por causa de um primeiranista talentoso.

Desde então Milles já havia desistido de ser capitão do time. Odiava ter de admitir o talento natural de Nicolas para tal posição, pois ele mesmo era guiado quando menos esperava. A inveja se transformara em ódio ao longo do tempo, principalmente quando toda a história de seu primo explodira na escola.

Tantas coisas haviam ocorrido desde então, que Milles esquecia-se por completo do desejo em ser capitão. E agora que fora colocado naquela posição, as coisas pareciam bem diferentes do que imaginava.

— Não, Thunder. Precisa ser mais rápido que isso. — Brigava o técnico apontando a prancheta — Você pode confiar no Gabriel pra receber o levantamento. Vamos lá, de novo!

O time estava completamente desorganizado. A vitória que conseguiram na última partida fora um verdadeiro milagre, pois os jogadores estavam perdidos sem Nicolas. Milles até conseguira segurar as pontas em meio a quadra, e recebera o apoio de Gabriel para isso. Mas a vitória fora conquistada em meio a dificuldades e suor.

Não fora uma boa sensação ter ganhado. Logo na segunda-feira após a vitória nas semifinais, Theodore trouxera a má notícia.

— Eles devem ter assistido alguma partida nossa e observado como jogamos. Se são capazes de replicar em quadra, saberão onde se encontram nossas brechas — Explicara Theodore para Milles e o professor de educação física, apontando os papéis que anotara. — O ataque rápido que o Nico costuma fazer com o Gabriel provavelmente é uma técnica que eles esperam que façamos.

— Ou seja, ainda não sabem que o Howard provavelmente não jogará.

— Se souberem, já contarão com a vitória.

Milles suspirava com as mãos na cintura sentindo a cabeça latejar. Iriam enfrentar aquele time mais uma vez, o que já não seria novidade. Entretanto a diferença de forças aumentara com o passar de um ano. O alfa suspeitava que a disputa da final das eliminatórias seria intensa e difícil demais. Principalmente quando sentira o time de Montreal tão desarmoniosa em quadra.

— E o que você recomenda, Theodore?

— Aprendermos técnicas novas. Duas delas, professor.

— Como quer que eles aprendam algo assim em duas semanas?

— É um risco a se correr.

— E quais são as técnicas? — Questionava o novo capitão.

— A primeira seria trabalhar com o bloqueio para obrigar o atacante a jogar pro nosso líbero. Poderá fazer o adversário pensar que está na vantagem enquanto estamos manipulando ele.

— Consigo visualizar isso, mas dependerá da configuração do rodízio e do atacante do adversário.

— Por isso é bom treinar com todos. Já a segunda técnica seria treinar Gabriel para levantar do fundo da quadra, enquanto o atacante já pode estar na frente.

— Do fundo da quadra? O levantamento terá de ser preciso e o atacante terá de ser rápido. — Reclamava Milles.

— Pensei que você fosse o melhor pra isso, já que é o mais rápido que temos em quadra. — Sorria Theodore. — É claro, esse tipo de técnica não poderá ser feita sempre, mas poderá nos salvar de algum sufoco.

As análises de Theodore traziam alguma esperança para Montreal, só que Milles sentia o time desconectado. Durante os treinos nas duas semanas, ele conseguia perceber que as coisas iam de mal a pior. Mexeram nas posições para cobrir a ausência do capitão que joga como oposto, sempre recebendo os levantamentos de Gabriel, sobrecarregando o loiro a treinar tanto o bloqueio quanto o ataque até que os reservas entrassem no ritmo.

— Kim, siga o capitão no bloqueio! Isso!

Todo momento Milles era imitado pelos demais. Era alvo das recepções quando estava no fundo da quadra, o sobrecarregando em mostrar o seu potencial. Justamente por sentir a necessidade em servir de exemplo para os demais.

Falhas eram inaceitáveis.

— Flexione mais os joelhos e jogue os pesos para seus pés, assim o impacto da bola será menor! — Gritava o alfa para o líbero reserva.

A bola fora em direção do primeiranista que treinava na posição do libero, e mesmo esperando o impacto ele ainda caíra no chão logo após erguer a bola. Enquanto Gabriel corria para levantar a bola e outro jogador fazer o ataque, Milles fora até o primeiranista ajudá-lo a se levantar.

— Tá de boa?

— Vou ficar bem, obrigado.

Dando tapinhas nos ombros do garoto, Milles voltava sua atenção para a quadra onde a bola já retornava à toda velocidade.

— Vão precisar ser mais fortes do que isso. Sabemos que o adversário é bastante observador então não podemos mostrar nossas fraquezas. — Orientava o técnico cruzando os braços.

Quando o apito soara mais tarde dando intervalo no treino, Milles encostava-se na porta do ginásio bebendo grandes goles da água gelada. Suas pernas doíam assim como suas mãos estavam vermelhas de tanto que batera na bola. A adrenalina ainda corria por seu corpo, deixando-o preparado para a ação.

— Milles, precisa guiar melhor os meninos do primeiro ano. Quando você os orienta em quadra conseguem jogar melhor. — Explicava o professor, apontando na prancheta os jogadores em questão. — Não vou arriscar colocá-los no jogo, mas se for necessário substituição quero que estejam prontos. O que acha que pode fazer por eles?

Um arrepio passara em sua espinha.

O que deveria fazer?

— O que eu posso fazer por eles?

— Você deve ter algo em mente, já que é o capitão. Nessa partida, o time é seu afinal de contas.

Engolindo em seco o alfa sentira um nó se formar em sua garganta. A verdade era que não fazia a menor ideia. Os meninos do primeiro ano tinham a energia necessária para jogarem, mas precisavam se acostumar com as regras do esporte. Não conseguiam se mover a tempo e se distraiam facilmente. Mas como poderia trabalhar tudo aquilo com eles em meio a uma partida?

— Pensarei em algo.

— Amanhã quero esses meninos já treinando diferente, hein.

— Sim senhor.

Bagunçando os cabelos, Milles reprimia o grito. A sensação de não saber o que fazer era congelante e horrível. Virando a garrafa contra a boca, bebera mais um grande gole d'água. Estava cansado, já que passara boa parte da noite anterior lendo sobre algumas técnicas novas para aprender. E ainda tinha que estudar para algumas provas e fazer trabalhos...

Milles estava prestes a chegar em seu limite.

Adentrando no ginásio novamente, o alfa percebia sua irmã conversando animadamente com Gabriel e os outros meninos do time. Recordou-se do amigo irritado dias atrás por causa de Sadie, e o loiro só pode suspirar ainda mais fadigado.

Ainda tinha que lidar com aquela situação.

— Milles, chega mais! — Acenava Boyle com um grande sorriso.

Respirando fundo o alfa fora até a pequena roda de amigos, contando carneirinhos para manter a calma. Desde quando seu humor estaria tão oscilante? Provavelmente seria fome, não havia levado nada para comer aquele dia. Saíra tão atrasado que também esquecera alguns livros.

— O que tá rolando?

— Estávamos pensando em sair pra comer mais tarde. O que acha?

Franzindo a testa, o alfa encarava os demais rapazes seriamente.

— Sair pra comer? Hoje é quinta.

— Por isso mesmo.

— Depois de amanhã temos uma partida. Final das eliminatórias, caso não saibam.

— Ih, qual foi? A gente ganha fácil.

Os punhos cerrados tremiam. Revirando os olhos, Milles soltara um riso incrédulo que não se acalmara mesmo recebendo um pequeno conforto de Gabriel.

— Ganhar fácil? Só se for da quinta série. — Rosnava o alfa. — Estamos uma bosta.

— Da onde cara? O técnico elogiou a gente.

— O time que iremos enfrentar é mais forte do que vocês imaginam. Sempre foram para as regionais e conseguiam se posicionar bem no ranking. É contra eles que iremos jogar.

— Milles, sei que está estressado com a partida, mas vamos sair só pra relaxar. Do que adianta jogar pilhado desse jeito?

O olhar afiado que Milles lançara para Sadie a fizera empertigar. Não estava apenas pilhado, e muito menos seria por baboseiras.

— Desde que virou capitão você mudou — Acusara Thunder cruzando os braços. — Tá se achando demais.

— Fala isso de novo e arranjo mais um motivo pra tu ficar no banco.

— Olha gente, eu tenho que concordar com Milles. — Intervinha Gabriel empurrando suavemente o ombro do alfa loiro para afastá-lo de Thunder. — A partida de sábado é muito importante e a gente deve descansar.

— Qual foi, galera? É só um jogo. Qualquer coisa ano que vem a gente recupera.

Soltando um riso alto, Milles balançava a cabeça incrédulo. Queria dizer poucas e boas, queria lembrá-los de que não existia uma próxima vez. Entretanto algo o lembrava de que seria o mesmo que conversar com uma parede. Perda de tempo.

— Quer saber? Foda-se. Quer ir festar até o amanhecer, faça. — Virando pra irmã, Milles rosnava. — Ouviu bem? Faça.

Dando as costas para o grupo, Milles bagunçava os cabelos rosnando alto.

— Acabou o intervalo, vamos treinar! — Gritara em seguida, batendo palmas para chamar os demais atletas.

Enquanto os meninos se arrastavam para a quadra, Milles inclinara a cabeça para trás fitando o teto. Precisava manter a calma. Era o capitão que precisava manter o time unido e jogando em sincronia. Não existia possibilidade alguma de ele perder a compostura no treino em véspera de final.

— Milles, tá tudo bem? Tá precisando de alguma coisa?

Virando-se para Gabriel, o alfa negava com a cabeça.

— To tranquilo, valeu cara.

— Vá pra casa descansar depois do treino. — Avisava o moreno, apertando seu ombro. — Dormir, sacou? Seja lá o que tem tirando o seu sono, deixe pra resolver depois.

Concordando com a cabeça sem energia alguma para rebater, o alfa se unira ao time retomando o treino. E assim como ele havia notado, o time estava completamente desorganizado. Horas depois, quando o treino do dia se encerrara, o técnico tornara a avisar Milles de que o dia seguinte precisavam melhorar cem por cento.

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