Arrastando-se para casa, o alfa nem tomara ducha no vestiário. Queria apenas se jogar na cama e dormir. Será que ele poderia faltar aula e aparecer pro treino? Era uma hipótese.
Quando passara pelas portas de casa, Milles vira sua família reunida na sala com sorrisos estampados no rosto. Chegara a olhar em volta tentando encontrar uma rota de saída onde não fosse avistado, mas as chances eram nulas. Assim que dera um passo, seu pai o chamara com a mão.
— Meu garoto, estávamos discutindo algumas coisas. Por que não se junta a nós?
Apertando a alça da mochila, Milles se arrastara até a sala sentando no estofado mais afastado dos demais. Jogando-se no estofado sentia todo o seu corpo latejar desconfortável, sendo imediato o peso de seus olhos para se fecharem.
— Ah que fedor. Não tomou banho?
— Estava treinando até agora, não enche.
— Sou sua mãe, olha o respeito.
— O que queriam? To muito cansado pra discutir baboseiras.
— Estávamos vendo com sua irmã o presente de aniversário dela. — Dizia o pai, acariciando os cabelos escuros de Sadie. — Havia dito que queria uma viagem ao invés de uma festa, não?
— Sim, papai.
— E já escolheu o destino?
— Quero conhecer a Disney. Não seria fabuloso a gente ir até Orlando? — Sorria uma Sadie animada.
— Poderíamos ver como os hotéis americanos funcionam...
— Não vale! É uma viagem em família, para nos divertirmos e não trabalhar.
— Certo, certo, tudo pela minha garotinha.
— Não to afim, agora posso ir pro meu quarto? — Reclamava Milles sem conseguir aguentar a dor de cabeça que começava a incomodar.
— Milles, por acaso está sendo rebelde?
— Isso é coisa de criança, por que raios eu iria pra Disney?
— Por que é o meu presente de aniversário!
— Então vá sozinha! Tenho coisas mais importantes do que ficar te acompanhando pra cima e pra baixo.
— Como o quê? — Perguntara o pai engrossando a voz, como sempre fazia quando sua autoridade precisava ser notada pelo filho mais velho. — O que você tem de tão importante para não querer ficar perto de sua família?
— Um campeonato, vestibular, escola, essas três coisas já são o suficiente para roubar meu precioso tempo.
— Se estivesse estudando para cursar algo que preste eu até compreenderia. Mas se dedicar a algo que não vai dar frutos, é perda de tempo. — Respondia o alfa pai. — Podemos aproveitar a viagem para que você faça um curso rápido sobre negócios. Poderá me suceder e então...
— Perda de tempo é você tentar me fazer ficar preso atrás de uma mesa. Não to afim.
Levantando-se sem continuar escutando as reclamações de seus pais, Milles seguia para o seu quarto no segundo andar da casa. Tirando os tênis e os chutando pro seu quarto, arremessara a mochila para um canto qualquer bufando cansado. Sua cabeça doía incansavelmente, e seu corpo latejava.
Queria dormir.
Pelos céus, só queria dormir.
Mesmo estando no seu quarto, o alfa não tivera sossego. O cheiro adocicado revelava a presença de Sadie na porta, o olhando com aqueles olhos entristecidos como sempre fazia quando não conseguia algo desejado.
— Milles, não precisava falar daquele jeito com os nosso pais.
— Pode sair do meu quarto? Não to com paciência pra conversar.
— Eu entendo que se sente pressionado agora que é capitão. Mas não estou falando que abandone tudo pra ir viajar com a gente.
— Você não diz isso, mas é o que o nosso pai diz. — Reclamava o alfa virando-se para a irmã. — É bem besta de acreditar que ele vai ficar sem fazer nada enquanto você se diverte em um parque cheio de princesinhas.
— Tudo bem, admito que nosso pai é bem óbvio com as intenções de te arrastar, mas eu posso te ajudar. Poxa é um momento em família, e faz anos que a gente não viaja junto.
— Sadie, eu to no último ano da escola. O professor Marcos já avisou que tem olheiros na porra do campeonato e eu quero jogar profissionalmente. — Murmurava o alfa, controlando-se ao máximo para não explodir com sua irmã. — É a minha única chance. Então não fode.
— Vocês vão ganhar, não precisa se preocupar. E a viagem nem vai durar muito, podemos voltar antes do campeonato começar.
Rindo incrédulo o alfa apontava para a irmã.
— Você vai voltar. Tenho certeza de que a mísera brecha que eu der pro velho, ele vai me arrastar pra vestir um terno e gravata pra ficar participando de reuniões.
Depois de encostar a porta, Sadie aproximou do irmão segurando seu rosto com ambas as mãos. Sempre fazia aquilo quando desejava ter toda a atenção sobre ela, e Milles não conseguia fugir.
— Eu te prometi que te ajudaria a seguir seu sonho, Milles. Eu vou suceder os negócios e você estará livre pra jogar nas olimpíadas.
— Sabe que o nosso pai quer que um alfa o suceda. E tu é uma ômega.
— Isso é algo que eu vou cuidar. Já encontrei o alfa perfeito que o papai vai gostar. E então ele vai largar do seu pé.
Um arrepio passara pelas costas de Milles. A determinação brilhava intensamente naqueles olhos castanhos, e o alfa não gostara nem um pouco da ideia que passara em sua cabeça. Segurando as mãos de Sadie, Milles sorria de lado.
— Não me diga que está pensando em arrastar aquela pessoa pra essa merda, está?
— Inteligente, bonito, responsável e alfa. Gabriel é a pessoa perfeita pra eu me casar e herdar os negócios do papai.
— Puta merda. Sadie, nem pense.
— Gabriel pode ajudar a nós dois.
— Isso é ridículo, mais fácil você ficar com o Thunder.
— Eca! Por que eu ficaria com ele? — Reclamava a garota fazendo careta.
— Diferente do Gabriel, o Thunder gosta de você.
— É só uma questão de tempo. Se aquele Theodore não estivesse roubando toda a atenção por causa do concurso, eu poderia ficar com Gabriel de novo.
O alfa se sentara na cama olhando a irmã que sorria brilhantemente. Estava motivada a conquistar Gabriel ao ponto de não enxergar o que era tão óbvio? Havia pensado que os rumores tivessem sido claros de que o aluno novo já tinha escolhido seu ômega, e não era ela.
— Sadie, pare com isso. — Dissera Milles apoiando os braços sobre os joelhos encarando a irmã seriamente — Pare de correr atrás do Gabriel, ele já gosta do Theodore.
— Não quero que se preocupe com isso, maninho.
— Você está fazendo papel de ridícula. As pessoas vão ficar dando risada de você. Não quero ver minha irmã agindo feito uma megera.
— Eu não fiz nada de errado! — Reclamava a ômega fazendo beicinho infantilmente. — Olha, tudo isso é só uma coisa do momento. Gabriel vai saber que Theodore não é a pessoa certa pra ele.
— O Gabriel não é a pessoa que você imagina ser — Respondera o alfa, mantendo o olhar atento sobre a irmã. Mal piscava. E então, Sadia saberia o quão sério estava sendo sobre o assunto. — Ele não é gentil. Existe um lado do Gabriel que você nunca viu.
— E você viu por acaso? Acho que só está colocando medo em mim.
— Acredite Sadie, eu já vi. Até mesmo o Nicolas viu e ficou com medo. Se nós dois, que somos os mais esquentados da escola toda, dissermos que Gabriel não é pra brincadeira... É porque ele não é. E eu não vou ser capaz de te ajudar, porque ele me assusta quando tá daquele jeito.
Sadie ficara em frente ao irmão, apoiando a mão em seu ombro dirigindo um sorriso amável. Ou penoso, sua irmã não perderia tempo em ridicularizá-lo tão discretamente.
— Mais um motivo para ele ficar comigo. Serei a única a domá-lo. Não se preocupe maninho, eu tenho um plano. — Piscando para o alfa, Sadie afastou-se indo para a porta — Vou te acobertar sobre a viagem, mas terá de ficar sozinho aqui em casa. Lidará bem com a saudades de sua amada irmã?
Erguendo o dedo do meio para ela enquanto Sadie passava pela porta, Milles finalmente ficara sozinho em seu quarto. Jogara-se na cama resmungando da cabeça que latejava ainda mais. Tentara o seu melhor em avisar Sadie sobre Gabriel, até pelo bem dela, mas falhara miseravelmente. Para piorar, ela parecia ter um plano em mãos.
O que raios ela iria aprontar? Precisaria descobrir antes que a bomba estourasse. Seria melhor se Gabriel simplesmente contasse a ela que Theodore era sua alma gêmea. Quem sabe daquela maneira Sadie deixaria-o em paz.