A sexta-feira finalmente chegara para aqueles que continuaram suas vidas medíocres. A rotina de treino continuara mesmo com a ausência de um dos levantadores, surgindo cochichos pela escola toda justamente quando outros dois ômegas também se ausentaram.
Dois ômegas em evidência.
— Com certeza Gabriel está com a Sadie. — Dizia Fabiana, uma das amigas de Sadie, na roda de amigos durante o intervalo. — Ela vive se gabando que ele cuida bem dela, então é provável que estejam juntos.
— Mas o Gabriel tem estado próximo daquele cara do segundo ano também. E se ele é um ômega, pode ter seduzido.
— Ele sendo um alfa não se deixaria levar por essa baboseiras. Gabriel é forte, com certeza deve ter ido com Sadie. Não é Milles?
Bebericando um refrigerante sem ter opinado até então, o alfa loiro erguia a cabeça abrindo um sorriso ladino para os amigos.
— Sinto muito, mas pouco me importo com as fodas da minha irmã.
— Que canalha — Resmungava Fabiana.
— O canalha com quem já dormiu, nunca se esqueça.
Fora a vez da garota em dar um sorriso malicioso, ignorando o loiro em seguida para voltar a conversar. Um outro garoto da roda de amigos tornara a questionar o alfa.
— Mas você realmente não faz ideia com quem Gabriel está passando o cio?
Era óbvio que ele sabia, Milles havia concordado em ajudá-lo com sua ausência na próxima partida. Sendo extremamente coincidência que Sadie também estivesse naquele estado. Como um alfa, Milles tivera de dormir no sofá de sua casa para ficar longe do cheiro de sua irmã. Não que fosse se excitar, mas a mordida o incomodou até que estivesse longe o suficiente dela.
Geralmente nunca se incomodou com os períodos de cio de Sadie, assim como ela nunca reclamara dos seus. Cada um resolvia de sua maneira sem que o outro se intrometesse. No entanto, Milles havia sido mordido e qualquer ômega que exalasse o seu aroma natural fazia seu ombro direito formigar.
Era como um sinal de alerta o lembrando de que já havia sido dominado por outra pessoa. E que essa pessoa estaria o vigiando na rédea curta.
Apesar de que o dono daquela mordida parecia completamente desinteressado em Sadie.
— Estão querendo passar o cio com ele por acaso? — Brincara o alfa, voltando a mexer nas rodinhas do seu skate fingindo desinteresse.
— Você não presta atenção em sua volta não? — Brigava Boyle, ganhando os olhos castanhos enfadonhos do alfa. Não gostava quando alguém crescia pra cima dele, principalmente alguém fraco. Ainda assim, Milles não dissera nada — Muita gente tem comentado que o Gabriel também seria gay já que tem ficado sempre de abraço com aquele cara.
Milles já imaginava aquilo.
— Ouvi uma galera do primeiro ano dizendo que até você não tem mexido muito com aquele cara porque ele está de caso com o Gabriel.
O alfa queria rir tamanha coincidência. Estava sendo vigiado de perto, por acaso? Pois não haveria outro motivo para Milles ter deixado de perturbar Theodore, e até ter pedido desculpas pelo que fizera em até então. Apenas porque seu melhor amigo gostava dele, e também...
Sua atenção fora capturada quando o baixinho encolhido no moletom passara pelo pátio ignorando sua presença, como sempre fazia. Nicolas seguiria para o corredor onde esperaria a sala ser aberta, e ficaria intocado lá até a hora de ir para o treino. E sim, ele sabia daquilo tudo já que o vigiara toda essa semana enquanto Theodore estava ausente.
Ora essa, queria saber o que o baixinho mal-criado fosse fazer na ausência de seu único amigo. E era deprimente vê-lo calado.
— Se tu prestar atenção, vai ver que a escola está ficando maluca com essa história. Tem meninas torcendo por eles.
— Credo...
Revirando os olhos, o alfa levantou-se segurando o skate e deixando o grupo de amigos no mesmo instante em que o sinal tocava pelos alto falantes. Durante o trajeto para a sua sala, percebera que realmente algo havia mudado.
Desde o momento em que a história do orkut começara, alguns estudantes pareciam compreender melhor Theodore e até a conversarem com ele. O problema em si não era a sua popularidade crescente, mas a curiosidade que todos sentiam.
Era verdade de que ele e Gabriel tinham algo?
Apesar de saber o que estava acontecendo, Milles não conseguia ficar completamente feliz. Isso é, já que havia outro nome na boca dos fofoqueiros de plantão, e era o de sua irmã.
Sadie poderia ser mimada e chata, como uma caçula deveria ser, mas ainda assim era a sua irmã. Seu sangue. Sua família.
E Milles sabia que ela estava completamente encantada por Gabriel. Se ela ouvissem os rumores que começaram a circular desde a sua ausência, com certeza ficaria chateada e choraria. Afinal, Gabriel não estava em sua casa.
O que poderia fazer para ajudá-la a não ser prejudicada pelos rumores? Ao mesmo tempo que pudesse acobertar o seu melhor amigo?
A resposta não viera em um passe de mágica.
— Ei Mckenzie, qual a sua última aula hoje?
Depois de ter entrado na sala, Milles virou-se para a porta da sala onde um dos colegas de time falava consigo aos gritos, o alfa logo respondera no mesmo tom.
— Biologia, por quê?
— O técnico pediu pra gente se reunir mais cedo, pra treinarmos com o levantador reserva. Pode falar com sua professora?
— Claro.
Sentando-se em sua carteira logo baixando a cabeça para fingir dormir, Milles ainda pode escutar os seus colegas de classe comentarem sobre os rumores. Mais um capítulo da tal história havia sido publicado na noite anterior, o que já não era novidade.
O problema era outro.
Alguém publicara uma foto na mesma comunidade.
Uma foto tremida, mas que era possível de ver dois garotos andando de mãos dadas pela rua. O uniforme era similar ao de sua escola, Montreal, e os garotos tinham cabelos loiros e o outro castanho escuro. Apesar de ser impossível identificar as pessoas da foto, não deixava de ser semelhante a Theodore e Gabriel.
Milles até queria matar aula e ficar em casa só pra evitar ouvir as fofocas sobre seu melhor amigo. Porém, desde que Theodore se ausentara, Nicolas ficara sozinho.
E se o capitão rabugento fizesse alguma coisa, aproveitando-se de sua ausência? Ou pior... Se alguém tentasse algo com ele...
Foram tais pensamentos que obrigaram Milles a levantar da cama naquela manhã.
Quando a última aula estava prestes a começar, Milles já havia conversado com sua professora de biologia e se retirado da sala para ir até o ginásio. Não se sentia animado para treinar, parecia que seu dia estava entediante demais.
A escola estava chata demais, faziam dias.
— Que cara de bosta, hein grandalhão!
Erguendo o rosto para o baixinho parado na sua frente em meio ao corredor, Milles surpreendia com o suor surgindo em suas mãos. Nicolas com seus ombros curvados e olhos flamejantes pareciam se encontrar no estado de espírito completamente oposto ao seu.
Nada bom.
— Qual foi? Veio me buscar?
Nicolas abria um sorriso ladino ao dar as costas para ele, sem antes de inclinar a cabeça sobre o ombro e lançar aquele olhar feroz.
— Só queria ver se sabe seguir o seu dono obedientemente.
Um riso ficara preso na garganta de Milles.
Chata? A escola? Quando se havia um capeta como aquele o infernizando? Como poderia pensar daquele jeito?
Não mais.
Desde o momento que aquele maldito baixinho o mordera, as coisas já não eram como antes. Só que isso não significava deixar de lado a sua competição pessoal. Apressando os passos, Milles ultrapassara Nicolas para andar de costas e lançar seu charmoso sorriso.
— Por que caralhos um pinscher está fingindo ser um pit bull? — Zombava o alfa observando o capitão continuar a lhe sorrir de lado. — Se continuar latindo desse jeito, vai se tremilicar todo.
Nicolas parara de caminhar enfiando as mãos no bolso, estalando a língua já irritado.
— Filho d'uma puta.
Antes que uma mochila fosse arremessada em sua direção, o alfa disparou pelo corredor até o ginásio. De maneira alguma poderia reclamar sua vida estava entendiante. Não quando tinha um certo ômega mau-humorado sempre no seu pé.
Encher a paciência de Nicolas era revigorante e excitante, pois, ele sempre respondia furiosamente. Para os demais colegas de time a interação era rotineira, sem grandes novidades. Certamente o que era novo seria partilhado secretamente entre um alfa e um ômega.
Ninguém mais entraria no mundo deles.
Talvez fossem essas aparências que os meninos mantinham que dispersaram os rumores sobre Gabriel. Pelo menos em quadra. Se o próprio Milles parecia tranquilo, então por que os demais deveriam se preocupar?
No final das contas a resposta que ele queria viera naturalmente graças ao seu capitão.
O treino fora intenso para deixar o levantador no mesmo nível que Gabriel. Milles e Nicolas tiveram de trabalhar bem com o reserva, compartilhando dicas e combinando sinais para se comunicarem durante as partidas. Concentrados para a próxima partida no dia seguinte, Milles mal vira o entardecer quando o técnico finalmente soara o apito finalizando o treino.
Os jogadores seguiram para os vestiários, preenchendo o ambiente com a mescla de odores. Antes era um dos primeiros a tomar uma ducha pra se mandar da escola, tendo agora Milles sentando-se no banco próximo do primeiro box das duchas, mexendo no celular.
Só teria de ficar ali até Nicolas tomar o seu banho, e assim esconder o seu cheiro com o do alfa. Um cuidado que passara a ter sem ao menos perceber, mas que lhe rendia um tempo de descanso do treino.
— Eaí Bruno, tá nervoso em ter sua primeira partida?
O garoto Bruno era do primeiro ano e um tanto quanto tímido, mas que sorria para os veteranos educadamente.
— Aham... Fico com medo de errar algum levantamento pro capitão. Gabriel faz parecer algo tão fácil.
— Relaxa, qualquer coisa levante só pro Milles e tá tudo certo.
— Oh não, eu não ousaria. Tenho medo do capitão.
Os meninos que conversavam no outro corredor dos armários riam escandalosamente. Milles suspirava pesado sem desgrudar os olhos do celular enquanto escurava a prosa. Não que estivesse bisbilhotando, eles é que falavam alto, é claro.
— Mas vocês perceberam que o capitão está bem quieto esses dias? — Comentava Boyle um pouco mais baixo, mas não tanto. — Se o Theodore faltou por causa do cio, ele não deveria ter ido junto já que estão namorando?
— Eles estão namorando? — Questionava Sam curioso.
— Já que estão sempre juntos... E o Thunder disse que viu eles ficando um dia desses. Então não faz sentido que o Nicolas esteja por aqui quando o ômega dele tá no cio.
A mera menção ao dito nome fora capaz de desgrudar a atenção do celular para ouvir melhor a conversa.
— Ele deve ter levado um fora. Ou não dá conta do recado ou o viado arranjou outro pra foder ele. — Esbanjava Thunder tirando a camisa e a jogando pra dentro do armário. — Essa gente é rodada demais.
O ombro direito formigava e sua intuição parecia inquieta. Franzindo as sobrancelhas, Milles não se movera.
— Ei fala baixo, o capitão pode nos ouvir.
— Que escute! Isso só mostra que ele não é tão machão como finge ser.
— É engraçado escutar isso de alguém que lambe o salto de uma garota que também está cio, mas que não o convidou pra festa.
Lentamente Thunder se virou para encarar Nicolas, que estava ainda de uniforme de educação física apesar de segurar sua toalha. O atleta soltara um riso em escárnio ao se aproximar do capitão mais baixo.
— Tá querendo insinuar o quê? Que sou como você?
— Gostaria de ser como eu? O que fazer... Seu nível é bem baixo que não deve prestar nem pra pagar o boquete de um garoto de programa.
O rosto de Thunder avermelhou-se tal como o diabo, tamanha a sua fúria. Apontando o dedo cutucando o ombro do capitão, o atleta não guardara as palavras espinhosas.
— Um alfa jamais chupará um moleque ômega. São nojentos.
— Como sabe? Já fez? Uou, sempre te achei virgem... Estou surpreso.
As risadas abafadas no vestiário culminaram na fúria do alfa segurando Nicolas pelo colarinho e o empurrando contra os armários. Mesmo que os olhos de Thunder estivessem arregalados e vidrados sobre o ômega, o capitão não desfizera de sua calmaria. Certamente irritara ainda mais o outro.
— Já to de saco cheio de suas palhaçadas. Pode ser o capitão do meu time, mas não significa que eu tenho que baixar a cabeça pra você.
— Ah, por quê? Justo quando eu pretendia te fazer beijar o chão.
Segurando com força o pulso de Thunder, Nicolas conseguira se soltar facilmente. Porém, não seria o suficiente para ele sair sem fazer mais nada. Não quando se tratava de Nicolas Howard. Passando o pé sobre os tornozelos de Thunder, o fizera perder o equilíbrio para ficar de joelhos na sua frente, ainda segurando firmemente o seu pulso.
— Isso mesmo, desse jeito. É assim que gente como você deve ficar perante os mais fortes. E veja só que alfa patético é você, Thundercats. — Aproximando o rosto ameaçadoramente de Thunder, os olhos escuros esbugalhavam medonhamente. — Recolha-se na sua insignificância, seu verme de cemitério.
Soltando do rapaz, Nicolas erguera o olhar para os demais atletas que se aglomeravam no corredor para ver a discussão. Aqueles que eram considerados os mais ajuizados se dispersaram assim que aqueles olhos injetados passaram por suas direções.
Dando as costas, Nicolas voltava a pegar alguns pertences em seu armário quando ouvira a última cartada de Thunder. Mesmo coberto em sua própria covardia.
— Tudo isso é raiva por não ser escolhido pra uma foda, Nicolas? Por acaso foi rejeitado pelo seu namorado e agora está descontando nos outros? Isso só mostra que é um lixo de pessoa, quem iria ficar com alguém monstruoso que só gosta de sair no soco?
Baixando os olhos para o desodorante em spray que segurava, Nicolas olhara sobre os ombros o sorriso patético de Thunder. Aquelas palavras ecoaram pelo vestiário tornando o ambiente perigosamente destrutivo. Tão rápido quanto sua fúria permitia, Nicolas arremessara o spray contra o rosto de Thunder.
O atleta cobrira a testa onde o spray acertara, ainda conseguindo ver o capitão erguer a mão em punho para socá-lo.
E assim Nicolas entrava em mais uma briga.