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Chapter 92 - Ainda estou aqui

Milles, continuava sentado ouvindo a bagunça toda. Era a segunda vez que sentia aquela sensação assustadora em seu corpo. Da última vez experimentou o prazer que Nicolas tinha de brigar com outras pessoas só para descontar sua raiva. Agora sentia algo angustiante e indescritível, mas que certamente passava longe de ser prazeroso.

De olhos arregalados fitando as próprias mãos tremerem avermelhadas, o alfa levantou-se apressadamente do banco indo até o corredor onde ocorria a briga. Passando pelo aglomerado de jogadores que assistiam sem coragem alguma de intervir, Milles conseguira compreender o motivo quando finalmente alcançara a frente.

O rosto de Nicolas estava completamente transformado, avermelhado em brasa com veias saltando em sua testa. Thunder tentava esconder o rosto entre os braços recebendo os socos direcionados sem pudor ou descanso.

Precisava fazer alguma coisa.

Não por Thunder ou por causa da bagunça que se criava.

Mas por Nicolas.

Precisava salvar ele de alguma coisa.

Engolindo em seco, Milles respirara fundo segurando os braços de Nicolas com a extrema força que poderia ter naquele momento. Um braço envolvera sua cintura tendo dificuldades em manter aprisionado o ômega explosivo.

— Chega Nicolas! — Gritava Milles tentando conter o seu capitão, mas que se desvencilhava de todos os modos de seu aprisionamento. Virando-se para trás, o alfa logo comandava aos observadores assustados. — Tão olhando o quê, caralho? Esperando a porra de um convite? Tirem o Thunder daqui, não vou segurar ele por mais tempo!

Alguns abobados se atrapalharam para passar por Milles, mas que retornavam para trás do alfa quando Nicolas conseguira escapar e ir em direção do seu alvo sentado no chão. Fora necessária agilidade de Milles para segurar o pulso do ômega e jogá-lo contra a parede, usando o antebraço contra o pescoço de Nicolas para contê-lo.

O que deveria fazer para acalmá-lo? Jamais vira Nicolas tão transformado, apesar de terem brigado diversas vezes. Nunca chegara ao nível de tirá-lo do sério daquela maneira, e por isso não fazia a menor ideia de como agir.

Seu ombro direito ardia em resposta ao estímulo que aquele ômega lhe trazia. Deveria usar seu cheiro? Sua voz? Sua presença? Da forma como ele fitava Thunder ser arrastado pelos demais jogadores, não imaginava que ele conseguiria acalmar a besta.

— M-Milles devo chamar o treinador?

— Cai fora. — Rosnava o alfa para um dos jogadores do primeiro ano. — E não deixe ninguém entrar nessa merda de vestiário até que eu diga, sacou?

— Tu-Tudo bem. — Apressou-se o garoto com as pernas trêmulas, saindo correndo junto dos demais jogadores.

Respirando fundo, o alfa encarava aquele garoto que se debatia salivando na própria raiva.

Por que ele perderia o controle daquela maneira? Por causa de uma coisa daquelas? Thunder havia falado tantas besteiras que nenhuma delas fora capaz em deixá-lo naquele estado, mas aquela parecia ter sido a gota d'água. Queria entender o quê exatamente poderia ter servido de gatilho.

— Nicolas, já deu. O cara já foi embora. — Pedia o alfa entredentes, ainda tendo dificuldades em fazer o ômega parar de se debater. Apertando o antebraço contra o seu pescoço, o contivera mais um pouco mesmo que o ouvisse tossir engasgado. — Dá pra parar? Eu já disse que já deu... OLHA PRA MIM PORRA!

O grito energético do alfa finalmente chamara a atenção do ômega, que parara de se debater o fitando ainda com os olhos injetados.

— Vai se fuder, Milles. Me deixa ir... — Rosnava o ômega, segurando os braços do alfa tentando se soltar.

— Nem fodendo — Murmurava Milles usando do próprio corpo para conter o de Nicolas contra a parede. — Por acaso eu sou imbecil de te deixar ir fácil assim? Só vai sair daqui quando voltar a agir feito gente.

Não que fosse uma tarefa tão fácil acalmar Nicolas naquele estado. Nenhuma ideia passava pela cabeça de Milles, o que o deixava ainda mais desesperado e ansioso.

Tinha que fazer algo.

Nicolas continuava a fitar a porta do vestiário provavelmente desejando passar por ela e encontrar o alvo de sua fúria. Socá-lo até que parasse de se mover, e finalmente apaziguasse aquela chama em seu peito. Entretanto Milles não o permitiria.

— O que pretende, ham? Ir lá e encher a cara dele de soco só pra ferrar ainda mais com o time? Só por que ele disse alguma bosta pra você?

— Isso parece bosta pra você? — Rosnava Nicolas entredentes, segurando o pulso de Milles apesar de não usar tanta força. — Provavelmente não, já que deve concordar com isso. Não duvido que pense o mesmo...

Milles arfava quando sentira o seu ombro direito arder. Mordendo os lábios para conter a sua própria raiva, tentava encontrar alguma saída. Fato era que as últimas provocações de Thunder deixaram Nicolas naquele estado. Para ele não eram lá grandes coisas, podendo ser uma baboseira qualquer dita por um moleque que não queria perder a discussão.

Infelizmente para Nicolas, aquelas palavras foram como pregos.

— Desde quando você se importa com o que eu acho de você, hein Nicolas? — Murmurava Milles em tom de voz mais brando. — Ainda assim estou aqui, tentando controlar um diabo como você.

— E eu lá disse que me importo contigo? Foda-se se você também me odeia!

Milles soltara um riso abafado quando sentira a força de Nicolas diminuir ao parar de se debater contra a parede. Ainda assim o alfa mantivera o aperto contra seu pescoço, sem ter coragem alguma de soltá-lo. Sabia muito bem que o ômega seria sorrateiro em fingir ter se acalmado só pra sair em caçada do seu alvo.

Mesmo que risse das palavras envenenadas de Nicolas, o alfa sentira um gosto estranho em sua boca. Amargo e forte que poderia lhe causar ânsia. Tampouco tivera coragem de continuar a olhá-lo nos olhos, precisando se refugiar em um outro ponto qualquer como um covarde.

— Exatamente! Nenhum de nós se importa um com outro, então pra quê perder a paciência com uma merda dessas?

Ouvindo o outro respirar fundo, Milles arregalava os olhos castanhos ao sentir algo molhar seu braço. Rolando as vistas encontrara algumas gotas de água caindo ali.

De onde vinham?

Lentamente Milles erguera o rosto para Nicolas, estupefato em vê-lo chorar serena e silenciosamente sem encará-lo de volta. Pela primeira vez ele enxergava a fragilidade de alguém que costumava ser forte perante o mundo. E fosse por enxergá-la que Milles afrouxara o aperto.

— Nicolas...

— Tá olhando o quê, inferno? Nunca viu?

Engolindo em seco, o alfa finalmente conseguia disseminar aquela angustia de dentro de si. Estendendo a mão quente até encostar naquele rosto molhado, limpara as lágrimas de Nicolas mesmo que ele ainda o ignorasse propositalmente. Incapaz de deixar vislumbrar aquela cena tão inédita, Milles continuara acariciando a bochecha do ômega limpando as demais lágrimas que escorriam.

Certamente ele não queria ser visto daquela forma, percebia Milles. Deixando o seu rosto quente, a destra do alfa segurou a nuca de Nicolas e o puxou para esconder-se em seu peito. Mesmo que ele ouvisse as batidas descompassadas do seu coração, que sentisse o seu súbito nervosismo ou qualquer outra coisa, Milles não deixaria Nicolas ir embora.

— Tô olhando um moleque patético chorar pateticamente. — Sussurrava Milles ainda aturdido.

Nicolas nada dissera em resposta, e provavelmente estaria se controlando para que seus soluços não escapassem de seus lábios. Ainda assim Milles sentia as lágrimas molharem a fina regata do seu uniforme de educação física.

Mergulhado naquele silêncio, só conseguia se questionar o motivo de ter chego aquele ponto.

Por quê?

Por que as palavras de Thunder o deixaram naquele estado? Da fúria às lágrimas em uma linha reta, em questão de minutos.

Não é como se Nicolas estivesse irritado por Theodore estar com Gabriel passando o cio. Ficara os dias anteriores completamente bem pelo o que observara. Ou seria por ser chamado de monstro? Não... Nicolas já fora chamado de coisas piores devido ao seu temperamento, e nem fazia questão de discordar.

Então o que poderia ser?

Uma lâmpada se acendia na mente de Milles. Algo tão absurdamente simples e fácil de ser vista, que jamais seria considerada uma resposta certeira por não combinar com Nicolas. Pelo menos não com o Nicolas que ele conhecia.

Quem ficaria com alguém como Nicolas?

Novamente Milles engolia em seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. Seus braços envolveram aquele corpo magrelo contra si, imaginando ter errado naquela resposta.

De maneira alguma Nicolas se deixaria perder a paciência por ter medo de que nunca alguém iria gostar dele. Não... Ele não era daquele jeito. Na verdade, Nicolas já não deixara claro que tinha uma vida sexual ativa? Isso não significaria que tinha outras pessoas com quem se relacionar? Certamente alguém iria gostar dele, mesmo que fosse para ter algo sem compromisso.

Um sorriso débil surgia no rosto de Milles.

Sim. Aquela não era a resposta que procurava.

— Pare de chorar. Não é como se você precisasse estar com alguém agora.

Que voz estranha era aquela que saía de sua garganta? Tão grosseira e rude, sem carisma algum. Até parecia pertencer a outra pessoa.

Os braços fortes de Milles afrouxaram o abraço, e logo uma mão fina e comprida segurara firmemente suas bochechas as apertando. Nicolas erguera o rosto ainda encharcado nas lágrimas, mas com uma ligeira pitada de irritação nela.

— Não enche, seu idiota. Não finja que sabe alguma coisa a meu respeito.

Milles segurara a mão de Nicolas o forçando a soltá-lo, tornando a aprisioná-lo contra a parede segurando ambos os pulsos acima de sua cabeça. Ainda assim o ômega não parecia se acalmar, apesar de não chegar no mesmo estado anterior.

— Te conheço o suficiente pra saber que não depende de alguém.

— E se eu quiser depender? E daí? Acha que não sei que sou o último tipo de pessoa com quem alguém quer se relacionar? Você melhor do que ninguém sabe que é uma maldição ficar comigo, justamente por que estou te forçando a estar aqui, maldição!

— Eu ainda estou aqui. — Sussurrava Milles sem ser ouvido pelo ômega.

— Me sinto uma escória por invejar coisas que não estão no meu alcance, por invejar ao invés de ficar feliz por meu melhor amigo estar no maldito mundo cor de rosa dele.

— Eu ainda estou aqui... — Murmurava Milles, escondendo seu semblante na franja loira.

— Eu to cansado de ser deixado pra trás pelas pessoas!

Aquele grito de Nicolas fora silenciado pelos lábios de Milles, ao capturarem de sua boca repentinamente. De olhos arregalados e coração batendo desenfreado, o ômega mal acreditava que aquele alfa estava o beijando em meio a sua tempestade emocional.

Quando Milles desfizera do selar mantendo uma distância de milímetros entre suas bocas, Nicolas pudera ouvir claramente aquelas palavras entregues para si junto de um rosto emocionalmente machucado.

— Finalmente calou a boca, seu baixinho de merda.

Antes que qualquer outro xingamento soasse por aqueles finos lábios, Milles o beijara mais uma vez. De maneira alguma deixaria ele gritar novamente, ou então chorar mais uma vez. Apagaria a tristeza daqueles olhos, nem que fossem substituídos pela costumeira raiva por ele.

Desde que não o visse daquela maneira novamente.

Nicolas correspondia ao beijo tão intensamente quanto o próprio alfa, e Milles deslizava os dedos pelos pulsos do ômega abrindo suas mãos as espalmando na parede até que os dedos se entrelaçassem. Usando o próprio corpo para aprisionar o ômega, o alfa entrava na mesma sincronia que o coração pulsante do menor.

Forçara a entrada de sua língua naquela minúscula boca. A explorara decorando cada canto dela, e sugando a semelhante para sentir o gosto de Nicolas. Ouvira-o ofegar contra sua boca encharcada de saliva, e ali mesmo Milles podia sentir a própria sanidade o abandonando.

As mãos de Nicolas estavam quentes, assim como Milles pudera sentir todo o calor vir do corpo do ômega para o seu.

Precisava tocá-lo.

Apenas precisava.

Libertando suas mãos, Milles segurara firmemente a cintura de Nicolas o puxando contra si. Curvava-se como um predador encurralando a sua presa, deixando com que suas línguas dançassem coladas uma à outra.

Queria mais.

Muito mais.

Segurando firmemente as coxas do ômega, o levantara com facilidade fazendo com que as pernas de Nicolas envolvessem sua cintura. Ainda o apoiando contra a parede, Milles pudera perceber que o corpo de Nicolas não somente era magro, mas como leve também.

Quando desfizera do beijo em busca de ar, tentando recuperar o pingo de juízo que estava prestes a esvair, Nicolas agarrara seu rosto não o deixando escapar, tomando posse de sua boca uma vez mais. E ali o beijara tão necessitado, que o alfa só pudera retribuir.

Dessa vez, nenhum dos dois deixaria o outro ir.

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