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Chapter 66 - Ômega empoderado

Theodore se ausentara do treino naquela tarde.

Preferia assim, pois as proporções da dita história estavam ficando grandes demais. Lilian havia dito que tomaria cuidado com o assunto, evitando escrever sobre outros estudantes para não jogá-los naquele redemoinho. Contudo, o que mais temia estava a acontecer.

Mas de um jeito estranho.

Imaginara que o grupo de Sadie o tomaria como autor daquela história. Afinal ele era o protagonista e par romântico de Gabriel. Seria lógico chegar nessa conclusão. Só não esperava que o grupo de Sadie tomasse o alfa como uma vítima de sua tentativa de sedução.

Ora essa, não deveriam olhar torto para Gabriel e enchê-lo de perguntas? Ou então mudar a forma como tratavam? Não fora assim que acontecera consigo? Que mundo injusto... Apesar de ser um alívio que Gabriel tenha amigos que se importam consigo.

Se Theodore fosse ao treino naquela tarde, imaginara que o time não ficaria a vontade com sua presença. E sem Nicolas por perto, era um tanto quanto amedrontador encarar os atletas.

Preferira ficar na sala de aula esperando Gabriel voltar.

Gabriel...

Olhando o céu alaranjado daquela terça-feira inundar seus pensamentos, o ômega se lembrava da sensação que sentira mais cedo. Nunca se sentira daquela maneira com o alfa, o que por si só já o deixava com um pé atrás.

O que foi aquilo que viu?

Não houvera um momento se quer que Thunder parecera perder o controle de seus instintos. Muito bem pelo contrário, estava conscientemente com raiva de Theodore e queria machucá-lo com um soco. No entanto, Gabriel lhe salvara contando aquela mentira tão descaradamente.

Com aquele sorriso ainda por cima.

Sua pele se arrepiava por completo, tendo o ômega acariciar o próprio braço sentindo um frio subir em sua coluna. Conversaria com Gabriel sobre isso mais tarde.

Um cheiro adocicado e feminino fora captado por seu olfato. Virando a cabeça, Theodore deparou-se com Sadie encostando a porta enquanto o olhava seriamente.

— Podemos conversar um pouco?

O que mais teria de ver naquele dia? Os Mckenzie, por acaso, tinham feito algum pacto para conversas particulares? Já tivera a sua cota antes mesmo das aulas começarem.

Para ser sincero consigo mesmo, Theodore nunca conversara com Sadie em particular. Nicolas nunca deixava-o sozinho, pois temia que a garota tentasse erguer suas garras e empurrar Theodore em um precipício. Raiva e motivos ela teria de monte para fazê-lo.

— Se for sobre a história do Orkut, nem gaste seu tempo. Não fui eu.

Sadie abrira um sorriso ladino enquanto caminhava silenciosamente até a carteira mais próxima de Theodore, onde se encostara e cruzara os braços.

— Tentei de todas as formas deixar claro as minhas intenções, mas parece que nada deu certo. Então, resolvi ser mais direta.

— O que é?

— Fique longe de Gabriel.

Theodore expirara lentamente, já sentindo seu corpo todo aquecer em frustração. Por que seu corpo sempre reagia daquela forma quando o assunto era Gabriel? O deixando nervoso e inquieto como uma formiga no meio do formigueiro.

Desviando os olhos claros para a janela, apoiou os pés na cadeira da frente adotando uma postura mais relaxada. Apesar de seu intenso vulcão interior estar em erupção.

— Não vou parar de falar com uma pessoa que gosto, só por você se sentir incomodada com isso.

— Nós dois sabemos que nós gostamos dele. Romanticamente falando.

O olhar afiado de Sadie pegara Theodore desprevenido. Seus sentimentos estavam tão estampados assim? Engolindo em seco, o ômega se recusara a perder a compostura para aquela garota.

— E daí?

— Eu já estou ficando com o Gabriel. — Dizia Sadie sem desviar os olhos de Theodore, apesar de haver certa calma em sua voz. — Estamos juntos desde a festa da Fabi.

A festa da suposta foto, Theodore se recordava.

É claro que não esqueceria aquela dolorosa foto publicada no Orkut. Depois daquele dia a sua vida mudou bruscamente, pois Gabriel o procurara loucamente para desmentir os rumores.

Ou achava que era para desmentir.

— Estão é? E o que isso teria a ver com a história?

— Esses boatos não vão fazer bem pro Gabriel, porque o time irá pensar que ele é igual a você. Não acha que isso vai atrapalhar os treinos?

Theodore arqueava a sobrancelha, apoiando os cotovelos sobre os joelhos.

— O time de vôlei não é igual a você, Sadie.

— O resto da escola não é igual a você, Theodore. Só você é desse jeito. Só você gosta do que gosta. Só você acha isso normal.

Não se deixe cair!

Não mostre sua vulnerabilidade!

Fique atento!

Os pensamentos de Theodore precisavam ser fortes alicerces para aquele desmoronamento. Se havia algo que aprendera com todos os romances que costumava ler e assistir, era de que a mocinha precisava ter provas concretas antes de tomar qualquer atitude.

Era doloroso ouvir aquelas palavras. Já havia observado que os dois juntos ficavam bem, parecia um casal bonito digno de um livro de romance. O mais esperado era Gabriel escolher Sadie ao invés dele. Theodore se quer ousava colocar a si mesmo para competir com a outra ômega.

Não por se considerar menos bonito ou algo do tipo. Mas sim, por imaginar que o resultado seria óbvio. Ninguém torceria para Gabriel ficar consigo. Tais ideias eram dolorosas facas que mergulhavam suas lâminas em cada sentimento precioso que cuidava.

Apaixonar-se por alguém era uma via de mão dupla. Dar e receber. E naquele momento, Theodore recebia dor. Contudo, uma dor irreal. Era a palavra de Sadie contra a palavra de Gabriel. Um dizia que estavam ficando, outro dizia que não. A única verdade que Theodore poderia confiar era de que ele estava ficando com Gabriel. O resto era uma incógnita.

Só precisava saber mais um pouco. Mais informações.

— Vamos supor que suas baboseiras tenham algum sentido... O que isso teria a ver com você?

— Eu e Gabriel estamos ficando a um bom tempo e pensamos sobre darmos um passo. Se o time souber que estamos namorando, então ele não será afetado pelos boatos. Independente da história ter sido escrita por você ou não.

Havia lógica, percebia Theodore, nas palavras de Sadie. Um tanto quanto interessante imaginar que a garota fanática pela novela mexicana rebelde, teria pensado em algo útil. Não que os fãs de tal novela fossem considerados burros. Theodore só achava aquilo de Sadie.

Até então.

Infelizmente estava travando uma batalha direta com a garota. Sem ninguém para o auxiliar. Seria essa a chance única de tentar se virar sozinho, e provar para si mesmo de que era capaz? Deveria deixar Sadie dizer tamanhas baboseiras sobre Gabriel?

Como o seu melhor amigo agiria em momentos como aqueles?

Um sorriso calmo surgia no rosto de Theodore, ao apoiar o queixo na palma da mão.

— Então faça isso.

Pela primeira vez, desde que começaram aquela odiosa conversa, Sadie Mckenzie arregalava os olhos cobertos de surpresa. Até seus braços se descruzaram e se desencostara da carteira completamente incrédula das palavras que acabara de ouvir.

— Espera... O que disse?

—Se é verdade, então namorem logo.

— E é verdade.

— Então faça isso.

Espreitando os olhos desconfiada, Sadie voltara a cruzar os braços e erguera o queixo petulantemente para Theodore. Ficara a exatos três passos do rapaz, que não desfizera sua postura relaxada e nem o sorriso.

— Está aprontando alguma coisa? Ou acha que ainda vai conquistá-lo?

— Nunca vi vocês estarem próximos como diz estar. Não andam de mãos dadas, ele não a beija. Te trata como uma amiga. Se há algo entre vocês, então demonstre. Então me retiro da batalha.

— O que te faz pensar que todo casal precisa ficar desse jeito?

— Eu sei que você precisa, porque sempre foi assim. Você é popular Sadie, todos te observam. Todos sabem que você faz questão de exibir quando está com alguém. Não existem motivos para ser discreta com Gabriel.

O jeito como ela retrocedera alguns passos dera certeza a Theodore de que a atingira. Atingira em cheio.

Ela estava blefando.

Jogar um desafio daqueles sobre o colo de Sadie também o deixava em risco, pois existia alguma chance de Gabriel realmente namorá-la. Caso acontecesse, o mundo de Theodore desabaria dramaticamente e seu coração ficaria despedaçado. Provavelmente perderia a confiança em amar novamente, pois julgaria que o amor não era para ele sentir e sim para apreciar nos outros.

No entanto, havia a chance de nada daquilo acontecer. E no final das contas, Gabriel continuaria consigo provando que Sadie estava mentindo.

Apesar de Theodore sentir em seu âmago que Sadie Mckenzie faria de tudo pra vencer. Principalmente vencê-lo.

Isso tudo sem que ela soubesse do lance entre Theodore e Gabriel.

— Gabi pediu isso é claro, porque ele sabe que você gosta dele. Veja como ele é gentil, Gabi tem receio de perder a sua amizade.

— Oh... Devo agradecê-lo por isso mais tarde, nesse caso.

— Faça isso. De toda forma, iremos oficializar a nossa relação diante da escola. Espero que tenha lencinhos o suficiente pra enxugar as suas lágrimas, pequeno Theo.

Quando Sadie deixara a sala, e o eco de seus sapatos finalmente desapareceram, Theodore relaxara na carteira sentindo todo o seu corpo tremer. Eram como se suas pernas e braços se transformassem em maria mole, incapazes de sustentá-lo. O coração batia a mil, preenchendo a sala vazia com o seu cheiro.

Fora ousado como jamais fora em toda a sua vida. Pela primeira vez sobrevivera a um ataque direto dos Mckenzie sem a ajuda de Nicolas para lhe proteger. E ainda fora audacioso em desafiar Sadie, tendo Gabriel como o bola da vez daquela partida.

Bagunçando os cabelos loiros, o rapaz suspirava pesadamente aproveitando a energia intensa de um ômega empoderado.

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