Zakk: Da escuridão surgem nuvens vermelhas, renegados estão na sua aldeia...
Zakk se encontrava sentado em um lugar totalmente vazio, onde quer que olhasse veria apenas uma imensidão branca silenciosa e infinita, e apesar da natureza de sua situação, ele parecia calmo e sereno enquanto cantava suas músicas favoritas.
Aquele era o exílio, a maior punição de Olímpia, uma câmara onde o tempo era distorcido, horas dentro dela eram apenas alguns minutos do lado de fora. Poucos foram aqueles cujos crimes eram dignos dessa punição, menos ainda foram aqueles que saíram com suas sanidades intactas.
Zakk era um desses poucos, ele se deita sobre o frio chão branco apoiando a cabeça nas mãos, e continua cantando.
Zakk: Meu nome é Pain! No pain, no gain! Destruí konoha com o Shinra Tensei!
No lado de fora da câmara, o grupo havia se reunido para assistir a punição do moreno, mas com a calmaria expressada por ele, aquilo nem parecia ser um castigo de verdade. Gallien, monitorava os movimentos dele através de um monitor ligado à câmara, ele havia sido o primeiro a chegar na cena do crime e a sugerir o exílio como punição.
Toga: Isso é normal?
Toga se referia a maneira descontraída com a qual seu colega de quarto lidava com o exílio, Gallien se reclina na cadeira giratória e cruza os braços.
Gallien: O real motivo pelo exílio ser tão temido é pela tortura da câmara, qualquer um que entre lá é assombrado por visões de suas ações erraticas, ou seja, se você tem remorso por alguma coisa a câmara vai usar isso pra te torturar.
Morgana: Quer dizer que...
Toga: Quer dizer que ele não sente nenhum remorso.
O silêncio toma conta, mesmo após ele ter machucado os próprios amigos e matado várias pessoas a sangue frio, ele não sentia um pingo de remorso? Mesmo não deixando transparecer, Toga foi a mais afetada. Mesmo tendo conhecido Zakk só por três dias, ela achava que o entendia, que ele via ela como uma amiga, mas no final ele era apenas como qualquer outro semideus da morte: uma pessoa fria e sem sentimentos.
Ela se sentia uma idiota por achar que ele era diferente, se sentia traída e enganada e principalmente, sentia uma grande dor em seu peito como se tivesse perdido um amigo não para a morte, mas para as trevas.
Toga: Tira ele daí, tá na cara que isso não tá adiantando.
Gallien acena com a cabeça, logo a porta se abria lentamente e Zakk já esperava frente a ela, ele sai sem nem esperar que ela se abrisse totalmente. Ignorando a todos na sala, ele pega sua foice encostada no canto da sala e sai da sala ainda cantarolando.
Após tudo aquilo ele ainda conseguiu ignorá-los? Isso irritou Toga ainda mais, ela o segue, enquanto os outros apenas o assistiam com cara de tacho
Toga: Espera aí, você não vai dizer nada?!/ Seu tom de voz começava a aumentar.
Zakk: É que eu sou imortal, sobrenatural, se preparem porque vai começar o ritual!/ Ele continuava ignorando a ruiva.
Toga: Dá pra parar de me ignorar?! Você arma toda aquela confusão e agora vai ficar emburrado igual a uma criança?!
Zakk: Deidara, a minha argila é explosiva! Ei Gaara veja a-
Toga: Chega disso! Olha pra mim! Acha que isso é brincadeira?!
Ela se coloca à sua frente o fazendo parar e a encarar nos olhos. Por um instante ele a olha com frieza no olhar, seus olhos pareciam analisar cada aspecto do rosto da orc, como se procuravam algum sinal de sarcasmo nele, e é só quando eles finalmente não percebem nenhum, ele decide respondê-la.
Zakk: Me diz você, querer vingar a morte do seu irmão é alguma piada pra você?
Ao ouvir a voz cortante do moreno proferir essas palavras, toda a raiva da ruiva desaparece, ela começa a ligar os pontos, Zakk lhe disse que seu irmão fora atingido por um raio, porém ele nunca disse que foi um natural ou não, o que só a levaria a crer que o tal Garrett era o assassino.
Com tudo, a epifânia de Toga acaba vindo tarde demais. "Eu achei que conhecia você, mas tá na cara que não..." Suas próprias palavras ecoavam em sua mente e ela se deu conta de seu erro, como ela pôde ser tão insensível?
Ela imediatamente pensou em pedir desculpas, "Me perdoe, não foi minha intenção." "Eu estava errada, me desculpe." Ela poderia pensar em milhões de maneiras de se desculpar mas nenhuma delas expressariam seus verdadeiros remorsos, só aí ela percebe que estava sozinha.
Ela vê Zakk no fim do corredor já entrando no dormitório.
Toga: Zakk, espera!
Ela corre para alcançá-lo e agarra seu braço antes que ele pudesse se trancar em seu quarto, mas Daniel aparece e faz ela o soltar, a porta estava prestes a fechar quando Toga a para com o pé.
Toga: Me escuta, eu não sabia que aquele cara tinha
Zakk: Matado meu irmão?! Pois é Toga, você mesma disse que não me conhecia, lembra?! Pois se algum de vocês me conhecesse de verdade, aquela luta não teria acontecido!
Daniel aparece novamente em frente a porta e a empurra, assim que seu pé sai do caminho, a porta se fecha com uma forte batida e Daniel fica a sua frente com os braços cruzados, Toga e Zakk não se veriam mais naquela noite e o fantasma garantiria isso.
Toga: Argh! Eu sou uma idiota!
Ela acerta um soco na parede atrás dela, deixando um buraco no formato de sua mão nela.
Daniel: Se eu não já não tivesse visto muitos outros idiotas por aí eu diria que você é a maior de todas.
Toga leva um susto ao ouvir a voz grave e fria do fantasma mas logo se recompõe, pois ela já tinha experiência em falar com mortos.
Toga: Então agora você fala?
Daniel: Eu só falo para os poucos tolos que podem me ouvir e pelo visto você é um deles.
Toga: Tanto faz, eu tenho que achar um jeito de me desculpar.
Daniel: Você pode fazer isso outra hora, meu irmão não vai querer ouvi-la nem hoje e nem nos próximos dias, acredite, eu sou o único que realmente o conhece.
Toga: É exatamente por isso que ele tá bravo.../ A raiva de si mesma se esvai, só o remorso e a culpa sobravam./ Se você é o único que o conhece pode me ajudar, me diga, quem ele é de verdade?
Apesar do fantasma não possuir olhos, Toga podia sentir que ele estava pensativo, depois de alguns segundos pensando, ele finalmente responde.
Daniel: Tudo bem, escute bem pois eu só direi uma vez...
"O sofrimento sempre esteve presente na história de nossa família, depois que a guerra contra os titãs acabou nossos pais não estavam em boas condições financeiras e nossa mãe já estava grávida de nós dois. Depois de anos de pobreza, nossa mãe se cansou dessa vida, no mesmo dia em que nós nascemos ela foi embora, nos abandonou pra apodrecer na sarjeta. Foi só depois de estar no fundo do poço que nosso pai percebeu que o trabalho honesto condenaria nossa família ao eterno fracasso, então ele fundou a Horseman. Dois anos após sua entrada no mundo do crime, nosso pai se casou de novo e teve o resto de nossos irmãos e irmãs, aquela mulher se tornou nossa verdadeira mãe, mesmo não sendo de sangue. Aos quinze anos nós soubemos da verdade, nós obviamente surtamos, vivemos anos acreditando em uma mentira e só agora descobrimos que fomos rejeitados? Eu me descontrolei, gritei com eles, como eles podiam mentir pra nós? Mentir pra MIM? Eu fugi de casa naquela noite, vim pra Ivory e fundei a Tartarus. Meu objetivo era um dia poder competir com a Horseman, mas meus "sócios" tinham outros planos, planos muito mais ambiciosos que seriam atrapalhados pela minha presença. Um dia meu irmão me encontrou, ele havia entrado pra Horseman depois que soube da verdade, ele tentou ocupar a cabeça com o trabalho, assim não pensaria no nosso abandono. Ele queria que eu voltasse pra casa, que desistisse da idéia maluca de enfrentar a Horseman, nós começamos a discutir e a discussão logo se tornou uma briga, no final, ele provou ser mais forte que eu, eu estava preso no gelo, mas não me daria por vencido, eu consegui prender seu braço no gelo também e teria congelado o corpo todo se um raio não tivesse nos atingido, me matando na hora. Um raio que Garrett, um dos meus "sócios", disparou."
Daniel: Você entende? Meu irmão tem a tendência de afastar o que lhe causa dor e ele faz isso ocupando a cabeça, depois que morri ele voltou a Horseman e se matou de tanto trabalhar pra não pensar na minha morte, e então ele vem pra cá, e conhece pessoas que ele julga poder chamar de amigos...
Toga: Mas o Garrett apareceu... Por isso ele usou a Horseman como desculpa pra matá-lo, como se ele estivesse tentando se convencer de que não era por vingança...
Daniel: E aí vocês vieram, o julgaram sem conhecê-lo, destruiram a única coisa que servia como âncora pra que ele não afundasse no desespero.
Agora tudo fazia sentido, o exílio não funciona em Zakk por que ele já vive em um, um que ele mesmo se colocou, do qual ele não sairá por um bom tempo e o pior: Era tudo culpa dela.
Toga: Porra, Zakk! Por que você não me contou?!
Toga finalmente entendeu as palavras de sua mãe, Garrett era a coruja que os testaria, e ela havia escolhido o lado errado.