Passaram-se dois dias desde o incidente no shopping, apesar da polêmica inicial Olímpia não foi responsabilizada pelos acontecimentos mesmo que alunos seus estivessem envolvidos, levando o que aconteceu, as aulas foram suspensas por uma semana, obviamente, Toga contou o que descobriu ao resto do grupo e ao longo desses dois dias foi decidido que eles deixariam Zakk pensar sozinho por um tempo.
Toga se encontrava novamente com sua mãe no espaço mental, estando exausta, e sabendo do sermão que receberia da falecida, a ruiva tratou de ficar calada enquanto esperava o puxão de orelha.
-Você se arrepende Toga?
A pergunta repentina de sua progenitora a pegou de surpresa, ela não estava zangada?
-Achei que ia me dar um esporro...
-Meu trabalho é apresentar suas opções de escolha, não julgá-las minha filha, agora me responda, se arrependeu?
-Que pergunta é essa? É claro que sim, o Zakk confiava em mim, me via como uma amiga de verdade, eu peguei a confiança que ele me deu cuspi nela.
A dor da ruiva era perceptível em sua voz, ela gostaria muito de poder dizer a ele que sente muito, que ela não pensou bem em suas palavras e se arrepende. Mas principalmente que ela entendia sua dor, mas isso seria uma mentira, Toga é filha única, sua mãe faleceu no dia de seu nascimento, a única coisa que chegou perto o bastante de uma figura materna foram as concubinas de seu pai, ela nunca sentiu o peso da solidão e a dor da rejeição, então não, a dor de seu amigo era algo que ela não compreendia.
Mesmo assim, ela queria estar lá por ele, queria poder ajudá-lo a se sentir melhor, aliviar o peso que ele vinha carregando a anos, ser o ombro onde ele choraria quando precisasse, ela queria seu amigo de volta. Mas também temia que fosse tarde demais e que eles nunca mais voltariam a ser como eram antes.
-Pois fique tranquila minha filha, se seu objetivo era fortalecer os laços da sua equipe com o corvo, você tomou a decisão correta.
-O que?!
A Mãe: O reptiliano foi um mero peão, o verdadeiro teste vem agora, a coruja virá até vocês e a escolha mais importante será do corvo.
Toga se encontrava totalmente confusa, Garrett não era a coruja? E se ele era um peão, quem é o verdadeiro mestre? Suas perguntas ficariam sem respostas, ela estava de volta ao mundo real. Já era tarde da noite, ela havia pegado no sono na frente da TV, sua Netflix estava aberta, a primeira coisa em que os olhos da ruiva pousaram foi no anime predileto dos dois, Naruto. O episódio da morte de Zabuza ainda não havia passado, ela não se importaria de assistir sozinha em outra ocasião, mas dessa vez ela queria assistir junto de seu amigo.
De repente, a porta do quarto do moreno se abre e ele sai, passando por Toga sem nem sequer olhar para ela.
-E-Ei Zakk!-Ele para, ainda se costas para a ruiva.-Quer assistir Naruto comigo?
Um último sorriso de esperança cresce em seus lábios, Zakk gostava de Naruto tanto quanto ela, seria ele capaz de recusar o convite?
-Hoje não dá, sei lá, assiste qualquer coisa aí.
Ele nem ao menos a encara ao dizer isso e sai sem olhar para trás, fazendo o sorriso da ruiva morrer. Eu não quero assistir qualquer coisa sozinha, eu quero assistir Naruto com você! Sua mente gritava o que ela não tinha coragem de dizer em voz alta.
Minutos depois da saída do moreno, Toga desiste de tentar pensar em uma maneira de animá-lo e decide simplesmente deixar o destino seguir seu curso, ela desliga a TV e vai pra cama com a profecia de sua mãe ainda em sua mente.
Com Zakk...
A luz da lua iluminava as ruas de Ivory por onde Zakk andava sem rumo, ele trazia sua foice com ele presa em suas costas, motivo suficiente para que qualquer um acreditasse se tratar do próprio Thanatos vagando pela cidade. O moreno parecia nem prestar atenção no caminho, preso em seus pensamentos, ele logo se vê em frente a ponte que dava para fora da cidade e para o maior ponto turístico dela, um enorme vulcão inativo, criado a partir do corpo de um titã.
Apesar de estar confuso do porquê seu corpo o levou até alí, Zakk decide não questionar muito, ele se apóia na grade da ponte e pega um cigarro, logo Daniel aparece e passa seus dedos tão rápido na ponta do cigarro que ele acende. Ele dá uma longa tragada.
-Fala de uma vez, tô ligado que você tá se coçando pra me dizer alguma coisa.-Ele diz após expelir toda a fumaça.
-Não vai dar outra chance a eles?-Diante das palavras do fantasma, Zakk revira os olhos.-Não podem ficar brigados pra sempre, vocês estavam se dando bem antes do que aconteceu no shopping.
-Quem decidiu me julgar foram eles, eu não tô nem aí se eles não sabiam, amizade requer confiança e se eles realmente confiassem em mim não teriam lutado.-Ele responde e logo após dá outra tragada.
-Mas você nem tentou se explicar, já foi indo pra cima deles, o que queria que eles fizessem?
-Que eles recuassem, achei que se botasse medo neles eles iriam recuar.
-Obviamente não funcionou, e de que adianta ficar bravo com eles agora?
-Não tô mais bravo com ELES, eu tô bravo com ELA, pelo que ela disse.
-"Achei que eu conhecia você, mas tá na cara que não." E você pode culpá-la? Nenhum deles realmente te conhece de verdade porque você prefere se isolar e esconder o que sente.
-O que eu sinto!? Quer saber o que eu senti!? Eu queria lutar, eu queria lutar com cada um deles, principalmente com a Toga, mas não daquele jeito! Eles me trataram como um inimigo, até mesmo a Toga!-Lágrimas caíam de seus olhos, ele agarrava a grade da ponte com força e manteve a cabeça baixa.
-Entendo como se sente.-Uma terceira voz se faz presente, Gallien se inclina na grade ao lado do moreno, ele não vestia a mesma jaqueta e jeans rasgado do primeiro dia de aula e seu longo cabelo negro agora estava livre.
-Como você sabia onde me achar?
Zakk parecia não estar muito preocupado com o fato de ter sido descoberto. Ele entrega o cigarro para Daniel que desaparece logo depois.
-Eu segui você, com tudo que aconteceu recentemente achei melhor garantir que ninguém o perseguisse.-Zakk se vira, ficando na mesma posição que Gallien, ele esperava seu professor continuar.
-Como eu disse antes, eu já estive no seu lugar sabe, sofrendo calado, escondendo todo o sofrimento atrás de uma máscara sorridente.
Pela primeira vez na vida, Zakk se encontrava em choque, Gallien havia resumido tudo o que sentia com uma só frase, isso só poderia afirmar ainda mais que o que ele dizia era verdade, ele já tinha sentido tudo aquilo na pele e algo o dizia que com o Destruidor de Titãs havia sido muito pior.
-Na guerra, nós éramos obrigados a aguentar a dor e nos mantermos calados, por anos eu vive do mesmo jeito que você, vendo pessoas que eu amava morrendo e se machucando sem poder fazer nada, e o pior é que não tinha ninguém pra me ouvir, pra ser o ombro amigo onde eu poderia chorar.
-Por que tá me contando isso? Acha que eu vou me sentir melhor sabendo que a sua vida foi mais merda que a minha?-Não havia hostilidade em sua voz, apenas uma total descrença.
-Não, mas EU tô um pouco melhor agora que você me ouviu.
-O que?
-Quer saber a verdade sobre o meu apelido? Eu não ganhei ele porque eu sou forte o bastante pra matar titãs na porrada, nunca foi sobre isso, é porque quanto a vida colocava "titãs" na minha frente, não importa o quão grandes e fortes eles eram, eu sempre me levantei e eu sempre os destruí.
-Mas você disse que na guerra você teve que guardar tudo pra você!
-E onde isso me levou? Com uma arma apontada pra minha própria cabeça, prestes a puxar o gatilho, se não fosse pela Rachel e a Trish eu não estaria aqui hoje, elas me ajudaram, estiveram lá por mim, me ensinaram o que eu estou tentando te ensinar hoje: Você deve quebrar o silêncio antes que seja tarde. Estou te dizendo tudo isso porque sei que ainda dá tempo, você pode quebrar seu silêncio e curar sua solidão Zakk, posso evitar que você se afunde tanto quanto eu afundei.
Zakk estava sem palavras, pela primeira vez ele pode enxergar claramente, a resposta estava bem debaixo de seu nariz o tempo todo...
-Preciso quebrar o silêncio...-A conclusão do moreno arranca um sorriso de seu professor.
-Ei, isso dá um belo apelido, "Silence Breaker", o que você acha Zakk?
Gallien parecia bastante animado, até que seu celular toca, ele solta um longo suspiro de frustração antes de atender e dizer um desanimado "alô". Porém sua expressão se torna séria ao ouvir a voz do outro lado lhe passar uma terrível informação.
-Zakk...-Ele o chama fazendo um grande esforço para que sua voz não falhasse.-Seus amigos... Eles foram sequestrados...