Chapter 13 - Adeus

Zakk, Gallien e Rachel assistiam às gravações dos sequestros na sala de segurança da escola, nelas, eles podiam ver uma criatura enorme e repleta de penas levando-os voando pelas janelas dos quartos, a maioria estava dormindo, outras a criatura teve de acertar golpes em suas nucas para derrubá-los.

-Abigail...-Daniel aparece subitamente.

-Conhece?-Rachel pergunta ao fantasma.

-Garrett era um mero peão, Abigail Silverwing, uma mulher-coruja, é a verdadeira mestra.-Zakk responde por seu irmão, o fantasma parecia muito surpreso para responder.

-Mais que beleza, se as pessoas não nos odiavam antes agora vão nos crucificar, temos que chamar a polícia.

Gallien parecia disfarçar sua preocupação com eles usando o pretexto de priorizar a reputação da escola, mas lá no fundo até mesmo ele sabia que ele estava preocupado era com o bem-estar de seus alunos, mas para não contrariá-lo, Zakk decidiu ajudar.

-Não chamem a polícia, eu resolvo isso.

-Espera.

Ele já se virava para sair quando a diretora o chama, nas mãos dela estava a foice de Daniel, ou melhor, uma réplica idêntica dela. Tanto Zakk quanto seu irmão estavam atônitos, nem mesmo o fantasma poderia apontar alguma diferença, elas eram simplesmente idênticas.

-Onde...

Zakk fica ainda mais confuso ao pôr as mãos na réplica, ela até tinha o mesmo peso da original. Ele segura as duas, uma em cada mão, quando praticou alguns golpes combinando as duas armas.

-Achei no quarto da Mila quando fui procurar pistas, eu fiquei tão surpresa quanto você quando vi o quão parecida ela era com a que você carrega.

O moreno para e olha para seu reflexo nas lâminas, seus olhos escarlates pareciam brilhar, isso era, na verdade, o fogo da excitação queimando em seu olhar, aquelas armas juntas lhe permitiam tantas novas possibilidades, tantos golpes novos para testar, coreografias tão refinadas e belas quanto uma bela dança de balé, ele podia ser muito mais contido que os outros membros de sua escola, mas ele ainda era um semideus da morte, ele teve que conter a vontade de balançar suas novas armas, ou ficaria a noite toda treinando as várias formas de matar com suas novas armas. Colocando as foices nas costas, ele se vira para a porta.

-O que você vai fazer?-Gallien pergunta.

Zakk o olha por cima dos ombros, seu olhar era sombrio e sem vida, esse era seu lado negro o olhando, o mesmo lado que tomou conta nos anos de solidão em que ele ainda trabalhava como mafioso na Horseman, esse foi o lado que o levou a cometer um assassinato no seu primeiro dia em Olímpia.

-Vou ligar pra uns amigos do trabalho...

E com isso, ele sai, deixando a diretora e o professor confusos e receosos sobre o que ele faria. Minutos depois, Zakk corria pelos telhados das casas da cidade, nessa noite, ele terminaria o que começou no shopping, ele eliminaria aquela que tramou contra seu irmão.

Longe dali...

-Toga... Toga... Toga!

A voz de Lorelay chamava pela ruiva, ela acorda segundos depois sentindo algo pesado em seu pescoço, foi só quando sua visão se acostumou que ela percebeu, ela não estava mais em seu quarto, nenhum deles estava, todos pareciam ter acabado de acordar, não estavam mais vestindo suas roupas, no lugar, eles vestiam trapos que mal escondiam seus corpos em seus pescoços estava a causa do desconforto: Uma espécie de coleira de metal grossa, dois cilindros contendo um líquido verde estavam presos à parte da frente e a parte trás tinha dois pinos como os de uma tomada pressionando suas nucas, como uma coleira de choque, nenhum deles conseguia usar suas dádivas, o motivo, muito provávelmente, sendo as coleiras.

O lugar onde estavam parecia ser uma espécie de coliseu, o chão coberto por uma camada de areia machucava os pés descalços do grupo, acima deles várias luzes fortes os cegavam, o que os impedia de ver a multidão que os assistia, mas eles podiam ouvir, e como podiam, as vozes altas gritavam e vibravam ao vê-los acordar. No meio da plateia existia uma espécie de trono, onde a sequestradora os observava com um sorriso no rosto, a voz maliciosa de Abigail logo soou pelo coliseu.

-Bem-vindos! Vamos acordando, essa noite será bastante longa pra vocês, meus combatentes!

A coruja abria as asas para atiçar sua gangue, a vibração só aumentava com suas palavras. Ao ver a mulher coruja, Toga arregala os olhos, não é que a tal coruja seria uma coruja mesmo...

-Temos um grande espetáculo para essa noite e espero que vocês estejam à altura do desafio.

Ela diz isso pegando uma espécie de detonador e apertando o grande e brilhante botão vermelho. Um enorme portão dentro do coliseu se abre lentamente e Mila faz menção de correr até ele para fugir, mas Toga a segura pela gola da camisa.

-O que você-

A diabrete interrompe a própria frase, o chão do coliseu tremia, algo enorme vinha na direção deles pelo corredor do outro lado do portão. É aí que eles vêem...

O dono dos paços era uma enorme criatura de metal, a cabeça tinha o formato de um capacete de samurai antigo com o rosto sendo parecido com uma máscara oni, o peitoral largo do robô abrigava uma tela de vidro blindado no formato de uma ampulheta onde um líquido vermelho fluorescente circulava, o metal de seu corpo era acinzentado e parecia ser extremamente resistente, suas mãos eram grandes o suficiente para esmagar qualquer um deles sem falar na altura daquela coisa, ele parecia passar dos três metros.

-Contemplem! O Shogun!-A platéia vibra mais uma vez.

-Nosso amado patrocinador teve a gentileza de nos enviar uma amostra grátis do futuro! Essa incrível máquina supera vocês semideuses em cada aspecto de suas patéticas habilidades!

A monstruosidade de metal se aproximava cada vez mais do grupo, mais precisamente de Toga, a ruiva encontrava-se em um estado de confusão mental tentando processar o que tinha acabado de ouvir.

-Depois dessa demonstração o mundo verá que o futuro não está nos deuses, e sim nas máquinas!

O punho do robô se levanta e avança na direção da ruiva que continuava parada, seus amigos gritando seu nome e a implorando para que ela saísse dali, o punho estava a centímetros dela quando para de repente...

Sem nenhum esforço, Toga segurava o punho do Shogun só com a mão direita, todos estavam completamente surpresos, até mesmo Abigail franzia o cenho com a cena, o robô tremia e soltava fumaça enquanto tentava acertar a ruiva, mas aquela não seria a única surpresa da noite.

Com a mão esquerda, Toga forçava a coleira em seu pescoço, até que a mesma se partisse, libertando seu pescoço, ao sentir sua aura se energizar novamente, ela solta um longo suspiro de alívio antes de lançar um olhar despreocupado para o robô e arquear uma sobrancelha.

-Essa lata velha que é o "futuro"? Que "supera os semideuses em tudo"? Se vocês planejam dominar o mundo com isso vocês vão passar vergonha.

Ela lança um último olhar desdenhoso sobre a máquina antes de arrancar o braço do Shogun e jogá-lo de lado. O robô cambaleia para trás antes de uma raiz arrancar sua cabeça, o desativando de vez. Após isso, Toga anda até o portão e o força a abrir com um único empurrão para cima.

-Vão ficar parados aí até quando bando de abestados?

Ela diz lhes lançando um olhar por cima do ombro, em segundos Abigail tinha perdido um robô caríssimo e seus prisioneiros, ela, assim como toda a gangue Tartarus, estava surpresa demais para fazer alguma coisa, até que uma explosão os tira do transe.

-A Horseman tá aqui!

O grito dos vigias inicia um pânico geral, e logo o coliseu é tomado pelo som de tiros e dádivas sendo usadas para todos os lados, Abigail aproveita a confusão para ir atrás dos fugitivos.

Com Toga...

-E aí, o que a gente faz agora?

Chase perguntava a Toga enquanto eles corriam sem rumo pelo complexo, a ruiva havia tirado as coleiras deles.

-Primeiramente, vamos achar nossas roupas, tá um frio da desgraça aqui, o vento tá batendo aqui em baixo, desse jeito vai congelar a minha-

-Okay, chega né? Essa obra é de família.-Alexis a interrompe antes que ela pudesse dizer vagi-

-Autor, vamos parar com a baixaria e voltar pra história por favor?-Ele pergunta olhando para cima, os outros o olhavam como se ele fosse louco.

Se insiste...

O grupo corria desenfreado pela instalação até darem de cara com um rosto conhecido...

-Que confusão vocês se meteram hein?

Zakk sorria para seus amigos. Ele havia ido ao seu resgate. Mas antes mesmo que qualquer um deles trocasse mais alguma palavra, Toga avança, dando um forte abraço em seu amigo, surpreendendo até mesmo ele.

-Eu queria ter feito isso antes, eu sinto muito Zakk, eu não devia ter dito aquilo, eu não sabia, se soubesse pelo o que você tinha passado eu jamais teria te machucado daquele jeito.-Deixando a surpresa de lado, o moreno finalmente retribui.

-Não, a culpa é minha, eu devia ter falado com vocês, eu devia...

Ele não conseguia terminar a frase, as lágrimas o alcançaram antes o moreno precisou esconder o rosto no peito de sua amiga, até que ele sente um par de braços abraçar sua cabeça, Mila havia escalado e sentado em seu braço para poder entrar no abraço.

-Depois do que aconteceu no shopping o professor me deu algumas aulas básicas na forja, a primeira coisa que eu fiz foi uma foice igual a sua, eu ía dar como um pedido de desculpas, mas acho que um abraço em grupo é bem melhor.

E assim eles o fazem, todos se juntam e abraçam Zakk com força, até mesmo Ulfric e Alexis se juntaram a eles, e é aí que a máscara do moreno finalmente cai, o sofrimento de anos o atingem instantaneamente e junto com ele, vem as lágrimas.

-Estamos com você Zakk.

A voz da ruiva era a mais doce possível, sentir o afeto de alguém que ele finalmente poderia chamar de amigos transformou a tristeza em felicidade mas as lágrimas ainda o acompanhavam.

Mas a felicidade da cena dura muito pouco, o bater de asas se faz presente...

-Essa cena é tão comovente, sério, eu até pensei melhor se matava vocês todos juntinhos aí ou não...

Abigail estava alí, ela se debruçava em um muro observando-os, sua expressão era serena, mas ela logo muda para uma de pura fúria, uma veia saltava em sua testa e seu bico se curvava em uma carranca de ódio.

-Mas esse pensamento morreu bem rápido, seus vermes imundos! Vocês destruíram meu robô, invadiram minha base, mataram meus subordinados...-Seu olhar então para em Zakk.-E você... Mesmo eu tendo matado o imundo do seu irmão, ele parece me perseguir onde quer que eu vá! Mas eu já sei a solução, vou mandar sua cabeça pros seus pais, assim eles vão saber que eu não tô de brincadeira!

Ao terminar de cuspir suas palavras odiosas, a mulher coruja avança sobre o grupo, que já havia se separado, Zakk dá um passo à frente.

-Pra trás.

Ele manda e seus amigos obedecem. A sua versão sombria estava de volta, essa seria a última vez que eles a veriam, ela seria enterrada hoje.

-Amaterasu!

Ele estende sua mão em frente ao corpo e a bola de fogo se materializa, a expressão vazia do moreno logo se torna uma expressão de raiva, ele firma os pés no chão, e segura o braço que criava o Amaterasu, o resultado é instantâneo, e explosivo, a enorme bola de fogo se tornara ainda maior, de longe poderia ser apenas uma bolinha amarela, mas para os presentes aquela era a própria personificação do sol que respondia a fúria de Zakk.

Fúria essa que superou a de Abigail, transformando seu ódio em puro medo, ela decide dar meia volta, mesmo sabendo que não havia escapatória. O enorme projétil de fogo é lançado, criando um rastro de destruição por onde passou, e ele então atinge seu alvo, criando uma enorme explosão que anunciava o destino de quem se colocasse no caminho de Zakk.

-Arrivederci.

Um último sussurro sai da boca do moreno, dando adeus ao seu eu sombrio, ele sabia que algum dia ele voltaria, mas nunca mais seria contra seus amigos, esse era seu último e verdadeiro adeus ao passado e a solidão. As sirenes se fazem presentes, a polícia.

-Acho que já tá na hora da gente pegar o caminho da roça.-Toga diz já saindo.

-Espera!-Mila chama a atenção dela.-O robô.

-Sério? Isso não é hora de pensar naquela sucata velha!-Chase estava indignado.

-Não tô pensando nele, tô pensando em quem construiu, alguém tem o plano de usar vários deles pra dominar o mundo, temos que descobrir quem!

Então eles finalmente entendem, aquela noite havia sido apenas a ponta do iceberg, e se eles quisessem chegar até o fundo, o Shogun era a chave, minutos depois, várias figuras suspeitas saiam do esconderijo dos Tartarus carregando um robô destruído com eles.