Nessa nova vida, Leo queria ter um novo tipo de experiência. Se possível, longe dos vícios e das drogas, apenas viver num lugar sossegado e ter um emprego com uma boa fonte de renda estável. Talvez até arrumar uma esposa e quem sabe, ter alguns filhos futuramente. Coisas que ele sempre deixava em segundo plano na sua vida anterior.
No entanto, ele não era tão bonito quanto antes, não podia arrumar emprego baseado em sua atual aparência. Além disso, a moda não era uma coisa praticada nesse mundo. Só que ele também não sabia fazer nada além de desfilar nas passarelas. Até tentou arrumar outros empregos, mas a sua falta de habilidade sempre o atrapalhava.
Com muita sorte, Leo — ou melhor, Lakkan —, conseguiu um emprego no porto, descarregando mercadoria dos navios, mas seu corpo não aguentava nem mesmo uma hora daquele trabalho pesado, quem dirá um dia inteiro. Para, ainda assim, ganhar apenas algumas moedas de prata que seria suficiente apenas para pagar uma hospedaria vagabunda e ter direito a uma única refeição no dia.
Por isso, ele estava disposto a fazer de tudo para mudar a sua atual situação. E, enquanto pensava nisso, Lakkan se lembrou da conversa que teve com os marinheiros.
Depois de terminar o seu trabalho, ele enxugou o suor do rosto com a mão e suspirou. Então percebeu que um homem de meia idade e um ostensivo bigode fino se aproximava.
— Aqui, seu pagamento do dia.
O homem estendeu a mão para ele e lhe entregou três moedas de prata. Quando as tinha em suas próprias mãos, Lakkan quase o xingou.
— É só isso?
— Você é um dos que menos ajuda aqui — retrucou o homem. — Deveria ficar grato pelo meu pagamento ainda ser generoso, seu pirralho insolente.
Três moedas de prata, somadas com as que ele vinha juntando, formariam um patrimônio de sete estrelinhas — como ele chamava as moedas que traziam um símbolo semelhante a uma estrela cunhado no metal. Mas depois de descontar o valor do aluguel da semana e as refeições, lhe sobraria a irrisória quantia de duas delas.
o homem o encarou seriamente por um tempo:
— Se está tão insatisfeito assim, talvez você devesse procurar um trabalho em que se encaixe melhor.
Lakkan sorriu e apertou forte as moedas nas mãos, depois as guardou no bolso.
— Acho que vou seguir o seu conselho, velho do bigode engraçado.
— Eu escutei isso! — Em seguida, o homem primeiro inclinou sua cabeça, meio confuso, então comentou: — Vejo que está pensando em algo. Bom, lhe conhecendo, posso dizer que deve ser alguma loucura sua, mas desejo boa sorte.
Lakkan agradeceu a Gowris. Reconhecia que o sujeito de bigode cômico lhe ajudava de coração com esse emprego e nunca cobrou dele como cobrava dos homens mais velhos.
Em seguida, ele saiu do porto. Caminhou pelas famigeradas ruas da cidade baixa, mas seus olhos miravam alta, mais precisamente, sobre a cidade perto dos céus.