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Chapter 5 - Quase Amantes

_ O que quer aqui? – Perguntei mostrando para ele que estava magoada.

_ Ver minha paciente... – Ele disse olhando para um tipo de fichário nas mãos. Parecia estar ocupado com algo mais importante. Então decidi que seria mais agressiva, para que ele me desse mais atenção.

_ Não preciso de ti!

_ Sei disso. – Ele disse calmo, ainda olhando concentrado para o fichário, o que me deixou mais irritada ainda. Mas não ia desistir tão fácil.

_ Então porque insiste?

_ Por obrigação. – Ele disse, colocando finalmente o fichário em cima da cômoda. - Acredite, gosto tanto como tu, de estar aqui.

_ Você é um rato Gabriel! Não sei como conseguiu estar aqui...

Ele deu uma gargalhada, mas não me deixei enganar. Vi que em seus olhos brilhavam o frio brilho da raiva.

_ E por enquanto não saberá minha cara. entretanto, uma coisa garanto-lhe; meus passos foram mais honestos que o seus... E muito mais decentes!

_ O que quer dizer com isso! Não tem o direito de me julgar! Não sabe nada da minha vida!

_ Ai é que se engana. Sei tudo. Cada passo seu, em cada vida e mundo em que vivera.

_ Como pode saber se nem eu mesma sei?

Ele ficou confuso, era como se tivesse dito algo sem pensar, e sua resposta veio insegura.

_ Como seu médico, preciso saber tudo que lhe ocorreu, para poder lhe dar o tratamento adequado...

Não me convenceu, mas deixei para lá. Com Gabriel não adiantava discutir.

_E que é isso que trouxe nas mãos? – Perguntei de má vontade, deixando a curiosidade vencer o orgulho.

_ São listas de alguns venenos que encontramos em algumas plantas daqui... Essas são anotações das impressões de um pesquisador amigo meu.

_ Você se interessa por venenos? Para que?

_ Me interesso por tudo que me rodeia. O veneno de uma dessas plantas não pode nos causar mal algum, porém gosto de debater com amigos o motivo desses venenos existirem. Gosto de estar bem informado, sobre o efeito que causam em pessoas que vivem em outros mundos.

_ Você pretende voltar para algum mundo e usar veneno nas pessoas?

Gabriel revirou os olhos.

_ É uma mera distração, sua paranoica. Ninguém leva nada daqui para onde for. Já percebeu que as crianças nascem nuas? – Ele perguntou irônico e retórico.

_ Não seja arrogante!

_ E você não seja tão tola! Me irrita com suas perguntas idiotas.

_ E você me irrita com sua presença! Tem algum veneno ai para que eu tome e não mais seja obrigada a olhar para sua face?

_ Você não escutou o que eu disse? Esses venenos não fazem efeito em pessoas daqui.

_ Isso é uma pena, né?

Gabriel me fitou uns instantes. Parecia pensativo. Depois o brilho em seus olhos parecia de alguém que estava próximo de se vingar. E eu não fazia ideia do quanto estava certa na minha interpretação.

_Acabei de tomar uma decisão. Já que a visita lhe deixou muito mal humorada, vou proibi-las. – Ele disse com um sorriso, como se tivesse descoberto um baú cheio de ouro.

_ Não se atreveria! Não pode fazer isso!

_ Já está decidido e não se fala mais nisso.

Fiquei furiosa, mas guardei a resposta na língua, pois querendo ou não, ele me tinha nas mãos. Se continuasse batendo de frente com ele, sairia perdendo. E por outro lado, tinha que reconhecer que o provoquei. O trataria como um amigo chato. Talvez fosse o que ele merecia. E talvez ele, fosse o que eu merecia. Júlio não gostaria que me envolvesse com ninguém enquanto ele não chegasse ali... O que me levou a lembrar de minha família. Será que Gabriel teria que prestar contas de tudo que estava fazendo com ela, algum dia?

_ Será que o "doutor" sabe como estão meus parentes?

_ Eles... Estão bem.

_ Estão bem? Quer saber? Acho que não sabe de nada e está blefando! Além de hipócrita é um grande mentiroso! - Gritei, a despeito de ter tomado a decisão de não mais me alterar. Arrependi quase que imediatamente, então resolvi mudar de assunto. Depois da resposta dele.

_ É muito difícil aturar você... – Ele disse balançando a cabeça obviamente desgostoso. – Porque acha que estou mentindo?

_ Porque acho muito difícil eles estarem bem... Eles devem estar de luto... – Respondi educada e ele mudou também o tom da voz.

_ Ninguém fica de luto para sempre.

_ Sim, mas parti da vida deles recentemente.

_ Olha, eles estão bem fisicamente falando. Não sei o que pensa, mas nós não podemos ver os sentimentos deles.

_ Meu pai leu minha mente.

_ Você não está mais na Terra e isso te deixa sujeita a dons que alguns de nós desenvolvemos. Sua família não é você, não funciona com eles. E mesmo assim eles só conseguem ler o que está na superfície, o que você está pensando no momento.

Ficamos ambos em silencio. Eu não sei o que ele pensava, mas eu refletia sobre todo mundo poder visitar meus parentes, menos eu. De repente, algo me fez pensar no passado. Se vivi outras vidas, devo ter conhecido outros pais e outras mães...

_ Por quantas vidas passei? – Perguntei, para florear o que eu tinha em mente para descobrir sem que ele percebesse.

_ Quatro.- Ele respondeu de má vontade, mas não desisti.

_ E o que fiz nessas outras vidas?

_ Não posso lhe dizer.

_ Do que vale então, se não pode nem esclarecer minhas dúvidas?

_ Olha aqui mocinha! Ainda não é hora! Pare de me encher com suas perguntas inúteis!

_ Você não procurou saber de suas vidas passadas?

_ Antes não tivesse procurado... – Ele disse com um amargor tão grande na voz, que me comoveu.

_ O que aconteceu para que pensasse assim? Deve ter sido algo muito ruim...

_ Conheci... Meu destino.

_ Não deve ser tão ruim assim...

Gabriel se voltou para a janela, mas não foi até lá.

_ O passado machuca. Ele te proporciona conhecer seu interior. Eu tentei mudar em todas as vidas, mas uma pessoa nunca me deixava seguir adiante... Sempre me obrigava a ir para o céu quente...

_ Isso me parece realmente horrível... Quem eram essas pessoas que lhe desviavam do caminho da redenção?

_ Não eram pessoas. Era uma única pessoa.

_ Mas você não podia pedir para não nascer no mesmo mundo que ela?

_ Sempre fiz esse pedido. Mas meu destino não só estava com ela, como era ela.

_ Gabriel, eu lamento muito que tenha sido uma experiencia ruim, descobrir seu passado, mas não acho que pensarei o mesmo do meu. E mesmo se for assim, eu quero saber...

_ Ainda é cedo para você... Mas vai saber. Todos temos que saber em algum momento.

_ Não são vocês mesmos que dizem que tempo aqui é uma questão insignificante?

_ Como essa mulher é chata! – Ele disse olhando para cima. - Tente entender que se não estiver em boa forma emocional, qualquer contato com passado e com entes queridos poderá ser sua ruína!

_ Algum dia me dirá? – Disse ignorando o insulto.

_ Não será preciso. Quando estiver pronta se lembrará. A levarei para o lugar das lembranças.

_ E quando estarei pronta?

_ Quando eu decidir.

_ Porque tem que ser você? - Já sabia a resposta, mas estava decidida a irritá-lo. Era mais forte que eu.

_ Porque sou seu médico.

_ Isso lhe dá o poder de decisão da minha vida? Não faz sentido algum.

_ Realmente não faz sentido agora. Quando estiver mais lúcida, vai descobrir os motivos dentro de você.

_ É assim com todos seus pacientes?

_ Assim como?

_ Bruto.

_ Cada um tem o tratamento que merece.

Eu ri. Pensei algo parecido.

_ Sei... Tem muitos pacientes?

_ Alguns.

_ Gostaria de trocar ideias com eles sobre nosso médico...

_ Não terá essa oportunidade.

Vi que ele se divertia. Fazia de tudo para não demonstrar, mas estar comigo, o divertia sim.

_ Gabriel...

_ Sim?

_ Tenho uma alma-gêmea?

_ Todos temos. Mas não pense nisso agora.

_ Vou conhecê-lo?

_ Ainda não sei. - Ele disse pensativo fitando um ponto qualquer, mas sabia que não via nada, viajava em suas divagações.

_ Sabe quem é ele?

_ Ele quem?

_ Minha alma-gêmea.

_ Sei. Vamos mudar de assunto?

_ Ah Gabriel! Diga-me, por favor...

Ele deu um suspiro profundo e foi até a janela.

_ Não posso.

_ Porque?

_ Ele ainda não está preparado, para que você saiba.

_ Ele está aqui, não está?

_ Sim. Está.

_ Como sabe que ele ainda não está preparado para que eu saiba?

_ Não sei.

_ Pode acontecer de confundi-lo?

Ele se virou e me encarou.

_ Confundi-lo?

_ É. Me apaixonar por alguém daqui e achar que encontrei minha alma-gêmea?

_ Claro. Isso sempre acontece aqui. As pessoas se apaixonam como se ainda estivessem no mundo de que vieram, buscam qualquer coisa que possa liga-las de volta ao lugar de onde vieram... Mas, como paixão é um sentimento carnal e superficial, baseado em ideais próprios, logo se cansam, e se desiludem de seus parceiros.

_ Já aconteceu contigo?

_ Não.

_ Já encontrou sua alma-gêmea?

_ Já.

_ E onde ela está agora?

Ele fitou-me frio.

_ Pergunta demais! Ele disse irritado, mas li nos olhos dele que sentia o mesmo que eu. Havia uma energia que nos unia, nos atraia. Uma atração poderosa. Ele sabia. Ah! Que inveja da mulher que tivera a sorte de ser a alma-gêmea dele... Eu não ia me conter para esperar por Júlio. Se ele não se matasse, talvez demorasse décadas até que ele chegasse ali. Estava disposta a me divertir enquanto ele não chegava.

_ Sente atração por outras garotas?

_ Depende...

_ Do que?

_ O que quer ouvir Liza? - Ele disse se aproximando, e se aproximou perigosamente perto demais. Pensei que ia me beijar, mas apenas falou, deixando seu hálito quente em meu pescoço, me dando arrepios de prazer. - Quer ouvir de meus lábios o que lê em meus olhos? Que tenho vontade de te arrancar dessa cama e fazer amor, toda vez que me olha com fúria e desejo? Que não suporto vê-la me comer com os olhos e não poder tocá-la?

_ Gabriel! Não é nada disso... Quer dizer...

_ Não tente negar o que é claro como o dia! Ainda me terá, mas não será como pensa. - Ele disse e saiu apressado do quarto.

Levantei e fui até a janela observar a paisagem perfeita e as pessoas que completavam aquele cenário. Pareciam tão certos naquele lugar... Como se fizessem parte um do outro. Alguns usavam roupas estranhas, outros usavam roupas antigas, mas todos pareciam contentes e conversavam despreocupados... Tive vontade de sair para conversar com as pessoas, respirar em outro ambiente... Mas junto com essa vontade, veio outra muito mais forte; a de me deitar novamente. Estava cansada. Voltei para cama e dormi. Quando acordei tinha uma bandeja no criado mudo. Estava quentinha como se tivesse sido colocada ali há pouco. Comi tudo, desistindo de tentar comparar o sabor daquela iguaria com algo que conhecia. Daí por diante, foi sempre assim. Não via mais ninguém, nem mesmo Gabriel. Sempre dormia e quando acordava tinha uma bandeja no criado mudo. Não conseguia me dar conta nem do tanto de dias passados assim. Comecei a sentir tédio. Entretanto, um dia, acordei e havia vários livros junto com a bandeja. Fiquei feliz em ter outra coisa que fazer que não fosse comer, escovar dentes e tomar banho. Uma força maior me impedia de passar por aquela porta...Por várias vezes, pensei nisso, mas um amedrontado incompreensivo medo impedia-me. Assim, ficava ali. Presa ao quarto por um medo irracional. Nem se quer me aventurava a tentar abrir a porta.

Os dias se passavam e já havia lido todos os livros. Todos falavam sobre o que eu estava vivendo. Foi muito importante para mim. Um deles falava da importância de entender as adversidades da vida. Achei lindo o trecho que dizia assim;

"Todo aquele que aqui passar, passará sozinho".

Ninguém pode (nem deve tentar),

Caminhar pelos mesmos passos de outro.

Pois cada um tem seu próprio caminho.

Porque somos únicos e insubstituíveis.

Ninguém, jamais será igual a alguém."

Já não sentia tanto cansaço como antes e nem tanto sono. Essa fase havia passado e agora passava grande parte do tempo, olhando pela janela. Mas logo voltava para a cama. Apesar de me sentir melhor do que quando cheguei, uma angustia queimava meu peito, fazendo com que tivesse vontade apenas de ficar deitada. Não entendia porque sentia tanta angustia...

A porta se abriu devagar e meu coração deu um salto dentro do peito. Era ele, Gabriel! Odiei-me ao constatar que foi dele que senti mais falta. Sentia uma alegria cruel ao revê-lo. Ele estava com a bandeja na mão e fechava a porta devagar com cuidado para não fazer barulho. Ainda não havia notado que estava acordada e me ressenti ao descobrir que ele esperava me encontrar dormindo. Quando finalmente se virou e percebeu que estava acordada abriu o mais lindo dos sorrisos. Colocou a bandeja no criado mudo e sentou-se na cama.

_ Como vai minha adorável paciente? - Perguntou irônico. Já tinha até me esquecido do calor de suas palavras.

_ Deve saber melhor que eu. Não és tu, o médico aqui?

_ Que linguinha afiada...

_ Estou aprendendo contigo... É um bom professor.

_ Humm. Acho que minha paciente acordou de mau humor.

_ Mau humor?! – Levantei indignada da cama. - Você me deixa dias e dias aqui, sozinha, sem ter o que fazer, com quem conversar e vem me falar de mau humor?

_ Oras. Sempre que chegava, estava dormindo, então preferia não a incomodar. Ainda mais que dá claros sinais de que não gosta da minha pessoa. E posso lhe garantir que é muito mais sociável quando está dormindo e caladinha. – Ele disse com um sorriso que deixou bobo meu coração. Mas só que ainda tinha um cérebro e agiria conforme o que ele dizia.

_ Como é cínico! E papai, Alexia, Geisa e Antônio? Porque não vieram me visitar?

_ Ah sim! Eles vieram, mas disse que precisava de um tempo sozinha e proibi visitas. Lembra? Acho que comentei com você que faria isso... – Ele disse me fitando debochado.

Passei a mão pelo cabelo num gesto nervoso e extremamente irado.

_ Não faria isso. – Eu disse entre dentes.

Gabriel parecia estar se divertindo mais que nunca agora. O sorriso não saia de seu rosto.

_ Faria não. Fiz.

_ Não passa de um cafajeste. – Disse me virando para a janela. Por um momento pensei em pula-la. Morrer, eu sei que não morreria.

_Acha mesmo? Nem todo mundo pensa assim.

Fiquei indignada e calcei os chinelos.

_ Quero sair desse quarto.

Ele se levantou e foi até a janela.

_ Volte para a cama e fique quietinha, como uma boa menina.

_ Não me trate como criança! Não quero ficar presa nesse lugar! Quero sair, caminhar, respirar ar puro...

_ Poderá fazer tudo isso que está dizendo, mas ainda não. Está muito frágil...

Ignorando-o, abri a porta e quando ia iniciar o passo para sair, não encontrei o chão. Olhei para baixo e tudo que vi, foi um imenso buraco negro, que parecia não ter fundo. Fiquei com tontura e senti que ia cair, mas Gabriel foi mais rápido e segurou-me, evitando minha queda. Seu toque me fez despertar e olhando novamente para o chão, não vi nada além de um tapete. Soltei-me de seus braços e com muito cuidado removi o tapete. Para minha surpresa, não havia ali nada, além do chão. Imediatamente soube que aquilo fora algum feitiço daquele anjo do mal.

_ Foi você, não foi?

A sua resposta, foi o nascer de um sorriso diabólico. Quando vi que se divertia as minhas custas, não me contive e passei a lhe socar, no que ele tentava me conter segurando em meus pulsos.

_ O que pensa que está fazendo comigo, seu cretino?

Ele continuava me olhando com um brilho frio no olhar. Uma satisfação oculta e malévola. Seus lábios se moveram num sorriso sardônico. Parecia adorar me ver desesperada.

_ Você está louca... Ele disse rindo.

_ Louca?! -Tirei forças, nem sei de onde e me soltei de suas mãos. - Me tranca aqui dentro, proíbe minhas visitas, me isola de tudo e de todos, me trata com total desprezo e eu que sou a louca aqui?

_ Não é uma prisioneira minha, mas de seus anseios, de seus medos e sentimentos. Será que não viu a fraqueza que teve quando tentou sair do quarto? Ainda quer me culpar, por um crime que não cometi?

_ Mas o que está dizendo? Devo mesmo estar louca, ou as mensagens que chegam ao meu cérebro estão escapando pelo caminho e chegando incompletas... Ou então está querendo me deixar mesmo louca. É esse seu plano? Nada do que venha a sentir poderá me aprisionar, como diz, pois sou muito razoável. – Eu disse sabendo que minha voz saia ameaçadora.

_ Liza, tem que entender seus próprios sentimentos para poder dominá-los. Aqui, está protegida, lá fora, não. Lá, ouvirá lamentos que poderão prejudicar sua evolução, se não tiver absoluto controle sobre suas emoções.

_ Não seja cínico, Gabriel! Tudo que deseja é me atormentar. Nada do que faz é para meu bem, então pare de usar essa justificativa fajuta.

Ele revirou os olhos demonstrando impaciência.

_ Quer saber? Tenho uma paciente que tem muitas bonecas. Pedirei para que lhe ceda alguma.

_ Não se atreva a me tratar como uma criança!

_ Então não haja como uma! Tudo que tento colocar na sua cabeça, você joga fora de volta na minha face. Você dificulta muito seu tratamento agindo assim.

_ Toda essa ironia, é seu jeito de tratar seus pacientes?

_ Só as mulheres atraentes...

_ E tem muitas delas? – Perguntei com um sentimento que eu ainda não conhecia nascendo dentro de mim.

_ Algumas... Mas não se preocupe, agora você é uma delas... – Ele disse com um sorriso tão debochado que o sentimento explodiu em meu peito.

Não aguentei. O ciúme que eu nem sabia que existia dentro de mim, me cegou e perdendo o controle avancei sobre ele e puxei seu cabelo. Nós começamos uma pequena luta em que ele me pedia para solta-lo o tempo todo. Não soltei. Na tentativa de fazer com que o soltasse, me jogou na cama, mas foi inútil, pois, segurando-o pelos cabelos, levei-o comigo. Ele caiu por cima de mim e acabamos ficando numa posição, muito comprometedora com seus lábios a poucos centímetros dos meus.

_ Me solte... – Ele pediu ofegante.

_ Não. – Me recusei também ofegante, mas sabia que não era do esforço que fiz...

Então aconteceu o que desejava há muito tempo... Ele me beijou. Era um beijo tão diferente... Esse dizia tantas coisas... Transmitia tantos sentimentos... Nunca havia sentindo tanto num beijo.

As mãos que antes puxavam os cabelos, respondendo a uma ordem oculta pelo desejo, ficaram carinhosas... Nunca vou me esquecer desse dia. Pois foi nele que descobri que amava Gabriel, apesar da tristeza, pois segundo papai em suas palavras, o amor que ocupa o vazio dos corações, era somente aquele vivido entre almas-gêmea. Portanto, estava numa batalha perdida. O que senti por Júlio não passava perto do que sentia agora.

Em um segundo a situação mudou e ele ficou mais agressivo, seus lábios, antes gentis, ficaram possessíveis e exigentes. Senti o membro dele se enrijecer e recebi como a uma caricia. Fez-me desejá-lo. Suas mãos entraram por dentro da camisa e encontrou meus seios, segurando-os como se fossem troféus. E num instante, estava nua em seus braços, mas quando tentei abrir seu zíper, ele se afastou. Levantou-se e só então me dei conta de que estava vestido e eu nua. Senti vergonha e me cobri com o lençol, antes de olhá-lo indagadora e frustrada pela promessa de amor que não se consumou.

Ele sorriu. Aquele sorriso maldoso. Foi até a janela, ficando de costas para mim.

_Se vista.

Não pude impedir as lágrimas que brotaram, de rolar por meu rosto. Sem dizer uma palavra, me vesti e sentei na cama, mas as lágrimas não cessavam. Por um momento, fomos quase amantes. E eu não sabia que desejava tanto isso... O pior que parecia ser diferente para ele. Como se eu fosse só mais uma distração, no seu caminho. "Havia outras" uma voz dentro do meu cérebro me lembrou. Talvez ele já estava cansado aquele dia para... Fazer o que desejei que ele fizesse...

Ele se virou e ficou me observando, com o desprezo estampado em sua expressão e em seus olhos frios e indiferentes ao meu sofrimento. Não consegui sustentar aquele olhar de desprezo. Abaixei a cabeça. Seria quase impossível suporta-lo agora que descobriu o meu desejo por ele. Também era uma descoberta para mim. Podia entender seu pai agora. Sua mãe estava longe. Fiquei alguns minutos tentando me convencer, em vão, que foi só porque Júlio estava longe.