No entanto, mesmo em meio a dor da rejeição, senti que havia algo de intimo entre nós dois, enquanto nos beijávamos. Havia um querer maior que apenas o desejo. Havia uma energia gostosa quando nos tocávamos que me invadiu. Sei que foi assim para ele também, mas algo o impedia... Havia um muro em volta dele que era intransponível. Alguém colocou ele lá e ele deixou... Precisava saber o motivo da rejeição, pois ele também ficaria feliz e sentiria as mesmas emoções que eu.
_ Porque? - Perguntei com amargura na voz. Meu sofrer era grande demais naquele momento, mas não era como qualquer sofrimento pelo qual já havia passado. Era algo bem mais profundo.
_ Não quis me soltar. Foi a única maneira que encontrei... – Ele respondeu depois de um tempo como se não tivesse entendido a pergunta.
_ Nossa! Como é persuasivo. Estou impressionada com sua determinação. - Disse enxugando as lágrimas. Era melhor entrar no jogo dele.
_ É muito teimosa, mas não vou dizer que sinto muito. Não seria verdade. Além do mais, teve um lado bom, agora sei que arma usar contra você.
_ Que arma?
_ Seu corpo.
Fiquei vermelha.
_ Por que precisa de uma arma contra mim? Por acaso represento algum perigo?
_ Simples. Porque quero destruí-la. Você não pode mais nada contra mim. É tão perigosa quanto uma formiga.
_ O que fiz, para que me odiasse tanto assim?
_ Na hora certa saberá.
_ E acha que pode usar meu corpo? Jamais deixarei que me toque novamente.
_ Ah, vai deixar sim. Implorará.
_ Nunca!
_ Eternamente.
Só então me lembrei da conversa que ouvi entre ele e Antônio. Era de mim mesma que falavam sem sombra de dúvidas. Mas, por mais que tentasse, não conseguia me lembrar com exatidão o que fora dito naquele dia. Só tinha certeza que era algo relacionado com o passado... Precisava descobrir do que se tratava, mas não conseguiria nada com Gabriel se o abordasse diretamente. Teria que ir devagar... Num impulso, resolvi começar uma conversa, já colocando em prática, a ideia de descobrir tudo que pudesse sobre ele. Precisava afastar a dor de mim, e essa dor só era diminuída, quando ele conversava comigo. Mesmo que por meio de ironias. E tinha que tirar proveito disso. Saber mais sobre a vida dele, me parecia agora, mais importante que saber da minha.
_ Por quantas mudanças de mundo já passei? Você já disse, mas não me recordo... – Eu menti.
Gabriel me olhou confuso e surpreso com a súbita mudança de assunto e humor.
_ Umas quatro...
_ Nossa! E você?
Ele abaixou a cabeça e apertou as mãos. Quando ergueu novamente a cabeça vi temerosa que seus olhos escureceram. Descobri tarde demais que havia entrado em território perigoso. Nem esperava mais por uma reposta, quando o ouvi;
_ Umas três...
_ Uma a menos que eu... - Ainda tentava entender até onde aquilo podia ter alguma coisa a ver comigo.
_ Você supõe coisas demais. Se soubesse a verdade agora, nesse minuto, sua cabeça ia explodir...
Não entendi o que ele quis dizer com aquilo, mas não abandonaria meu mais novo objeto de pesquisa.
_ E, não quis mais voltar? – Perguntei ignorando suas últimas palavras. Não teria respostas mesmo.
_ Não.
_ Porque?
_ Por opção minha! - Pelo tom de sua resposta não foi difícil perceber que aquela conversa começava a irritá-lo, mas não podia parar agora.
_ Há quanto tempo está aqui?
_ Aqui na Colônia não tenho certeza, mas sem ir a outro mundo... já há mais de quarenta ou cinquenta mil anos...
_ Se não estava aqui, onde estava então? - Naquele momento, a quantidade de anos que ele dissera me passou despercebida. Só mais tarde tudo aquilo fez sentido e eu me lembrei das palavras dele.
_ Vaguei por muitos anos no céu quente.
_ Já ouvi falar sobre esse lugar, mas não sei ao certo o que quer dizer.
_ É o lugar para onde vão os espíritos que não conseguem se libertar de um certo ciclo vicioso, aqueles cuja sua consciência não os permitem a se perdoar, os suicidas e alguns outros casos... Mas os mais ocorrentes, são esses de que lhe falei.
_ E em qual categoria se encaixava?
Dessa vez não ele respondeu e seu silêncio era mais perturbador que sua língua ferina. Resolvi tentar por outro caminho.
_ Com quantos anos morreu pela última vez? – Ele me fitou, parecia aliviado por não insistir na pergunta anterior.
_ Uns 26 anos.
_ E era assim mesmo?
_ Assim como?
_ Com essa aparência?
_ Não.
_ E como você era?
Ele ficou pensativo por algum tempo antes de responder.
_ Já não me recordo mais. Tirei tudo que me lembrava minhas vidas, até mesmo as memórias. Elas voltam, quando algo do passado esbarra comigo, mas minha aparência... Nunca se tornou necessária.
_ Como assim? Pode-se escolher a forma que quiser aqui?
_ Não. Existe aqui, um lugar que chamamos de Casa dos Espelhos. Lá se pode ver como era a aparência que o ser Maior escolheu para nós e foi perdida pelos pecados. E se quisermos, podemos voltar a ter essa forma, quando chegamos aqui. Alguns vivem algumas de suas vidas nessa forma, mas, todos acabam pedindo para serem diferentes para onde vão.
_ Então era assim que devias ser desde o princípio?
_ Isso.
_ E porque papai não mudou de forma?
_ Porque se assim fizesse, não seria reconhecido pelos entes queridos dessa geração.
_ Mas você mudou! Não quer ser reconhecido por seus entes queridos?
_ Não tenho mais "entes queridos", e a pessoa que... Na verdade não desejava ter mais vínculos com nada que me lembrasse do passado e já lhe disse isso. É horrível ter que ficar explicando a mesma coisa o tempo todo.
_ Nossa! Essa é uma atitude radical. Porque? O que houve?
Dessa vez ele não respondeu e se virou como a dar por encerrada aquela conversa. Sabia que devia parar por ali, mas havia outra coisa que precisava saber;
_ Como conseguiu fazer aquele buraco negro?
Ele riu como se lembrasse de algo muito engraçado.
_ Criei uma ilusão hipnótica no seu cérebro.
_ Porque faz isso? O que ganha?
_ Porque não quero que saia do quarto sem minha autorização.
_ Não pode me impedir.
_ Não posso? – Perguntou levantando a sobrancelha que se ergueu desafiante e irônica.
_ Não devia pelo menos.
_ Tem muitas coisas a aprender, e uma delas é que está na minha mão. - Ele disse erguendo a mão.
_ Devia se envergonhar... O que sua outra metade diz disso?
_ Do que está falando?
_ Falo de sua alma-gêmea. Não tem ciúmes de você?
_ Que motivos teria para isso?
_ Me trancar aqui nesse quarto, já seria motivo suficiente e levando em conta onde estamos, pode até descobrir o que houve entre nós.
_ E o que exatamente aconteceu entre nós?
_ Oras... Nós quase...
_ Não seja tola! O que aconteceu aqui, não significou nada para mim, além do mais, não deveria julgar as pessoas por si própria. Ciúme é um sentimento medíocre. Digno de pessoas como você.
_ Você não é humano Gabriel. Fere os sentimentos das pessoas como se não passassem de lixo. Melhor do que ninguém, devia saber que não está acima dos outros...
_ Apesar de não estar acima de todos, aqui, neste quarto, sou eu quem está no comando. E se lhe servir de consolo, ainda será minha, mas onde e quando eu quiser.
_ Fala como se fosse uma condenação. Já pensou que posso gostar?
_ Ah! Vai gostar sim. Mas me encarregarei de se desprezar por se deixar escravizar pelos prazeres do corpo.
_ Pensei que éramos apenas espíritos...
_ Claro que temos um corpo! Não de carne, mas temos.
_ E o que ganhará me fazendo sofrer?
_ Tem a eternidade para descobrir...
_ Não te entendo...
_ Nem é para entender, por enquanto.
Nesse momento Geisa entrou no quarto tempestivamente. Trazia uma rosa amarela nas mãos, mas quando nos viu escondeu as mãos para traz e ficou nos olhando constrangida.
_ Desculpe Gabriel... Sei que proibiu visitas, mas só queria deixar uma flor para Liza... – Ela disse virando-se para sair.
_ Não vá ainda... - Pedi.
Ela se voltou para Gabriel e o fitou esperando seu consentimento.
_ Vou deixá-las a sós, devem ter muito que conversar. - Ele disse já saindo. – Não se demore Geisa. Hoje ela está mais... Sensível que nos outros dias...
_ Senta aqui. - Convidei apontando um lado na cama, assim que o arrogante do Gabriel fechou a porta atrás de si. Ela se aproximou e sentou, mas permanecia muda.
_ Essa flor é para mim? - Perguntei ansiosa por iniciar uma conversa.
_ É sim. – Ela disse me entregando. - Já estive aqui antes, mas sempre a encontrava dormindo. Resolvi lhe trazer uma flor para lhe transmitir conforto, não tinha intenção de incomodá-la.
_ Jamais me incomodou, querida.
_ Não?! – Ela arregalou os olhinhos cinzentos. Parecia surpresa e não muito certa da verdade da minha afirmação.
_ Claro que não. As pessoas que amamos não são comparadas com incômodos, jamais!
_ Ah...
_ O que te fez pensar assim?
_ Bem... Gabriel proibiu visitas... Nos disse que você estava passando por uma fase muito difícil e era melhor que não a incomodássemos.
_ Quem me incomoda de verdade é ele.
_ Porque?
_ Ele me trata mal. É como se me odiasse.
_ Compreendo... Ainda está muito confusa e é normal, mas saiba que se engana, Gabriel não a odeia.
_ Não sabe o que diz, Geisa.
_ Sei sim. Ele não pode te odiar pois é um homem muito bom.
_ Gabriel? Pode ser tudo, menos, bom.
_ Não devia falar assim... – Geisa disse contrariada e eu senti que ela sabia de algo, mas junto também senti que ela não me diria nada.
Respirei fundo. Mas o que estava fazendo? Aquilo não eram coisas para se dizer a uma criança. Foi um erro pensar. Pelo jeito dela me fitar, logo entendi que havia lido meus pensamentos.
_ Liza, aqui não existem esses preconceitos. Só sou uma criança porque quis que me reconhecesse, além do mais, aqui, nós "crianças" sabemos e conversamos sobre tudo.
_ Perdoe minha ignorância...
_ Não tem problema, você não tem culpa. Afinal ninguém morre sabendo.
Rimos juntas.
_ Nossa! Estou com tanta saudade de casa... Queria ver nossa família novamente, saber como estão...
_ Eles estão bem... É uma pena não poder levá-la para poder visitá-los...
_ Como assim? Então é verdade? Pode ir até eles?
_ Posso sim! E os vejo sempre, mas não pensam mais em mim... Só mamãe... As vezes.
_ Não é verdade, Geisa. Todos te amam.
_ Não. Não amam. Nem se lembram de mim. Sei, porque posso perceber suas atitudes. Nunca falam sobre mim. É como se tivessem apagado minha existência da memória. Mas mamãe, as vezes ainda pega um retrato meu e fica pensativa. As vezes até chora... Não condeno meus irmãos por esquecerem de mim. Isso é uma coisa boa para eles. Dores devem ser deixadas num canto escuro da mente. E sei que significo dor.
Que argumento poderia usar contra aquela verdade? Não havia justificativa válida. Eu mesma, quando no lar terreno, só me lembrava dela ocasionalmente.
_ E porque não pode me levar?
_ A primeira vez terá que ir com Gabriel.
_ Porque?
_ Só ele pode dizer quando estará preparada para um reencontro. Sabia que pode ser muito perigoso? Ele tem que avaliar cada reação que você vai ter, ao encontrar as pessoas lá.
Fechei os olhos com força para me acalmar e impedir que as lágrimas rolassem.
_ Vamos combinar uma coisa? Toda vez que for visitar nossa família, depois passe aqui para me contar das novidades e como estão as coisas por lá?
_ Porque diz isso? Logo, logo poderá visitá-los também.
_ Não vou. Gabriel nunca vai permitir isso.
_ Porque não?
_ Porque ele não gosta de mim! Será que ninguém vê isso? – Desabafei.
_ Ele não tem nada contra nada você, Liza.
_ Gostaria de acreditar nisso. Geisa, quando encontrar Antônio, peça-o para vir me visitar, preciso, que se possível, substitua Gabriel. Ele está me deixando louca...
_ Não sabe o que está dizendo...
_ Claro que sei! Ele está me levando a loucura, com essa tortura de deixar-me trancada aqui!
_ Mas... Está aqui há apenas uma semana!
_ Uma semana? Só? – Aquela noticia foi pior do que eu imaginava. Só uma pessoa odiosa poderia prolongar tanto sua dor que fizesse com que a outra se sentisse presa nesse cárcere por uma eternidade.
_ É.
_ Mas cada minuto que passo aqui, parece uma eternidade... Sinto como se ele quisesse me destruir, me mantendo e obrigando a um confinamento. Acredito que quer se vingar por algo que lhe fiz no passado, mas não é justo! Como posso pagar por um erro que nem sei se cometi ou porque fui levada a cometer? Como saber se ele não está julgando levando em conta apenas o seu ponto de vista? As pessoas mudam. E ele não me dá uma chance de provar isso a ele, quando se recusa a revelar o que fiz contra ele.
_ Acho que precisa mesmo de um tempo sozinha, afinal Gabriel, não pode lhe fazer mal.
_ Como pode afirmar isso com tanta certeza?
_ Bem... Ele é... Antes de tudo, um homem muito bom, sempre cuidou de seus pacientes com muita dedicação e... Bem, o resto terá que descobrir sozinha.
_ Está bem. Por algum motivo que desconheço, já percebi que jamais vai acreditar em mim. Mas quero que guarde minhas palavras; ele nunca permitirá que saia daqui e muito menos que veja meus familiares. Estou condenada a ficar eternamente confinada nesse quarto. Ele me tem nas mãos, e o único remédio é mesmo me conformar com o inevitável... Ah Geisa... Entendo que foi o destino que me trouxe aqui e assumo que não fui exatamente um modelo de virtudes, não merecia mesmo ter paz.
_ Mas a guerra está partindo de você mesma! E o pior é que está lutando contra nada. Porque não tenta parar de travar essa luta dentro de você e se liberte? Pare de ter medo e deixe seus sentimentos fluírem! Pare de olhar para os lados procurando negativismo em tudo ao seu redor! Essa atitude é prejudicial. Procure a verdade e então encontrará sua tão desejada paz... Mas desde já lamento muito seu modo de pensar.
_ Está bem, Geisa. Prometo que vou tentar.
_ Faça isso. Mas não se esqueça que nunca estará sozinha, se não quiser... Agora, preciso ir, já demorei tempo demais. – Ela me deu um beijo na testa e se retirou.
Assim que Geisa partiu, a porta se abriu novamente. Eu havia me deitado de lado, mas senti um calor gostoso e me virei para ver de quem se tratava. Eles eram três. Se aproximaram de mim e começaram a falar comigo, mas não pude conhecer suas vozes. Não tem como explicar essa experiencia. Eles também não me deixaram conhecer-lhes a face. Brilhava muito. Tanto que desisti de fita-los, pois parecia que tinham o sol no lugar das cabeças. Eles me falavam na mente e eu ouvia minha própria voz falando comigo. Queriam me mostrar o céu quente e precisavam que eu aceitasse para que pudessem me levar. Claro que aceitei. Era a chance de sair daquele quarto, com criaturas que eu tinha certeza que Gabriel não ousaria enfrentar. Um daqueles seres, me esclareceu que eu não sairia do quarto. Eles me levariam pelas minhas lembranças. Era óbvio que tinham lido minhas intenções. Aceitei assim mesmo. Se não podia fugir dali, pelo menos fugiria do tédio. Uma corrente de ar passou por mim e fui levada a olhar para a porta. Gabriel estava parado na porta com as mãos nos bolsos das calças, observando. Aquilo me desanimou um pouco. Podia ser um plano dele. E se fosse, não seria boa essa viagem. A criatura voltou a me perguntar se eu tinha certeza que queria ir. Aceitei. Jamais iria me acovardar por causa de Gabriel. Eles então, me orientaram a fechar os olhos e me deitar como se fosse dormir. Logo abri os olhos e me vi diante de um enorme e vazio deserto. Não havia ninguém comigo. Estava sozinha. Comecei a andar, apesar de achar inútil, pois parecia que haviam me colocado no deserto do Saara e para todo lugar que olhava só havia areia. O termo "céu quente" se aplicava mesmo ali. Sentia um calor insuportável. Enquanto andava perdida em meus pensamentos, comecei a ouvir gritos e gemidos de dor que me assustaram. Pelo jeito estava chegando em algum lugar habitado. Continuei andando, mas agora tentando seguir os gemidos. Queria ver esse lugar. Era imprescindível que eu visse. Havia uma espécie de anseio por isso no meu coração. Era importante, mas não sabia porquê. Enquanto mais avançava, mais alto se tornavam os gemidos, provando que estava no caminho certo. Porém, parei. O deserto acabara e agora só se via uma imensidão de brasas acesas e pessoas andando sobre elas. Queria gritar para elas que viessem até onde eu estava, pois ali, não sentia dor, só calor. Mas elas não me ouviam...
_ Elas te ouvem sim...
Uma voz disse por trás de mim, então percebi que não havia mais calor. Somente um gostoso frescor e um vento que mantinha aquele lugar como um Oasis no deserto. Ia me virar para ver quem falava comigo, e só então percebi que além do balanço de meus cabelos, o resto do corpo estava totalmente paralisado.
_ Não tema. Ainda nos encontraremos. E você vai saber de muitos mistérios...
_ Se aquelas pessoas me ouvem, porque não vem até aqui? – Perguntei, percebendo que minha boca também podia se mover.
_ Aquelas pessoas se sentem culpadas. Elas não estão em busca de refrigério. Estão em busca de punição. A culpa as consome...
_ Então porque estou aqui?
_ Porque você já passou pelo mesmo que aquelas pessoas. E eu estive no mesmo lugar que está agora tentando chamar sua atenção.
_ Não me lembro disso... Como elas suportam viver sobre brasas acesas? Parece horrível. Não posso acreditar que já suportei esse tipo de dor.
_ As brasas queimam seus pés e o corpo todo é consumido por dor por anos... Mas chega um dia que elas começam a perceber que passou a ser inútil a tortura que estão se impondo, apesar da purificação que traz para a pessoa passar um tempo sobre aquelas brasas... Mas quando resolvem sair, finalmente aceitam minha ajuda e vem para mim. Foi assim com você.
_ Isso ainda não explica porque estou aqui.
_ Tenho ouvido o clamor e a angustia do seu coração. Precisava falar com você pessoalmente. Pois ninguém jamais vai ser capaz de lhe convencer do que vou lhe dizer agora. E queria que você visse que as pessoas, por mais conturbadas que estejam, como aquelas que você pode ver daqui, sempre estaremos com elas. Nunca estarão sozinhas. E você também não está sozinha nunca. Eu providencio isso...
_ Você é Deus?
_ Não. Mas Ele me enviou.
As lágrimas começaram a descer pelo meu rosto sem cessar. Não conseguia mais emitir som algum. Era uma avalanche de lágrimas. Eu também era culpada por tantas coisas... Talvez meu lugar fosse lá junto com aquelas pessoas pisando em brasas. Talvez tivesse sido covarde demais para passar por aquele tormento, que eu sei que merecia.
Depois de muito chorar, a paz invadiu meu ser. Sentia que tinha tirado um peso, um fardo de cima de minhas costas. Sabia que fora o ser que estava atrás de mim que fizera com que me sentisse assim.
_ Agora que está melhor, você vai acordar na sua cama. Lembre-se sempre que nunca está sozinha. Que tudo que lhe ocorrer terá alguém observando. E providencias serão tomadas, para o bem ou para o mal, dependendo de suas atitudes. Não está sozinha.
O ser disse e realmente acordei em meu quarto. Não havia ninguém ali. Apesar de suas palavras finais, me senti muito sozinha. Aconcheguei debaixo do cobertor. Estava vivendo um pesadelo. Parecia que gritava, gritava por socorro e ninguém me ouvia. Era um pesadelo tão real, que era impossível de ser ignorado. Como poderia me sentir segura, se ninguém acreditava em minhas palavras? Fechei os olhos desejando dormir e nunca mais acordar. Não queria enfrentar os olhos frios de Gabriel e nem a dura realidade de já não poder contar com as pessoas que amava. E foram com esses pensamentos sombrios que adormeci profundamente.