Capítulo 10 - O Preço do Conhecimento
A sala do Conselho dos Sábios, esculpida em mármore branco e adornada com runas brilhantes, parecia ainda mais opressiva naquela noite. Dezesseis membros, representando reinos humanos, anões, elfos e magos, estavam reunidos ao redor de uma mesa circular que parecia antiga como o próprio mundo.
Sir Edrian permaneceu de pé, seu manto sujo pelo sangue e poeira das terras devastadas pelas Montanhas Cinzentas. Sua expressão era grave. Ele segurava os textos antigos recuperados, agora parcialmente traduzidos por Lyrien, a arquimaga dos elfos.
"O que sabemos até agora é… perturbador," começou Lyrien, hesitando ao encarar os olhos do Conselho. "Zharok não é apenas uma criatura. Ele é uma manifestação de algo anterior à própria criação deste mundo."
Valthar, o ancião humano, inclinou-se para frente. "Fale claramente, maga. O que significa isso?"
Lyrien respirou fundo. "Significa que ele não pode ser morto. Ele não segue as leis da vida ou da morte como as conhecemos. Mesmo que destruíssemos seu corpo, ele renasceria. A única solução seria selá-lo para sempre. E isso requer algo que não temos."
Um silêncio sombrio tomou conta da sala.
"E o Sangue da Terra?" questionou Thranor Pedraferro, o representante dos anões. Sua voz era um trovão no ambiente. "Nossas lendas falam que ele foi usado uma vez para forjar armas capazes de deter até os deuses. Sir Edrian, tua espada foi feita disso, não foi?"
Sir Edrian assentiu, seus olhos fixos na lâmina embainhada. "Foi. Mas mesmo minha espada não conseguiu feri-lo profundamente. Ele se tornou mais forte. O Sangue da Terra sozinho não será suficiente."
"Então reforjamos," disse Thranor. "Nas antigas forjas de Khazad-Dûrn. Estão dormentes, sim, mas não destruídas."
"E o preço disso?" perguntou Valthar. "Quantas vidas serão perdidas enquanto buscamos essa solução?"
Sir Edrian olhou para o Conselho, sua voz carregada de determinação. "Quantas vidas serão perdidas se não tentarmos?"
Capítulo 11 - Drakoria em Chamas
Enquanto o Conselho debatia, Zharok avançava. Seu próximo alvo era o Vale Esplendoroso, um paraíso de colinas verdejantes e florestas ancestrais. No coração do vale estava Drakoria, uma cidade de torres douradas e muralhas de granito, conhecida por sua prosperidade e cultura.
Quando Zharok surgiu no horizonte, os sinos de alerta tocaram. Crianças choravam enquanto pais corriam para abrigá-las. O mercado, antes cheio de risos e negociações, tornou-se um caos de gritos e tumulto.
General Kael Dorn, um veterano de guerra, organizava as defesas no topo das muralhas. Ele era um homem de poucas palavras, mas sua presença inspirava coragem em seus soldados.
"Ouçam bem!" gritou ele, sua voz cortando o pânico. "Esse dragão pode ser enorme, mas nós somos Drakoria! Não recuaremos. Protejam os civis e mantenham as linhas firmes!"
Zharok desceu como uma tempestade. Suas asas negras bloquearam o sol, mergulhando a cidade em sombras. Quando ele rugiu, os vitrais das igrejas se estilhaçaram, e os próprios alicerces das muralhas tremiam.
Kael observava, impotente, enquanto o dragão liberava uma onda de energia que transformava os campos férteis ao redor da cidade em desertos estéreis. As árvores secavam e desmoronavam, e os rios evaporavam em segundos.
Dentro da cidade, o pânico aumentava. Famílias se separavam, templos ardiam em chamas mágicas que nem os magos conseguiam extinguir.
"General, nossas flechas não estão funcionando!" gritou um arqueiro.
Kael cerrou os dentes. "Concentrem o fogo nos olhos! Talvez o cegemos!"
Mas antes que pudessem agir, Zharok lançou um jato de energia que abriu um buraco nas muralhas, derrubando dezenas de soldados.
Capítulo 12 - O Despertar de Zharok
Zharok pairava sobre os escombros de Drakoria, sua silhueta colossal iluminada pelas chamas que consumiam a cidade. Ele não era mais apenas um predador. Havia algo novo em sua consciência, algo que parecia despertado pela destruição que ele causava.
Dentro de sua mente, uma voz ressoou.
"Zharok… meu filho. Estás te tornando o que sempre deverias ser."
Ele hesitou no ar, confuso. A fome insaciável que sempre o guiara agora era acompanhada por pensamentos mais complexos. Ele sentiu um prazer sombrio ao observar o caos abaixo, mas também uma inquietação.
"Quem és tu?" perguntou ele, sua voz profunda como um trovão dentro de sua mente.
"Eu sou o Vazio. E tu és meu fragmento perdido. Devora, Zharok. Cresce. Este mundo é apenas o começo. Quando estiveres pronto, uniremos nossas forças e dominaremos as estrelas."
O dragão rugiu, um som tão poderoso que ecoou até os confins do universo. Ele não entendia completamente, mas algo dentro dele sabia que a voz estava certa. Ele era mais do que um dragão. Ele era a ruína.
Enquanto ele voava para longe, deixando Drakoria em cinzas, os sobreviventes olhavam para o céu com desespero. Para eles, Zharok não era apenas um monstro. Ele era um presságio do fim.
Capítulo 13 - Vozes no Escuro
Os túneis sob as Montanhas Cinzentas estavam envoltos em trevas. Apenas o som do gotejar de água ecoava, interrompendo o silêncio. Thranor Pedraferro, acompanhado de sua pequena escolta de anões guerreiros, avançava com determinação. Seu objetivo: reacender as forjas de Khazad-Dûrn, a última esperança contra Zharok.
Cada passo era uma jornada pelas memórias de seu povo. As paredes dos túneis estavam gravadas com runas antigas, contando histórias de batalhas gloriosas, de reis caídos e do poder inigualável do Sangue da Terra.
"Esta não é apenas uma luta por sobrevivência," murmurou Thranor, enquanto observava as inscrições. "É pela nossa honra. Não podemos permitir que a ruína de Zharok apague o legado dos anões."
"E se falharmos?" perguntou um jovem guerreiro, sua voz tremendo levemente.
Thranor parou e olhou para o jovem. "Se falharmos, garoto, não haverá mais ninguém para contar nossas histórias."
Enquanto a expedição avançava, eles começaram a ouvir sussurros nas profundezas. Não era o eco de suas vozes. Era algo mais… antigo. Algo que parecia observar.
Capítulo 14 - A Ruína dos Refugiados
Enquanto Thranor buscava as forjas, os sobreviventes de Drakoria marchavam para o sul, procurando abrigo em Ravaryn, uma cidade fortificada no deserto. Liderados por General Kael Dorn, os refugiados formavam uma visão devastadora: crianças famintas, idosos carregados em carroças improvisadas, soldados feridos.
Kael caminhava ao lado de uma jovem mãe que segurava seu bebê com mãos trêmulas. "Quanto mais falta?" ela perguntou, quase em lágrimas.
"Estamos perto," respondeu ele, embora soubesse que não era verdade. O deserto era implacável, e os suprimentos estavam acabando.
Naquela noite, enquanto o grupo montava acampamento, Kael sentou-se com Lyrien, que os acompanhara para proteger os textos antigos.
"Quantos mais morrerão antes de encontrarmos uma solução?" perguntou Kael, sua voz pesada.
"Mais do que gostaríamos," respondeu Lyrien, encarando as estrelas. "Mas precisamos continuar. Se não lutarmos, tudo o que conhecemos será consumido."
Enquanto eles conversavam, uma criança gritou no acampamento. Todos olharam para o céu e viram uma silhueta familiar. Zharok estava lá, observando, suas asas negras estendidas como a morte.
"Protejam os civis!" gritou Kael, pegando sua espada.
Mas Zharok não atacou. Ele rugiu, um som tão profundo que as próprias dunas do deserto se deslocaram. Era quase como um aviso. Então, ele desapareceu nas sombras.
Capítulo 15 - Zharok e a Tempestade Cósmica
Enquanto os mortais lutavam para sobreviver, Zharok continuava sua jornada de transformação. Ele havia cruzado o oceano e agora sobrevoava terras que nenhum humano havia pisado. Ele estava em busca de algo, guiado pela voz do Vazio.
No horizonte, ele viu uma tempestade cósmica—aquilo que os magos chamavam de O Olho do Caos, uma anomalia de energia pura que conectava os reinos do espaço e do tempo.
"Vais absorvê-lo," disse a voz. "Tornarás sua energia parte de ti."
Zharok hesitou. Ele sentia uma crescente consciência dentro de si, uma centelha que desafiava o controle do Vazio. Mas sua fome o consumia, e ele mergulhou na tempestade.
A explosão de energia foi visível em todo o continente. Os céus mudaram de cor, e os oceanos se agitaram. No coração da tempestade, Zharok rugiu enquanto sua forma física se expandia. Suas escamas brilhavam como estrelas, e suas asas pareciam conter a própria galáxia.
Ele emergiu mais poderoso do que nunca, mas algo mudou. Dentro dele, a voz do Vazio parecia mais distante. Zharok começava a questionar sua própria natureza.