Capítulo 16 - A Ascensão de Escamas e Fogo
Zharok descansava em uma planície desolada, onde a vegetação havia desaparecido e as montanhas ao redor estavam reduzidas a pilhas de rocha negra. Seu corpo, agora maior do que qualquer criatura conhecida, reluzia à luz da lua.
As escamas, antes de um negro opaco, agora brilhavam com reflexos dourados e prateados, como se absorvessem os fragmentos de luz ao seu redor. As pontas de suas asas estavam adornadas com pequenos cristais que cintilavam como estrelas, um testemunho de sua recente absorção da Tempestade Cósmica.
Ele esticou suas asas, e cada movimento fazia o ar vibrar com um som profundo. Mas o que chamava mais atenção eram seus olhos: antes vermelhos como brasas, agora haviam se tornado dois globos de energia pulsante, um reflexo de sua conexão crescente com o Vazio.
Porém, dentro de sua mente, um conflito crescia. Ele já não era apenas a besta destrutiva movida pela fome e pela sede de poder. Pensamentos mais complexos começavam a emergir.
"Eu sou mais do que uma ferramenta," murmurou ele para si mesmo, sua voz reverberando pela planície deserta.
A voz do Vazio ressoou novamente. "És meu fragmento, Zharok. Não te esqueças disso. Tua vontade é minha. Tua existência é minha criação."
Mas Zharok hesitou. Pela primeira vez, ele questionava as palavras daquela presença que sempre o guiara. Ele começou a perceber que a destruição não era seu único propósito.
Capítulo 17 - Ecos de Resistência
Enquanto Zharok enfrentava sua batalha interna, a resistência no mundo mortal começava a tomar forma. Em Ravaryn, Kael Dorn havia finalmente liderado os sobreviventes para dentro da cidade fortificada. Lá, ele encontrou apoio inesperado: • Altharion, o Guardião de Chamas, um mago que dedicara séculos ao estudo de criaturas arcanas. Ele carregava um fragmento de um cristal semelhante ao que agora adornava as asas de Zharok. • Cassandra Valen, uma antiga espiã do Conselho, que havia abandonado sua posição por acreditar que o Conselho estava perdido na burocracia e não oferecia soluções reais.
"Zharok está mudando," disse Altharion, enquanto estudava o fragmento. "Ele não é mais apenas uma máquina de destruição. Algo dentro dele está despertando. Isso pode ser uma fraqueza ou algo muito pior."
Cassandra observava o mapa do continente, onde as regiões devastadas pelo dragão estavam marcadas em vermelho. "Não importa o que ele esteja se tornando. Ele precisa ser detido antes que não reste nada."
Kael concordou, mas em sua mente havia outra questão: e se Zharok pudesse ser redimido?
Capítulo 18 - Reflexos no Vazio
No alto de um pico solitário, Zharok encarava um lago formado por lava cristalizada. A superfície brilhante refletia sua imagem monstruosa, e ele ficou ali por um longo tempo, estudando a si mesmo.
Ele viu não apenas seu tamanho imenso, suas garras que podiam partir montanhas e suas asas que podiam cobrir continentes. Ele viu algo mais profundo.
"Quem sou eu?" ele sussurrou, sua voz baixa, quase um eco perdido no vento.
A voz do Vazio não respondeu imediatamente. Então, lentamente, ela falou:
"Tu és o começo e o fim. És minha criação, meu filho. O que mais desejarias ser?"
Mas Zharok sentia algo mais. Uma memória distante, uma imagem de quando ele era apenas um ovo, antes mesmo de ser tocado pelo Vazio. Ele se lembrou de um calor, de uma conexão com a terra e o céu, algo puro e intocado.
"E se eu quiser ser mais do que isso?" ele rugiu, sua voz rachando as montanhas ao redor.
O Vazio respondeu com um trovão de fúria. "És meu! Não te esqueças disso, Zharok!"
Mas o dragão não se deixou intimidar. Ele estava começando a perceber que talvez, apenas talvez, ele pudesse desafiar aquele que sempre o controlara.
Capítulo 19 - O Conselho Silencioso
Na distante capital de Eryndor, o Conselho, outrora o pilar de sabedoria e governança, encontrava-se em uma encruzilhada. Os conselheiros sentavam-se em um salão vasto, decorado com tapeçarias que narravam os feitos heroicos do passado. Mas agora, os heróis estavam mortos, as cidades queimadas, e o futuro parecia desmoronar.
"Zharok não é apenas uma ameaça," disse Lordan Veynar, o conselheiro mais velho. "Ele é a destruição encarnada. Não há estratégia ou exército que possa detê-lo."
"Você sugere que simplesmente aceitemos a morte?" retrucou Elara Viren, uma jovem conselheira, cuja determinação era rivalizada apenas por sua ousadia. "Se desistirmos agora, ele consumirá não apenas este mundo, mas tudo o que existe além dele!"
Mas o Conselho estava dividido. Alguns acreditavam que poderiam negociar com Zharok, outros insistiam que ele era um instrumento do Vazio, e havia aqueles que simplesmente queriam fugir, abandonando Eryndor à sua sorte.
Elara, frustrada, abandonou a reunião e encontrou seu caminho até as antigas criptas do Conselho, onde os tomos proibidos eram mantidos. Ali, entre poeira e runas esquecidas, ela descobriu um manuscrito que falava de A Pedra de Amara, um artefato lendário capaz de manipular a essência da vida e da morte.
"Se isso realmente existir," ela sussurrou, seus olhos brilhando, "talvez haja uma chance."
Capítulo 20 - As Chamas de Um Continente
Enquanto o Conselho debatia e Elara buscava respostas, Zharok seguia adiante. Sua jornada o levou a Velythria, uma terra coberta por florestas eternas e habitada por elfos ancestrais.
Os elfos, conhecidos por sua conexão profunda com a magia e a natureza, viram a chegada de Zharok como um presságio de fim. As árvores ancestrais, que haviam sobrevivido por milênios, começaram a murchar à medida que ele avançava.
Aran Thalas, o líder dos elfos, subiu ao topo de uma torre antiga para encarar o dragão. Ele sabia que as chances de sua raça sobreviverem eram mínimas, mas também sabia que o sacrifício de sua terra poderia retardar o avanço de Zharok e dar ao mundo uma chance.
Com um gesto, Aran ativou os Cristais de Ylthar, artefatos que conectavam a magia da floresta com os elementos do céu. Uma chuva de luz desceu sobre Zharok, tentando prendê-lo em um campo de energia.
Mas o dragão não era mais apenas uma criatura de carne e escamas. Ele rugiu, e a energia dos cristais foi absorvida, aumentando ainda mais seu poder. O chão tremeu, e a floresta começou a queimar.
Mesmo enquanto tudo desmoronava, Zharok sentiu algo estranho. Um lamento. A essência da floresta lutava contra ele não com força, mas com tristeza, como se pedisse por misericórdia. Pela primeira vez, ele hesitou.
"Por que isso me afeta?" pensou. Mas o Vazio o empurrou adiante.
Capítulo 21 - O Grito dos Céus
A devastação de Velythria foi vista de todos os cantos do continente. As chamas e a fumaça subiram tão alto que cobriram o sol, mergulhando as terras ao redor em uma penumbra.
Enquanto isso, Kael Dorn e sua resistência assistiam ao céu escurecido do deserto de Ravaryn.
"Ele está cada vez mais forte," disse Altharion, enquanto conjurava um mapa mágico. "E está mais perto. Precisamos nos mover."
"Para onde?" perguntou Cassandra, a descrença evidente em sua voz. "Cada lugar que vamos ele nos encontra. Não há refúgio contra algo assim."
"Não buscamos refúgio," interrompeu Kael. "Buscamos um modo de lutar."
Altharion assentiu. "Há algo que talvez possa ajudar. Um lugar que mesmo Zharok pode temer: o Abismo de Tharos."
O Abismo de Tharos era um local onde a magia se concentrava de forma caótica. Alguns acreditavam que era um buraco na própria realidade, um lugar onde as forças primordiais do universo colidiam.
"Se conseguirmos atraí-lo para lá," continuou Altharion, "poderemos usar o caos do lugar contra ele. Mas será necessário um sacrifício."
Kael encarou o mago. "Estamos todos prontos para isso."