Ele então se aproxima lentamente do galpão, reduzindo a velocidade assim que o primeiro ruído fora emitido. Conforme se aproximava, o ruído ficava mais alto, não por estar mais próximo e ouvir melhor, ele realmente ficava mais alto, A porta começou a bater, como se algo quisesse sair dali. "Ok, isso dá medo", pensou. Mas ele continuou indo, hipnotizado pela curiosidade. Enfim está de frente para a porta, não sabendo ao certo se queria ou não abri-la.
Uma porta desgrenhada, estava nas últimas, tal como aquele galpão, era todo de madeira, de tamanho mediano, as tábuas não estavam mais em sinergia, todas tortas. O garoto pega uma das tábuas soltas e coloca na mão direita, a que ele tem mais habilidade, já se preparando para um eventual combate pela própria vida.
Ele coloca a mão esquerda na porta (que não tem trinco) e abre de uma vez, um movimento brusco e rápido, ao menos era isso que ele pretendia fazer, pois a porta emperra no meio do processo, fazendo com que Dante torne a puxar da forma mais desajeitada e rápida que conseguira. Ele puxa, a porta finalmente estava aberta, escancarada, ele tenta direcionar o olhar para a raiz do problema, algo do escuro pula em sua direção e ele começa a rir, aliviado: "Anjo! Como o prenderam aqui?", ele disse em voz alta, já no chão, derrubado pelo seu cachorro, um pastor-alemão extremamente em forma.
O nome Anjo foi dado por Dante, quando na época ele assistia uns documentários tendenciosos sobre aparecimentos de anjos na vida real. Aquele era seu melhor amigo, o companheiro das horas mais improváveis, Anjo já confortou Dante nas piores situações dos últimos 5 anos (quando ele, filhote, foi achado pelo garoto ao lado da sua antiga casa, provavelmente abandonado por alguém que Dante não sabia se odiava ou amava). Após uma série de lambidas compulsivas no rosto, latidos de felicidade e mordidas incontestavelmente alegres, ele se levanta e passa a mão na cabeça do cão, tentando entender como se esqueceu do seu melhor amigo.
O cachorro estava todo sujo, mais do que quando viajaram, provavelmente o resultado de umas boas vasculhadas naquele galpão imundo. Dante esquece da caixa de bonecos e sai de lá, antes de sair, encara bem o galpão e nota tábuas soltas em sua lateral, finalmente entende como Anjo entrou lá. O garoto decide dar um banho no cachorro, ele merecia, foi sua terapia por anos. Se volta rapidamente para a casa e parte para seu interior, olha para trás: "fique aí", diz em direção ao cão, posicionando a mão aberta em sua direção. Anjo obedece, sentado no chão, abanando o rabo para lá e para cá. Dante entra em casa para buscar a toalha que usava para secar seu cachorro, tentando se lembrar onde estava, no caminho ao seu quarto. Ele lembra, havia coberto o espelho com ela. Chegando no quaro, anda para frente e olha em direção à cama, onde havia colocado o espelho... A toalha havia sumido.