Chereads / Densa Magia - Saga / Chapter 3 - Decesso Mordaz

Chapter 3 - Decesso Mordaz

Parada ao pé da grande Torre, seus olhos vermelhos como rubis passeavam pela porta de pedra, o único ponto de entrada do local. Ela ergue seu braço esquerdo e toca a porta na intenção de abri-la, ao sua pele pálida fazer contato com a pedra, um clarão seguido por um estouro emanou de onde havia tocado com sua mão.

— Interessante.

A mulher abaixa sua cabeça e levanta sua mão na altura de seus seios, seus olhos analisam sua palma esquerda, pele e carne haviam sido completamente queimadas, o ferimento profundo deixa seus ossos visíveis. Entrar na Torre não seria tão fácil quanto ela pensou. A mulher volta a baixar o braço e contemplar seu próximo passo, mas antes de tentar algo novo um som é ouvido, se aproximando cada vez mais, o galope de um cavalo. Enoque e a outra garota estavam usando o estranho objeto de transporte, então ela sabia que não deveria ser eles. Sua hipótese se confirma quando o cavaleiro montado em um cavalo negro entra em seu campo de visão. Como se os planetas estivessem alinhados, a mulher se prepara para não deixar a oportunidade passar.

— Hey-ya!

O cavaleiro montado no cavalo negro, usando uma camisa branca com a frente aberta e sandálias, seus longos cabelos negros parecem desafiar a gravidade. O cavaleiro chega ao pé da torre e percebe a mulher de cabelos de sangue perto da porta, ela estava abaixada, um leve pranto o deixa abismado. Ele passa sua perna esquerda por cima do animal e desce do cavalo sem tirar os olhos dela. O cavaleiro dá alguns passos na direção da cabeça do cavalo, passando a mão em seu focinho, o tempo todo sem desgrudar seus olhos negros dos cabelos vermelhos voando ao vento no alto da passarela de pedra.

— Arion, quero que vá para os estábulos sozinho. Pode fazer isso por mim?

O cavaleiro falou perto das orelhas do cavalo, que pareceu entender ao bater o casco no chão e prontamente andar para a parte de trás da Torre, onde os estábulos estão localizados.

Passo a passo, um pé após o outro e sem desviar o olhar em nenhum momento ele caminha pela passarela de pedra, chegando cada vez mais perto da mulher. Quanto mais perto ele chega, mais aparente fica que a mulher estava chorando, o cavaleiro conhece muito bem o sistema de segurança que foi implantado na porta da Torre, tecnologia criada por um dos membros do Zodíaco, a infame Capricórnio. Esta não é a primeira vez e provavelmente não será a última que alguém foi vítima de sua própria curiosidade.

A distância agora não era maior que dois metros, longe o bastante para escapar de uma emboscada, ou perto o bastante para neutralizar a mulher se ela se mostrar uma ameaça.

— Você está perdida, garota? Sinto muito, mas vou ter que pedir que você se retire. Este local é particular.

A mulher levanta lentamente, segurando sua mão destruída, lágrimas caem sobre seu rosto pálido parcialmente coberto por seus cabelos de sangue. Instintivamente o cavaleiro recua, algo nela o deixa desconfortável, mas ele resolve ignorar este sentimento por enquanto. A mulher permanece levemente curvada para frente, seus olhos tremem enquanto derramam um rio de lágrimas, ela vira lentamente seu rosto na direção do cavaleiro.

— Minha mão. Quanto toquei a porta ela…

A mulher pressiona sua mão contra o peito, suas pernas parecem perder as forças fazendo ela cair de joelhos, sua grande boca abre com agonia, mesmo que nenhum som se faça aparente, as lágrimas que caem de seu rosto fazem uma pequena poça no chão de pedra.

Ainda hesitante, o cavaleiro se aproxima da mulher. Com cuidado ele dobra seus joelhos e se agacha ao lado dela. Disfarçadamente seus olhos passeiam pelas curvas da mulher, seu vestido em trapos não cobria mais do que o necessário para que não fosse considerado obsceno, e suas botas pretas de cano longo destacavam suas coxas lisas e brancas como a neve.

— Esta torre possui vários sistemas de defesa contra intrusos. A porta é uma delas, se alguém que não pertence ao nosso grupo tenta abri-la... bem, essa parte você já sabe, não é?

O homem fala de forma a confortar a mulher enquanto olha direto em seus olhos. Ele põe sua mão esquerda nas costas dela, e com a direita segura com cuidado sua mão severamente queimada da mulher. Com delicadeza ela a ajuda a ficar de pé, aproveitando para descer sua mão esquerda para a cintura dela.

— Me chamo Orion, um dos guardiões desta torre. E você, bela dama? Possui um nome?

— Nome? Não. Nunca recebi tamanho presente.

Seus olhos vermelhos perdem o foco por um momento.

— Meu Pai me abandonou ainda nova.

— Que tristeza ouvir isso. E o que faz nesta Torre? A cidade mais próxima fica a horas de cavalo daqui.

Orion mantém seus olhos fixados com os da mulher, enquanto sua mão direita passeia pelo corpo dela, de sua mão queimada, passando pelo braço e por fim tocando seu rosto, onde limpa as lágrimas que caíam.

— A caravana que me levava foi atacada por ladrões, na confusão eu consegui escapar. Corri por dias, achei que morreria, mas no fim encontrei esta Torre.

A mulher se inclina para frente, encostando seu rosto no peitoral definido de Orion. Ele pode sentir as lágrimas dela correrem por seu abdômen definido. O cavaleiro sorri maliciosamente, com sua mão direita ele acaricia seus cabelos de sangue, e com seu braço esquerdo ele a abraça com firmeza pela cintura. A mulher soluça entre suas palavras.

— Por favor! Eu não tenho mais forças para procurar ajuda em outro local. Estou desesperada. Faço qualquer coisa… por favor… me ajude.

Orion coloca suas mão nos ombros da mulher e a afasta com delicadeza, olhando profundamente nos olhos um do outro, Orion perde completamente seus instintos de sobrevivência nas curvas do corpo da mulher.

— Vamos para dentro. Lá eu posso cuidar melhor de você.

Orion estica o braço direito na direção da porta e com a palma da mão toca a pedra fria, diferente de quando a mulher o fez, agora a porta começa a abrir lentamente. Ele passa seu braço esquerdo por trás da mulher e coloca a mão em sua cintura, a conduzindo para dentro do grande salão de estrada, um tapete vermelho esticado no chão indica o caminho para a escadaria central da Torre. Com passos sincronizados, os dois atravessam a grande porta de pedra que começa a fechar em suas costas. Com a mão que segura a mulher pela cintura, ela a puxa para mais perto, e logo depois desliza a mão para seu quadril.

— Vamos subir até meu quarto, precisamos cuidar de sua mão antes que ela infeccione.

— Oh, não precisa se preocupar com ela.

Com um sorriso largo em seu rosto e olhando em seus olhos com seus grandes olhos de rubi, a mulher ergue sua mão na altura do peito e deixa visível para Orion a palma totalmente recuperada, como se nunca tivesse sofrido sequer um arranhão.

— Viu? Obrigado por abrir a porta, não que isso fosse me impedir de entr…

O rosto de Orion fica vermelho como os cabelos da mulher, as veias em seu pescoço parecem que vão estourar, suas pupilas negras se encolhem para metade de seu tamanho normal enquanto seus olhos abrem o máximo que podem. Sem esperar que ela termine de falar, sua mão direita viaja de onde estava, indo em direção ao estômago desprotegido da mulher com tamanha velocidade e precisão que perfura o corpo da mulher utilizando apenas seus dedos.

— Péssima ideia, garota! Não carrego o título de escorpião por nada.

Orion força e torce sua mão no estômago da mulher. Sangue verte de seus lábios e seus olhos se escondem atrás de seu longo cabelo vermelho. O cavaleiro retira a mão de dentro dela, suas unhas mais pareciam com longas agulhas, diferente de como eram segundos atrás. As pernas da mulher perdem força e seus joelhos cedem enquanto sangue mancha o tapete do salão, antes que ela caia, Orion segura seus cabelos vermelhos para mantê-la de pé. Ele aproxima o rosto junto ao dela e procura seus olhos para confirmar se ainda possuíam algum brilho.

— Ainda viva? Seus poderes de cura são impressionantes, mas será que pode combater meu veneno?

Além de suas unhas funcionarem como as garras retráteis de um animal, também funcionavam como o ferrão de um escorpião, secretando um poderoso veneno. Uma única gota pode paralisar mais de cem soldados, mas o verdadeiro perigo de seu veneno está no grande poder corrosivo que possui. Por mais que a mulher possa curar suas feridas, seu corpo havia recebido uma dose gigante de veneno diretamente em seu abdômen. O efeito paralisante foi imediato, seguido da corrosão que começou a devorar seus órgãos internos.

— É uma pena, não era assim que pretendia colocar meus dedos em você.

Orion deixa transparecer um sorriso sádico em seu rosto, seus olhos ainda passeavam pelo corpo dela como se aproveitasse seus últimos momentos. Pensando que a luta havia terminado, ele solta os cabelos dela e assiste o corpo da mulher cair.

No entanto, assim que ele baixa sua guarda a mulher estica seu braço direito e com a mão cobre o sorriso de Orion, utilizando tanta força que o levanta do chão por um instante. Com a outra mão ela limpa o sangue de seu rosto, seus olhos que antes se escondiam por trás dos cabelos agora surgem como faróis de sangue apontados para o homem. E como se nada tivesse acontecido, ela abre um sorriso largo, mostrando seus proeminentes dentes caninos.

— Ksh… Veneno? Não me faça rir! Quantas vezes já fui envenenada, apunhalada, queimada, afogada… posso continuar a lista, mas acredito que você já entendeu onde quero chegar.

Orion faz as unhas das duas mãos crescerem, em um movimento ainda mais rápido que quando apunhalou a mulher, ele golpeia o braço direito dela, uma mão acertou seu antebraço e a outra seu cotovelo, e nos dois casos a força foi o bastante para cortar de forma cirúrgica o braço da mulher fora. Enquanto os dois pedaços do braço caem, Orion coloca sua força nas pernas e avança na direção da mulher, ele põe sua mão direita sobre seu ombro esquerdo, seus músculos gritavam como se estivessem prestes a romper, com toda sua força ele joga sua mão direita tendo como alvo o pescoço da mulher, por um instante sua mão desaparece. A força do golpe faz com que a cabeça da mulher saia voando. Orion permanece de costas para a mulher, ofegante, volta a se vangloriar enquanto escuta o som da cabeça decepada cair no chão.

— A história é sempre a mesma, você ganha alguns poderes e acha que é invencível.

Orion vira o rosto para olhar a cena mas um cruzado de direita o acerta no queixo, sua visão se turva por um instante e ele cai de joelhos. Ao voltar a si, ele segura sua mandíbula para ter certeza que não quebrou. Sua cabeça volta a girar e seus olhos inspecionam a cena. Com a mão esquerda na cintura e mostrando o punho direito que havia sido arrancado momentos antes, a mulher, ainda sem sua cabeça, não só permanece de pé como também não parece estar preocupada com sua situação. o que por si só já era perturbador, mas ficou ainda pior quando, ainda no chão, a cabeça começa a falar com Orion.

— Vamos, levante. Não vai me dizer que um soco é o bastante para o fazer perder a cabeça.

Orion é forçado a admitir que subestimou sua oponente, pior, que permitiu que ela entrasse na Torre, apesar de sua personalidade suja, ele ainda era um guerreiro experiente, desde que colocou os olhos nela algo dentro dele gritava perigo, ele sabia agora que aquela mulher não era algo que poderia enfrentar sozinho, sua melhor opção era escapar e procurar ajuda dos outros Zodíacos na Torre.

Ainda no chão, aproveitando o ângulo baixo, ele golpeia e arranca a perna direita da mulher, fazendo com que ela perca o equilíbrio e vá ao chão, enquanto está caindo a mulher estende seu braço esquerdo para segurar Orion pelo antebraço, mas ele novamente usa suas unhas para se libertar, decepando mais um braço da mulher. Sem perder mais tempo, Orion corre na direção da escadaria, ele sabe que Peixes com certeza está dormindo em seu quarto, e pelo fato que ninguém veio ver quem abriu a porta é provável que ela seja a única pessoa na Torre no momento, uma situação nada agradável, mas ele tem certeza que se conseguir alcançar a sua companheira a mulher seria derrotada.

Orion corre sem olhar para trás, mas seu plano desmorona no instante em que ele pisa no primeiro degrau de sua rota de fuga. Sentada no alto da escadaria, a mulher observa com um sorriso no rosto a tentativa fútil do homem. Orion congela, como ela chegou lá? Seu poder não é apenas cura? Várias perguntas passam por sua cabeça, ainda mais quando ao olhar para trás, procurando todo o sangue e carne de sua luta com ela, tudo que encontra é um salão em perfeitas condições, como se nada tivesse acontecido. Em um momento de desespero, seus pulmões se enchem de ar, Orion abre o máximo que pode sua boca e grita o mais alto que pode por socorro, ou ao menos ele tenta, pois nenhum som sai de sua garganta. Seus olhos abrem e pupilas se comprimem, suor frio corre por todo o seu corpo. Orion não consegue encontrar respostas para o que está acontecendo. A mulher no alto da escada se põe de pé, e com seus olhos de sangue deixa claro sua intenção.

— Agora que quebrei seu espírito, vamos passar para o corpo.

Orion gira o corpo e tenta correr na direção da porta, sua respiração para e seus dentes se pressionam com tanta força que estalos podem ser ouvidos junto das batidas de seu coração acelerado, pois ao se virar a mulher já estava entre ele e a saída. Com um único braço ela o segura pelo pescoço, as unhas dela perfuram sua pele, Orion tenta se defender mas não encontra forças, seus braços e pernas não se movem, ele sente uma dormência tomar conta de todo seu corpo. Ele tem certeza, a sensação é a mesma de seu veneno, o que se tornou ainda mais aparente quando a dormência se transformou em uma dor aguda, como se fogo fosse injetado em seu corpo.

— Só para que saiba, se você não fosse tão podre eu teria lhe dado uma morte rápida. Mas já que você é você…

Um buraco se abre no chão embaixo dos pés de Orion, o engolindo e desaparecendo logo em seguida.

A mulher inclina a cabeça para trás e fecha os olhos.

— Eu posso sentir, tem que ser aqui.

Seu grande sorriso volta a abrir, junto de seus olhos vermelhos.

— Ksh... Finalmente encontrei você, Pai.

A mulher volta a subir a escadaria e desaparece nos corredores da Torre de Babel.