LIZ
34 dias para o baile de inverno.
Antes de entrar olhei para meu celular e tinha uma notificação da wayhaughtvibes.
Você queria que eu inventasse um nome para eu não falar o meu real
Não sei que nome escolher 🤔
Pode ser esse o nome da minha personagem favorita?
Claro, qual o nome?
Waverly
Isso faz de mim sua Nicole?
Se você quiser ser eu não me oponho em momento algum rsrs
Quando eu deixei de reclamar com ela nesses três dias de conversa e passei a flertar? Isso vindo de mim foi um flerte pode ter certeza.
Entrei no pub depois de bloquear o celular, Gal e Ross estavam no balcão (por mais que ele preferisse ficar lá dentro).
— Onde está a Madelaine? — Perguntei desconfiada, nunca se deve fazer menos que isso quando envolve a Becker no meio.
— Ela pagou a conta e foi embora logo depois que você foi lá fora com a Rafa. — Gal respondeu e me deixou pensativa.
O que Madelaine poderia querer ali?
— Certo, Gal.
*****
Acordei cedo no sábado, mesmo que eu não quisesse isso no fundo. Ia encontrar Maya em casa depois da ida dela à academia. Acordei e preparei o café da manhã, todos estavam dormindo ainda; não era muito normal isso porque eles sempre acordam mais cedo fazendo algum barulho e isso me deixava possessa.
Saí para casa de Maya e quando cheguei não vi seu carro na garagem, o portão estava aberto e apenas os carros dos pais dela estavam lá.
Apertei a campainha e esperei ser atendida por minha amiga (somos amigas ainda não é?) ou um dos irmãos dela. Morgan, a mãe de Maya, abre a porta e sorri quando me vê. Não tiro a touca do (ex) casaco do meu irmão, em outra ocasião eu até me importaria com isso e tiraria.
— Querida, quanto tempo?! — Sorri para ela sem graça. Pelo jeito Maya não falou que não trocamos nem mensagens desde sexta passada, Morgan também não me trataria mal se soubesse. — Tudo bem?
— Tudo bem sim e com a senhora?
— Vou bem. — Ela respondeu abrindo mais a porta para me dar passagem. — Maya não demora a voltar da academia pode entrar e esperar se quiser, tem uma colega dela esperando na mesa do jardim...
— Uma colega? — Maya não costuma trazer trabalho para casa porque acha os irmãos muito bagunceiros, isso é novo. Será que ela achou alguém tão rápido para me substituir?
— Sim, ela veio fazer trabalho com Maya e está lá fora, vocês podem fazer companhia uma a outra. — Pensei por alguns segundos, ir ou não? E ainda ficar com uma pessoa que não sei quem é. — Vem comigo...
Então eu fui.
Trilhamos pela sala, copa e cozinha até chegar no jardim. A casa de Maya era bem maior que a minha, até porque ela tinha mais irmãos que eu e seus pais tinham mais dinheiro.
Não reconheci a garota de imediato por estar de costas para a entrada. Só reconheci quando notei os dedos da mão esquerda batucando na mesa. Cecília Castillo.
Ela cantarolava baixinho enquanto mastigava, segurava uma banana parcialmente descascada com a mão direita. Cecília parecia uma criancinha feliz.
— Trouxe companhia para esperar com você. — Morgan soou alegremente para a Castillo. — Está confortável?
— Muito, Morgan! — Cecília respondeu feliz e apontou para a fruteira à frente. — Tenho minhas frutas preferidas aqui, impossível não ficar.
— Tudo bem então. — A mulher mais velha falou orgulhosa por estar agradando a convidada. — Sente-se também, Liz.
Sentei no banco comprido e me escorei na mesa, tentando não encarar a garota na minha frente.
— Tenho algumas coisas a fazer, fiquem à vontade. — Senhora Turner avisou.
— Ok, obrigada. — Falo, mas ela já está longe. Ficamos em silêncio, eu com vergonha de falar depois de não ter cumprimentado Cecília quando cheguei.
— Oi, Liz. — A voz dela sai nervosa, mas de alguma forma ela não parecia sentir muita vergonha.
— Oi. — Respondo e olho para ela, tirando meus olhos do meu celular bloqueado na mesa de madeira, mas logo voltei a olhar para o aparelho e comecei a girá—lo.
— Como vai? — Cecília perguntou e me lançou um sorriso meio bobo. Por que ela parece ser daquelas pessoas que flertam até com o vento? Me lembra o Joey de Friends.
— Bem e você? — Respondo e constato que a conversa vai seguir o destino que achei que ia seguir com a Waverly (wayhaughtvibes).
— Estou ótima.
— Ah, que bom. — Falo e a conversa acaba. Foi o que disse, tudo para não seguir em frente.
Clico no meu celular e vejo uma notificação do twitter na tela, não dá para ver o que está escrito pois tenho o conteúdo das notificações ocultados por precaução. Digito a senha e pego meu celular com ambas as mãos para ser mais confortável de mexer.
wayhaughtvibes
Bom dia, Nicols
Espero que acorde bem e tenha descansado já que você teve o desprazer de trabalhar ontem
Brincadeira, ok
Bom dia para você porque para mim nem tanto haha
Estou bem, mas acordei cedo para resolver um problema
E agora estou sozinha com uma garota que não conheço e não sei o que dizer
Umá garota, uh 🌚
Espertinha
E o dia mal começou
Deixa de ser boba kkkkk
Não sei o que é flertar com uma garota há tempos e sair com uma muito menos
Só uma garota da escola que coincidiu de estar no mesmo lugar que eu
Você pode falar com ela sobre séries, sei lá
Todo mundo assiste alguma série
Inventa qualquer assunto
Vou tentar, obrigada
— Cecília? — Chamo depois de pensar no que falar com ela.
— Oi.
Castillo responde e deixou o celular na mesa depois de bloqueá-lo, lançou mais um dos seus sorrisos. Ela tem alguns tipos de sorrisos diferentes, só não sei o que eles querem dizer.
— Você é amiga de Ingrid Edwards, não é?
— Sou. — Ela responde e parece pensar. — Já tem algum tempo. Ela, Martin e eu somos muito unidos.
— Tipo eu e Maya, também som... — Paro de falar porque não sei se Maya ainda quer ser minha amiga. — Eu vi você no nosso treino essa semana.
Cecília sorri meio sem graça e fica um pouco vermelha, não entendo porque ela está com vergonha.
— É... Eu fui assistir Ingrid. Ela adora dançar.
— Ela é maravilhosa... Dançando. — Sinto vontade de justificar o porquê dela ser maravilhosa e logo fico com vergonha de ter feito isso. — Fisicamente também.
Falo mais com medo dela pensar que não acho a amiga bonita por algum tipo de preconceito. Ela pode pensar que sou racista, não sei o que ela sabe sobre mim. Há bastante mentiras espalhadas pelo colégio.
— Ela é incrível.
— Sim, é uma dançarina espetacular. — Concordo e tento falar mais para o assunto não morrer.
— Você também... — Cecília fala de uma vez, sou pega de surpresa e ela parece ser também. Acho que se ela pudesse se esconderia depois de ter dito isso. — Vocês todas na verdade... Como um grupo vocês dançam mui...
— Liz? — A voz de Maya interrompe a fala nervosa de Cecília. Eu não sei porque a Castillo falou aquilo, mas eu também acabei ficando nervosa como ela. — Oi, Cecília... Bom dia.
— Eu preciso muito falar com você. — Levanto do banco e falo, não deixo Cecília nem responder Maya. Toco no braço dela, ela não se afastar me faz considerar bom sinal.
— Ok.
— Ok? — Pergunto por instinto, Maya está me dando uma chance isso é bom.
— Sim. — Maya está nervosa, vejo isso estampado em seu rosto. — Não demoro, Cecília.
Maya me dá as costas e eu vou atrás sem pensar em dar tchau para Cecília ao menos. Subimos a escada que fica na sala para o segundo andar reparando na roupa de academia que ela ainda está vestida.
Chegamos ao quarto de Maya e ela senta na cama, não consigo me manter quieta então fico de pé mesmo.
— Eu quero pedir desculpa pelo que eu disse. — Olho para Maya tentando mostrar confiança. — Me arrependo muito, mesmo.
— Tudo bem, eu meio que merecia. — Maya admite, mas parece chateada ainda. — Eu só estou chateada de você não ter me procurado, porque afinal aquela nem foi uma grande discussão... E além disso você me trocou por outra como se eu não tivesse importância nenhuma.
— Eu não te troquei, Maya. — Falo a verdade, afinal Rafa não era uma substituição dela. — Eu nunca faria isso, eu não consegui te enc...
— Então quem é aquela magrela que a escola toda ficou perguntando quem era para mim? — Maya levantou com os braços cruzados, me sinto um pouco desconfortável pela a nossa diferença de altura no momento.
— Minha amiga Rafa.
— Minha amiga Rafa. — Maya imita minha voz sendo, usando nem um pouco da sua maturidade. — Não sei porque está me procurando depois de uma semana, sua amiga te trocou, foi?
— Para de falar bobeira, Maya. — Começo a me irritar com ela. — Rafa não é esse tipo de pessoa, ela é realmente minha amiga.
— Ah, ok. — Ela ironiza. — É mesmo? Onde ela estava esse tempo que somos amigas?
— Ela é minha amiga há mais tempo que você se quer saber. — Acabo falando sem ter necessidade. — E vocês são tipos de amigas diferentes.
— Amigas diferentes? Ah, então ela é melhor que eu, não é?
— Porra, Maya! Não é assim! — Ela consegue me deixar nervosa por não conseguir explicar. — Você está complicando as coisas.
— Então a culpa é minha? — Ironiza me irritando e mais que tudo me fazendo sentir pressionada, é a pior sensação do mundo parecer presa.
— Não! Quer saber a verdade afinal?
— Eu adoraria. — Ela usa o tom de deboche. Eu amo Maya, mas ela me irrita fazendo essa cara cínica.
— Rafa não é o mesmo tipo de amiga que você, ela é o tipo de amiga que... — Interrompo minha própria fala porque não consigo continuar sem fazer muito esforço para falar. — É o tipo que eu beijo...
— Beija?
— Sim, na boca entende? — Maya não parece perguntar, não sei como ela está reagindo na verdade.
— Eu entendi, foi uma pergunta retórica, animal. — Ela me responde e não sei se ela está reagindo bem ou mal. Então se aproximou me abraçando de repente. — Você assumiu sua bissexualidade para mim, mesmo?! Mal posso acreditar
— Na verdade não assumi isso, eu sou... — Ela se afastou para me olhar, minha fala foi cortada pela minha própria garganta, eu não me referia a mim dessa forma sempre. — Sou lésbica.
— Caralho! — Maya abre a boca me olhando. — Desculpa, tu não gosta... Não falo mais. — Ela está fazendo piada então as coisas estão se saindo bem. — Isso é sério, não é? Não está me zoando?
— Nunca brincaria sobre isso. — Respondo séria, Maya me olha parecendo orgulhosa.
— Desculpa pelas bobeiras que falei, você só estava saindo com sua namoradinha. — Me arrependo no mesmo instante que ela fala de ter contado que Rafa é uma amiga que eu beijo (na verdade já beijei e não fazemos isso mais). — Mesmo assim eu não gostei de ser deixada de lado.
— Eu sei, desculpa. Não tive tempo por conta do trabalho. — Maya me solta, fico emocionada pelo apoio que recebo. Limpando algumas lágrimas bobas (que não queria que escorressem) trato de tanta consertar: — Rafa não é minha namorada e nem nunca será, ok?
— Certo. — Ela confirma que entendeu, mas sei que estou ferrada na mão dela após assumir minha orientação sexual.
— Acho melhor eu ir embora... — Acho melhor voltar para casa e descansar afinal é sábado e ainda estou um pouco impressionada por tê-la contado sobre minha sexualidade. — Você tem que falar com a Cecília, cheguei e ela estava aqui.
— Ela veio para fazer um trabalho, eu teria te contado se estivéssemos conversando.
— Desculpa.
Vejo Maya se arrepender do que falou no segundo seguinte que eu falo.
— Eu não te procurei também, não se culpe sozinha... Eu uma idiota, fiz algo que não era certo e ainda me irritei por você falar algo correto. Ainda tentei te ofender falando que era confusa.
Ela está começando a me tratar como se eu fosse um cristal que poderia se partir a qualquer momento, não gosto disso. Me faz sentir que sou diferente e o que menos quero na vida é isso. Só quero ser igual, um ser humano normal, como outro qualquer.
— Pode não tentar mudar comigo? Continuar a falar suas maluquices de pessoas para eu namorar, mas sem ser garotos? — Pergunto séria, ela parece entender que não quero ser tratada como se algo tivesse mudado.
— Eu adoraria. — Maya balança a cabeça e sorri. Vejo minha deixa para ir embora agora que as coisas estão boas.
— Então já vou.
— Não quer ficar? Você pode nos fazer companhia enquanto fazemos trabalho. — Já estou tentando me afastar quando Maya fala. — Cecília parece legal, vocês pareciam bem conversando... Talvez se vocês conversarem mais... — Ela sorri e nem precisava ser explícita porque eu tinha entendido sua insinuação antes: — Ela é bi, sabe...
— Isso foi 0% sutil, Maya.