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Chapter 16 - 16. Sobre crushes.

CECÍLIA

17 de Dezembro — Domingo

Primeiro eu insisto com Ingrid para sentar ao lado de Liz Rodriguez e Maya. Depois falo uma mentira para Liz, depois fujo dela para um banheiro e por último ainda pego na mão dela. E a coisa toda é nós nem somos amigas! Estou na merda!

Liz não soltou a minha mão nem depois que saímos do banheiro. Não soltei lá dentro porque pensei que ela preferisse assim já Madelaine Becker estava nos olhando demais. Não vou com a cara dessa ruiva e a julgar pelo que sei dela, não duvido nada dela gostar mais que o necessário de Liz...

Liz me puxa quase que para debaixo da arquibancada de um segundo para o outro, ela é bem forte, e como no momento do banheiro eu esbarro nela. Como dessa vez foi mais forte tive que apoiar minha mão esquerda em seu quadril para não acabar caindo por cima dela.

— Opa...

— Desculpa. — Liz fala depois que controlo meu corpo e lhe olho sorrindo sem graça. Ela olha no meu rosto, mas a cada momento avaliando um local diferente. Sinto que poderia beijá-la a qualquer momento se ela se aproximasse mais, mesmo que eu fosse me arrepender depois porque Liz não deve gostar de garotas. — Eu não vou poder sair com vocês hoje... — Ela suspira parecendo relutar sobre a decisão. — Posso te pagar uma pipoca ou cachorro quente, aceita?

— Eu não vejo coisa melhor. — Sorrio, por dentro estou um pouco decepcionada por ela cancelar, Liz iria se divertir muito (não sei porque, mas sinto que isso iria acontecer). — Podemos comprar e acabar de assistir o jogo com Maya e Ingrid.

— Ótima ideia. — Liz sorri e pega minha mão para procurar um carrinho que vendesse comida. — Você curte assistir jogos?

— Mais ou menos. — Respondo de forma divertida, a verdade é que depende muito, mas na maior parte não gosto.

— Uh, vejo que não! — Liz ri, ela se inclina como se fosse me contar um segredo. — Na verdade nem eu gosto.

Encontramos um carrinho de cachorro quente, compramos alguns para nossas amigas também, quando conseguimos chegar até elas o jogo já estava quase no final. As duas estavam gritando com os jogadores e incomodando as pessoas que assistiam ao jogo, Liz e eu sentamos para comer e fingimos que não conhecíamos as duas torcedoras alvoroçadas ali.

Depois de um tempo que o jogo terminou (nosso time perdeu), Liz anunciou que iria para casa.

— Você vai perder o nosso concurso de asinhas de frango... — Brinco tentando fingir que estou "menosprezando" a escolha dela de não ir. — Não sabe a bobeira que está dando.

Pensei que Liz fosse uma chata, mas depois que descobri que não é sei que posso fazer esse tipo de brincadeira com ela.

— Uh... Asinhas? — Ela faz uma expressão engraçada. — Estou quase ficando. — Nós rimos e ela se inclina para beijar meu rosto e me dar um meio abraço. — Tchau, Cecília.

— Tchau, Liz.

Nos afastamos e só então percebo Ingrid e Maya nos olhando.

*****

Eu deveria gostar dos domingos, mas acabam sendo os dias que menos gosto.

— Vamos, Cecí! — Minha avó Mercedes grita do andar debaixo. — Ande logo ou chegaremos atrasadas na igreja.

— Estou com dor de cabeça, abuelita! — Invento a melhor desculpa que consigo no aconchego da minha cama.

— Cubanos não ter dor de cabeça!

— Aaaargh!

— Não rosne para sua abuela! — Bufo e me rendo, levanto da cama à contra gosto. — Não demore!

Não respondo, só me prontifico em tentar ficar pronta. Quando desço dou de cara com Ingrid sentada no grande sofá da minha sala.

— Até você?

— A abuelita me fez prometer que eu iria á igreja com vocês. — Ingrid dá de ombros como se não tivesse escolha e conhecendo minha avó eu duvido que ela tenha. Saio sem tomar café da manhã mesmo porque não quero escutar sobre o atraso.

Vovó já está do lado de fora da casa esperando com minha irmã, Daise, agarrada em uma de suas mãos. Meus pais sempre escapam da igreja porque saem cedo no domingo, às vezes vovó me deixa escapar também, mas como Ingrid estava aqui para ir junto não tive como.

Enquanto caminho, olho para trás só para constatar que vovó tirou a chave da porta, às vezes ela esquece as coisas, mas não é só ela já que mamãe também faz isso. Quando vejo que ela tirou me viro para frente e sigo atrás de Ingrid. Vovó Mercedes e Daise vão na frente trocando conversinhas bobas enquanto falam das cores das casas da vizinhança.

Ingrid suspira, ela é bem preguiçosa pela manhã e aposto que por mais que goste da igreja ainda preferiria ir dormir após trabalhar na noite anterior.

— Sabia que foi feita uma pesquisa aqui e o Protestantismo tem como seguidores 51% da população?

— Não. — Respondo sem interesse, só que Ingrid continua falando:

— O Catolicismo tem quase 24%.

— Os americanos não sabem nem escolher um presidente imagine uma religião! — Estava demorando para vovó se meter na conversa.

— Abuelita, não podemos julgar a escolha de religião dos outros. — Falo para que vovó para de fazer comentários assim. — Isso não é o que Daise tem que aprender.

— Eu faço o que eu quiser! E falo também. — Vovó odeia ser corrigida ou que retruquem com ela sobre algo e nós sempre batemos de frente por algo.

— Daise venha aqui. — Chamo minha irmã que rapidamente larga a mão da minha avó, Ingrid me olha em alerta. Ela odeia minhas discussões com qualquer um porque sabe que eu sou bem tranquila e não é do meu feitio isso. Minha irmã se aproxima, me inclino para conversar com ela. — Você sabe que não deve falar mal de nada só porque não é ou não concorda, não sabe?

— Sim, Cecí. — Daise me olha, ela sorri por mais que vovó e eu estivéssemos discutido minutos antes e ela sempre ficasse mal por nós. — Mamá e papá falaram comigo sobre isso e também que você gosta de meninas e meninos, e tudo bem porque nem todo mundo gosta das mesmas coisas...

Eu fico quieta, por mais que eu nunca tenha tido papas na língua sobre gostar de garotas (além de garotos) pensei que eles iriam falar com Daise mais para frente. Olho para Ingrid que sorri tão orgulhosa quanto eu por Daise.

— Exatamente... Você é muito inteligente, Sofi.

*****

oitnbguezz

Você já pensou em fugir?

Fugir como? De casa?

SIM

O tempo todo

Estou pensando no exato momento

Sério?

Porque eu realmente estou

Sim, é sério

Aconteceu alguma coisa?

Só estou pensando que essa semana meus parentes de Cuba vão chegar e eles vão se bem piores do que minha avó

Nem me fale, os meus também vão vir esse ano

Pelo menos os seus sabem que você gosta de garotas

Mas sendo bissexual, eles ainda perguntam só dos garotos

Parentes são idiotas 👌😒

Realmente kkkkk

Os seus são de que lugar de Cuba?

Não sei ao certo, mas é em Havana

E os seus?

Sério? Os meus também são de Havana

Só que numa vila de pescadores ao leste, Cojimar

Você já os visitou?

Eu nasci lá haha

Uau! Eu nunca nem saí do país

Eu nasci em Cuba, sou cubana-mexicana

CARAMBA

Você deve ser uma deusa latina

Nem de perto haha

Mas sabe, eu gostaria de fugir não só pelos meus parentes

Também para conhecer alguém que me fizesse tirar minha crush da cabeça

Você não me contou que tinha uma crush!

Quem é?

Eu não vou falar, você riria da minha cara

Por que eu faria isso?

Eu também tenho uma crush, mas como ainda não me assumi eu não colocaria ela nessa minha bagunça

Além disso ela é legal demais para me querer

Ela é idiota se não te quiser, até eu quero

Para de dar em cima de mim, Waves, eu me apaixono fácil

Vá procurar sua crush haha

Então...

Eu não posso, porque ela é hétero e ainda é uma líder de torcida

Isso é um "pouco" clichê 🙄😂

Para ser sincera eu tenho uma crush platônica que é líder também...

Não creio kkkkk

Quem?

Madelaine? 🙄

Liz? 👀

Essas opções são bem irônicas na verdade, você não imaginaria

Sina? 🤨

Nem uma das opções...

Ingrid Edwards

É sério?

Sim, por quê?

Nada não, ela é linda mesmo

Tem algo errado nisso?

Não, por que teria?

Ah, não sei

Só parece que você ficou diferente

Não fiquei kkk

Ingrid me cutuca e eu olho para ela. Sentamos nos bancos finais da igreja enquanto o padre fala sem parar, vovó e Daise estão lá na frente.

— Larga o celular, Cecília. — Reviro os olhos, Ingrid nem ao menos é batizada como católica para ficar me cobrando algo.

— Estou conversando com alguém.

— Uh, com quem? — Minha amiga me encara e tenta me pressionar a falar, eu falaria com quem era, mas ela irritou me falando o que fazer. — É com sua crush suprema Liz Rodriguez?

— Eu nunca disse que tinha crush na Liz.

Não em voz alta obviamente e muito menos para Ingrid.

— E precisa dizer? — Minha amiga fala e dá uma risadinha irônica.

Ignoro Ingrid e vou ver quem mandou mensagem.

Agnes 🐱‍🐉:

Está na igreja com sua avó?

Infelizmente 😒

Quer tomar café comigo depois?

Estou solitária

E carente pelo jeito...

Vou agora mesmo, estou me sentindo sufocada aqui

Deus deve estar te sufocando por gostar de mulher e fazer hora com algumas

Até parece que faço hora com alguém 🙄

Waffle house?

SIM, SIM, SIM

Estou indo

Vou tentar não demorar

Levanto do banco e Ingrid me olha como se eu fosse louca. Incomodo algumas pessoas até conseguir sair da igreja, sei que Ingrid está me seguindo e só vai abrir a boca quando chegar do lado de fora. Me afastou da igreja e já estou pronta para virar para esquerda na direção da Waffle House, é a que tem mais perto tanto da minha casa quanto da casa da Agnes, então não tem erro.

— Onde está indo?

— Encontrar coma Agnes na Waffle House. — Respondo e sigo andando, não estou muito paciente hoje.

— Assim do nada? — Pergunta, me olhando com dúvida.

— O que tem? — Falo e Ingrid continua me olhando. — Se quiser pode ficar.

— Não, vou junto.

— Ok.

*****

Ingrid claro que estranha minha mudança de humor, mas a verdade é que até eu estranho. Não sei o que fez meu humor virar drasticamente dessa forma.

Quando entro na Waffle House vejo Agnes num canto apontando um garfo no rosto de Martin, a verdade é que eu não consigo identificar se isso é uma brincadeira ou é algo sério.

Me apresso em chegar lá para saber do que estão falando, Agnes não disse que estava solitária? Mas Martin está ali com ela.

— Você é um idiota!

— Ei, bom dia! — Martin fala sem se abalar com o comentário de Agnes quando nos vê.

— Bom dia. — Ingrid e eu falamos. Minha amiga se senta perto de Agnes e eu perto de Martin.

— Que demora hein!

— Eu vim andando, Agnes. — Reviro os olhos, irritada pela implicância dela. Taylor me avalia e eu fico tão para quanto uma estátua. — O que queria?

— Você devia deixar sem pai lhe dar um carro.

— Não quero acabar mais com o planeta se tenho pernas, bicicleta e Uber. — Martin me encara e escuto ele sussurrar: "Está afiada hoje.".

— Ok.

— Eu vim para comer, então vamos fazer isso. — Falo querendo colocar fim nessa confusão que se formou. — O que vai querer, In?

— Waffle com calda de morango!

Ingrid fala animada, acabo sorrindo. Nem sei porque estou irritada, mas minha amiga acaba com isso quando faz o pedido.

— Essa é minha garota. — Levanto mais animada que estava antes. — Sabe escolher uma calda.

— Sabe nada. — Agnes retruca em brincadeira, reviro os olhos teatralmente e saio para fazer o pedido.

Estou na fila há alguns minutos, sinto alguns toques no meu ombro, olho para trás e nada, depois acontece de novo e escuto alguém rindo. Por fim viro de vez e vejo Maya rindo feito uma criança.

— Oi.

— Oi, Maya.

— Oi, Cecília. — Liz surge de trás de Maya rindo.

— Oi, Liz. — Ela se aproxima e me abraça, deixando um beijo no meu rosto. Eu fico em êxtase só por ela ter feito isso, sou tão boba.

— Você mora aqui perto? — Maya assiste minha interação com Liz e sei que de longe meus amigos fazem o mesmo.

— Mais ou menos. — Tenho medo de olhar demais para ela, mas ao mesmo tempo que fazer isso. — Você mora perto?

— Não muito. — Liz sorri e mostra seus "dentinhos de castor", são fofos demais. — Como Maya mora perto então...

— Sua vez, Cecília. — Maya quase me empurra para o balcão, Liz murmura algo parecendo irritada com sua amiga.

— Ah!

Faço o pedido para o rapaz que olha o tempo todo para Maya e Liz sendo totalmente inconveniente. As duas trocam sussurros e acho que estão discutindo sobre quem vai ser atendida. Maya bufa e entendo isso como ter perdido a discussão.

Vou para a outra parte do balcão pegar os pedidos que fiz, Liz fala com Maya que vai comigo e me segue.

— Vocês vêm sempre aqui?

Liz pergunta isso num tom normal de curiosidade, mas logo depois sorri quando nota que pareceu uma cantada idiota.

— Sim. — Fico de lado na fila para olhá-la. — Você me seguiu porque aquele cara estava olhando demais, certo?

— Me senti desconfortável.

— Imaginei, as pessoas podem ser muito idiotas. — Encaro Liz e seu rosto fica ruborizado, sorrio e tenho vontade de pegar nas mãos dela que ela tanto mexe.

— São sim, os homens então são...

— Eu não vou comer mais aqui. — Maya chega falando irritada e puxa uma das mãos de Liz. — Vamos embora.

Liz e eu não entendemos nada.

— Tchau, Cecília.

— Tchau, Liz!