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Chapter 9 - 09. Rafa Chávez.

LIZ

35 dias para o baile de inverno.

Minha semana foi um pouco puxada... Na segunda, depois de Rafa me pedir para passar uns dias com ela a ideia parecia absurda, mas depois quando ela foi para minha casa à noite vi que não seria de todo mal. Não fomos dormir muito tarde porque Rafa sabia que eu teria aula no dia seguinte, mesmo que tenhamos conversado bastante ainda.

Como Rafa tinha alugado um carro no dia anterior, ela acordou junto comigo e disse que queria me levar para tomar café da manhã na nossa lanchonete. Era um lugar pequeno que nós frequentamos por vezes quando ela ainda morava em Miami.

Antes de sair da minha casa, Rafa abraçou meus pais e meus irmãos, eles se adoravam, antes dela ir estudar em Nova Orleans nos éramos bem próximas. Quase fomos namoradas, mas nunca achamos que fosse necessário oficializar assim por dizer. Ficamos apenas na amizade com benefícios, até porque eu sentia que Rafa não era a pessoa que pertencia a mim, ela dificilmente vai ser de apenas uma pessoa pois ela é livre demais para isso.

— Lo? — Lucia me chamou, ela sorriu mostrando seus dentes alinhados e quase brancos demais. — Você fica ainda mais linda pela manhã.

— Deixa de ser boba. — Sorri envergonhada e roubei um bolinho de dentro do saco de papel que estava entre nós duas no carro. — Você que é linda.

Lucia Chávez era literalmente uma modelo, ela cursava a universidade, mas se não quisesse poderia ser sustentada pela própria carreira (ou até pelo pai que tinha muito dinheiro — ela nunca aceitaria isso).

— Obrigada. — Rafa sabe que é linda e não nega isso, pode ser chamado de egocentrismo ou narcisismo, eu só acho que ela sabe aceitar elogios. — Hmm... Eu vou passar o dia resolvendo algumas coisas e se quiser dormir comigo no hotel essa noite eu posso te buscar no trabalho.

— Dormir com você? — Perguntou e finjo ficar pensativa.

Lucia me olha sorrindo um pouco enquanto segura seu copo de café.

— Você sabe que não vai acontecer nada de mais, certo?

— Eu sei e quero que saiba também que não sinto mais vontade de beijar você. — Ela gargalha quando retruco a fala anterior que foi um tanto debochada. — Hoje é meu dia de folga, só me passar o endereço que vou no meu carro.

— Ok, depois eu mando. — Ela falou e mordeu num bolinho, vi a cara debochada para o meu lado. — Quando eu morava aqui você não gostava muito de dirigir, estamos evoluindo!

— Ah, cala a boca. — Dou um soco fraco no ombro direito dela e depois bebo do meu café. Observo o estacionamento do colégio ainda mais cheio e resolvo chegar o horário. — Tenho que entrar.

— Tudo bem, senhorita líder de torcida. — Ela implica mais, acordou inspirada para me perturbar. — Tenha um bom dia e não olhe muito escondida para as garotas.

— Vai se foder. — Retruco e abro a porta do carro alugado dela. Com o copo de café em uma mão, pego a mochila com a outra e coloco sob os ombros.

— Leve os bolinhos. — Rafa me estende o saquinho. — São os seus favoritos e tenha um bom dia, garota da torcida.

Ela sorri e eu faço o mesmo porque é impossível não fazer isso quando ela está me olhando toda feliz.

— Obrigada. Até mais tarde, Chávez.

Ela acena e eu vou em direção a escola logo depois de fazer o mesmo gesto. Quando entro na escola sinto toda minha felicidade indo embora, vi Maya de longe e lembrei que não estamos conversando por uma coisa idiota, decido procurar ela mais tarde (sei que ela é orgulhosa demais para me procurar).

Passei o restante do dia após a aula com Rafa e parte da noite, devia ter dormindo no quarto de hotel dela porque assim teria evitado brigar com minha mãe.

Mamãe estava começando a me cobrar coisas da minha vida novamente com a justificativa de que não passo muito tempo com ninguém da minha família e que sempre que tenho folga só fico presa dentro do quarto.

Na quarta fui para a escola sem ânimo algum e para ajudar eu não poderia faltar do treino da torcida feito na segunda. Mais uma vez não falei com Maya porque não tive oportunidade.

Eu esperei por uma lição de moral de Madelaine o dia todo e na hora do treino estava pronta para abaixar a cabeça e ficar quieta já que não justifiquei minha falta na segunda. Mas ela não me disse nada e muito menos implicou comigo (isso me deixou com mais medo do que se ela tivesse me falando alguma coisa).

Fui trabalhar, como era quarta o movimento naturalmente já aumentava e sendo dia de jogo apareciam muitos clientes. Duas pessoas me chamaram nesse dia, ambas amigas de Ingrid Edwards. Eu fingi não ver elas por algum tempo, tentando me esconder, mas não deu tão certo.

— Ei, quero uma água por favor.

Virei para a voz feminina no balcão, parecia familiar de alguma forma. Mas quando vi a pessoa que estava ali concluí que a voz não era familiar porque afinal eu não lembrava de ter ouvido Cecília Castillo (amiga da Ingrid) falar nenhuma vez na minha vida.

— Só um momento.

Respondi para ela, tentando não ficar nervosa porque ela poderia ser a porta de entrada para o colégio inteiro vir ali e me ver trabalhando numa coisa que eu não devia legalmente trabalhar.

Vou pegar a garrafa de água mal respirando e mil coisas na cabeça, quando volto Cecília está olhando no celular parecendo ansiosa, ela sentou na banqueta e batuca com a mão esquerda no balcão.

— Aqui está...

Castillo me passa a comanda e eu anoto o que ela pediu, tentei devolver sem incomodar e acabei esbarrando na mão esquerda dela. Ela me olhou rapidamente e abaixou a cabeça, depois olhou de novo e sorriu.

Cecília é linda.

— Posso te pedir uma coisa? — Falei praticamente sem pensar.

— Pode, claro. — Ela concorda sem hesitar, desvio meu olhar não sabendo se devia ou não falar. — O que é?

— Você e sua amiga podem não contar para as pessoas que me viram aqui? — Cecília me olha estranho, não fico surpresa.

— Isso é sério?

— Sim, mas tudo bem se for pedir demais... Eu não quero incomodar voc...

— Tudo bem. — Cecília me interrompe e não desvia os olhos do meu rosto em momento algum, pergunto confusa:

— Tudo bem?

— Não vou contar. — Ela parece falar sério e eu meio que confiei nela naquele momento.

— Obrigada então.

— Por nada. — Cecília responde descendo da baqueta. Ela fica em pé e pega a água e a comanda.

— Você vai querer o que em troca? — Perguntei porque era até normal as pessoas pedirem algo depois.

— O quê? Não quero nada. — Pareceu surpresa pela minha pergunta e depois que me deu a resposta apenas se virou e saiu.

Durante o resto da noite Cecília veio buscar algumas cervejas e eu lhe entregava porque sabia ser para a amiga, nós não falamos nada mais a não ser o essencial. A amiga dela nem veio ao balcão buscar nada, só Cecília veio, ela parecia bem prestativa.

Por algumas vezes vi a amiga de Cecília louca pelo seu time e ela mesma só fiscalizando o celular.

Eu mal toquei no meu celular aquela noite, na verdade só olhei minhas redes sociais uma fez, segui um FC de uma série que eu gostava e foi só o que fiz, isso bem antes de atender Cecília. Mas pude parar de fato para olhar o celular só quando cheguei em casa.

E quando olhei minha conta do twitter, não a pessoal, tinha uma mensagem do FC que segui.

wayhaughtvibes

Oi, tudo bem? Espero que sim.

Eu realmente fiquei preocupada com você, quando quiser me manda mensagem

Sou a garota que respondia os seus bilhetes na escola :)

Oi, estou bem. Espero que esteja também.

Achei que fosse um cara, não vou mentir, mas fico bem mais feliz de saber que é uma garota

Você foi muito gentil em se preocupar

Essa conversa não tinha nada para seguir em frente, mesmo que a garota tenha ficado preocupada comigo. Era o tipo de conversa que parecia fadada ao fracasso eminente. Mas nem tudo que parece é...

Como não saí com Rafa na quarta, na quinta ela me buscou na escola depois do meu treino da torcida porque iria embora em breve.

Achei ter visto Maya nas portas do ginásio quando o treino estava terminando, mas não tive certeza até porque fiquei mais preocupada em me sair bem por ver alguns alunos assistindo o treino. Os amigos de Ingrid estavam lá nesse dia, não lembro de eles terem ido antes assistir um treino.

*****

Chego ao pub um pouco mais tarde (como Gal mandou) e entro pela porta da frente mesmo, minha patroa não se importa com isso. De primeira vejo Gal toda sorridente, ela é uma mulher muito bonita e simpática (os homens sempre ficam envolta dela até descobrirem que é casada).

Depois de dar uma segunda olhada vejo que estou um pouco ferrada. Madelaine Becker, por si só me causaria algum desconforto por estar ali no pub, mas ela sentada perto do balcão com Rafa me deixou mais nervosa ainda.

— O que faz aqui, Madelaine?

Pergunto logo para poupar o trabalho de parecer não me importar com situação.

— Vocês se conhecem? — Rafa pergunta toda confusa, em outra ocasião acharia a expressão dela fofa, mas hoje só fico com medo do que ela possa ter falado e Madelaine não é burra para não ligar um fato e outro.

— Estava passando por aqui e resolvi entrar. — Madelaine me responde, não é possível que ela queria mentir na minha cara a esse ponto, sei que ela quer achar algum jeito de me foder. — Vim jantar com uma pessoa, mas ela está atrasada.

Olho para o corpo de Madelaine, prestando mais atenção no vestido tubinho dela num tom de bege com as laterais pretas e saltos da mesma cor. O batom está longe de ser o habitual vermelho, o cabelo ruivo ao natural está lindo como de costume.

— Eu não disse nada demais. — Rafa fala num tom brincalhão para mim, mas sei que ela está falando sério e só não quer que Madelaine desconfie de nada.

— Não veio trabalhar hoje, Liz. — Gal brinca chamando minha atenção. Ela não soa rude em nenhum momento, pelo contrário. — A Rafa eu já conheço, mas essa outra garota bonita eu não sabia ser sua amiga.

— É uma colega do colégio.

— Colega, é? — Gal usa o mesmo tom desconfiado de Maya para me julgar. (Falando em Maya ainda não consegui falar com ela, estou sentindo muita falta dela.)

— Sim.

— Madelaine Becker. — A dita cuja se apresentou estendo a mão direita por cima do balcão.

— Gal Matarazzo. — Minha patroa disse sorridente. Aproveitei que estavam conversando para passar para o outro lado, onde Gal estava.

— É a dona daqui então?

— Sou.

As duas continuaram a conversar enquanto eu estava vendo se era preciso fazer alguma coisa lá atrás. O outro funcionário do pub, Ross Moore, estava tirando o lixo e eu fui ajudar ele.

Moore é um cara bem forte, mas fui ajudar para ele não falar que não faço nada. Às vezes penso que ele acha que sou protegida demais por Gal (na verdade meio que sou mesmo).

Ross tem características asiáticas e é bonitão, me admira ele não ser um desses "ratos de academia", mas é bem provavelmente que ele pratique algum esporte para se manter bem ou talvez até seja parte de algum time na universidade.

— Valeu pela ajuda, Liz.

Moore fala e me deixa sozinha no beco perto das lixeiras, ele parece sentir vergonha das pessoas por isso na maior parte do tempo ele fica mais nos fundos fazendo algo que Gal pede. Ele é bom para inventar bebidas também, sabe fazer boas combinações.

Volto para o balcão, Madelaine e Rafa estão conversando, Gal está atendendo alguém.

— Acho que você seria uma boa modelo, com certeza seria. — Rafa fala para Becker que está sorrindo toda contente, nem parece que é uma nojenta.

— Não sei. — Madelaine ri parecendo envergonhada, acho que essa é ela fingindo modéstia. — Acho que meu corpo não está nas condições para...

— Você está incrível. — Rafa comenta interrompendo a ruiva, levanta da banqueta e muda de assunto logo ao olhar o celular. — Tenho que ir embora, meu voo foi adiantado.

— Que pena. — Madelaine fala e bebe a água em seguida, acho que para dar espaço para nós duas.

— Duas cervejas, Lo. — Rafa deixa alguns dólares no balcão e eu os pego colocando no caixa em seguida, quando volto ela está de pé já preparada para sair.

— Vou te levar até lá fora. — Chávez assente, se despede de Gal com um abraço e de Madelaine com um beijo no rosto. Aviso que não demoro e minha patroa concorda. — Por que resolveu ir embora dois dias antes?

— Estou sentindo falta da Sarah... — Sorrio quase sem acreditar, Sarah é a garota que ela diz ter um relacionamento (aberto). Nunca achei que fosse ver Rafa sentir falta de alguém. — Desculpa por ir assim do nada.

— Tudo bem, se eu namorasse também sentiria falta. — Paramos perto do carro que ela alugou e Rafa me abraça. Ela ri e sei que vai debochar de mim.

— Quando sair do armário tu encontra uma namorada. — Empurro ela, mesmo assim estamos próximas ainda. — Estou te esperando para a parada no ano novo, me liga e te busco no aeroporto.

— Você sabe que não vou. — Falo e ela revira os olhos. — Como você mesma disse estou no armário, o que vou dizer para minha família?

— Sou lésbica e estou indo para uma parada em Nova Orleans, volto em alguns dias... Amo vocês.

— Não é assim, você sabe.

— Você complica demais. — Rafa suspira cansada, não mais cansada do que eu com minhas paranoias. — Agora tenho que ir.

— Tudo bem... — Abraço ela mais uma vez e quando nos afastamos um pouco Rafa me dá um selinho e sorri.

— Você não tem beijado muitas bocas... — Empurro ela e nego com a cabeça. — Quis deixar um agrado.

— Deixa de ser boba e vai embora logo.

Então Lucia riu, me abraçou pela terceira vez deixando um beijo no meu rosto e foi embora. Ela foi uma boa amiga esses dias, mas não a amiga que preciso conversar.