Davi
Enquanto ouvia a Raquel me contar a forma de que foi violentada, como ela conseguiu se levantar daquele beco e chegar até a casa dela, me fez ficar com lágrimas nos olhos. Nenhuma mulher deve ser tratada do jeito que ela foi. Ela nota que estou mexido e passa mão em meu rosto, fazendo carinho em mim e diz:
— Não fica assim... — ela pede e pego a sua que estava acariciando o meu rosto e a levo até a minha boca e a beijo e falo:
— Querida, você foi tão corajosa... — falo a elogiando.
— Será que fui mesmo? Fico pensando no que aquela praga disse, fui mesmo à culpada por ter sido violentada? — ela se questiona e fico chocado com as suas palavras.
— Querida, é claro que você não teve nenhuma culpa por ter sido violentada. — A lembro.
— Sabe... Davi, quando cheguei em casa, estava machucada, suja e tive nojo de mim mesmo durante algum tempo, tinha época que não conseguia nem me olhar no espelho... — ela gagueja sem graça.
— Amor, não precisa me contar mais nada... — peço e ela me interrompe dizendo.
— Por favor, Davi me deixa te contar tudo... — ela pede levantando a outra mão dela e tampando a minha boca.
— Tem certeza?... — pergunto quando abaixo a mão dela.
— Sim eu tenho! — ela responde e da sorriso triste e sorrio querendo dar forças para ela. - Quando cheguei em casa, minha mãe coitada, estava morrendo de preocupação... — Raquel gagueja e para um pouco, para tomar coragem para continuar e falo:
— Amor, você consegue! — A encorajo e ela continua:
— Quando a minha mãe me viu ela me puxou prós seus braços e ali desabei... — ela fala. — É claro que ela imaginava o que tinha acontecido ela, pegou as compras que tinha feito colocou na mesa e pediu um táxi... — ela para de falar e pega o copo de suco e toma um gole.
— Sua mãe é uma mulher forte amor... — falo com sinceridade.
— Ela é, sabe! Deus sabe como deve ter sido duro ir comigo no hospital e depois ser encaminhada para IML comigo para ser feito um exame de corpo de delito, sabe qual foi mais duro?
—Eu tenho uma ideia, querida a sua gravidez... — comento ao ver que seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela se segurando e nunca tanto orgulho de alguém como estava tendo dela nesse momento.
— Sim... Quando fiz os exames descobri que o filho da puta, não tinha usado proteção e sabe o que me passou pela cabeça?... — ela começa sem graça e hesitante.
— Eu sei, querida! — A conforto, tendo a ideia do que ela imaginou, de um homem desconhecido.
— Quando me falaram que viram lesões na minha boceta, fiquei com nojo, por ele não ter tido nenhum cuidado comigo, mais de um monstro desses deveria ter imaginado que não teria nenhum cuidado, né? — ela comenta em tom amargo e concordo. — Então depois que foi constatado mesmo que eu tinha sido violentada, sem proteção, passei a tomar coquetéis de drogas anti-retrovirais, tive que fazer exames mesmo depois de ter sido violentada, durante uns seis meses. Só que nesses seis meses acabei descobrindo que estava gravida... — ela gagueja novamente e as lagrimas escorrem.
— Querida, não precisa continuar... — peço pra ela, não estava aguentando vê-la assim, a vontade que eu tinha de voltar e acabar com aquele desgraçado.
— Davi... Preciso te contar até o final, por favor... — ela pede fazendo carinho em meu rosto.
— Tem certeza? — pergunto não querendo força-la a mais nada.
— Sim eu tenho, continuando da onde eu parei... — ela fala. — Quando descobri que estava gravida, eu mesma fiquei em choque. A minha mestruação não era muito regular e como não nunca tive relações sexuais e acabei engravidando. Mesmo tomando a pílula do dia seguinte.
— E o que você fez, quando descobriu que estava gravida... — pergunto com cautela.
— Quando descobri que fiquei gravida, fiquei em choque, primeiro, não queria a criança, ela não tinha sido gerada por amor e sim por um ato de violência... — Ela para e volta a tomar o suco novamente.
— E o que aconteceu? — pergunto curioso.
— Não nego que tive vontade de abortar, eu sei que sou uma pessoa ruim, por pensar nisso, na realidade por desejar isso... — ela confessa sem graça.
— Amor, você não é uma pessoa ruim... — A lembro e ela sorri triste.
— Sim eu sou, desejei interromper a gravidez de varias vezes, pensei, lutei contra esse sentimento... — ela comenta e noto dor em seus olhos.
— Feiticeira, eu te conheço bem o suficiente e você não teria coragem... — começo e ela me interrompe.
— Eu não tinha, a criança era inocente mesmo sendo gerada pelo abuso, não consegui interromper, cheguei até fazer o pedido na justiça e foi aceito... — ela para novamente de contar e passa mão em seu rosto e seca as lagrimas que estava escorrendo.
— E o que aconteceu? — pergunto curioso.
— Quando eles autorizaram já estava gravida de quatro meses, indo para o quinto mês. Sabe acabei até desistindo de interromper a gravidez quando sentir o bebê mexer em meu ventre. — ela comenta, e dá um sorriso triste. — Nessa época também, já não poderia realizar, mais o aborto, então segui gestação até aonde deu...
— O que houve com o bebê, se eu posso saber? — pergunto chocado.
— Amanda esse era seu nome... — ela comenta chorando e choro junto com ela.
— Amanda lindo nome... — comento e ela sorri triste.
— Sim... Ela era linda! Amanda nasceu prematura porque tive um descolamento da placenta... — Raquel conta chorando mais ainda e a abraço e ela chora em meus braços. — Ela nasceu fraquinha, mesmo eu fazendo os exames regulares, a Amanda não resistiu e morreu algumas horas depois.
— Oh... Querida! — falo chocado não sabia o que dizer pra ela e o que a única faço é acalentar ela nos meus braços e deixa-la ela chorar.
— A Amanda hoje estaria com 11 anos e você não sabe como me arrependo por ter desejado a morte dela... — ela diz em tom de arrependimento e a tiro dos meus braços e falo:
— Não querida! A Amanda nasceu fraquinha e não foi porque você desejou a morte dela, você estava assustada, tinha sido violentada e quando você mesmo disse que a sentiu, se mexer não teve mais esse tipo de desejo não? — pergunto olhando para ela.
— Isso, quando a senti vi que ela não tinha culpa de ter sido concebida do jeito que foi... — ela gagueja.
— Então querida, você amou ela enquanto ela crescia em seu ventre e foi à vontade de Deus... — A conforto sem saber se estava fazendo o certo ou não.
— Bom agora você sabe de tudo, quero dizer quase tudo né... — ela diz sem graça.
— Amor, você sabe que pode me falar qualquer coisa, não? — A lembro, ficando curioso e ao mesmo tempo preocupado, com o que ela tinha para contar.
— Depois que enterrei a Amanda, comecei entrar em depressão, tive momentos que tentei tirar a minha vida, por não ter conseguido levar a gestação até o final... — ela começa e fico chocado com o que estava ouvindo.
— Meu deus... Querida! — fico em choque quando a ouço que tentou tirar a vida dela.
— Sim, eu tive depressão, tive vontade de encontrar o bastardo que tinha me violentado, fiz tratamento com psicóloga, depois eu vi falar sobre BDSM e usei isso como uma válvula de escape. — ela conta. — Toda vez que usava o chicote começava a vomitar e a ter calafrios. Foi depois de muito tempo que comecei a sair com outros homens e vou ser sincera só passava de beijos e abraço e só, toda vez que ia pros finalmente, acabava travando e no fim não rolava nada e foi assim, até que desisti e foi quando eu te conheci sabia que tinha encontrado o amor da minha vida...
— E você encontrou, e se um dia decidir ter filhos vou estar junto com você... — aviso e ela me interrompe.
— Eu quero e ao mesmo tempo tenho medo de não conseguir ir até o final... — ela comenta triste.
— Querida eu vou estar com você no que decidir, se você não quiser podemos adotar, tem tanta criança sem pais e sozinhos o que acha? — pergunto dando essa solução para ela que sorri.
— Sim, vamos fazer isso quando for à hora certa. — ela fala e volto abraça-la e ficamos assim nos braços um do outro.
— Raquel... — A chamo e ela sai dos meus braços e a olho e faço uma pergunta pra ela: — Querida, como você descobriu que o Leandro era você sabe...
— O homem que me violentou? Foi estranho sabe quando fui violentada, passava por homens a caminho de casa ou mesmo a caminho da editora e ficava pensando é você que me violentou? É você que me engravidou? Eram tantas perguntas e a única coisa que me lembrava era o seu perfume, porque o seu rosto eu não vi, sua voz não ouvi...
— Então quando te apresentei você se lembrou? — pergunto curioso e ao mesmo tempo puto por saber que a pessoa que eu considerava um homem de honra era um maldito estuprador.
— Foi... Quando cheguei perto dele eu tive uma sensação de que eu o conhecia de algum, lugar só que não me lembrava. E quando ele se virou e senti o seu perfume foi como um balde de agua fria,sei que quando desmaie não sabia sinceramente o que iria acontecer comigo.
— Quando te deixei no sofá, pedi pra aquele maldito te olhar sem saber que era ele que tinha te feito mal... — aviso passando a mão em meus cabelos nervoso.
— Davi, você não tem culpa e quando eu o vi tive a sensação, e quando acordei eu estava num porta mala... — comento, sem graça.
— Eu deveria ter imaginado algo assim... — aviso pra ela.
— Sinceramente? Não sei se poderia ter imaginado, afinal ele era o seu amigo, realmente eu poderia ter desmaiado por ter tido só a sensação, e foi por causa do seu perfume que achava que nunca iria sentir novamente o cheiro.
— Mesmo assim, querida eu sou um delegado com experiência... — começo novamente e ela sorri triste.
— Davi não estava escrito na cara dele que ele era um estuprador? E outra e se não fosse ele? Afinal o perfume dele não é tão estranho e tive mesmo a confirmação quando me vi que estava no porta mala, aí sim sabia que estava algo de errado. — ela comenta dando ombro.
— Ele é tão filho da puta, que agiu como um covarde te levando embora. — A lembro querendo voltar lá e acabar com ele.
— Eu sei querido, só que a única coisa que eu pensava era em você, sabe por um momento não temi o que ele poderia fazer contra mim, mais que ele já tinha feito, eu só pensava em você. — ela declara sorrindo. — Agora me conta como você me localizou tão rápido?
— Graça a deus, o idiota esqueceu que todo carro tem que ter GPS e foi assim que consegui chegar a tempo, você na hora... — gaguejo e ela sorri triste.
— Sim... Na hora que estava falando da gravidez e acabei confessando esse segredo como forma de distrai-lo e deu certo não? — ela brinca e sorrio ao ver que ela estava brincando.
— A Nella sabe, né? — pergunto me referindo a sua história.
— Sim... No começo eu tinha muitos pesadelos, depois contei sobre a gravidez e sobre o clube o resto você sabe... — ela comenta dando ombros. — Davi deve ter sido um choque não?
— Sim... Não nego que fiquei em choque ele era o meu melhor amigo, e não sabia porque ele tinha te levado e quem me deu a luz vamos dizer assim, foi o Diogo... — começo.
— Sinto muito... — ela fala sem graça.
— Você não tem com o que se desculpar, ele que não tinha direito de fazer o que fez com você e nem com outra mulher... — declaro ainda puto com ele.
— Você acha que ele fez também com outras mulheres? — ela pergunta curiosa.
— Sim, querida eu acho e sabe mais? — pergunto pra ela que me olha e diz:
— Me conta. — ela pede.
— Ele pode ter usado o seu status de policial e ter feito isso com outras mulheres e posso estar enganado, mais vamos ver muitas mulheres vim dar depoimento de terem sido abusadas por ele. — comento.
— E vão vim, sabe porque? —ela fala me olhando e vejo ali determinação em sua voz.
— Porque? — pergunto curioso.
— Porque amanhã, vamos à delegacia, vou prestar depoimento, vou acabar com a raça daquele filho da puta e vou às redes sociais, na imprensa contar a minha história e colocar a foto dele lá e pedir que quem foi abusada de alguma forma ir até a delegacia e contar o que houve e aquele maldito não vai mais sair da cadeia. — ela avisa determinada e a puxo pro meus braços e falo:
— A Amanda, na aonde ela estiver, sei que ela está orgulhosa da mãe que tem... — aviso sorrindo.
— Eu queria que você tivesse me conhecido quando estava gravida, gostaria que fosse você o pai dela... — ela começa e tenho uma ideia e não sei vou conseguir fazer o que quero mais vou tentar.
— Você tem ainda o atestado de óbito dela ainda? — pergunto curioso.
— Tenho sim, porque? — ela pergunta curiosa.
— Em breve você vai saber, querida em breve! — A beijo e naquele momento nos esquecemos de tudo e nos entregamos ao nosso amor.
No dia seguinte...