Chegando o sábado, Lívia vem visitar-me:
- Sabe, irmã, fico chateada quando penso que ele vê outra, e não a mim. Essa quase certeza faz com que eu me magoe constantemente. É que eu gosto muito dele. – confesso entristecida.
- Mas, Deus mostrou alguma coisa, Ana?
- Não vi nada.
- Então como sabe?
- Eu não sei, apenas suponho. Ele não vai ficar sozinho...
- Nossa, deve ser um príncipe! – fala ironicamente.
- Ele não é bonito!
- Então ele deve ter um pau de ouro! Pra onde o pau dele aponta... ele pega!
Risos. - Não!
- Ora pro pau dele não subir com outra! A dona Pomba vem, e você não vai se defender? – pergunta firme.
- Acho que tem razão. – respondo cabisbaixa.
- Agora, isso tem um preço... – avisa.
- Qual?
- Se Deus fala que não, e você fica com aquilo que não é seu, haverá consequências, e, Deus vai dizer que não queria isso para você!
- Verdade.
- Tem que ter a certeza de que, se algo estiver errado, Ele vai dar um jeito para que você fique sabendo. Deus não vai te deixar enganada!
- Tem razão.
- E tem outra coisa: se os anjos não disserem, o inimigo vai se encarregar de falar, ou você acha que ele vai perder a oportunidade de te ver chateada?
- Preciso confiar em Deus e descansar. Se fosse um outro homem, eu teria a mesma preocupação.
- O Senhor quer que você aprenda a lidar com isso e confie. E, outra coisa: você está aberta para receber aquele que Deus vai enviar?
- Sim, eu quero alguém e ser feliz!
- Por que Deus não vai mandar uma pessoa para que sofra por você! Pode ser que ele não seja cristão, mas, certamente será amado por Deus, senão Ele não o enviaria.
- Estou preparada para recebê-lo. E quando chegar, nem vou lembrar mais de Thor.
- Mas é isso mesmo.
- Queria ter forças para não falar mais com ele. Sinto-me em pecado, e com sentimento de culpa.
- Não se preocupe, no momento certo, Deus vai dar um basta nisso e ele irá embora. – revela.
- Tem razão.
- Como a bíblia diz: buscai primeiro Deus e as demais coisas serão acrescentas, não é mesmo? Espera... vou orar...
Passaram-se alguns minutos:
- Tô me arrepiando. – diz Lívia.
- Deus mostrou alguma coisa?
Mais alguns minutos....
- Mostrou...
- O quê?! – pergunto ansiosa.
Mais alguns segundos...
- Eu vi a imagem de Edgar.
- Edgar?! Pensei que veria outra mulher e aparece meu ex-marido!
- Não vi outra. Vi os olhos dele como se fosse um mosaico, sabe? E as peças se embaralhavam. Não quer que saibamos que é ele.
- Essa ideia, de que ele está com outra, martela a minha cabeça, dia e noite! Padeço faz semanas.
- Edgar não fez nada, mas pediu para fazer. É para que você não fique com ninguém, e, para prejudicar a pessoa que está do seu lado. É um demônio mandado que está interferindo na sua vida. E você sabe: demônio se expulsa com jejum e oração. Vi o número sete, são sete dias de jejum.
- Sete dias? Não consigo! Preciso de energia pra trabalhar.
- É a longo prazo, podem ser sete sábados.
- Vou fazer o jejum! A presença desse demônio me deixa insegura. Eu não sou assim! – falo, revoltada.
- O que está acontecendo agora vai se repetir com outro homem! – alerta.
- Começo amanhã, obrigada minha irmã. Vou desligar, preciso orar!
- Beijos. Peça proteção para seus filhos e para sua casa.
- E para você também! O inimigo fica furioso quando descobrem seus planos! Beijos.
Ajoelho-me na sala e começo a recitar o "Pai nosso". Minhas preces são interrompidas por visões...
Era uma dentadura vampiro, como a de brinquedo, que vinha de longe e me atacava. Como se alguém a arremessasse contra mim.
Dentes, dentes, dentes, tento orar, dentes, dentes... Uma agonia me consome, começo a chorar e recitar o "Salmo 91".
Dentes, dentes, dentes, oro, dentes, dentes... Minha mente foi inteiramente tomada por eles.
Inspiro e me concentro mais:
- Saí agora, espírito das trevas, você que foi mandado! Vai embora do meu corpo, da minha mente, desta casa, da minha família, saí agora, em nome de Jesus! – expulso de mim, com determinação.
E as visões finalmente cessam. No dia seguinte começo o jejum.
No domingo, Edgar traz Luigi para casa.
- Já almoçou? – convida-me.
- Ainda não. – respondo, intrigada com as visões.
- Vamos? O Luigi não vai comer muito porque tomou café tarde.
- Vamos, já estou com fome!
Entramos no restaurante, escolhemos a comida, sentamos e começamos a conversar.
- Edgar, você está indo à igreja? – pergunto, para puxar assunto.
- Não! Nunca mais fui depois que a gente se separou. Eu sou ateu!
Fiquei espantada com a sua mudança.
- No outro dia um crente veio falar comigo e quase bati nele! Ele disse: graças a Deus que tudo deu certo! Então respondi: graças a você que trabalhou! Não dê crédito a quem não fez nada! – conta, nervoso.
- E você continua indo ao centro?
- Não fui mais! Eu sou ateu! Também não acredito no demônio! Tenho um colega, no serviço, que senta ao meu lado e é sacerdote num centro. Ele disse: você não acredita? Vou chamá-lo pra você...
Eu tinha certeza de que, se tivesse acontecido algo, Edgar deixaria escapar alguma informação. Bom, já descobri o que precisava.
- Calma, Edgar, não fique nervoso! Não precisamos falar disso.
Após o almoço, Luigi e eu voltamos para casa.
Depois de alguns dias, encontro uma dentadura vampiro entre os brinquedos do Luigi.
"Como isso veio parar aqui?" – penso, intrigada, e a jogo no lixo.