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Chapter 36 - Conto 36: A dentadura vampiro

Chegando o sábado, Lívia vem visitar-me:

- Sabe, irmã, fico chateada quando penso que ele vê outra, e não a mim. Essa quase certeza faz com que eu me magoe constantemente. É que eu gosto muito dele. – confesso entristecida.

- Mas, Deus mostrou alguma coisa, Ana?

- Não vi nada.

- Então como sabe?

- Eu não sei, apenas suponho. Ele não vai ficar sozinho...

- Nossa, deve ser um príncipe! – fala ironicamente.

- Ele não é bonito!

- Então ele deve ter um pau de ouro! Pra onde o pau dele aponta... ele pega!

Risos. - Não!

- Ora pro pau dele não subir com outra! A dona Pomba vem, e você não vai se defender? – pergunta firme.

- Acho que tem razão. – respondo cabisbaixa.

- Agora, isso tem um preço... – avisa.

- Qual?

- Se Deus fala que não, e você fica com aquilo que não é seu, haverá consequências, e, Deus vai dizer que não queria isso para você!

- Verdade.

- Tem que ter a certeza de que, se algo estiver errado, Ele vai dar um jeito para que você fique sabendo. Deus não vai te deixar enganada!

- Tem razão.

- E tem outra coisa: se os anjos não disserem, o inimigo vai se encarregar de falar, ou você acha que ele vai perder a oportunidade de te ver chateada?

- Preciso confiar em Deus e descansar. Se fosse um outro homem, eu teria a mesma preocupação.

- O Senhor quer que você aprenda a lidar com isso e confie. E, outra coisa: você está aberta para receber aquele que Deus vai enviar?

- Sim, eu quero alguém e ser feliz!

- Por que Deus não vai mandar uma pessoa para que sofra por você! Pode ser que ele não seja cristão, mas, certamente será amado por Deus, senão Ele não o enviaria.

- Estou preparada para recebê-lo. E quando chegar, nem vou lembrar mais de Thor.

- Mas é isso mesmo.

- Queria ter forças para não falar mais com ele. Sinto-me em pecado, e com sentimento de culpa.

- Não se preocupe, no momento certo, Deus vai dar um basta nisso e ele irá embora. – revela.

- Tem razão.

- Como a bíblia diz: buscai primeiro Deus e as demais coisas serão acrescentas, não é mesmo? Espera... vou orar...

Passaram-se alguns minutos:

- Tô me arrepiando. – diz Lívia.

- Deus mostrou alguma coisa?

Mais alguns minutos....

- Mostrou...

- O quê?! – pergunto ansiosa.

Mais alguns segundos...

- Eu vi a imagem de Edgar.

- Edgar?! Pensei que veria outra mulher e aparece meu ex-marido!

- Não vi outra. Vi os olhos dele como se fosse um mosaico, sabe? E as peças se embaralhavam. Não quer que saibamos que é ele.

- Essa ideia, de que ele está com outra, martela a minha cabeça, dia e noite! Padeço faz semanas.

- Edgar não fez nada, mas pediu para fazer. É para que você não fique com ninguém, e, para prejudicar a pessoa que está do seu lado. É um demônio mandado que está interferindo na sua vida. E você sabe: demônio se expulsa com jejum e oração. Vi o número sete, são sete dias de jejum.

- Sete dias? Não consigo! Preciso de energia pra trabalhar.

- É a longo prazo, podem ser sete sábados.

- Vou fazer o jejum! A presença desse demônio me deixa insegura. Eu não sou assim! – falo, revoltada.

- O que está acontecendo agora vai se repetir com outro homem! – alerta.

- Começo amanhã, obrigada minha irmã. Vou desligar, preciso orar!

- Beijos. Peça proteção para seus filhos e para sua casa.

- E para você também! O inimigo fica furioso quando descobrem seus planos! Beijos.

Ajoelho-me na sala e começo a recitar o "Pai nosso". Minhas preces são interrompidas por visões...

Era uma dentadura vampiro, como a de brinquedo, que vinha de longe e me atacava. Como se alguém a arremessasse contra mim.

Dentes, dentes, dentes, tento orar, dentes, dentes... Uma agonia me consome, começo a chorar e recitar o "Salmo 91".

Dentes, dentes, dentes, oro, dentes, dentes... Minha mente foi inteiramente tomada por eles.

Inspiro e me concentro mais:

- Saí agora, espírito das trevas, você que foi mandado! Vai embora do meu corpo, da minha mente, desta casa, da minha família, saí agora, em nome de Jesus! – expulso de mim, com determinação.

E as visões finalmente cessam. No dia seguinte começo o jejum.

No domingo, Edgar traz Luigi para casa.

- Já almoçou? – convida-me.

- Ainda não. – respondo, intrigada com as visões.

- Vamos? O Luigi não vai comer muito porque tomou café tarde.

- Vamos, já estou com fome!

Entramos no restaurante, escolhemos a comida, sentamos e começamos a conversar.

- Edgar, você está indo à igreja? – pergunto, para puxar assunto.

- Não! Nunca mais fui depois que a gente se separou. Eu sou ateu!

Fiquei espantada com a sua mudança.

- No outro dia um crente veio falar comigo e quase bati nele! Ele disse: graças a Deus que tudo deu certo! Então respondi: graças a você que trabalhou! Não dê crédito a quem não fez nada! – conta, nervoso.

- E você continua indo ao centro?

- Não fui mais! Eu sou ateu! Também não acredito no demônio! Tenho um colega, no serviço, que senta ao meu lado e é sacerdote num centro. Ele disse: você não acredita? Vou chamá-lo pra você...

Eu tinha certeza de que, se tivesse acontecido algo, Edgar deixaria escapar alguma informação. Bom, já descobri o que precisava.

- Calma, Edgar, não fique nervoso! Não precisamos falar disso.

Após o almoço, Luigi e eu voltamos para casa.

Depois de alguns dias, encontro uma dentadura vampiro entre os brinquedos do Luigi.

"Como isso veio parar aqui?" – penso, intrigada, e a jogo no lixo.