[ALERTA]
"Trinn"
[ALERTA]
"Trinn"
[ALERTA]
"Trinn"
As letras em laranja na tela do smartwatch vieram acompanhadas do som incessante do alarme.
O cientista estava executando uma obra de Liszt, a unidade de La Campanella. Dificílima para a maioria dos pianistas, mas não para ele. Sua execução estava perfeita.
O Dr. Wallace Wang detestava ser interrompido. Especialmente quando estava tocando. O cientista se afastou com irritação dos teclados do piano, de péssimo humor. 'Malditos!' xingou amaldiçoando quem quer que fosse que o estava interrompendo em seu raro momento de lazer.
O criador de Neona checou no dispositivo em seu braço o que havia acontecido de tão urgente desta vez. Pois eram assim os seus dias atualmente.
Desde que o engenheiro-chefe Honda descobriu a grandiosidade de Neona, o idiota míope o incomodava por qualquer bobagem prosaica na vida dos habitantes da Ilha Princesa. Um bando de homens desocupados que, por um golpe do destino, tiveram a sorte de estar no maior experimento que a Humanidade se lembraria no futuro.
Pulando a parte da mensagem com os melodramas baratos de suas vidas, o doutor foi direto para os dados. Era somente o que ele precisava saber.
...
[TAKEDA H, Óbito/ Vida 0% (zero por cento)]
[TAKEDA H, ---/ RESET/REANIMADO ]
[TAKEDA H, VIVO / Vida 100% (cem por cento)]
Pico de Transferência de Dados: 1,2 PB
Sobrecarga nos servidores - Perda de Dados 0,002%
….
O cientista sorriu ao ler os dados. Estas informações eram a maior descoberta da Humanidade em todos os tempos!
E o Dr. Wang tinha certeza que o idiota míope nem tinha percebido a grandiosidade que testemunhou. Honda, aquele emotivo e fraco homem, deveria estar se culpando como se isso fosse uma tragédia.
O Dr. Wallace Wang pensava agora nos milhares de desdobramentos deste acontecimento.
Uma morte dentro do sistema validava Neona como uma biosfera real. Sua criação era perfeita! Ele havia superado seu mestre.
Pisando em nuvens, o cientista foi até a fotografia de seu ídolo se vangloriar para a foto.
"Boa noite prezado mestre," ele cumprimentou a foto como se falasse com uma pessoa real,
"O senhor se repetiu algumas vezes em afirmar que,
'… A emoção mais profunda que um ser humano pode experimentar é o Mistério… é esse mistério que a gente não sabe, do desconhecido que é a mola propulsora da criatividade nas artes e na ciência… quem não experimentou essa atração pelo Mistério está mais morto do que vivo. É feito uma vela que se apagou.' Pois eu posso afirmar e provar que o senhor estava errado, caro colega," o Dr. Wang citou uma fala do físico Einstein.
Ele já estava se preparando para o seu discurso em um futuro próximo, ao ganhar o Nobel, o maior prêmio de Ciência por sua obra.
Então limpando a garganta, ele continuou a falar para a foto sobre sua conquista,
"Prezado Albert, você estava enganado, meu caro amigo. A maior emoção que um ser humano pode experimentar é ser Deus. Eu criei um novo Universo! Eu libertei o Homem da prisão do carbono, e o tornei Imortal! Quem eu escolher, viverá eternamente! Eu sou o verdadeiro deus." O Dr. Wallace Wang estava em êxtase catártico, ele tinha ido muito além do que seu mestre Einstein poderia ter sonhado em toda a sua vida chegar a saber.
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Haruki parou na frente da porta de sua suíte e olhou o gatinho em seu braço que tinha dormido. Desde que ele se lembrava por gente, o cantor queria ter um bichinho para poder cuidar.
Mas nunca era a hora certa ele sempre esteve muito ocupado, primeiro com as aulas de reforço, mesmo ele detestando os estudos era obrigado a perder muitas horas de sua vida nessa função que para ele era inútil. Para que ele tivesse boas notas na escola, sua mãe em casa passava e repassava deveres até o filho chegar a cem por cento de acerto. Então ele se destacou nos jogos, atividade que lhe dava um sentido verdadeiro em viver. E Haruki foi chamado para o time principal do colégio, e seus pais ficaram felizes por ter um filho genuinamente talentoso.
As notas já não eram mais importantes, o jovem homem tinha a possibilidade de ganhar muito mais dinheiro jogando. E Haruki ganhou sua liberdade! Ele passava muitas horas treinando para vencer nas competições Haruki amava treinar, amava jogar! Esta foi a melhor época de sua vida, seus dias mais felizes na Terra.
Mas novamente sua vida deu um giro de 180 graus.
~'A sorte sorriu para seu filho, Sra. Takeda!'~
Essa maldita frase tinha vindo de um homem poderoso no meio artístico.
Um rostinho de garoto angelical em um corpo másculo, bem definido tinha chamado a atenção do produtor musical que estava procurando garotos especiais para montar uma nova boyband.
Sua mãe ficou obcecada com o sonho de seu filho ser um idol internacional. Era bem mais chique, mais glamuroso do que ele ser apenas mais um atleta profissional. E ela obrigou Haruki voltar a passar mais horas infinitas e inúteis treinando para o seu debut artístico. O garoto viu as horas se tornaram anos. E de novo sua vida mudou 180 graus.
Ali estava ele preso dentro de um jogo em um ambiente virtual. Teria hora mais errada para ele ter tomado para si a responsabilidade de cuidar desse filhote?
Mimi tinha conseguido sua atenção, foi amor à primeira vista e ele iria sobreviver e sair dali, levaria todos os seus companheiros em sua suga. "Nós não vamos morrer aqui, Mimi. Nem eu, nem você, nem nossos amigos. Eu vou encontrar um caminho para fora!" Haruki prometeu baixinho para o gatinho, que nem tinha consciência que sua vida corria perigo caso se perdesse ali. O cantor não tinha se esquecido do pouso kamikaze. Só tinha adiado para a hora certa pensar sobre como ele se vingaria.
E pensando em quem mexia com todo o seu ser, ele se questionou,
'O que será que Jun vai achar de termos um terceiro convidado para nossa noite?' Enchendo seus pulmões de ar, Haruki girou a maçaneta da porta bem devagar e entrou no hall semi iluminado. Ele caminhou até a sala onde pegou uma almofada e com muito jeito e devagar passou o gatinho de seu braço para ela, o deixando para dormir no sofá. Ele continuou seu caminho, pisando na ponta dos dedos dos pés, e se encolhendo para não ser visto nem ouvido.
Haruki queria pegar Jun desprevenido e lhe dar um susto. Ele se lembrava do pedido de desculpas desajeitado do Bad Boy, de sua promessa em fazer as coisas do jeito que o cantor gostava e de seu pedido para que namorassem. 'Quem poderia imaginar que Jun sabe ser fofo?' A lembrança o fez sorrir em antecipação do reencontro.
O cantor sentiu pisar em algo macio que ao ser pisado molhou sua meia. Levantando o pé para olhar o que era, Haruki viu uma pétala de rosa esmagada, e olhando à sua volta, viu que havia mais pétalas que faziam um caminho de rosas espalhadas pelo chão. Jun estava sendo romântico como havia prometido, mesmo que esse não fosse seu modus operandi usual. O cantor balançou a cabeça em concordância, era assim que ele queria. E Jun teria a sua recompensa por estar sendo um bom garoto.
Seguindo as pétalas, atravessou o luxuoso complexo inspirado em um palácio imperial, até a porta com duas sentinelas com armaduras samurais diante da porta do aposento. Sabendo que finalmente veria Jun, o cantor passou a mão por seu black-tie e entrou.
A cama dominava o ambiente, por seu tamanho exageradamente grande, e suas colunas em arabescos de ouro. Mas para a decepção de Haruki, seu Bad Boy favorito não estava nela. O caminho de pétalas continuava para a próxima porta, de onde bruxuleava a suave iluminação à luz de velas.