Os rapazes se entreolharam e não, ninguém além Haruki tinha visto o exótico objeto. O cantor eliminou sua teoria de que havia magia envolvida.
"Eu assinei um contrato de uma folha só. O texto era bastante claro e sem pegadinhas evidentes. Quando meu amigo me deu o papel e a caneta para assinar, ele disse que faziam questão que fosse com aquela caneta de osso. E que ele achava que era alguma superstição," Haruki contou, "Por isso cheguei a pensar que poderia ter alguma coisa ali, mas se vocês nem viram essa caneta... Bem, deve ter sido o smartwatch mesmo."
Haruki viu a reação que alguns tiveram.
Okane abriu a boca para falar, mas antes que se pronunciasse o colegial levou um cutucão de Noguchi que o encarou sério.
Yamada perguntou, depois desse silêncio que se seguiu.
"Só uma folha de papel o seu contrato e foi com 'seu amigo' que você assinou, não na empresa com um grupo de advogados?" O influencer enfatizou a palavra 'amigo'.
"Sim. Mas eu creio que ele não sabia de nada. É só um freelancer e foi contratado para desenhar este otome. Ele é um excelente desenhista. Duvido muito que soubesse que isso fosse acontecer."
Haruki detalhou a seguir como reencontrou seu amigo e acabou aceitando posar como modelo para um personagem de otome. Ele queria ajudar seu colega de escola a ganhar algum dinheiro.
Todos o encaravam incrédulos, ao final de sua narrativa sincera.
Embaraçado, e sentindo-se julgado sem saber exatamente o motivo, Haruki levantou-se.
"Bom, agora que eu contei como foi que eu assinei o contrato, podemos comparar os padrões não é? Contem como vocês foram 'recrutados.' Assim saberemos o que pode ter causado isso tudo."Ele disse com o seu melhor sorriso.
Todos se entreolharam, esperando que alguém fosse o primeiro a falar. Yoshida-san resmungou,
"Isso não é realmente necessário," e Daisuke concordou com a cabeça. Os outros ficaram mudos.
Isso enervou Haruki. Ele normalmente era bastante calmo, mas essa atitude mesquinha o deixou ofendido com os colegas de infortúnio.
"Okay. Façam como quiserem." Haruki resmungou e decidiu sair para a praia, para relaxar um pouco. O pôr-do-sol estava caindo sobre a bela paisagem à beira-mar.
A mansão era enorme e havia uma colina verdejante atrás da propriedade. Era um lugar paradisíaco e uma prisão irreal para seis homens reais.
Pensando nas coisas que ele mesmo relatou, Haruki acreditou que poderia haver uma chance de ele se comunicar com Kenta. Talvez ele conseguisse quebrar a quarta parede!
Pegando um galho qualquer, ele passou o resto do tempo até a noite escrevendo uma mensagem em letras gigantes na areia da praia,
Kenta
SOU EU HARUKI
ESTOU PRESO NO JOGO
ME AJUDE
Era uma tentativa patética, mas era melhor do que nada.
Quando ficou escuro, e ele estava cansado, Haruki voltou para a casa. Explorando a residência, descobriu outro fato intrigante: além de não haver comida na dispensa, não havia como abrir as portas.
E os ambientes estavam vazios em sua maioria. Era um lugar arrepiante e Haruki imaginou o medo que Okane passou em seu dia solitário.
Haruki fez outra descoberta: a sala de música, a cozinha, e a sala de lazer eram os únicos ambientes mobiliados e decorados da mansão! Não havia sequer banheiros ou lavabos!
'Uh oh! Isso é sério, muito sério!' Com certeza, precisava dar um jeito de sair daquele lugar o mais rápido possível. Quer dizer… Ele até poderia fazer, mas não era fã de se aliviar em moitas e canteiros de flores.
'Eu realmente sou um homem civilizado, ao contrário do que minha irmãzinha sempre achou.'
Ele se juntou aos outros após resolver o problema de sua bexiga perto de umas petúnias no jardim. Ao menos a torneira da cozinha tinha água potável.
Juntando-se ao resto do grupo na sala de jogos, a única que tinha sofás confortáveis, Haruki percebeu que era ali o 'dormitório' oficial.
Porém, não havia sofás grandes o suficiente para todos.
Por ter sido o último a chegar, não havia sequer almofadas para ele. Tudo já havia sido rigorosamente dividido antes pelos cinco homens.
Ele mordeu o lábio inferior evitando criar uma discussão sobre isso. Yoshida-san estava deitado em um sofá que cabia duas pessoas, Noguchi estava no chão com uma das cortinas e uma almofada. Daisuke e Okane dividiam outro sofá grande, e Jun também tinha um sofá só para si.
Haruki suspirou e, resignado, se virou para ir para outro lugar dormir quando levou uma almofadada nas costas. Quando olhou, viu que o 'badboy' tinha jogado uma de suas almofadas para ele.
Ou nele, tanto faz. Haruki agradeceu.
Ainda assim, ele preferiu não dormir com eles.
Indo para a sala de música, Haruki encontrou um tapete felpudo que não era grande o suficiente para seu corpo todo mas ao menos protegia suas costas do piso frio. Deitou-se de barriga para cima e olhou o lindo lustre de cristais, iluminado apenas pela luz do luar que entrava pela grande janela.
Então sentiu-se observado. Era uma sensação bastante incômoda e forte. Ele sabia, no entanto, que ninguém mais podia estar ali.
A não ser…
"Kenta? Itawa Kenta? Você está aí? Me olhando deitado na sala de música?"
[ HARUKI!]
Ele ouviu a voz do amigo ressoar como se um deus falasse com ele do céu.