Heróis.
Considerado o grupo que contém os singulares mais poderosos, com habilidades que podiam ser desde obliteração até manipular o tempo e espaço. Os Heróis ficavam em uma cidade grande, mas difícil de encontrar, onde podiam sim viver humanos e singulares, porém o território todo era regido sob leis rígidas. Isso sem falar de seus grupos fora da cidade, e de estarem sempre tentando espalhar mais sua influência.
Mary, esse era o nome da moça, com cerca de 22 anos atualmente, aos 17 mal havia terminado seu treinamento com espadas e algo terrível aconteceu em sua vida por culpa dos Heróis. Ela nunca soube a razão ou até mesmo o nome das pessoas que fizeram isso. A partir de então, mesmo que ela não tivesse pistas sobre como encontrá-los, nem sobre que tipo de poderes poderiam existir naquele grupo, ela partiu com sua katana e seu poder para quem sabe achar uma forma de derrubar o grupo.
Logo ela percebeu que isso não seria fácil e, mesmo que tivesse encontrado algumas dicas, todas elas até então só a levaram a conflitos e nenhuma resposta. Aquela parecia ter sido sua última pista e tinha ido por água abaixo, porém ela parece ter tido uma nova perspectiva assim que encontrou Ethan. Mary viu nele um potencial ótimo que poderia ajudá-la e muito, mas, para isso, ela não poderia simplesmente largá-lo como estava.
Mary, mesmo achando que não tinha tempo para isso, que não servia para esse tipo de coisa e, ainda mais, não queria se afeiçoar a alguém, pensou consigo mesma que deveria ser paciente ao menos um pouco, e assim, após trocar algumas palavras com Ethan, decidiu aceitar. Ela então o ajuda a se levantar e o pega no colo. O garoto estava muito fraco, por isso acaba dormindo pela falta de energia.
- Não estou fazendo isso por você, garoto. – Mary diz enquanto o carregava para fora da casa.
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2 anos depois.
A caçada pelos Heróis continua.
Sons de esforços. Uma figura encapuzada era vista correndo pelo terraço de uma casa e em seguida saltando para outro. O ser em questão usava uma camiseta regata verde com capuz, uma calça cargo preta, tênis all star já gastos e luvas meio dedo pretas. Aparentava ser um garoto. Estava com o corpo enfaixado na região dos cotovelos, joelhos e alguns no rosto.
Ele estava correndo por uma área também destruída, aproveitando-se das estruturas que foram formadas por singulares, como árvores e pedaços de concreto organizados irregularmente, como se fosse uma corrida de obstáculos.
Apesar de em alguns momentos ainda ter dificuldade, o garoto mesmo que aparentasse ser novo já demonstrava uma bela habilidade em acrobacias, tanto que foi capaz de usar um pedaço de árvore para se impulsionar, agarrar a beirada de uma estrutura de concreto e escalar rapidamente. Ao ficar de pé no punhado de concreto, ele via no horizonte algumas ruínas e bem no fundo, o que parecia ser uma cidade.
O vento sopra em sua direção e retira o capuz de sua cabeça, revelando seu rosto. Tendo olhos azuis, cabelos loiros e lisos, raspados nas laterais, ainda possuía uma cicatriz de corte horizontal logo abaixo de seu olho esquerdo. Fora isso, o que se dava para notar era que o garoto tinha um porte físico magro e atlético, não era exatamente forte, mas aparentava ser bom para esforços. Sua expressão era neutra, consideravelmente melhor que a versão vazia dela.
Ele respira fundo e conversa consigo mesmo. Sua voz realmente indicava uma idade jovem.
- Calma Ethan, é só seguir como a Mary ensinou... – Ele então se vira de costas para a beirada da estrutura, fecha os olhos e dá um passo para trás, caindo em direção ao chão. Enquanto fazia isso, o garoto colocava as mãos atrás de si e sacava, de um coldre em suas costas, duas pistolas e, sem abrir os olhos, ele estende os braços para os lados, disparando dois projéteis em direção a alvos posicionados a uma boa distância dali.
Logo que aterrissa, ele abre os olhos e vê alguém encostado na parede em sua frente. Ao levantar o olhar, percebe uma mulher de shorts jeans, botas e camiseta branca, com olhos verdes e cabelos brancos. Mary tinha voltado para conferir o treinamento do garoto.
- Você errou o tiro da esquerda. – Ela dizia enquanto cruzava os braços e mantinha o olhar sério. Ethan olha para seu erro, realmente a bala havia passado longe do alvo, ele fica cabisbaixo por novamente ter falhado. Ela vai até o garoto, que mal chegava em seu peito em relação à altura, inclina um pouco seu corpo para ficar na altura de seu rosto e levanta o queixo dele. – Sem ficar se culpando, olhe para seu erro e pense em como não errar futuramente.
- Como devo fazer isso? – Ele perguntava um pouco relutante.
- Assim como fez com a faca. – Ela passa o polegar pela cicatriz perto do olho de Ethan. O garoto tenta entender e estende seu braço esquerdo na direção do alvo. Mary fica ao seu lado e coloca sua mão nas costas de Ethan enquanto a outra tenta deixar a pistola do menino alinhada. – Você está querendo aprender de uma vez, faça um passo de cada vez, mesmo que tenha que aprender a atirar novamente.
- Um passo de cada vez... – O garoto concentra-se e foca sua visão no alvo em seu lado esquerdo. Prendendo a respiração um instante antes de atirar, Ethan dispara, porém o projétil não acerta o alvo em cheio, apenas de raspão, o que acaba o deixando frustrado e cabisbaixo novamente.
- O que eu falei? Sem se culpar. Precisará de mais treinamento. Venha. – Ela dizia enquanto ia na frente do garoto.
- S-sim, senhora. – Ele dizia enquanto levantava a cabeça e guardava suas pistolas. Os dois iam na direção de um prédio abandonado, logo eles adentram no estacionamento no primeiro andar.
- Vamos ver como seus golpes estão, hoje você pode usar a faca. – Ela então se vira para Ethan, percebendo que ele estava girando uma faca militar em sua mão com extrema maestria. Era só uma distração mesmo. – Hum, você melhorou bastante.
- Será que um dia eu terei uma katana igual à sua? Não seria mais fácil eu começar com uma já? – Ethan questiona enquanto volta a segurar sua faca, posicionando-se.
- Não temos um ferreiro conhecido para fazer armas como essa. E mesmo que tivéssemos, ainda é muito novo, uma katana seria pesada demais para você. Tenha paciência, entendido? – Mary se posiciona, ela iria de mãos nuas.
- Sim, senhora... – Ethan se posiciona com sua faca empunhada. Ele suava de nervosismo, tinha que causar ao menos um corte em Mary ou não jantaria em dobro.
- Agora.
O garoto então parte para cima da moça, saltando e realizando uma apunhalada na direção do ombro de Mary. Ela bloqueia o braço do garoto com a mão, então Ethan faz um chute horizontal antes de aterrissar no chão. Mary abaixa a cabeça e, assim que o garoto fica de frente e aterrissa, ela se posiciona e dá um soco na direção do rosto do garoto, que desvia por muito pouco e tenta esfaquear o braço de Mary, porém, antes que pudesse fazer isso, a moça agarra o braço dele e gira na direção oposta a dele, fazendo o garoto girar no ar.
Mas, aproveitando-se desse giro, Ethan consegue chutar o rosto de Mary, fazendo-a soltá-lo, mesmo que não tenha sido tão forte. O garoto então termina de girar no ar e aterrissa no chão agachado. Ele acaba vendo sua faca no chão e aproveita que sua instrutora estava fora de foco devido ao chute e corre na direção da arma, pegando-a do chão e tentando dar uma fincada em Mary. Porém, a moça estava apenas fingindo estar desorientada e, antes de Ethan perceber, ela faz um movimento de retirar a faca da mão dele, batendo na arma e no braço do garoto ao mesmo tempo, jogando ambos para direções opostas.
Mary então agarra o pulso de Ethan e dá uma rasteira por trás nele, fazendo-o cair de costas no chão. Ao se recuperar do baque, ele abre os olhos e vê seu braço esquerdo levantando com sua mestra segurando o pulso. A expressão dela era séria, mas não demonstrava decepção, pois na outra mão ela estava segurando justamente a faca de Ethan, a moça estava segurando-a pela lâmina, com o cabo virado para o garoto. Ele entende que era para pegar novamente.
- Vejo resultados, Ethan, ótimo. – A moça diz, o menino de primeira não entende o que significava, mas quando olhou mais atentamente para a faca, ela estava com sangue na lâmina, e o líquido estava caindo justamente da mão de Mary.
O garoto fica surpreso que ainda sim conseguiu causar um corte nela, pode ter sido apenas descuido da moça na hora de desarmar Ethan, ou ela realmente quis conceder uma vitória para o menino.
- Então... Eu consegui o jantar dobrado? – Ele pega o cabo da faca e aproveita de Mary já estar segurando seu pulso para receber ajuda para se levantar.
- Pensar na recompensa pode ser um grande incentivo, use a seu favor. Ainda temos que trabalhar sua mira com as duas mãos e corpo a corpo.
- Entendido. – Ele acena positivamente. Mary e Ethan então sobem às escadas em direção ao seu esconderijo improvisado. – Ah... Mary, como eu estou? Já fazem dois anos, eu agora consigo lutar, posso te ajudar a caçar.
- Não está totalmente pronto, principalmente sua habilidade, já que ela depende de outro singular para se ativar. – Mary dizia.
- Mas... Então não é melhor eu ir junto? Dessa forma eu posso controlar melhor meu poder enfrentando outros singulares.
- Não até eu perceber que está melhor no gatilho.
- Mas você não aprendeu melhor lutando de verdade? – O garoto tenta insistir.
- Ethan. – Mary para e vira seu rosto de relance apenas, foi o suficiente para o menino se calar e não questionar mais.
- Sim senhora... – Ele abaixa a cabeça e os dois continuam andando.
- Eu quero sim derrubar os Heróis, mas não farei isso às custas de te sacrificar. – Mary diz, o que deixa Ethan curioso, não entendia o que ela queria dizer.
Após preparado, ambos se sentam ao redor da fogueira e jantam. Na verdade apenas Ethan comia, Mary por alguma razão ficava pensando olhando para as chamas e para o garoto. Ela começa a se lembrar de como as coisas eram no começo, principalmente por Ethan inicialmente ser muito mais contido do que agora.