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Chapter 3 - O Teste, A Ruiva da Afinidade Perfeita

Após conectar o celular ao Wi-Fi, Aira deixou-o de lado, mas assim que o pôs em cima da mesa, ele começou a tocar, arqueou uma das sobrancelhas, meio confusa, quem iria ligar para ela?

Aira pegou o celular e olhou para a tela, ver se reconhecia o número, ou se ele já era de um de seus contatos.

Era a segunda opção, a garota que ligou para a Aira, era a Minori, fazia quase uma semana que não falava com ela, e tinha motivos para sequer pensar na amiga, então inspirou profundamente e expirou. Colocou o celular próximo do ouvido e atendeu a chamada.

- Aira! Você está bem? - Perguntou com uma voz um tanto que anormal, Minori geralmente não demonstrava tantas emoções, nem mesmo na voz.

- Minori... Sim, eu estou bem. - Aira virou a cadeira da mesa e se sentou olhando para a janela da cozinha.

- Nossos deuses... eles tiveram piedade de você. - Um tom de alívio era facilmente percebido em conjunto de um suspiro. - Eu fiquei sabendo que você ficou de cama durante dois dias, depois disso não recebi notícias. Você quer me encontrar para me dizer o que aconteceu? -

- Minori... - Começou a dizer.

- Aira? Você está bem mesmo? - Interrompeu, perguntando com serenidade.

- Minori, eu estou em outra cidade, longe do Reino do Coração. Acho que não poderemos nos encontrar tão cedo. -

- Ah... eu deveria imaginar... depois do que aconteceu com seus pais... - Ela disse, e logo em seguida um silêncio ponderou as duas.

Aira nesse momento sentiu um aperto no coração, como se fosse desabar novamente, as lágrimas começaram a se formar de novo...

- Aira! - A voz da Minori quebrou o clima em que Aira estava entrando.

- Ah! S-Sim? -

- Meus pêsames... eu consigo imaginar como você deve estar se sentindo agora. -

- ... - Aira não soube o que dizer, no peito aquela dor ardia sem igual, mas ela conseguia se concentrar em não desabar.

- Onde você está agora? -

- ... acho que na Cidade Mágica de Héstia, aquela cidadezinha no meio do nada. -

- Você tem algum familiar por aí? - Pareceu desacreditada, pelo tom de voz.

- Minha tia, Susan, nem eu sabia que ela estava por aqui. -

- Ela é legal? -

- Não se parece com a minha mãe, mas... ela parece ser legal sim. -

- Aira... você vai conseguir vir para a Timenspace? A cerimônia de seleção vai ser em uma semana. - Aira sabia bem pouca coisa sobre essa tal cerimônia, mas parecia ser algo importante.

- Cerimônia de Seleção? -

- É a Cerimônia feita em todas as Torres, uma vez por ano, em todo Primeiro Dia do Ano. Você nunca foi a uma? - Aira conseguiria imaginar sua amiga franzindo as sobrancelhas, desacreditada.

- Meus pais nunca me levaram para uma, sou filha única também... então eu nunca vi ninguém da minha família indo para essas Cerimônias. -

- Seus pais deviam ter levado você para uma dessas Cerimônias, Aira! Elas são importantes, é o que define como sua vida vai ser! Se você vai se tornar alguém importante, ou não! -

- Sim, eu sei... a minha tia me explicou um pouco... eu vou sim em uma dessas Cerimônias, mas na Torre dos Ventos. - Explicou.

- Na Torre dos Ventos... Aira... você tem certeza que vai querer ir nessa Torre mesmo? -

- Minha tia disse que não tem condições de me levar para nenhuma outra. -

- Eu posso ver com meus pais se eles podem trazer você, o que acha? -

- Seria legal, Minori... - Aira parecia animada, se passasse no teste na mesma torre que a Minori, talvez as duas conseguissem formar um grupo para subir ela.

- Eu vou ver com meus pais, quaisquer notícias eu mando uma mensagem, tudo bem? -

- Sim. Olha, Minori, mais tarde a gente se fala, minha tia quer me levar para uma escola aqui perto, até mais. -

- Até mais, amiga. - Minori foi quem desligou primeiro.

Aira foi afastando-se devagar o telefone do ouvido, enquanto observava a tela desligando. Durante esses últimos quatro anos, Minori foi como uma irmã para a Aira, pode ser que no começo a ruiva não gostasse da presença da azulada, mas hoje em dia as duas cuidam uma da outra.

Não demorou muito, mas Aira foi se arrumar e ir com a tia até a escola.

A ideia de entrar em uma nova escola, onde estaria na presença de muitas pessoas que não conhecia, um rosto familiar ajudaria tanto a se adaptar ao lugar, mas ela sabia que estava sozinha naquele lugar novo. Infelizmente, Aira não terá tempo também de criar laços fortes com alguém, em uma semana ela iria ao teste para entrar na Torre dos Ventos, e se tudo ocorresse de acordo com o que ela esperava, não precisaria voltar para aquela escola.

Aira pôs dois fones de ouvido e começou a escutar música, era um soft rock calmo e sem muito entusiasmo.

Susan olhou para a garota sentada no banco passageiro, ela estava apoiada com o braço no vidro do carro, a cabeça sendo segurada pela mão, a mulher respirou fundo e então se focou em dirigir. Relampeou ao longe e então uma chuva começou a cair, sobre um dia que se fechou em um tom cinza, tão subitamente, que ninguém esperava aquela chuva.

Então, Susan, resolveu ligar o rádio e conectou no youtube em um Lo-Fi, não para relaxar ou estudar, mas músicas para apenas contemplar o mundo em que vivem, sobre uma chuva matinal. Aira teve sua atenção chamada, o que a fez retirar os fones do ouvido, tendo sua atenção cativada pelas sequências de músicas calmas, ainda que com a cabeça pendurada sobre o vidro.

A cidade não era grande, e chegaram até que relativamente rápido na escola. Aira estava com uma blusa vermelha, que fecha a zíper, essa blusa cobre o pescoço dela e têm dois bolsos na frente, e dois bolsos dentro, uma calça azul escuro, moletom, meio folgado e um par de tênis, os cabelos laranjas dela começavam a ficar úmidos por causa da chuva.

Susan e Aira caminharam em direção a entrada da escola, alguns olhares já observavam as duas, mas com pouca curiosidade. Sabiam que provavelmente era uma aluna nova.

Aira comprimiu os lábios com um sentimento ardente de vergonha, ela queria ter algum lugar onde poderia se esconder, mas não tinha, nem mesmo sua tia lhe transpirava esse ar de proteção que deveria, afinal, as duas não se conheciam.

Não levou muito tempo para a garota se matricular na escola, ela passou a maior parte do tempo, esperando do lado de fora do escritório da diretoria. Algumas crianças passaram e olharam a criança que estava ali, encolhida em um banco, com uma faixa na cabeça.

- Aira? - Perguntou, Susan. - Vamos... -

Aira se levantou e voltou para casa, junto da tia.

- x -

A semana seguinte, em que Aira passou na escola, não foi nada confortável, mas também não foi uma experiência que ela descartaria, aprendeu mais coisas do que imaginaria aprender em um lugar no meio do nada como aquele, talvez fosse porque o dia da Seleção da Torre estivesse perto, ai precisavam pôr na cabeça das crianças algumas informações importantes, como por exemplo, as doze essências que regem nosso mundo são produzidas pelas torres.

As doze essências, comumente chamadas, os doze aspectos, são uma energia que rege o universo e mundo em que vivem, todas organizadas em seis categorias diferentes, cada categoria carregando um par de aspectos. Aira viu em um dos livros da escola a lista oficial e organizada dos Aspectos atuais:

1º Categoria: Espaço & Tempo;

2º Categoria: Esperança & Desespero;

3º Categoria: Vida & Morte;

4º Categoria: Vazio & Luz;

5º Categoria: Coração & Mente;

6º Categoria: Ventos & Sangue.

A organização de categorias diz respeito à força dos aspectos, sendo Espaço & Tempo os aspectos mais fortes, e Ventos & Sangue, os mais fracos. Existe também uma 7º Categoria, não oficializada, por existirem poucos relatos desse Aspecto, que é o Aspecto Neutro, ele não rege nenhuma parte da existência, e só é visto um a cada um bilhão de seres, sua força nunca foi medida exatamente, mesmo que esteja na 7º Categoria, não significa que ele seja fraco.

E como sua tia havia dito, Aira, também ficou sabendo sobre a Afinidade com os Aspectos, essa afinidade mede o quanto seu corpo está adaptado àquele tipo de Essência, e o quão receptivo você está com aquele Aspecto, podendo absorver Essências de Besta daquele Aspecto. Há raros casos que ao fazerem o teste de Entrada na Torre possuem uma Afinidade tão grande que barram os níveis quase que impossíveis.

Ninguém sabe ao certo o que ocasiona grandes Afinidades logo de início, mas que as pessoas, em sua grande maioria, fazem o teste com uma porcentagem equivalente a 10% inicialmente, casos acima dessa porcentagem são considerados gênios de geração.

Havia mais algumas outras coisas que Aira estava se recordando enquanto Susan dirigia o carro com ela no banco passageiro. Uma semana de aula lhe rendeu bastante conhecimento, mas era muita coisa para digerir e processar que não se lembrava de todos no exato momento em que estava repassando as informações na cabeça, ainda mais com a ferida ainda se cicatrizando.

- Aira, não é melhor você ir no banco de trás? - Perguntou, Susan, mudando a marcha do carro, manualmente, desacelerando ao ponto de parar o carro, estavam esperando o sinal abrir.

- Eu não quero ir atrás... - Aira cruzou os braços sobre o vidro do carro e deixou um pouco dos cabelos balançarem contra os ventos, aquele lugar era realmente fresco, e estava cada vez mais conforme a Torre, no horizonte, se tornava maior, e bem maior do que se via antes da cidade da Susan.

A Torre, quando vista de longe, parece pequena, mas quando se está de perto, sua circunferência cobre quase que uma cidade inteira, aquilo era bem mais surpreendente do que Aira imaginava.

- Intimidadora não é? - Disse, Susan, enquanto abria um sorriso, nervosa.

- É enorme...- Aira parecia completamente incrédula com aquele tamanho.- Não é à toa que dá para ver ela de tão longe...- A garota tentou enxergar o topo da Torre, mas a altura já ultrapassa as nuvens, que escondem seus segredos.

- A Torre tem por volta dos cem andares, e mesmo assim, não é a maior entre as doze, para ser sincera, ela é a menor. -

- A menor...- Murmurou, a garota de cabelos laranjas.

Susan parou o carro ao lado do que parecia uma praça cultural, mas que se interligava à entrada da Torre. Um pátio enorme era onde diversas pessoas se encontravam, mas em sua maioria, crianças que devem ter a mesma idade da Aira.

- Chegamos... - Esclareceu, Susan. - ... Seja bem-vinda, Aira, a praça número um. -

Os olhos admirados de Aira observavam a torre e o tanto de crianças ali esperando para o teste começar, mas algo chamou a atenção da garota de cabelos laranjas.

- Praça número um? -

- Existem outras duas praças, cada uma localizada nas outras duas entradas da Torre. Não existe uma organização ao certo, algumas entradas podem estar mais cheias que as outras, mas a praça número um está sempre cheia. - Deu de ombros. - No final, essa quantidade de gente só vai atrapalhar seu objetivo que é entrar na Torre, eu posso levar você para a praça número três, assim você tem mais chances de entrar. -

- Pode ser.... - Ela temia não conseguir entrar.

Sem incomodar a pequena, Susan, ligou o carro novamente e acelerou pela estrada, dirigindo em torno da Torre, levou por volta de dez minutos para chegarem à praça três, não que fosse longe, a praça três ficava ao lado da um, era só seguir para o lado oposto da praça dois.

Como Susan havia dito, na praça três havia menos pessoas, por volta de uns dez conjuntos de famílias de filho único, e algumas crianças mais sozinhas, totalizando umas trinta crianças. Aira pareceu confusa e então perguntou:

- Por que aquelas crianças estão sozinhas? -

- Elas são como você, Aira, órfãs, mas que foram recusadas por seus familiares e agora vivem sozinhas, e se não conseguirem entrar na Torre, teriam de voltar para os orfanatos que vieram e encontrar um outro caminho na vida, hoje é o único dia em que elas podem ter alguma chance de ter uma vida boa garantida. -

Aira não soube o que dizer, apenas observando as crianças sozinhas.

- O teste vai começar em breve, está ansiosa? - Perguntou, enquanto abria os vidros do carro e pegava um copo descartável de café que estava no porta-copos.

- Será que eu vou ser escolhida? - Respondeu com uma pergunta, a voz meio incerta. Aira sentiu uma insegurança no peito.

- Isso só o destino vai decidir. - A voz soou com um tom filosófico enquanto olhou para frente, sem de fato se focar em algo. Bebeu um pouco do café.

Um pequeno silêncio perturbador se instalou, até que Susan resolveu falar:

- Mas quer uma dica... - Disse, balançando o copo descartável, misturando, mesmo que pouco, o café com o açúcar.

- Hum? -

- Só passe no teste na Terceira Etapa, se o inspetor lhe der a opção de passar na primeira, ou na segunda, recuse, só passe na terceira etapa. -

- Hã? Por quê? - Aira pareceu incrédula, e um tanto irritada, sua tia queria que ela falhasse no teste?

- Você é filha de um gênio de geração e uma Modelo incrível, Aira, são duas pessoas fora do comum. Com toda a certeza, você vai passar na primeira e segunda etapa, já na terceira etapa... bom... só faça o que eu estou mandando. Se você passar na terceira etapa, com toda a certeza seu futuro será tão melhor quanto o de seus pais. -

- Isso é sem lógica alguma. - Disse com um tom de desprezo. - Só porque sou filha de duas pessoas incríveis não quer dizer que eu sou também. Essas coisas não passam de pais para filhos! E se eu vou passar com tanta facilidade na primeira e na segunda etapa, então por que só na terceira eu tenho de passar? Se eu aceitar a passagem nas outras duas, eu já terei minha vaga na Torre! Arriscar a Terceira Etapa é loucura! -

- Então arrisque a segunda... se você passar na segunda, arrisque a terceira. - Disse, guardando o copo no porta-copos. - A vida é feita de riscos, Aira, e temos de arriscar para alcançarmos o nosso máximo. -

Aira olhou a tia, incrédula com o que ouviu, mas então lembrou de uma coisa que sua mãe havia dito uma vez. "Arrisque tudo, Aira, só assim você conseguirá melhores oportunidades."

- Seus pais arriscaram tudo, e conseguiram chegar onde estão. Arrisque tudo, Aira, brinque com a sorte. Seja como seus pais. -

- Isso é.... baixaria. - Pareceu realmente incomodada, mas como seus pais diziam para ela apostar tudo, era o que ela ia fazer.

- Se não fosse, eu não estaria usando contra você, mas tem um motivo sim para fazer isso, Aira. - Susan pegou o copo de café e deu outro gole. - Quanto mais testes você passar, mais você vai chamar atenção. O que mais esse reino precisa é de atenção. -

- E em que me ajudaria chamar atenção? -

- Você vai ver. -

Passou-se por volta de 30 minutos, Aira esperava dentro do carro nesse momento, uma música tocava no rádio do carro enquanto Susan rolava pelo Feed de Notícias de algum aplicativo do celular. O copo de café estava amassado no porta-copos.

O dia estava calmo e os jovens na praça estavam esperando, alguns pareciam se conhecer, mas outros nem estavam se socializando, esse era o caso da Aira, que observou as crianças de mesma idade que ela.

Subitamente uma corrente de ar se fortaleceu, e isso foi perceptível para todos ali, que ficaram surpresos pela repentina mudança nas correntes de ar. Os ventos seguiam contra a Torre, a direção em que todos olhavam agora. Sobre as cabeças de todos, sentiam o vento ir contra a torre, mas sobre as pernas sentiam os ventos irem para longe da torre.

Em meio ao ar, uns sete metros acima do chão, um tornado começou a se formar, e ao tocar o chão, se desfez com uma pessoa no lugar. Era um homem, adulto, de cabelos longos e vermelhos, ele tinha uma pele levemente pálida e olhos profundamente cinzentos. Usava um tipo de traje formal preto com um símbolo amarelo sobre o peito. Como Aira, ele usa óculos, porém diferente dos da garota, os dele são retangulares.

Enquanto ajeitava a luva sobre mão direita, e em seguida passava para a luva da mão esquerda, dizia:

- Eu serei o examinador de vocês... Lucca Grant, Mestre da Luz, nível 57. - Apresentou a si mesmo, se pondo de coluna ereta e mãos atrás das costas. - Como vocês devem saber, apenas três de vocês, hoje, saíram desse teste como novos membros da Torre dos Ventos. Sem mais enrolações, quero que todas as crianças que forem fazer o teste, formem filas de até cinco pessoas. -

Enquanto Mestre da Luz começava a descer pela escadaria, de poucos degraus, da Torre, as crianças iam se arrumando em fileiras de cinco, com pressa.

Aira, no entanto, saiu do carro devagar, acenou para a tia e foi andando em direção às filas.

- Boa sorte. - Disse, Susan, com um leve sorriso no rosto.

A pequena garota de cabelos laranjas se juntou a uma das fileiras e esperou, como todas as outras vinte e nove crianças ali presentes. O examinador parou sobre o último degrau e ergueu a mão direita à altura do peito, no pulso estava um bracelete que possuía algumas joias de cores diferentes. Duas jóias brilharam, e conforme o brilho se intensificava, flutuavam para fora das pedras, formando duas auréolas a frente do examinador, na altura do peito, e então ele explicou:

- O primeiro teste é despertar o resto da Essência de vocês, eu farei o teste com todos aqui, e só no final eu direi quem passou. - Então olhou para a primeira criança da primeira fileira. - Aproxime-se. -

A criança pareceu assustada com aquilo, mas então acenou com a cabeça e andou, apressadamente, para baixo das auréolas.

- Não vai doer. - Ele explicou, e então estalou os dedos.

Em resposta, as auréolas, começaram a girar em alta velocidade conforme desciam em volta do garoto. As auréolas desceram até o chão e então pararam de girar, subindo novamente até a altura do peito. O garoto estava com uma ferramenta em mãos, uma tesoura.

- Essência Externa... - Disse Grant, deu de ombros. - Próximo. -

O teste se estendeu por alguns minutos até chegar em Aira, que se pôs em frente ao homem e ouviu o estalar de dedos do mesmo. As auréolas giraram em alta velocidade e começaram a descer em volta da jovem de cabelos laranjas. Logo ao começarem a passar pelos cabelos de Aira, eles pararam em uma energia poderosa, e então desceram bem devagar, com dificuldade até.

Todo jovem, aos doze anos, passa por um segundo despertar, esse segundo despertar revela ao usuário o verdadeiro potencial de sua Essência, geralmente pessoas de famílias poderosas, ou de clãs incríveis, possuem uma Essência surpreendente. Aira não era de nenhum clã, mas tinha uma família forte e famosa.

As auréolas desciam conforme Aira sentia algo dentro de si, um peso desaparecendo e então, quando as Auréolas alcançaram o chão, uma luz forte reluziu em uma explosão e quando a luz baixou, os dois aros de luz estavam de volta na posição inicial.

O examinador, como todas as outras crianças, estava com os braços à frente dos olhos para não se cegar com a forte luz. Ele foi o primeiro a baixar os braços, mas o que mais surpreendeu ele, não foi aquela luz toda, era o que estava acontecendo com a jovem de cabelos laranjas em sua frente.

Aira sentia uma leveza, mas ao mesmo tempo uma sensação estranha correndo pelo corpo, a garota que olhava as próprias mãos via algo estranho nelas, linhas roxas por baixo de sua pele correndo pelo corpo.

- Essência Interna, Força Emocional. - Disse, Grant. - Qual o seu nome, garota? -

- Airinda Bradley Blake.- Respondeu Aira, baixando as mãos e olhando para o examinador. O corpo inteiro de Aira tinha linhas roxas correndo por baixo da pele.

- Blake... - Grant cruzou os braços e olhou as outras crianças, respirou fundo e acenou para Aira sair dali. "Com toda a certeza, essa garota vai passar no Primeiro Teste..." Pensou o examinador.

Depois de Aira ser dispensada e ter voltado para a posição na fila, assim que se afastou das Auréolas, as linhas roxas desapareceram. Crianças, depois de crianças, foram fazendo o teste, só houve mais um outro caso que chamou a atenção de Grant, que foi de uma garota de cabelos marrons escuros, uma pele bege beirando a palidez, junto de um conjunto de roupas escuras, uma blusa de algodão preta e uma calça preta, os olhos cor de esmeralda, e dois dentes caninos enormes, que ficavam até um pouco para fora da boca.

O caso dessa garota foi interessante, pois enquanto as auréolas passavam sobre o corpo dela, liberando o poder da Essência, o corpo dela foi mudando, de dentro dos cabelos marrons escuros surgiram duas orelhas felpudas e grandes, assemelhando-se com orelhas felinas. Quando alcançaram a cintura dela, uma cauda surgiu, possuindo a mesma coloração dos cabelos dela, uma cauda bem felpuda, junto disso, as unhas dela cresceram.

Grant pareceu dizer alguma coisa para a garota, mas então dispensou-a. O que chamou bastante atenção é que mesmo longe das auréolas, a garota com Essência de Gato, não voltou ao normal.

Naturalmente, Grant voltou ao teste com as outras crianças e de pouco em pouco foram acabando as crianças. Quando finalmente terminou, Grant olhou para as crianças e chamou por apenas, dois nomes:

- Airinda Bradley Blake, e Jenipher Smith Stark... - Aira sentiu um alívio no peito ao ouvir o próprio nome. - Aproximem-se. -

Dito e feito, Aira caminhou apressada para a frente das outras crianças e parou ao lado da garota-gato, que parecia só faltar explodir de tanto que ela tremia.

- Vocês duas... de todas as crianças aqui, possuem a Essência mais forte, as duas passaram no primeiro teste. - Explicou. - Sub.. - Ele foi cortado por alguém.

- Examinador Grant, eu quero tentar fazer o segundo Teste! - Disse, Aira, observando o examinador com certa determinação.

O homem de cabelos vermelho, olhou a garota de cabelos laranjas que tinha uma faixa na cabeça, cobrindo alguma ferida, seu olhar se tornou sereno, arquejou uma das sobrancelhas, pensativo:

- Você tem certeza? Tentar passar no próximo teste é renunciar à sua vaga conquistada no primeiro. - Disse enquanto ajeitava o óculos na face com o dedo do meio.

- Sim... eu tenho certeza. -

Um silêncio se estabeleceu por alguns segundos, os dois se encarando e então, Grant, suspirou e olhou para Jenipher:

- Está certo, se não irá renunciar sua vaga, Jenipher, suba a escadaria e espere na entrada da Torre. -

A Garota-Gato olhou para Aira, havia parado de tremer e parecia mais curiosa, conforme observava Aira e deu um sorriso:

- Você vai conseguir... Boa sorte! - Jenipher correu pela escadaria, com um sorriso de empolgação.

- Volte ao seu lugar, garota. -

Aira não pestanejou, apenas acenou com a cabeça e caminhou de volta para a fila de onde veio. As outras crianças pareciam irritadas com a decisão da Aira, se sentiam subestimadas pela garota.

Após isso, as duas auréolas voltaram a se tornar duas jóias que se prenderam em seus respectivos buracos no bracelete do examinador. Logo após, o examinador ergueu a mão esquerda até a altura da cintura e uma bola de cristal surgiu sobre a mão dele, a esfera parecia ser riscada de forma que separa-se em doze partes. Grant começou a dizer:

- Cada um de vocês irá tocar nessa esfera, e irão transferir parte de sua Essência para dentro da Esfera. Esse é o segundo teste. - Disse com uma voz neutra e então ele mesmo mostrou. A Esfera reluziu em três cores diferentes: Amarelo, Verde-Escuro e Azul-Claro.

- Essa Esfera é projetada para que revele qual é sua Compatibilidade, se ela é forte com os doze Aspectos da Existência, ou não. - E então a esfera parou de brilhar. - Comecemos o segundo Teste. -

O Teste começou novamente e então as crianças foram testando sua Compatibilidade. O que era facilmente perceptível, é que as crianças ali não tinham uma Compatibilidade tão boa com os Aspectos, alguns a esfera nem sequer brilhava, e Grant fazia questão de ensinar a criança a transferir a Essência. Pessoas que não possuem nenhuma Compatibilidade com os Aspectos, pessoas que não nasceram com uma Essência suscetível aos Aspectos, portanto as chances de serem treinadas são bem baixas.

As crianças foram passando suas Essências para a Esfera e surgia uma ou outra com uma Compatibilidade pelo menos, e isso era assustador, Aira sentia que ela mesma não passaria, e então chegou a vez dela:

- Venha garota, é sua vez. - Disse, Grant.

Aira engoliu em seco e caminhou devagar até a frente de Grant, sem demorar muito, levantou a mão direita e colocou sobre a Esfera de Cristal, e transferiu a Essência para dentro. A esfera reluziu em vários tons: Roxo, Verde-Claro, Azul-Claro, Vermelho-Rubro, Amarelo-Pálido, Amarelo, Azul-Escuro, Verde-Escuro, Rosa-Choque e Verde-Azul.

Grant olhou para Aira, arqueando uma das sobrancelhas e então afastando a esfera da mão dela. Ele parecia bem surpreso, mas não desfazia a postura séria.

- Volte para seu lugar. - Ordenou enquanto chamava a próxima criança.

No peito, Aira, sentia uma sensação reconfortante, como se aquilo fosse bom, ela brilhou muitas cores na Esfera, isso significava que tinha passado não é? Ela não tinha ninguém para a responder de imediato, mas quando terminasse o teste saberia se tinha passado ou não.

O teste das outras crianças não demoraram também, mas todas se sentiam bem para baixo, visto que provavelmente, Aira, iria passar no teste de novo. O que fez as esperanças das outras crianças de fato irem para baixo, não foi a Aira, mas sim o fato de que outra criança teve mais de duas cores reluzindo na esfera. Não foram muitas cores, por volta de cinco cores diferentes, mas ainda sim eram bastante, acima da média das crianças ali.

Grant terminou o teste com as crianças e então guardou a esfera de vidro, cruzou os braços atrás do corpo e então soltou um suspiro, prosseguindo com:

- Airinda Bradley Blake e Ryzen V. Lynn. - Algo que chamou a atenção de muitas crianças, havia um motivo para o sobrenome do meio da criança ter sido abreviado. Esse motivo era porque aquela criança era de um Clã, mas não qualquer um, ela é do Clã da Capital dos Ventos, o Clã dos Ventos.

Ryzen era um garoto agitado, aparentemente, os cabelos brancos, que batiam nos ombros, os olhos profundamente vermelhos enquanto ele dava um sorriso confiante, as duas mãos dele estavam nos bolsos de sua calça. Ele usa uma camisa regata azul, ele por si só transmite um ar de confiança.

Aira e Ryzen foram até a frente de todas as crianças e o examinador olhou para os dois, pensativo, disse:

- Ryzen, sua Essência é a Espada Curta, uma Essência Externa que permite você criar uma Espada, ela não é muito forte, mas pode ser treinada, principalmente com sua Compatibilidade. Você entrará como o Terceiro Membro do Grup... -

- Examinador! Eu desejo renunciar à minha posição no grupo e tentar o Terceiro Teste. - Interrompeu, Aira, olhando o examinador nos olhos.

Grant pareceu ligeiramente irritado com a situação, olhou fixamente para a Aira e a desafiou, visualmente, a continuar o encarando.

Aquela sensação que Aira sentia, era sem igual, o olhar do examinador a desafiava a continuar com aquilo. Aira sabia que estava desrespeitando todas as outras crianças ali, e isso era algo que ela não queria transparecer, mas sua tia disse que a garota deveria chamar atenção, com os próprios pais, e ela deveria fazer isso. Aira nesse momento estava sobre um palco onde todos a olhavam. Os olhares confusos e desesperados. Um tumulto começou a se formar atrás de Aira, ela sabia que iria ser vaiada, que aquele palco, ela estava abusando da sorte dela.

Mas ela não baixou os olhos, e Grant, não só desistiu, como a respeitou por isso. Uma criança tão confiante de si mesma, se Aira queria mostrar todo o seu potencial na frente de todas aquelas crianças, tudo bem, que mostre.

Grant se aproximou de Aira e colocou a mão sobre o ombro dela.

- Renunciar à sua vaga no segundo teste... quanta ousadia, Sra. Blake... Você tem certeza? - Perguntou para a jovem, a olhando nos olhos.

- Si... -

- Você passou. - E então soltou a mão do ombro dela, com um olhar surpreso e sem mais o que dizer, olhou para as outras crianças e passou por Aira e Ryzen.

A garota ficou sem entender nada, ela havia passado em quê? O olhar dela seguiu o examinador enquanto ele parava em frente de todas as crianças, respirou fundo e então disse, em um tom audível para todos:

- Os três testes acabaram! O grupo número três da Torre dos Ventos foi formado! Os seguintes membros são: Jenipher Smith Stark, Ryzen V. Lynn e Airinda Bradley Blake. -

Após o anúncio, as crianças começaram a criar um tumulto:

- Isso é injusto! -

- Nós nem tivemos a chance de fazer o Terceiro Teste! -

A gritaria das crianças continuou enquanto Grant apenas dava as costas e se virava para subir a escadaria.

- Se vocês acham que são melhores do que esses três, desafiem eles outro dia, valendo o Bracelete de Torre deles. - Disse, passando por Aira e Ryzen. - Venham. -

E então Aira olhou incrédula para a situação atual, Ryzen olhou para a garota, deu um breve sorriso e subiu correndo a escadaria, para alcançar a Jenipher. Aira no entanto, subiu devagar, ao lado do examinador, olhando ele e perguntando:

- Como assim eu passei? Eu passei no terceiro teste? O que era o terceiro teste? -

- Afinidade. Você só têm uma Afinidade... - Disse, Grant, sem sequer olhar para trás. - ...e ela é Perfeita. -

Aira arregalou os olhos, surpresa, parou no meio da escadaria enquanto aquilo parecia tão ilógico. A Afinidade Perfeita só era alcançada por Membros das Torres, e somente ao alcançarem Níveis Elevados, e mesmo assim, são poucos aqueles Mestres que adquiriram tamanho feito, porém, há casos ainda mais raros onde Novatos começam suas jornadas com Afinidade Perfeita, se o Grant disse que ela tinha essa Afinidade, então Aira era uma desses raros casos.

Sem reação, a garota ficou parada no meio da escadaria, pensando no que acabara de ouvir. Isso era tão surreal, que poderia ser uma piada sem graça. A mente da garota estava tão estática que ela não conseguia pensar, entraria na torre, como sua mãe e seu pai, e ela tinha um potencial tão grande, maior que os dois juntos. A garota fechou as mãos e punho e sentiu uma sensação estranha no peito, ela havia conseguido... seria uma membro da Torre, e iria subir ela.

Um leve empurrão nas costas dela fez a garota voltar a realidade, dando um breve passo no próximo degrau, ela olhou para trás, procurando quem havia empurrado ela, mas não havia ninguém, mas diferente do que esperava ver, ela viu o carro da tia. A tia deu um leve sorriso e acenou com a cabeça.

Então a garota deu um leve sorriso e se virou para a torre, voltando a subir, seguir a escadaria até o examinador os outros dois Membros da Torre, quando chegou no topo, quem recebeu Aira, foi a Jenipher:

- Eu disse que você conseguiria! - Jenipher deu um abraço na nova companheira de equipe.

Aira deu um breve sorriso para a Jenipher, aquilo seria estranho, a garota mal conhecia a Aira e já era tão colada assim. A jovem de cabelos laranjas pôs a mão sobre o ombro de Jenipher e a empurrou um pouco.

- Eu fico feliz que tenha acreditado em mim. - Disse com apenas um tom de agradecimento, por mera educação.

- Vocês parecem legais! - Exclamou, Jenipher enquanto parecia realmente animada, a cauda felina dela balançava de maneira ansiosa. Os pelos dela são felpudos como se fosse de um Selkirk Rex.

- Obrigada? - Aira não soube como reagir enquanto demonstrava uma expressão sem graça.

Ryzen também não sabia como reagir ao elogio de Jenipher, as pessoas geralmente não chegavam dizendo: "Vocês parecem legais", mas se a Jenipher acha isso, então talvez eles sejam assim, à primeira vista.

Antes mesmo de deixar as crianças continuarem, ele ergue as duas mãos enquanto um pequeno tornado se formou, e na mesma velocidade que surgiu, desapareceu, deixando sobre as mãos do examinador, três braceletes com bordas douradas e o resto azul, com buracos dando a volta em torno do bracelete inteiro, era como o bracelete do Grant, mas sem as joias como as dele.

- Não percam esses braceletes, eles são como passaportes, convites e como seu registro geral. Vocês podem fazer o que quiserem com eles, mas lembrem-se que se perderem eles em uma aposta, ou Combate de Posse, não serão mais seus, e sim da pessoa que ganhou. - Ele entregou cada bracelete, para Jenipher, Ryzen e Aira. - Vocês só podem entrar na torre se portarem esse bracelete, entenderam? -

Os três acenaram com a cabeça, sinalizando que entenderam.

- Certo, sejam bem-vindos à Torre dos Ventos, Jenipher Smith Stark, Ryzen V. Lynn e Airinda Bradley Blake. Eu serei o Guia de vocês durante os próximos dois anos, e os ajudarei no que for preciso. - Ele ajeitou a luva sobre a mão.

Aira olhou o bracelete e então o encaixou no pulso direito, o bracelete refletiu a luz do sol enquanto ela olhava, agora começaria a subir a Torre, se virou para comemorar com a Tia, mas... o carro dela já não estava mais lá.

Susan estava dirigindo sobre as ruas da cidade, pretendendo sair da cidade. Ela respirou fundo e ficou pensativa, olhou de canto para o porta-luvas do carro, durante alguns minutos dirigindo, ela parou no meio da estrada e ficou observando as ruas.

- ... - Recordava aos poucos do que havia lido anteriormente. Sua irmã havia morrido, mas não antes de deixar uma coisa para ela. O testamento deu a Susan uma coisa muito importante para si, com uma mensagem:

"Eu sei que você sempre quis ser uma Mestra de Aspecto, eu via você treinando para conseguir conquistar um bracelete um dia. Agora como meu último pedido..."

Susan colocou as mãos sobre os olhos, lacrimejando em uma dor profunda no peito, estendeu a mão em direção ao Porta-Luvas e o abriu, dentro dele, há um bracelete com adornos dourados e uma profunda cor negra no interior, linhas brancas passeavam entre as jóias do Bracelete, eram ao todo sete joias. Segurou com força o volante do carro e mordeu os lábios.

- Sua idiota... - Susan limpou as lágrimas e então fechou o Porta-Luvas. Ligou o carro novamente e dirigiu sobre a estrada.

...

- ...você é, completamente, uma idiota, mana. -