Ao passarem pelo portal, o trio se encontrava em uma floresta menos densa. Uma estrada de pedrinhas minúsculas seguia-se em frente ao arco de pedra. Pedregulhos denotavam a margem de um pequeno riacho, seguindo-se ao lado da estrada, em direção a uma inclinação para baixo, eles estavam em cima de uma pequena colina.
No horizonte, há um sol se pondo, dando uma linda visão alaranjada com a mistura de cores azuis sobre o céu, acompanhada de nuvens dos mais diversos formatos. Em frente ao sol, no horizonte, uma vila se encontrava, com a mesma mureta de pedras delineando os limites com relação ao mundo em sua volta.
Diferente do cenário de antes, Aira conseguia ver criaturas maiores, cervos, cavalos, esquilos, havia até mesmo insetos, todos vivendo de maneira pacífica. O que mais surpreendia a garota, era a coloração de todos, eles eram das mais diversas cores. Cervos com tonalidades azuis, e pintas brancas, seus chifres eram mais ondulados e davam a impressão de suavidade. Haviam esquilos vermelhos, verdes, eles se misturavam. Os insetos tinham cores mais escuras, mas eram dos mais diversos.
Ainda que houvesse criaturas incríveis e belas à sua frente, ainda conseguia enxergar as mesmas bolas peludas e fofas de antes, só que com chifres e uma coloração levemente mais forte, ainda que branco. Há as mesmas com orelhas de coelhos, também com orelhas de gato. Com toda a certeza, os próximos andares seriam mais cheios de vida como esse.
- Que lugar lindo! - Exclamou a garota felina, enquanto começava a correr atrás de uma das bolas peludas. - Eu quero segurar um! -
Aira via aquilo e lembrava que Jenipher e Ryzen não tiveram tempo de apreciar as criaturas peludas de antes, pois estavam atentos aos arredores deles, parecia aflita em pensar que o avanço de níveis realmente influenciava naquela Torre.
- Aqui é bonito mesmo - Comentou Ryzen, com os braços cruzados atrás da cabeça.
- Não se acostumem com a moleza que essa paisagem transmite, ela pode ser a última coisa bela que vocês verão. - Disse o instrutor, saindo do portal logo atrás. Em seguida o portal se fechou.
Logo após o dito de Grant sobre os perigos que poderiam ter, mesmo em paisagens belas como aquela, Jenipher exclamou:
- SOCORRO! - Ela berrou enquanto corria para todos os lados com um esquilo verde, que estava mordendo a cauda dela, e um esquilo vermelho que corria atrás dela soltando pequenas labaredas na direção da mesma, tentando a atingir com o fogo. Sobre as mãos da garota estava uma bolinha com pelagem branca, mas com um leve tom marrom, ele tinha uma cauda ao invés de chifres, ou orelhas. Uma cauda de esquilo.
- Huh…- Ryzen observava a situação da Jenipher. Os braços ainda estavam cruzados atrás da cabeça. - Então quer dizer que até mesmo a donzela mais bela, pode ser uma armadilha? - Comentou.
- Entenda como bem entender.- Grant dizia, enquanto observava a Jenipher com o problema, ao lado de Ryzen.
- A gente não deveria ajudar?- Comentou, Aira, se juntando aos dois, observando como o esquilo cuspia uma pequena labareda na cauda de Jenipher, que começava a pegar fogo.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - Gritou em desespero, ainda com a criatura no colo. Jenipher estava sentindo a dor e ela começou a chorar por causa disso. - TÁ QUENTE, TÁ QUENTE! -
- Não vou estar sempre presente para ajudá-los.- Comentou e quando Jenipher passou perto dele, a agarrou pela gola da camisa, levantou do chão, pegou a bola de pelos do colo da garota e a soltou no chão. Instantaneamente os esquilos se viraram para o filhote e saíram de Jenipher, que foi arremessada na parte rasa do riacho, onde o fogo foi apagado pela água.
- X -
Alguns minutos depois, Jenipher estava caminhando ao lado de Aira, junto do grupo, ela abraçava a cauda com um olhar tristonho, afagando os pêlos, parecia choramingar:
- Minha cauda, minha preciosa cauda… sniff… - A cabeça dela estava encostada no braço de Aira, que sorria sem jeito para a colega, ainda se sentindo bem incomodada com o apego excessivo de Jenipher.
- Logo, logo vai parar de doer, Jenipher… - Dizia Aira, dando um leve empurrão com o braço para Jenipher se endireitar.
- Mas a ferida no meu coração não vai parar… ela não merecia isso… - Respondeu, Jenipher, caminhando direito, ainda abraçando a cauda, e a afagando.
- Falando na sua cauda, Jenie… - Disse Ryzen. - … não se importa de eu chamar você assim não é? -
- É um apelido fofo, eu gostei. - Ela olhou o grupo, e abriu um sorriso. - Vocês vão me chamar por esse apelido agora! - Jenipher impôs a ordem.
Ryzen e Aira olharam ela com o sorriso meio torto, e em uníssono disseram: "Se você prefere assim…"
- Mas então… Jenie… qual é a sua Essência? - Continuou, Ryzen.
- Como assim? -
- Olha, você está sempre com ela ativada, pelo que parece, eu sei que não é Essência Externa, pois ela afeta só o seu corpo. Não cansa mantê-la ativada? - Ryzen estava estudando o corpo de Jenie com o olhar.
- Não, não cansa. - Ela mostrou a língua enquanto sorria.
- Instrutor? Você pode nos explicar? - Perguntou, Ryzen, visto que Jenipher não estava explicando nada.
- Diferente de vocês dois, a Essência de Jenipher...- "Ei me chame de Jenie você também!", exclamou Jenie no meio da explicação de Grant. -…não utiliza muito da Energia dela, isso pode ter muitas explicações, mas a mais direta é que, Jenipher sabe controlar a própria Energia fazendo com que ela se desgaste minimamente para manter a Essência dela ativada. -
- Foi por isso que você escolheu ela? - Ryzen perguntou, enquanto Aira estava ao lado dele igualmente curiosa.
- Exato. A Essência dela não é forte por si só, mas ela tem um controle ótimo da própria Energia. -
- Isso é incrível, Jenie. - Comentou a ruivinha, voltando o olhar para Jenipher. - Você consegue usar sua Essência sem desperdiçar Energia. - Ela dava um sorriso simpático para a garota felina.
- Achei que vocês também sabiam. - Disse ela, coçando a cabeça, um pouco atrás de uma de suas orelhas felinas, o olhar não era de ânimo, e sim de confusão.
- A gente não sabe. - Disse Ryzen e Aira em Uníssono.
- É uma coisa que eles podem aprender, Jenipher, mas você faz isso com naturalidade, deve ter nascido com essa capacidade, ou ensinada desde pequena. - Grant criou a hipótese.
- Eu não lembro de terem me ensinado, e eu lembro de muita coisa. - Jenie deu um sorriso para o instrutor.
O grupo estava indo em direção ao pequeno vilarejo que estava ao pé da colina. Ficavam conversando sobre coisas bobas, como qual era comida favorita de cada um, Grant apenas ficou quieto durante a caminhada, só abria a boca para explicar dúvidas voltadas ao aprendizado do grupo.
Aira havia dito que gostava de Estrogonofe de Frango, com o molho levemente pastoso, junto de cogumelos e cenouras, batata-palha não ficava de fora.
Ryzen explicou como a macarronada era melhor e o queijo ralado dava um gosto surpreendente ao prato.
Jenipher, entre os três, tinha o gosto mais forte. Ela dizia adorar muitos pratos, mas um que sempre a fazia abrir um sorriso no rosto, como se não estivesse sempre com um sorriso, era um prato de Curry temperado com camarão, cenoura, batata e cogumelos, no prato também entrava furikake, e o ápice era que tudo deveria estar apimentado. Aira e Ryzen estranharam a confusão de sabores que ela dizia adorar:
- Como você come algo assim? - Perguntou Ryzen, com os olhos arregalados, Aira não precisou perguntar, estava com a mesma expressão que Ryzen.
- Ah! E eu gosto que coloquem um pouco de queijo no meu curry! - Exclamou a garota, que havia soltado a cauda e segurava as próprias mãos com um olhar sonhador.
- Jenie! - Exclamou Ryzen.
- Ah, desculpe. Eu gosto pois eu consigo separar o gosto de cada ingrediente no prato. Então eu consigo aproveitar cada sabor em meio dessa confusão. - Ela colocou as duas mãos nas bochechas, só de pensar no prato.
- Então você está me dizendo que consegue separar o gosto de cada coisa? - Ryzen não pareceu acreditar.
- É! - Jenipher exclamou.
Aira observou os dois, ela não sabia se acreditava ou não, estava se acostumando com as coisas ficando cada vez mais estranhas.
Depois de alguns minutos de caminhada, eles chegaram na pequena vila, mas não exploraram tanto, visto que Grant apenas continuou andando até chegarem na mansão onde ficavam, e para a surpresa dos três, a mansão era realmente idêntica a outra.
Eles esperavam uma casa igual, mas não completamente parecida com a outra, e isso fez Aira e Ryzen ficarem perplexos, já Jenipher, achava isso incrível.
Aira, Ryzen e Jenipher jantaram com a comida feita pelo próprio instrutor. Ele sabia cozinhar bem e era de se elogiar um talento tão grande, visto que cada prato era o favorito dos três. Era de se esperar que ele soubesse os pratos favoritos deles, mais cedo estavam comentando sobre.
Após o jantar, Jenipher foi para um dos quartos dormir, afinal, eles deveriam acordar cedo no dia seguinte. Já Ryzen e Aira foram chamados por Grant e o seguiram até um pouco fora da cidade.
Como pedido antes, Grant, quis ver como estava as técnicas de ambos, eles usaram elas e não satisfizeram o instrutor, mas ele disse que estavam minimamente úteis, só deveriam continuar tentando praticar elas, visto que elas consumiam muito da Energia deles.
O que era um grande problema, visto que para praticar a técnica, eles deveriam usar ela, e fazer com que seu corpo se acostume com o uso, mas como as técnicas cansam eles bastante, tinham de descansar por no mínimo trinta minutos para que pudessem usar elas sem causar nenhum dano ao próprio corpo.
- X -
No dia seguinte, Aira, Ryzen e Jenipher acordam e tomam um café da manhã antes de arrumarem para continuar a subir a Torre ao lado de Grant.
Depois de tomarem o Café da manhã, Grant pediu que anunciassem o "título" deles, o que deixou o trio um pouco confuso a princípio, mas Jenipher, como sempre, tomou a dianteira:
- Jenipher Smith Stark, Exploradora do Vazio. Meu nível atual é 17. Não possuo nenhuma jóia no momento. - Ela disse, animada.
A notícia chocou Aira e Ryzen.
- O limite dela não era 15?! - Perguntou, Ryzen, surpreso. Ao lado dele estava Aira.
- O limite dela era sim, mas ela decidiu meditar por mais tempo. O que ocasionou de ela ir além do limite. - Grant respondeu, sem parecer surpreso.
- A cada momento que se passa, mais eu me surpreendo com a Jenipher. - Comentou Aira, soltando um riso, meio nervosa. - Não é difícil ultrapassar o limite? -
- É difícil sim. Agora, continuem. - Disse o instrutor, sem dizer mais nada.
Ryzen tomou a dianteira agora, como segundo integrante do grupo:
- Ryzen Ventos Lynn, Explorador dos Ventos. Meu nível atual é 12. Não possuo nenhuma jóia no momento. - Ele cruzou os braços atrás da cabeça, sem muito ânimo.
Por fim, Aira, deu um passo à frente. Respirou profundamente e fechou os olhos, em sua mente ela sabia quais eram suas informações, ao abrir a boca para dizer…:
- Airinda Bradley Blake, Exploradora da Raiva. Meu nível atual é 22. Não possuo nenhuma jóia no momento. - E quando terminou a frase, ela respirou firme, aquilo era estranho, mas também era reconfortante de se dizer, dava uma sensação de "força".
- Ótimo. Agora vocês sabem acessar suas informações. -
Com isso, Grant, se virava de costas e começava a guiar o grupo para fora da vila, indo em direção a floresta na saída da vila. A saída ficava ao lado oposto da entrada da vila, e poderia ser alcançada pela pequena estrada de pedrinhas no chão.
Grant explicou que eles iriam subir alguns andares para que consigam a primeira jóia de Ryzen, que supôs ser uma jóia do andar doze, visto que o nível dele era doze, mas Grant negou com a cabeça e anunciou estarem indo em direção ao Andar quinze, e que lá eles iriam pegar a jóia do garoto dos Ventos.
- Mas pegar uma jóia acima de seu nível não pode dar problemas? - Perguntou o garoto, sem entender a motivação do instrutor para pegar uma jóia mais forte.
- Pode sim, mas você tem de levar em conta a influência da jóia em seu nível atual. Dependendo da jóia, existe uma margem de níveis que você pode alcançar após conseguir ela. O correto é que você pegue uma jóia de nível igual ao seu, mas se você ter certeza que a jóia irá lhe dar níveis o suficiente para alcançar o nível dela, você pode tentar conectar ela ao seu bracelete. - Explicou, Grant.
- Pelos deuses, você é um pesquisador, ou algo assim? - Ryzen parecia completamente incrédulo com aquilo, Grant sabia de coisas demais.
E como sempre, Grant não respondia a pergunta, visto que isso entraria no espaço pessoal dele, e pelo que o trio entendia, ele era bem reservado sobre.
- Só para lhes informar, eu não irei atrapalhar a caçada de vocês, posso ajudar com dúvidas, mas nada além disso. Afinal, vocês precisam aprender a caçar essas criaturas. - Deu a notícia, que não assustou o trio, a princípio.
Depois de alguns minutos de caminhada, Grant parou de andar e olhou em volta.
Aira percebeu que Ryzen havia sacado a espada dele, ainda que levemente danificada, ela era útil. Já Jenipher e ela estavam tranquilas.
- Chegamos, Jenipher, como você é a primeira integrante, você estará liderando o grupo, como Ryzen não está disposto para ser o co-líder, Aira, você será responsável por dar o apoio necessário para a Jenipher. Protejam-se e consigam matar a besta dos Ventos que está na frente de vocês. - Grant foi se afastando da frente deles enquanto a relva esconde uma passagem que o instrutor mostrou.
Jenipher acenou com a cabeça, junto de Aira e então o trio entrou na passagem. O local revelou uma clareira enorme, com algumas árvores meio sozinhas no meio, mas ainda que fosse um clareira, como nos andares anteriores, havia um ar de perigo ali, e o sol não iluminava tão bem, com as enormes árvores em volta da clareira cobrindo um pouco do céu.
Ao verem a besta que iriam enfrentar, Aira arregalou os olhos. A criatura que iriam enfrentar tinha o tamanho de um homem, um pouco maior que Grant, que não era tão grande, mas ainda sim, era quase o dobro do tamanho do trio ali. O corpo da criatura era envolto por uma fita azulada, que balançava de maneira bela. A pele azulada dele, com tatuagens brancas da representação de um sopro nos livros de contos.
A criatura tinha ao total quatro dedos, e em seus antebraços, duas lâminas afiadas. Sua boca era coberta por um tipo de carapaça que lembrava a boca de uma aranha, que se abria pelos lados. Em suas pernas havia mais duas lâminas, na parte da frente das pernas.
Os olhos profundamente amarelos encararam Jenipher, Aira e Ryzen, dando uma sensação de medo, pois aquela criatura parecia forte. Eram três contra um, e mesmo assim, parecia que era o trio quem estava em desvantagem…
- X -
Uma criança de cabelos brancos estava em seu pequeno grupo, simultaneamente enfrentando uma criatura estranhamente poderosa. Uma besta enorme, que alcançava os quatorze metros facilmente. A besta tinha a face de um tubarão, e uma cauda também, mas diferente de um, ele possui quatro patas que o permite andar em terra.
A criatura tentava abocanhar uma criança de cabelos verdes, que era veloz, e tinha uma pele azulada, enquanto ao lado dela, havia uma outra garota de cabelos verdes, só que ela era maior que a de pele azul. Essa outra jovem de cabelos verdes, estava entrando e saindo da Terra como se fosse água, "nadando" na terra, ela tinha algumas característica de um tubarão, e uma força surreal, pois quando a criatura abriu a boca para abocanhar a menor, essa jovem saiu do chão dando um poderoso soco no queixo do tubarão, o fazendo dar dois passos para trás.
O jovem de cabelos brancos observava aquilo, enquanto sorria de maneira convencida:
- Agora pessoal! Façam o combinado! - Bateu as duas mãos uma da outra e então, as duas jovens saltaram contra a criatura e socaram os olhos da criatura, uma em cada olho, derrubando-a com força no chão.
A besta caiu no chão com força e parecia extremamente cansada.
- A besta é sua, Millie. - Disse o garoto de cabelos brancos, acenando para ela.
- Cara, essa besta é muito chata, mas nada que e eu minha irmã não dê conta. - Millie, a garota de cabelos verdes, maior, sorriu para a menor.
- Humm… Eu quero voltar para a biblioteca, vamos logo com isso, pegue a jóia e vamos pegar logo a próxima. - Disse a menor, sem muito ânimo.
Millie caminhou até a besta, que liberava uma quantidade imensurável de Essência e então ela se sentou perto da criatura, fechando os olhos e começando a meditar, com as mãos unidas em um formato de concha.
- Isso vai levar um tempo, Kishar. - Disse o jovem de cabelos brancos para a menor.
- Eu sei, mas é melhor do que ficar enrolando mais. -