Eu estava deitado na cama, olhando para o teto com as mãos por baixo da cabeça. "Certamente aquele Tabaxi é suspeito" pensava eu lembrando de tudo sobre o que tinha ocorrido. Depois de chegar ao quarto, perguntei a Condar quanto havia ficado minha conta. Estava planejando deixar as coisas organizadas para sair antes daquele grupo. Foi quando o taverneiro me contou que o Tabaxi já havia pagado por tudo. Fiquei obviamente surpreso, visto que certamente não havia feito isso depois de se apresentar para nós, indicando que fez antes.
Não importava como eu olhasse, Ruhtra sempre parecia suspeito e perigoso, me deixando em ainda mais dúvida se devia acompanha-lo. Alguém como ele certamente teria inimigos e não queria tanta atenção problemática em meu caminho.
Não sei ao certo quanto tempo levei para dormir, mas acordei pouco depois com gritos. Me sentei na cama rapidamente, percebendo que vinham da entrada da taverna. Pensei um pouco se deveria ir, pois a imagem de que talvez Ruhtra estivesse envolvido não saia de minha cabeça. - Droga. - Me levantei, peguei minhas coisas e sai do quarto, indo para de onde vieram os gritos.
Quando abri a porta vi a Kalashtar correndo pelo corredor. Vi que havia uma marca estranha em sua nuca. O Kenku veio logo atrás e parou em minha frente, talvez querendo saber minhas opiniões sobre tudo o que estava ocorrendo, mas antes que tivesse chance de dizer ele parecia surpreso em olhar para mim. Eu não sabia naquele momento, mas uma marca havia aparecido em minha testa.
Antes que ele tentasse procurar palavras para me contar, pudemos ouvir a voz de nossa colega de mesa. - ALGUEM, AJUDE AQUI! - Com isso seguimos nosso trajeto.
A primeira coisa que qualquer um notaria é que haviam vários guardas de armadura, mortos no chão, sobre uma enorme poça. O sangue que continuava a escorrer, indicando que foram atacados a pouco tempo, os sons de tossidas de engasgamento com o liquido cada vez menos constantes e inaudíveis e o cheiro forte de sangue fresco que se apoderou do ar. Mesmo para aventureiros experientes, ver algo como aquilo não era muito comum. Não muito distante estavam Ruhtra e Condar conversando. O Tabaxi segurava em cada mão uma adaga que pingava vermelho.
Desviando da Kalashtar, que parecia abalada, corri para ver se os guardas possuíam sinais vitais. Eu não possuía muitas expectativas nisso, mas o local era perfeito para escutar o que os dois estavam conversando. Mesmo que eu estivesse de costas a eles.
-Se a casa Ghallanda aparecer de novo, você sabe onde me encontrar. Sua filha estará em absoluta segurança agora. - Disse o Tabaxi.
-Obrigado! Não sei o que faria... obrigado por protege-la...
Não tinha ideia do que estava ocorrendo, mas aquilo me deu uma impressão melhor do gato. O Kenku olhava atentamente para o Tabaxi, sacando uma pequena faca com sua mão esquerda e a mantendo escondida. Neste momento pude ver uma marca sobre sua mão direita. Enquanto isso, a Kalashtar olhava para mim, esperando que eu dissesse se os guardas estavam vivos. Balancei a cabeça negativamente, a deixando ainda mais chocada.
Quando Ruhtra nos notou ali, veio em minha direção, convidando os outros para perto. O Kenku olhou para mim, que balancei a cabeça negativamente de novo, ficando em pé de braços cruzados. Ele logo guardou de volta a faca, e deu um leve empurrão na druida com sua outra mão. Quando eles se aproximaram, Ruhtra começou.
-Bem, acho que devo algumas explicações. Se lembram de como o taverneiro criou comida e bebida do nada? - Quando ele disse isso, me lembrei que sua marca no ombro brilhava toda vez que fazia isso. - Aquilo era uma marca dracônica. São... heranças, que permeiam em algumas casas de nobres hoje, e dão ao usuário grande poder sobre certos aspectos da natureza.
-Porem. - Continuou ele virando de costas e olhando para Condar. - Muitas casas se tornaram tiranas, dando mais valor às marcas que a vida. Estes soldados vieram tirar a vida do taverneiro e sua filha, pois descobriram que ela nasceu sem permissão.
-É preciso uma permissão das casas para ter filhos? Que tipo de regra é essa? - Eu disse, tentando entender e explicar a mim esta regra totalmente sem nexo.
-Os descendentes das casas, terão uma facilidade muito maior de despertar as marcas. Terão treinamento especializado, e terão que obedecer às mesmas. O objetivo de manter o poder e o controle apenas para si seria o motivo da regra... - disse o gato enquanto limpava as adagas nas calças de suas vítimas. - E eu quero mudar isso! Se nada for feito, a catástrofe virá! - Ele guardou suas adagas e continuou. - E para fazer isso, dei marcas a vocês.
Neste momento, vi os dois olhando para mim, e logo em seguida levando a mão em suas testas. O corvo, logo parou, quando viu a marca em sua mão, mas a Kalashtar apenas parou quando a disse que sua marca era na nuca. Ai já estava claro para mim que a minha estava na testa.
-Então... se eles são tão controladores com quem possui marca... não estaríamos em perigo? - Disse a Kalashtar com sua mão na nuca, tentando sentir a marca.
-Sim, mas tenho meios de defendê-los. E se quiserem me ajudar, estarão salvando aqueles que não possuem tais defesas. Enfim. - Disse ele ouvindo passos no corredor que levava aos quartos. - Vamos continuar a conversa no caminho para Sharn.
Pouco depois de entrar na estrada principal, saímos dela. Era de se esperar que tão logo descobrissem sobre os guardas mortos, nos procurariam nas proximidades. Seguimos para Sharn pela "Floresta do Rei". Seria mais lento, mas chamaria menos atenção.
Ruhtra continuou. - Bem, então, começando por você Aasimar. Como é o seu nome mesmo?
Os Aasimares eram uma raça bem rara, mas fácil de ser percebida se você conhecesse as características. Antes que eu pudesse responder, a Khalashtar atrás de mim me cortou surpresa. - Você... é um Aasimar? Eu estou procurando por um... - Certamente, ela nunca havia visto um, ou me reconheceria antes.
-Sim... sou um Aasimar. Me chamo Kami. Qual Aasimar você está procurando?
-Não sei ao certo... É um relacionado com a natureza.
-Meu nome é Kraeh. - Disse o Kenku entrando na conversa.
A Kalashtar, percebendo que era a única que ainda não havia dito seu nome já se apresenta. - E... eu me chamo Khad. - Terminando de falar com um sorriso simpático no rosto.
Kraeh, que estava olhando sua mão já a algum tempo pergunta. - O que fazem, as marcas?
-A certo. Continuando. - dei à Kami, a marca da tempestade. Ela é capaz de gerar ventos e manipular água. Com experiencia, dá para derrubar uma frota de navios voadores com um acenar de mãos. Á Khad, dei a marca do manuseio. Ela, no início é focada em domar animais, mas com o tempo, permite se transformar neles e fazer polimorfia. As possibilidades são muitas. Já a Kraeh, dei a marca das sombras. Ela cria ilusões para enganar os inimigos e manipula as sombras a sua vontade. Visto que os Kenkus foram jogados nas sombras, nada mais justo sair delas as usando.
"Esta quantidade de poder... e pensar que Ruhtra é capaz de dar para quem ele quiser..."
-Mais uma coisa. Quando alguém atinge um elevado potencial da marca, ele se torna um herdeiro de Siberys, o dragão pai da magia. Certamente seria difícil derrotar as casas, pois elas possuem centenas de membros experientes no uso de suas marcas. Contudo, vocês possuem uma vantagem. As marcas que dei a vocês não foram herdadas por sangue, elas estão puras. O que significa que o potencial de uso da marca de vocês é muito maior.
Todos estávamos processando as informações, perdidos em nossos próprios pensamentos, quando ele por fim disse.
-Antes que eu me esqueça, preciso lidar com algumas coisas, então iremos nos separar por um tempo.
-O que? - Disse Kraeh.
-Não se preocupem. Eu me encontrarei novamente com vocês antes de chegarem a Sharn. Mas para que não se preocupem... - Ele coloca a mão em um bolso, e depois entrega para Khad. - ...Labareda os manterá seguros.
Enquanto nos aproximávamos de Khad para ver o que havia em sua mão, Ruhtra correu pela floresta desaparecendo em meio à noite e a densidade de plantas. Mas isso não era problema, visto que na mão de Khad havia...
-...um rato?