Sharn era uma enorme metrópole, não era preciso andar muito para encontrar comerciantes, ladrões, guardas, pessoas de todas as raças, com todo tipo de culturas se misturando. Dava a impressão que a cidade respirava, e que tudo poderia mudar em segundos. Todos ficamos atentos segurando nosso dinheiro buscando evitar que fossemos roubados em meio a caminhar na multidão, que de cima poderia ser vista como um mar de cabeças.
Ruhtra disse que nos levaria a um de seus amigos, para ganharmos equipamentos melhores. Não sabíamos ao certo o que esperar de um amigo do gato. Ele era velho e certamente conhecia muitas pessoas. Um pouco de expectativa se formou em nossos rostos, principalmente no de Kraeh, que aumentou seu ritmo querendo chegar logo.
Após algum tempo andando sem parar, dando a impressão de que não chegaríamos a lugar nenhum, Ruhtra parou de frente para um beco. Foi possível identificar um velho depois de um pouco de esforço. Ele sorriu para Ruhtra, que respondeu dizendo. - Oi pai.
Olhando melhor para o velho, mesmo que estivesse em um beco, ele não parecia desarrumado ou sujo. E mesmo que o gato tenha o chamado de pai, o velho era aparentemente humano. Ele segurava um cajado e alguns pássaros dourados voavam e ficavam a sua volta. - Vejo que encontrou alguns amigos de novo. Quantos séculos faz desde a última vez? Hya hya hya! - A voz do velho me surpreendeu. Ela ainda parecia firme e forte, contrastando totalmente com sua aparência. - Cuidado para não perder esses aí antes deles se tornarem úteis. - O velho deu um sorriso enquanto ria mais um pouco.
-Não se preocupe. Sinto que eles me ajudarão muito no futuro. Estou indo lhes dar equipamentos agora. - Ruhtra ficou calado por um momento. - O que quer pai? Para aparecer na entrada da cidade assim certamente quer pedir algo.
"Como assim início da cidade? Já andamos várias horas! Quão grande exatamente é este lugar?" Pensei observando a situação.
-Queria ver com meus próprios e velhos olhos quanto potencial seus amigos teriam. Hya Hya. Talvez eles sejam capazes de acabar com aquela velha caduca!
-É você que está caducando agora. Ainda é muito cedo para sequer pensar em algo assim. - Ruhra respira fundo. - Se era só isso... vamos continuar andando. Te vejo depois.
Enquanto seguíamos nosso caminho. Me virei para olhar o velho novamente. Ele sorria para mim enquanto sentia que seus olhos, mesmo cansados pela idade, observavam dentro de minha alma... Logo, ele e seus pássaros, sumiram na multidão, me dando um calafrio por todo o corpo de que estávamos sendo observados.
Após alguns minutos, Ruhtra entra em uma loja, e claro, o seguimos para dentro dela. O local possuía inúmeras armas, escudos e armaduras diferentes, tanto em tamanho quanto em modelos. Talvez para tentar agradar a todas as raças e estilos de combate. Possuía caixas cheias de peças de armaduras e barris cheios de espadas embainhadas. Logo que entramos, um meio Orc veio em nossa direção.
-BEM VINDOS À LOJA DE ARMAS DO BILL. - Quando ele já estava bastante próximo, e não precisava gritar para mostrar animação, ele continuou. - Ahh, Ruhtra. Quanto tempo eu não te vejo amigo. Finalmente veio pagar sua conta? Há há há.
O meio Orc possuía uma tonalidade cinza esverdeado, com uma roupa de ferreiro deixando mãos e braços à mostra, mostrando tatuagens que cobriam de seus pulsos a seus ombros. Ele era careca, mesmo que apresentasse uma grossa e cheia barba negra, que contrastava com o branco de suas duas presas inferiores que estavam sempre fora de sua boca devido ao grande tamanho.
- Corta essa Bill. Nós dois sabemos que é você que ainda não arrumou troco para minha última compra. - Responde o gato sorrindo.
-Talvez seja verdade. Mas o que veio fazer? Comprar coisas para diminuir minha dívida? Há há.
-Exatamente. - Ruhtra se vira para nós e diz que podemos pedir o que quisermos à Bill. Certamente ele aguardou de propósito, pois depois que começamos a olhar mais atentamente os itens do lugar, ele chamou nossa atenção coçando a garganta antes de continuar. - Bill? Abra a loja de verdade por favor.
Bill olhou para nossas caras surpresas e apertou um botão abaixo do balcão. Após isso, uma parede se abriu, com uma escada que levava a uma sala ENORME. Esta, possuía armas visivelmente de melhor qualidade que as do andar de cima, enormes canhões, e no meio da sala, um barco.
Enquanto estávamos surpresos vendo o local, Ruhtra estava sorrindo e Bill estava rindo em voz alta. Se não me falhar a memória, Kraeh comprou uma armadura Kenku e uma arma perfurante pequena. Acho que Khad pediu por um machado e uma pequena espada, ou talvez tenha sido uma adaga... enfim. Pedi apenas por uma armadura leve que combinasse comigo. A mesma cobria a maior parte de meu corpo, com partes tingidas de verde e outras em grossas camadas de couro. Após algum tempo, comigo e com o corvo vestindo nossas novas armaduras, saímos todos contentes da loja.
Enquanto seguíamos Ruhtra novamente. Khad o perguntou sobre Labareda.
-O encontrei em um ninho de dragões .... Normalmente dragões vermelhos são bem raivosos e ariscos, porém, como o criei desde pequeno, ele não se tornou assim. Logo depois que terminou de falar, ele parou de andar e olhou para um restaurante a nossa direita. - Vamos entrar, sintam-se em casa, já que o restaurante é meu...
Foi possível sentir uma pitada de tristeza em sua voz. O restaurante era enorme, com várias decorações nas paredes. Possuía várias mesas, mas não estava muito movimentado, dando a impressão de um lugar aconchegante e encantador. Olhando melhor os detalhes nas pilastras e forro, o local parecia que foi construído para ser uma igreja originalmente. Enquanto olhávamos ao redor, Ruhtra continuou. - O restaurante era de minha mãe antes de eu herdá-lo... e agora um amigo meu o gerencia.
Logo percebemos uma figura alta, com roupas de monge vindo em nossa direção. Ele era careca e à primeira vista, parecia ser humano. - Olá Ruhtra, vejo que trouxe alguns amigos. Vai querer o de sempre imagino eu. E vocês, o que vão querer?
-É bom te ver Carlos. - Disse Ruhtra.
Todos pedimos algo e nos sentamos em uma mesa que estava vaga.
-Este local... era uma igreja antes? - perguntou Khad olhando em volta.
Ruhtra respira fundo e balança a cabeça positivamente. - A mulher que me criou, me deu refugio aqui quando eu ainda era um pequeno gatinho... Conheci meu pai alguns anos depois e... ele se recusou a dizer quem minha mãe é ou...era.
-Sua história é bem parecida com a de Labareda no fim das contas... - complementou Khad.
-Há Há, acho que é verdade. - Complementou Ruhtra.
Neste momento, Carlos veio até nossa mesa, nos trazendo nossos pedidos. - Bom apetite. - Ele fez uma reverencia monástica e voltou a atender os outros clientes.
Quando começamos a comer nossos pedidos, Kraeh puxou assunto, o que sempre foi algo raro. - Bem. Poderíamos, contar nossas, histórias de vida. Talvez eu, confie um pouco mais, em vocês, assim.
Khad olhou para ele surpresa, principalmente achando estranho que ele ainda não confiava no grupo. Porém devo acrescentar que eu também compartilhava este sentimento com o corvo. - Eu acredito que esta é uma ótima ideia. Além de confiança, nos conheceríamos melhor. - Completei, colocando a mão no ombro do de Kraeh, apoiando-o.
-Tudo bem! - Disse Khad irritada por perceber que não confiávamos muito nela. - Então, comecem vocês!
O corvo pensou um pouco e depois começou. Lembrando que os Kenkus falam apenas usando palavras e frases que ele ouviu ao longo de sua vida, copiando os sons. Devido a isso, o ouvir falando seria como ouvir várias pessoas contando cada um, uma parte de uma enorme história.
-Muitos Kenkus, em sua, juventude, trabalhavam para, um, mercado negro, como mercenários. Isso, me incluía. Meu grupo, mexeu com, cara errado. Ou melhor, Tabaxi, errado. Apenas eu, sobreviver. Vivi, de galho em galho, desde, então. Seria, o resumo.
Khad então tira seus olhos de Kraeh e os vira para mim. Ruhtra faz o mesmo e logo depois, Kraeh. - Minha história é bem simples. Quando nasci, um deus... maligno... me escolheu para algo. Ainda não sei ao certo para que. E também... meu pai foi morto. É basicamente isso. - Digo e coloco comida na boca tentando evitar que fizessem perguntas. Eles, com exceção de Ruhtra, se mostraram um pouco assustados com o 'escolhido de um deus maligno', mas eu já estava acostumado com isso.
Após isso, todos olhamos para Khad, que começou. - Acho que só falta eu. Bem, a minha história não envolve mercenários ou... deuses. Há forças que querem destruir meu povo. Eles não acreditam ser capazes de se defender, mas eu creio que com conhecimento e poder será possível evitar esse desastre, ou mesmo, combatê-lo. Quero confiar no equilíbrio da natureza, e sábios e adivinhos por onde passei me disseram para procurar um Aasimar.
Todos me olharam na hora, mas eu respondi apenas levantando as sobrancelhas e bebendo água de minha caneca.
Ruhtra disse logo depois. - Bem, ainda temos alguns lugares para ir. Todos teremos tempo para continuar nos conhecer mais tarde. Por hora, vamos terminar de comer.
Enquanto comíamos, eu podia sentir os olhares de todos. Sei que os Aasimares são raros, mas não significa que eu sou quem ela procura. Certo?
Posso afirmar que o restante da refeição não foi uma situação muito agradável. Ainda não confiava completamente neles, mas se um dia confiasse, com certeza eu iria ajudar se pudesse. Após sairmos do restaurante, o felino nos guiou até um local, cuja placa da frente estava escrito "alquimista". Admito que até aquela época, nunca havia conhecido um alquimista, portanto estava um pouco curioso.
Se eu fosse descrever o local com uma palavra, seria "desorganizado". Inúmeros livros, pergaminhos, vidrarias espalhados, uns sobre os outros. Símbolos enormes nas paredes, ervas, balanças, pós misteriosos e caldeirões. Não era possível ver ninguém.
-Geck? Eu trouxe clientes! - Disse Ruhtra. Após alguns estantes, ainda sem ver ou ouvir ninguém, algo pula do chão para a mesa rapidamente. Uma sapa, com pequenas vestes e segurando um cajado apareceu. Nos olhou como se estivesse nos estudando. - Você esta atendendo hoje?
Geck, com uma vos bastante áspera respondeu. - Olá filhotes. O que traz vocês ao meu incrível laboratório?
Khad pareceu um pouco rígida. Talvez por não gostar de sapos, mas foi a primeira a pedir algo. - Er.. você teria venenos para vender?
Geck ponderou um pouco, e depois começou a extrair um líquido da própria pele e colocar em um frasco pequeno. - Cuidado. Use em doses pequenas. Espera... você tem licença da casa Thurrani ou da Deneith para comprar isso?
Khad olhou, em silêncio, para Ruhtra, que ficou extremamente sério e disse. - Não!
Geck pareceu assustada e depois respondeu. - ...certo, não precisa. Pode pegar.
Khad guarda o frasco com veneno. Kraeh compra um saco de ervas, e se me lembro, comprei 1 bomba explosiva e 2 bombas de luz. Quando saímos do laboratório de Geck, Ruhtra nos disse que para entrarmos nas casas, precisaríamos primeiro, ganhar a confiança delas fazendo serviços, e nos sugeriu algumas opções.
-Caça... Escolta... Assassinato...