Ember sempre começava a sua manhã com um breve café, então cuidava meticulosamente do sabre que recebera de sua falecida mãe.
Ela sempre guardava a arma em um pequeno altar em sua casa, que contava com um suporte para a arma, uma foto de sua mãe e alguns enfeites, junto com outras coisas que a lembram daquela mulher.
A garota se ajoelhou sobre o altar e rezou por um instante. Então, com cuidado, tirou a sua espada do suporte. Por fim ela lentamente a desembainhou, revelando uma lâmina perfeitamente afiada e tão lisa que refletia como um espelho.
E para completar o belo visual da lâmina, havia em sua base o desenho de uma linda rosa, que foi inscrita ali com uma magia muito especial. Diziam que aquela arma podia sentir o amor do seu mestre por ela. Outros apenas a chamavam de uma relíquia que caberia muito bem a um museu.
De qualquer forma, a ruiva seguiu com seu ritual e começou a limpar seu sabre com um lenço que também lhe era especial. Com cuidado, ela removia até mesmo o menor vestígio de poeira.
Por fim ela permitia que uma pequena quantidade de mana fluísse pela espada, fazendo-a brilhar e esquentar. Então ela afiava cuidadosamente a lâmina, ainda que o calor intenso pudesse queimar seus dedos uma ou outra vez.
Depois de finalizar com o seu ritual matinal, ele se vestiu. Normalmente ela escolheria por adornos mais chiques, contudo para o dia do teste ela escolheu uma legging e uma elegante camisa branca com um pequeno decote.
Mesmo que fosse batalhar naquele dia, ela não era do tipo que esqueceria da sua vaidade. Por isso ela passou um bom tempo desembaraçando seu longo cabelo. Ela só sairia de casa quando estivesse impecável. Afinal, sempre precisava estar perfeita.
Ela também vestiu um pingente roxo que tinha comprado, ele era um equipamento mágico capaz de criar um escudo. A sua espada também era especial, servindo como um catalizador para os seus poderes.
Fora isso, ela carregaria consigo uma pequena mala com um kit básico de exploração. Ou seja, uma lanterna, alguns primeiros socorros, uma pedra de restauração, um mapa automático, algumas bombas de fumaça, cordas e alguns materiais simples para fazer uma armadilha.
Deixando sua casa, ela respirou fundo por um instante, tal qual sentia um leve aperto no peito. Tentando se acalmar, ela tocou na empunhadura da sua querida espada. E mais uma vez ela repetiu para si mesma.
"Seja perfeita, seja perfeita."
Contudo o momento tenso foi rapidamente cortado, tal qual ela viu se aproximar o sorriso familiar de sua melhor amiga.
"Lara," ela chamou com um sorriso enorme ao ver a giganta se aproximar.
As duas se abraçaram e a ruiva como de costume acabou sufocada no meio dos peitos da sua amiga. Em seguida, as duas começaram a conversar animadamente sobre a música nova de sua cantora favorita e naquele instante Ember não precisava pensar sobre a sua jura.
Mesmo que tivessem ido muito mais cedo que o necessário, tal qual se aproximavam do auditório o número de pessoas ao redor ficava maior. E, claro, haviam também muitos homens. O resultado foi uma cena que poderia ser tirada de um filme de comédia.
Lara, com seus quase 2 metros de altura, tentava se esconder atrás da sua magra e não muito alta amiga. Ela segurava a mão da ruiva, andando sempre atrás dela enquanto tremia com medo das pessoas ao redor.
Ember obviamente não podia deixar de se preocupar com a sua amiga, até porque elas não estariam sempre juntas durante o teste. E suas preocupações cresceram ainda mais quando a diretora anunciou que a primeira parte seria em duplas.
Só lhe restava torcer para que Lara, em um golpe de sorte, fosse escolhida como a sua dupla. Contudo, quando ela finalmente abriu os olhos, descobriu que o resultado era o pior de todos.
"Você?" Ela exclamou irritada ao notar que sua dupla seria o pervertido de alguns dias atrás. "Por que está nesse teste?"
Sem dar muita chance para que o outro lado falasse qualquer coisa, ela já começou a acumular chamas na palma da sua mão.
"Espera, espera, se você me atacar vai ser desclassificada," desistindo de se explicar, o garoto apenas recorreu a uma mentira.
Era impossível que a ruiva tivesse tido tempo de ler o manual, então ela naturalmente acreditou. E com isso ele conseguiu a parar pelo menos temporariamente.
A propósito, o tal manual era um pequeno pedaço de papel, que foi teletransportado para dentro do bolso de todos os participantes. O objeto guardava poucas instruções, mas dizia que a primeira fase teria 3 etapas, que a dupla deveria cooperar e que deveriam escolher com sabedoria o que levar de cada etapa.
"Sei que tivemos um começo ruim, mas é um prazer te conhecer," Davi estendeu a mão em direção a garota. "Me chamo Davi, é um prazer te conhecer."
Ela não aceitou o aperto de mãos e se afastou um pouco. Ainda assim ele pelo menos se apresentou, anunciando seu nome com muito orgulho.
"Êh… qual a sua classe? Acho que deveríamos pelo menos pensar em alguns planos para trabalhar juntos." Mais uma vez, Davi tentou ser amigável, mas a garota diante de si não estava nem um pouco disposta a ouvir.
"Não chegue perto de mim," ela encarou o homem com agressividade. "Não precisa se preocupar, você é realmente sortudo por me ter como dupla, vou vencer sozinha, apenas me assista." Ela declarou com confiança.
Em seguida a porta da sala branca se abriu, revelando uma arena circular com cerca de 8 metros de altura e 30 de diâmetro. No centro, erguia-se um imenso golem de pedra, seus olhos brilhando em um tom esverdeado e sua presença esmagadora.
Os olhos da ruiva se acenderam com uma poderosa chama, enquanto ela entoava na sua mente seja perfeita. Ela sacou seu sabre colocando uma grande quantidade de mana no objeto que se acendeu. Então chamas começaram a dançar ao redor da garota.
O golem deu um passo à frente, fazendo o chão tremer. Seu punho de pedra ergueu-se no ar, pronto para desferir um golpe esmagador. Ember, com agilidade e destreza, desviou, rolando para o lado e aproveitando o momento para atacar. Ela deslizou a espada em direção ao golem, as chamas cortando o ar com um silvo agudo, mas a lâmina apenas arranhou a superfície dura da criatura.
Sem dar um segundo para seu inimigo respirar, ela convocou suas chamas, então disparou uma torrente de fogo contra o seu inimigo. O golem estendeu sua mão direita, a usando para se defender do ataque, ainda assim começou a derreter aos poucos.
A garota continuou respirando suas chamas de forma incessante, acreditando que a técnica estava se provando muito efetiva contra o seu oponente. Contudo ela não conseguiu notar que os olhos do golem passavam a ter um brilho vermelho.
Davi por sua vez apenas resistia às chamas graças a sua resistência térmica, que naquele ponto provavelmente já tinha subido de nível.
Ele buscava uma oportunidade de se aproximar da luta, mas não havia nada que ele pudesse fazer, tal qual aquela garota disparava uma sequência de golpes exagerados. Ainda assim ele analisou todas as opções que tinha.
Sua amiga tinha lhe dado três itens mágicos, uma armadura que estava desenvolvendo. Três mini drones, que tinham o formato de insetos e serviam para captar informações. E o último item era uma pistola que podia converter mana em disparos poderosos. Quanto mais tempo o garoto ficasse acumulando mana na arma, mais poderoso seria o tiro.
Naturalmente ele aproveitou o tempo que tinha para canalizar boa parte do seu poder a arma, mas ele sabia que aquilo provavelmente seria insuficiente. Ele precisava encontrar o ponto fraco do golem, senão seria impossível derrotá-lo.
E foi enquanto ele corria de um lado para o outro buscando duplo núcleo da criatura, que ele notou algo assustador. Aquele ser parecia estar absorvendo parte das incessantes tempestades de fogo que eram disparadas contra ele.
Mas como? Não, mais importante, por que ele estava fazendo isso? A absorção era muito pequena para de fato servir como uma defesa, nesse caso aquilo provavelmente era um preparativo para ataque.
Davi sempre quis ser um aventureiro, por isso ele estudava muito sobre os diferentes monstros encontrados em fendas. E vendo o que aquele golem fazia, ele não podia deixar de se lembrar de um certo monstro sobre o qual ele leu uma vez.
Os peixes gelatinosos tinham uma aparência um pouco tosca e muitas vezes pareciam pouco ameaçadores, pois seus ataques básicos eram fracos. Isso levava novatos a atacarem com tudo, acreditando que estavam seguros, sem saber que aquele animal podia armazenar parte de todos os danos que sofria e soltá-los em um poderoso ataque.
Davi então notou que a absorção parou, tal qual o golem finalmente decidiu avançar, contra a garota que de forma imprudente também partiu para o ataque. Ela provavelmente queria terminar tudo no próximo golpe, mas…
De repente o ser de pedra que parecia poder atacar apenas com socos lentos brilhou intensamente, então por um momento seu núcleo foi exposto e, dele, uma torrente infernal de fogo foi disparada.
Ember que foi pega de surpresa mal teve tempo de reagir, ativando seu pingente tal qual seu corpo inteiro era queimado por aquele ataque. E antes que ela pudesse sentir o alívio porque a torrente tinha acabado, ela foi novamente atingida, dessa vez por um soco que a fez voar pelo ar.
O segundo golpe a fez quase desmaiar, mas ela ainda tinha muito poder. Talvez se usasse o seu golpe mais poderoso ela poderia aniquilar o inimigo, porém… Ela notou que sua espada não estava em sua posse. Ao ser atingida pelo golem ela acabou soltando a sua arma sem querer.
Naquele instante ela esqueceu de tudo e seu peito se apertou, tal qual um desespero nublava o seu julgamento. A garota rapidamente encontrou a localização do precioso objeto e avançou com toda a sua força para recuperá-lo.
Um ato com tamanha imprudência a deixou completamente exposta, para que o golem disparasse mais uma tomate de fogo, que dessa vez a acertaria em cheio sem qualquer defesa.
E quando ela finalmente pegou a sua espada e olhou o que tinha ao seu redor, o fogo já se aproximava, pronto para ceifar a sua vida.
Mas naquele instante Davi conseguiu se aproximar chutando a ruiva para longe do ataque, então ele foi consumido pelas chamas.