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Chapter 5 - Três Meses de Treinamento.

"Esquerda!"

Gritou Diana do nada, me fazendo reagir instintivamente movendo meu escudo no meu braço esquerdo, mas o golpe não veio pela esquerda, e sim pela direita, me acertando bem no joelho me fazendo cair de joelhos no chão.

"Aiii!" Grito de dor.

"Porque você não defendeu?" pergunta Diana se afastando para eu me levantar. Ela adorava fazer essas perguntas quando eu fazia algo de errado.

"Por que você gritou do nada, esquerda!" Digo simplesmente após levantar.

"E porque você acreditou em mim? Eu sou sua inimiga enquanto treinamos." Diz ela, me dando outra lição.

Não respondo, em vez disso fico na posição que ela me ensinou, com a espada abaixada atrás do meu corpo, e o meu escudo levantando na frente dele. Ela me ensinou vários estilos de como usar a espada e escudo, esse que estou usando agora, é focado na defesa e contra-ataque. O que é justamente o que ela está me treinando hoje.

Nos dois ficamos nos olhando por alguns segundos, eu focava minha visão nos pés de Diana, ela era mais rápida do que eu, e mesmo que ela não esteja usando toda sua velocidade, ainda acho bastante difícil a ver claramente, olhar para os pés dela ajuda um pouco.

Diana está usando sua armadura completa de heroína, e usando como arma, uma espada de treinamento igual à minha. Uma espada estilo grega, a Xiphos, uma espada relativamente curta, entre quarenta ou sessenta centímetros de dois cumes reta, a lâmina começava a se alongar do cabo até a ponta. Era uma arma tanto para cortar, como também atravessar o inimigo.

Então ela ataca, mal posso ver ela chegando na minha frente, dessa vez num golpe alto da esquerda para direita, mirando no meu ombro direito. Movo meu escudo circular um pouco para direita e o inclino levemente, o escudo grego não é uma placa circular reta de ferro, ele é como uma concha de tartaruga.

A sua parte da frente é projetada para frente, dessa forma, quando um ataque o acerta, a uma oportunidade de fazer o ataque inimigo "escorregar" pelo escudo.

Quando o golpe dela acerta o escudo, eu o empurro gentilmente a fazendo se distanciar de mim e ataco com minha espada sua perna, claramente querendo vingança. Diana só se afasta de mim um passo, e quando eu perco meu ataque e postura, ela já estava com sua lâmina no meu queixo.

"Muito bem!" Diz ela se tirando espada do meu queixo, e se afastando mais uma vez.

"Você defendeu do meu golpe, e conseguiu o contra-atacar, seus movimentos foram realmente quase perfeitos. Você só deveria ter se movido mais rápido no contra-ataque." Continua ela.

"Diana, mesmo que eu me movesse dez vezes mais rápido, você ainda desviaria por conta de sua velocidade." Digo para ela não muito feliz com seus elogios.

"Já falei Diomedes, o propósito do treinamento não é me vencer, e sim aprender, e já que é assim, você quer testar seu novo truque?" Pergunta ela.

Fiz muitos progressos no treinamento desde que comecei três meses atrás. Não só na parte física, mas também nos meus poderes. Não é muita coisa, mas mesmo assim, é um avanço.

Paro alguns segundos, e fecho meus olhos para me concentrar, esse truque ainda não pode ser usado durante uma luta, ele requer muita concentração para mim, mas isso é por enquanto, na verdade, esse tempo vem diminuído com a minha prática.

"Venha." Digo para ela após estar pronto.

Diana me ataca de novo, dessa vez com uma estocada simples, mirando o centro do meu escudo. Quando seu golpe estava prestes a acertar meu escudo, uma sombra negra o envolve. Da sombra, quatro braços esqueléticos são projetados indo na direção dela.

Diana ficou surpresa com isso, sua estocada se transformou num golpe simples que destruiu dois dos braços. Mas os outros dois se estenderam e seguraram os dois braços dela. Quando isso aconteceu, eu avancei com meu escudo ainda erguido e ataquei com uma estocada que acertou bem no meio dos peitos de Diana, a fazendo recuar vários passos. No momento em que meu golpe a acertou, os braços desapareceram como se tivessem se transformado em fumaça.

Diana pareceu estar supressa, enquanto eu estava feliz, essa é a primeira vez que eu a acertei durante um treinamento de luta. Um pequeno feito, mas isso mostra minha evolução.

"Belo golpe, e o modo como você usou suas habilidades também foi magnifico." Fala ela com orgulho em sua voz.

"Obrigado." Agradeço com a voz pesada.

Meu corpo não se cansa fisicamente, mas usar meus poderes cria um cansaço mental. É como um travamento da minha mente, minhas reações ficavam mais lentas, assim como minha percepção. Se eu forçar mais, meu cérebro meio que se desliga. Uma vez fui encontrado nesse estado em casa após tentar convocar meu próprio exército de esqueletos.

"A forma que você empregou seus poderes foi realmente surpreendente, pensei que você iria invocar um esqueleto para lutar ao seu lado." Continua Diana.

"Eu poderia, mas não seria muito prático contra alguém como você."

"Sim, você escolheu corretamente."

Eu no momento posso convocar um esqueleto completo para lutar em conjunto comigo, mas o esqueleto em questão tem apenas a força de um humano adulto comum, algo que não faria muita diferença contra Diana, ou seres mais poderosos que ela.

Então eu descobrir essa forma de usar a convocação, em vez de convocar um esqueleto completo, eu posso convocar partes dele, assim economizando energia, e pegando meus inimigos de surpresa. Era como uma magia de suporte dos jogos de computador.

"Porque não paramos por hoje? Já está ficando tarde, e eu tenho assuntos da Liga para tratar." Diz Diana indo até à direção aonde guardamos as armas de treinamento.

"Não é como se eu podesse continuar lutando também." Falo um pouco cansado.

"Você conseguiu algumas respostas do Dr. Johnny Peril, sobre seu outro dom?" Pergunta ela enquanto caminhamos juntos até o vestiário.

"Vou o ver daqui a pouco, ele estava ocupado ontem por conta das vítimas do caso anterior."

Antes de nos separarmos no vestiário masculino e feminino, Diana se vira para mim e fala.

"Minha amiga feiticeira que eu falei antes gostaria de o ver, ela vai voltar daqui algumas semanas, então se o Doutor não conseguiu o ajudar, ela provavelmente vai."

"Finalmente." Digo feliz.

Estou esperando essa pessoa a um bom tempo.

"Eu sei que demorou mais do que pensamos, mas garanto que vai valer a pena." Diz ela sorrindo e entrando no vestiário feminino.

Após tomar, um banho quente. Algo meio que desnecessário, já que mesmo treinando por três horas seguidas eu não suei, mas a sensação da água quente depois de um longo treino é incrível.

Eu me vesti, e fui até o elevador. Sempre treinávamos no ginásio, era um lugar bem amplo, cheio das armas e equipamentos voltados para treinamento. Meu treinamento com Diana não focava apenas na espada, ela também me ensinou bastante combate corpo a corpo, e até mesmo a forma que ela se defende usando seus braceletes, mas eu pulei o treinamento com o laço, eu realmente não tenho talento para isso.

As portas do elevador se abrem num dos andares subterrâneos do prédio. Saio do elevador num corredor com paredes brancos e chão limpo, o cheiro de álcool desse lugar me lembra bastante um hospital.

Atravesso o corredor até chegar ao necrotério. Abro a porta e vejo várias mesas de metal lado a lado, na parede, a várias pequenas portas aonde se guardam os corpos. Não é minha primeira vez aqui, então já estou um pouco acostumado com o clima desse lugar.

Vou até o outro lado da sala aonde a uma porta, eu não bato nela, e a abro.

Era um pequeno escritório, com uma mesa, cadeira e computador. Do outro lado da mesa, que tem uma enorme pilha de papel em cima, estava um homem dormindo.

Vou até ele e toco gentilmente seu ombro enquanto falo.

"Doutor, hora de acordar."

"Hmm."

Responde ele que se levantando e esfregando seus olhos com seus dedos.

"Dio? já é de manhã?" Pergunta ele.

O Dr. Johnny Peril é o responsável pelos assuntos de natureza paranormal da A.R.G.U.S. conheci ele a algumas semanas. Normalmente seu trabalho é realizado de madrugada, então ele me falou para o acorda quando eu viesse até aqui.

Dr. Johnny Peril tem cabelo curto, e usa um jaleco medico branco com uma gravata borboleta, sua imagem é impecável.

Depois de alguns momentos, ele despertou completamente, colocou de seus óculos e sorrio para mim.

"Receio que veio para colher os resultados de minha pesquisa sobre sua nova habilidade?" Pergunta ele falando formalmente como sempre.

"O senhor encontrou algo?" Pergunto.

"Sim, e não." Responde ele se levantando e indo até à estante de livros do outro lado da sala.

Johnny pode ser especialista em paranormal, mas ele não tem muita experiência prática com isso, ele não é um mago, ou um ser de origem mística. Então tudo que ele aprendeu veio de livros e textos antigos. Como seu conhecimento é limitado a isso, ele preencheu as lacunas usando ciência.

"Como você sabe, sua magia está voltada para necromancia e magias das sombras, infelizmente, esses são os ramos mais difíceis de se conseguir informações. Mas não é só necromancia que lida com fantasmas e espíritos."

Fala ele ainda procurando algo entre seus livros. O motivo de eu pedir ajuda dele era bem simples, fantasmas, eu os comecei a ver.

Começou de um dia para outro, eu estava voltando da escola para casa quando vi algo estranho, um senhor encolhido com as mãos segurando as pernas entre dois prédios, ele estava tremendo como se estivesse morrendo de frio. Suas roupas eram gastas e sujas, um sem teto.

Me aproximei dele tentando ver se podia ajudar, ele estava tremendo muito para um dia de verão com o sol alto do meio-dia.

Não importa o quanto eu tentava falar com ele, ele só dizia estar com frio. Vendo que a tentativa de conversa não estava levando a nada, decidi procurar ajuda medica, mas quando eu me virei, vi um casal de adolescentes olhando para mim como se eu fosse um maluco, eles perguntaram com quem eu estava falando. Foi o bastante para ligar os pontos.

Com uma rápida pesquisa na internet, encontrei uma notícia de um senhor sem teto que morreu congelado naquele mesmo lugar no inverno passado. Depois disso, comecei a ver mais fantasmas espalhados pela cidade. Não eram muitos, todos eles pareciam presos por algum motivo no local aonde morreram, e não tenham capacidade de interagir ou conversar. Ignorar as coisas não é meu ponto forte, então procurei ajudar do Doutor para conseguir algumas informações místicas sobre os fantasmas.

"Achei!" Diz o Doutor feliz vindo na minha direção carregando dois livros.

"Como está seu grego antigo?" Pergunta ele me passando o primeiro.

"Quase inexistente, mas Júlia está me ensinando algumas línguas mortas, posso pedir a ela para me ajudar." Digo pegando um livro de capa dura todo negro com palavras que não reconheço na capa.

"Leve esse também, ele é mais atual, e cientifico." Diz o Doutor me passando outro livro mais novo.

Esse era em inglês, deve focar em oque são os fantasmas no ponto de vista científico.

"Obrigado Doutor." Agradeço segurando os dois livros.

"Não precisa agradecer, observar você usando treinar seus poderes me deu muita ajuda também, Victória ficou com inveja ao saber disso, ela está querendo uma chance de estudar seu DNA desde que você chegou aqui."

Victória October. Especialista em armas biológicas da A.R.G.U.S. nunca a encontrei pessoalmente, mas escuto bastante falar dela.

"Tenho que ir agora Doutor, ainda tenho que fazer o dever de casa, mesmo odiando fazer isso." Digo suspirando.

"Apenas faça como eu fiz no meu tempo, pule direto para o ensino médio ou faculdade, não deve ser um problema para você."

Falou o Doutor voltando para sua cadeira. O Doutor sabia que eu era mais avançado que minha turma atual, então sempre sugeria eu pular algumas turmas.

Pular pro ensino médio seria fácil, mas o problema é que no momento estar na escola normal é muito bom para mim. A carga de trabalho da minha turma é pequena, por conta disso, eu acabo minhas pendências rapidamente e posso focar no meu treinamento.

"Talvez eu faça isso depois de um ano de treinamento, agora eu tenho que ir." Digo.

"Até mais então criança." Falou o bom Doutor quando eu saio do seu escritório.

Volto mais uma vez pelo túnel até o elevador, e vou até o último andar, aonde fica o hangar. Steve é um cara legal, para não me atrasar, ou ter que fazer a Diana sempre me levar para casa, ele me deu um vale carona em um de seus jatos. Isso quando ele está disponível é claro. Por sorte ele hoje estava.

Após cumprimentar o piloto, eu me sento no banco e quando helicóptero decola, eu foco minha atenção nos livros. Abro primeiro o de capa negra, logico que eu não consigo ler, mas os desenhos feitos a mão eram bastante explicativos. A maioria mostrava imagens de homens em negro conjurando fantasma para os fazer atormentar outros, essa é uma das desvantagens da de poder usar necromancia, a maioria das magias é bem maléfica.

Depois e dar uma rápida olhada pelas páginas do livro, eu tenho certeza que que o livro é como um relato do que os fantasmas são, e de como os magos já os usaram.

Meu veículo pousou na parte de trás da casa. O helicóptero em que eu estava possuía tecnologia stealth, ninguém percebeu seu pouso.

Depois de agradecer o piloto, eu entrei pela porta de trás da casa. Depois de viver aqui por um tempo, finalmente me acostumei com o local. A mulher que é minha guardiã, trabalha no Museu Smithsonian, então ela fica muito pouco tempo e em casa nos dias de semana, e nos fins de semana, ela foca sua atenção em mim.

Eu não sou um poço sem fundo de conhecimento grego como Diana, isso fez ela perde um pouco de interesse em mim depois de saber disso, mas isso mudou quando Diana deixou escapar que eu tinha visto o submundo. Agora ela fica esperando que eu obtenha mais algum conhecimento. Julia não era uma pessoa ruim, só era muito apaixonada pelo que faz, isso normalmente não é um problema.

Normalmente.

Minha convivência com Julia é pacifica, mas isso não pode se dizer o mesmo de sua filha, Vanessa. Desde o primeiro dia, eu percebi que tudo que ela fazia era um grito de socorro. Depois de um mês observando, eu entendi o porquê.

Como Julia fica bastante tempo fora, e quando está em casa, toda sua atenção está em sua pesquisa ou na adoração dela na Diana, Vanessa é deixada de lado. Era por isso que ela estava indo no caminho de sua própria destruição.

Então eu tentei dar atenção para ela. Na verdade, eu ficaria muito feliz em conseguir a amizade dela, e deu até certo no início quando a mãe dela me deixou de lado. Até que ela descobriu a questão do submundo.

Meus esforços feitos depois de semanas foram jogados fora em segundos. Agora ela nem fala mais comigo, um tratamento muito pior que ela dá para Diana, como ela ainda a vê como parte da família, pelo menos ela responde suas perguntas ou é educada. Comigo, ela nem mesmo fala.

Atravesso a sala e vou até às escadas que levam ao primeiro andar, mas paro o quando vejo Vanessa, sentada nos degraus, com latas de cerveja espalhadas em sua volta.

"Vanessa?" chamo ela, a fazendo olhar para mim.

Ela estava usando suas roupas padrões de gótica, camisa preta com calça preta, mas seu cabelo foi mudado, agora ela estava usando um moicano azul.

"Oque você quer?" Pergunta ela parecendo estar quase caindo no solo.

Conversa com ela nessa situação é impossível, então vou até ela e coloco meus livros no chão, com as mãos livres agora, eu a seguro pelo braço e a forço a ficar de pé, coloco seu braço em volta do meu pescoço, e a seguro no estilo princesa.

"Venha, vamos para sua cama."

Hmmm" Responde ela já dormindo encostado no meio peito.

Facilmente a levo para o andar de cima para seu quarto, o abro e tenho uma surpresa. Estava esperando algo no estilo masmorra do Drácula. Oque eu encontro é um quarto cheio de bichos de pelúcia cor de rosa, a também vários cartazes da Diana nas paredes do quarto.

Coloco ela na cama dela gentilmente, e a cubro. Estava prestes a sair do quarto, quando vejo um diário. Não vou ser tão baixo ao ponto de ler um diário de uma adolescente, mas só um vislumbre da página, bastou para eu ler a página que ela deixou aberta. Tudo isso graças a minha supervisão.

{Querido diário, minha mãe esqueceu meu aniversário ontem de novo.}

Era uma única linha, nada mais depois disso. Agora está justificado ela beber em casa sem se importar com as consequências. A situação dela está chegando a um rumo perigoso, acredito que está na hora de pedir ajuda a Diana.

Pego uma caneta que estava do lado do diário, risco o que ela falou escreveu e coloco minha própria mensagem abaixo.

{Feliz aniversário Vanessa, que você descubra que a felicidade não depende daqueles próximos a você, e sim de você mesma.}

Parece meio piegas, mas eu não sou um poeta. Saio do quarto dela e volto para as escadas aonde estão meus livros e as latas de cerveja. A mãe dela já esqueceu seu aniversário, ela não precisa de mais castigo que isso.

Depois de me livrar das provas do crime, pego os meus livros e vou correndo para as estantes de livros no primeiro andar, se eu tiver sorte, encontrarei um dicionário para grego antigo. Claro que não havia.

Então me virei com o que encontrei, um dicionário para grego, e o Google Tradutor.

Os sacrifícios que eu faço para entender esses poderes.

O Progresso foi lento, quando digo lento, digo quatro horas seguidas de pesquisa e muita paciência. A tradução não foi exata, mas deu para entender.

Minha primeira ideia sobre o livro estava correta. Nas quatro horas, eu foquei na tradução sobre os espíritos. A várias formas que um necromante pode usar almas, mas os fantasmas são diferentes. Eles são nascidos de maneira "natural".

Eles não podem ser criados, um necromante pode roubar alma de alguém e a prender, mas isso não torna a alma um fantasma. O livro não tinha mais informações de como eles nascem, mas a internet estava cheia de teorias, a mais aceita, e que as almas, ficam presas nesse plano de existência por que deixaram um assunto inacabado em terra.

A boa notícia, é que eles são praticamente inofensivos, alguns deles são poderosos para mover objetos ou invadir um corpo humano, mas isso é algo raro de acordo o livro. O livro também diz que os necromantes domam fantasma, não para os usar em batalhas, e sim para amaldiçoar alguém, parece que eles podem de alguma forma forçar o fantasma a atormentar uma pessoa.

Isso é um uso totalmente idiota na minha opinião, se eu fosse os usar, eu os usaria para espiar, eles são os agentes secretos perfeitos, totalmente invisíveis para quase todos os seres, e praticamente invulneráveis. Infelizmente, devido ao pouco raciocino deles, isso não é possível.

Mesmo que essas quatro horas de pesquisa tenham finalmente acabado com meu medo por ver fantasmas. Eu ainda quero saber o que meus poderes podem fazer com eles.

Da última vez que fiquei de frente para o sem teto, eu não tentei nada, já que eu estava sendo observado. Mas agora que eu sei que não há perigo, eu posso tentar.

Para isso, eu espero mais algumas horas, não é seguro fazer isso cedo. Após mais três horas que passei treinando meus poderes de conjuração, e fazendo minha tarefa escolar. Finalmente é meia-noite.

Julia chegou meia hora atrás em casa, ela foi direto para seu quarto depois de passar na cozinha, ela agora está na sua cama conversando com alguém do museu no telefone, Vanessa ainda está dormindo em seu quarto. Não me sinto bem fazendo isso, me sinto pouco mal-educado por usar minha super audição assim, mas esse sentimento passou, quando eu me lembrei que o Superman literalmente escuta o mundo todo o dia todo.

Coloco minha jaqueta preta e abro a janela do meu quarto, nem olho para baixo e pulo do primeiro andar pousando na grama. Minha janela fica apontada para o lado esquerda da casa, não tem muita coisa aqui, só um pequeno corredor e uma cerca branca que separava a casa da Julia, do vizinho. Era noite, é com o beco escuro, eu deixo as sombras me envolverem.

Antigamente, eu me sentia bastante confortável nos becos escuros de Gotham, eram neles que eu realizava meus roubos. Mas agora que meus poderes despertaram, a escuridão parece gostar bastante de mim, elas fazem o possível e o impossível para me esconder quando eu estou nela. Com certeza não foi algo natural, já que nem os sentidos da Diana conseguem me achar se eu ficar parado na escuridão. O pessoal da A.R.G.U.S fizeram alguns testes também, de acordo eles, parece que eu estou de alguma forma em sintonia com o escuro. Ciência não é meu forte, então se me perguntarem o motivo, eu só vou dizer que é culpa do meu pai.

Infelizmente, essa cidade não é como Gotham, aonde a um beco escuro em cada esquina, então eu fui forçado a sair da escuridão. Andei pelas ruas movimentas da cidade, a muitas pessoas passeando, namorando ou voltando dos seus trabalhos. Ainda acho essa visão calma estranha, estou acostumado com as noites de Gotham, aonde a uma prostituta e ladrão em cada beco.

Não demorou muito para chegar até meu destino, o local aonde vi meu primeiro fantasma, a outros mais próximos, mas esse foi o primeiro que vi. O senhor ainda estava lá, no chão entre dois prédios que já estavam fechados. Também não vi nem um pedestre por aqui, esse era o melhor momento para testar, e mesmo que alguém me visse, só acharia que eu estava me aliviando ou algo assim.

Fiquei de frente para o senhor e escutei sua voz fraca mais uma vez.

"Frio, tanto frio."

O senhor era claramente um sem teto, sua roupa era gasta e suja, parecia ter mais de quarenta, mas é difícil dizer por causa da sua longa barba. Ele só ficava lá, repetindo a mesma frase. Estendo meu braço e com a mão aberta apontei para sua cabeça a alguns centímetros de distância dele. Eu meio que aprendi a convocar esqueletos por extinto, então vou confiar neles mais uma vez.

Então veio a mim, era como uma conexão, do nada eu estou vendo as memórias do sem teto, pelo ponto de vista de uma terceira pessoa. A história da sua vida passou na minha frente rápida como um filme que você aperta o avançar.

Eu só consigo pegar algumas coisas, como o fato dele ser um trabalhador de escritório, até ele perde seu emprego por algum motivo, depois disso foi piorando, ele perdeu esposa, e então sua casa, o forçando a viver nas ruas.

Nesse ponto, as memórias passaram mais devagar, parando no fluxo de tempo normal momentos antes de sua morte. Ele estava no mesmo lugar que está agora, na visão era inverno, neve branca cobria as ruas, pelas informações que vi, o último inverno foi um dos mais severos em dez anos. O senhor na visão tremia de frio, eu sinto isso, sua dor e solidão. Então ele morreu.

Então a visão acaba. Eu dou alguns passos para trás e coloco minhas costas na parede do beco para me apoiar. Isso não foi mentalmente cansativo como convocar os esqueletos. Em vez disso, eu senti o que ele sentiu antes de morrer. Não só sua dor física, mas seus sentimentos. Não foi nada agradável, e com certeza vou evitar fazer isso até que seja realmente necessário.

"Como será que eu posso te ajudar?" Pergunto em voz alta.

Eu realmente quero o ajudar, mas não sei como, ou se realmente posso.

"Frio, tanto frio." Repetiu ele.

Sei que pode ser besteira, mas no quando ele disse isso dessa vez, eu instintivamente tirei meu casaco e o tentei colocar em volta de seu corpo tomando cuidado para não o tocar. Jogando todas as leis da física pela janela, o casaco realmente ficou ao redor do corpo do velho.

Então ele olhou para mim, dessa vez eu posso ver a lucidez no olhar dele.

"Obrigado." Diz ele.

Após dizer isso, seu corpo começa a brilhar, e com flash de luz, ele desaparece, deixando do meu casado no chão.

"Oque diabos aconteceu?"

Claro que eu não consegui uma resposta, então dei meia volta e voltei para casa. Pouco tempo depois, estou do lado de fora da minha janela, eu dou um pulo, não com muito impulso, mas foi o bastante para eu agarrar minha janela e entrar no meu quarto.

Usei minha audição para dar uma checada na situação, Julia ainda estava no seu quarto, mas agora dormindo. Vanessa também estava em seu próprio quarto, mas ela está acordada digitando algo em seu computador. Parece que ninguém percebeu minha saída.

Deito na cama e mais uma vez, minha mente volta ao evento que aconteceu no beco. No caminho até em casa, eu acho que entendi do porque o fantasma ter encontrado sua paz. Em suas memórias, mesmo passando rapidamente, eu não vi ninguém o ajudando ou tentando o ajudar. Então tudo que ele precisava para ir para próxima vida era um simples ato de bondade. É isso que acho, posso estar pensando besteira.

"Não adianta pensar nisso."

Digo fechando os olhos tentando dormir. Algo extremamente difícil, já que eu não fico cansado, mas os hábitos são poderosos, pouco depois eu caio no sono.

O próximo dia foi normal como todos os outros, acordei, escovei os dentes, tomei banho e desci para tomar café da manhã. Julia como sempre ficou calada comendo sua comida enquanto lia seu jornal, Vanessa, por outro lado, ficava olhando para mim ocasionalmente enquanto eu comia. Talvez por conta da mensagem que deixei para ela, não falei nada sobre isso, não quero envergonhar ela.

Depois coloquei meu disfarce e fui para escola. Mas um dos favores que a A.R.G.U.S. me fez, era aparelho em forma de pulseira que mudava a cor dos meus cabelos e pele. Esse aparelho é tecnicamente um fracasso, sua função pretendida era mudar aparência dos agentes completamente, mas o máximo que eles conseguiram foi mudar a cor da pele e cabelos.

Meus cabelos eram brancos, como minha pele, isso chama muita atenção, então mudar para uma cor de pele mais natural e cabelos pretos afasta atenção de mim. Na escola, eu ignorei todos e fiz minhas tarefas e esperei até o fim do horário, depois disso, voltei para casa e fui direto para A.R.G.U.S com uma carona. Ao chegar lá, fui para sala de treinamento, Diana já estava me esperando.

"Oque aconteceu com seu braço?" Pergunto surpreso vendo o braço da Diana, ele estava enfaixado um pouco abaixo do ombro,.

"Isso? Tive alguns problemas com um feiticeiro ontem. Não se preocupe, vai curar daqui a pouco." Diz ela sorrindo.

Diana se cura rápido, quando eu digo rápido, quero dizer muito, muito rápido. Mas parece que ferimentos mágicos demoram um pouco mais para se curar.

"Não vamos treinar hoje, em vez disso, vamos viajar." Diz ela então mudando de assunto.

"Para onde?"

"Eu não falei para você ontem? Uma amiga minha minha especialista em magia estava voltando nas próximas semanas para casa de sua turnê, mas parece que ela voltou mais cedo, então vamos fazer uma visita hoje."

Parece que finalmente vou ganhar um pouco de conhecimento magico.

"Para onde nós vamos?" Pergunto fazendo nosso caminho para fora da academia.

Diana do meu lado olha para mim e diz com um grande sorriso no rosto.

"Gotham."