A noite do jantar fora agitada, mas no fim, as duas se entenderam - e tive que explicar a história direito...
Daqui 3 dias, a minha punição acabaria e finalmente eu poderia sair do reino tranquilamente. Isso me causava um pouco de ansiedade, mas não que assim que acabasse esse período eu sairia do reino desesperado como se eu tivesse preso. Mas me daria a oportunidade de explorar mais esse mundo que não conhecia nada.
"Você vai aceitar isso Aros?"
"Hm?"
Quando voltei para a realidade depois de focar nos meus pensamentos, Asura estava no sofá da minha sala lendo um papel que estava jogado em cima da mesa.
"Você vai mesmo para esse reino estranho? Dizem que a governante de lá treina guerreiros para cobrarem impostos e assassinar quem eles quiserem."
"Eu entendo o que quer dizer. Mas se a própria mandou um convite para uma visita, então acho que não tem problemas."
Olho para Asura e ela mostra um sorriso.
Ultimamente, desde do pedido de casamento, Asura me provoca com alguns olhares e sorrisos. Será a intimidade a mais que conquistamos nos dias que passamos em Sagólia? Ou será que ela se sentiu mais à vontade depois de virarmos noivos? Sinceramente, sentimentos são complicados, principalmente nesse período da idade. No meu antigo mundo eu não era exatamente um namorador, então dá para contar nos dedos os relacionamentos que tive. Nenhum chega aos pés desse aqui.
"Agora que comentou, o Reino Haname treina seus soldados com a arte dos samurais... vamos fizer que estou familiarizado com esse tipo de luta" Eu digo.
"Samurai?"
"É um estilo de esgrima que para eles não são apenas balançar uma espada com intuito de matar, mas também de ter uma conexão moral e espiritual."
"Isso realmente existe? Me parece algo que tenha saído dos livros."
"Existe, é bem bonito de se ver pessoalmente. Talvez eu realmente dê uma chance para ir lá."
No mesmo segundo que eu paro de falar, a porta da minha sala se abre e uma pequena figura aparece. Suas orelhas de raposa acinzentadas e a empolgação em seus passos e movimentos já eram costume.
"Papai! Mamãe!"
Correndo em passos apressados, Tess vai até Asura e se joga em seu colo dando um apertado abraço. Asura não resiste a fofura e se entrega totalmente acariciando sua cabeça.
É isso, eu não ganho nem um toque?
Ainda na porta, entra uma garota dos cabelos rosados, com sua espada na bainha, andando com passos maduros como se já fosse uma adulta.
"Aros, Asura..."
Lola entra na sala se curvando para gente. Mesmo que já fosse acostumada comigo e com Asura, ela ainda insiste em manter o respeito. Isso é algo admirável, mas me dá certo sentimento de distância. Eu já imaginava que Lola seria bem mais próxima de Asura. Afinal, as duas tem apenas uma diferença de 5 anos de idade. Mas cada dia que passa, eu sinto que deveria ser mais presente.
"Lola, já dissemos que não precisa se apresentar para a gente com tanto respeito. Somos mãe e filha, lembra?" Diz Asura.
"Me desculpa, é que é um habito."
Lola se senta ao lado de Asura também se rendendo a fofura de Tess.
"Imagino que esteja ansiosa, não é?" Eu pergunto.
"Hm, por quê?" Questiona Asura.
"Amanhã eu vou em uma excursão da academia. Os professores disseram que é um passo muito importante para nós aprendizes de cavaleiros." Responde Lola.
A Academia de Cavaleiros de Lálario fazia excursões perto das muralhas da cidade, batalhando com alguns animais ferozes que atrapalhavam a estrada. Pode ser uma atividade muito pequena, mas para eles eram uma diversão em massa. Alguns adoram tanto que viram caveleiros-guardas da muralha.
Amanhã, Lola vai para sua primeira excursão e isso deixa até mesmo eu apreensivo. Uma sensação parecida com deixar a irmã mais nova ir para escola sozinha pela primeira vez.
"Eu sei que vai dar tudo certo, afinal você é uma guerreira excepcional Lola." Diz Asura para reconfortá-la.
"Você tem experiencia real como bagagem, eu acho que alguns simples animais raivosos não vão te assustar." Eu digo.
"Eu sei, mas... é minha primeira excursão e não posso falhar de jeito nenhum. Afinal agora eu sou uma Silverstein, não posso manchar seu nome de jeito nenhum."
Então era isso que ela estava pensando?
Talvez a pressão agora realmente seja diferente. Como Lola é minha filha adotiva, os seus colegas eventualmente irão colocar pressão na sua cabeça, pois ela é filha do lorde. Mas não quero que isso se torne um fardo para ela.
Eu levanto da minha mesa e ando em direção a elas.
"A família Silverstein nunca esteve tão cheia quanto está hoje. Nenhuma de vocês irão manchar o nome, até porque eu nem ligo como as pessoas vão nos ver lá fora. Eu só me importo que vocês três estejam felizes juntas. Por isso Lola, não se pressione tanto, lembre-se que você é forte e que não precisa provar nada para ninguém."
Depois do meu discurso, as três me olharam como se tivessem reparando em cada parte do meu rosto.
"Obrigada Aros, eu prometo que não vou me cobrar tanto." Diz Lola
Asura e eu olhamos para ela e sorrimos.
...
Lola teve uma infância bastante confortável. Ela foi criada por pais que realmente a amavam e tinha uma condição financeira muito boa. Mas infelizmente, tudo acabou com um sopro. Um sopro violento que tirou a vida dos seus maiores apoiadores.
Quando Aros lhe contou que não havia achado os corpos de seus pais, durante o incidente, ela chorou por alguns dias, enquanto se recuperava da tragédia que participou. Ela pensou que apenas o pior iria acontecer com ela.
Seus pais foram para Lálario sozinhos para tentar uma vida nova. Por isso, Lola não tinha nenhum parente residente no reino. Ela precisaria mudar de reino, já que não havia ninguém para cuidar dela.
Isso era péssimo para seu futuro. Lola almejava se tornar uma cavaleira de Lálario e proteger o reino que tanto amou. Mas isso iria acabar quando tivesse que ir embora.
Até que...
"Lola, quer se tornar minha filha adotiva?"
Foi isso que Aros disse para ela.
Uma ideia estranha no começo. Aros era muito jovem, então ter que chamar ele de 'pai' seria muito estranho. Mas não foi assim que ela se sentiu de verdade.
Por algum motivo, ela se sentia muito segura com Aros. Uma sensação parecida que sentia com seu pai biológico. Mesmo que ele aparentava ser jovem, toda a aura que ele passava era de alguém mais velho. Quando Aros ofereceu ser pai adotivo de Lola, ela quase aceitou de imediato. Porém se controlou.
Considerando a ideia de que se ela fosse filha do Aros, ela poderia continuar em Lálario, a proposta não era ruim.
E assim, ela aceitou.
"Lola-san, tá tudo bem?"
"Hm?"
Uma voz feminina chama Lola de volta para realidade.
"Ah, Iris-san... estou bem sim." Responde Lola.
"Que bom... ainda estou um pouco nervosa..."
Iris era uma colega de Lola na Academia de Cavaleiros. Ela tinha cabelos longos vermelhos e seus olhos eram castanhos. Por sua aparência e jeito um pouco tímidos, poucas pessoas acreditavam que ela podia ser realmente uma cavaleira. Mas tanto Lola, quanto a instrutora que liderava o grupo da excursão, sabiam de sua força.
"Certo Pessoal, olhem aqui!" Chama a atenção, a instrutora. "Iremos acampar por aqui e vigiar os arredores. Vocês irão formar duplas e sairão patrulhando pelo leste e o Norte. As duplas que irão pelo Norte, vão adentrar a floresta e vigiar a estrada dos comerciantes. Alguma dúvida?"
Tanto Iris quanto Lola, já sabiam que seriam duplas mesmo. Olharam uma para outra e acenaram a cabeça sorrindo, quase como movimentos sincronizados.
A instrutora separou as duplas, Lola e Iris teriam que adentrar a floresta e vigiar a estrada dos comerciantes. Tal estrada era uma rota alternativa para comerciantes viajantes menores, já que a estrada principal era sempre bem movimentada. Ultimamente tem chegado relatos que animais ferozes e ladrões espreitavam pela floresta e atacava os comerciantes. Então, a Academia achou uma boa oportunidade para a excursão.
"Esse lugar me dava medo antes." Diz Iris.
"Por que?"
"Meu pai me contava que vivia monstros do mal que poderiam me levar e me transformar em monstro também. Mas depois descobri que era só uma história para eu ter medo da floresta e não entrar sozinha."
"Meu pai me contava uma história parecida..."
"Aros-sama?" Perguntou Iris.
"Não, meu pai biológico."
Com esta afirmação, o silêncio constrangedor permaneceu. Iris não queria tocar muito no assunto, ela sabia a história de Lola, e sabia que se continuasse poderia machucar tanto Lola quanto ela.
"Sabe, eu nem vejo Aros como pai." Diz Lola.
"Hm?"
"Vamos dizer que apenas vejo como um amigo. Afinal, ele me ajudou muito e hoje posso estar graças a ele. Mas para eu o chamar de pai, é algo que ainda não consigo."
Lola desabafa um pouco. Iris e ela tinha uma intimidade boa, por isso ela se sentiu mais segura e contar isso a uma amiga próxima.
"Hm... se eu fosse filha adotiva de Aros-sama também me sentiria assim. Mas ficaria muito feliz. Todas as vezes que eu me encontrei com Aros-sama, ele foi muito gentil e respeitoso. Mesmo para nós que somos apenas aprendizes de cavaleiros. Talvez o dia que você irá chamá-lo de 'pai' esteja próximo, ou também nunca chegue. Deve ser difícil esquecer dos seus pais biológicos tão cedo. E como você vê Aros-sama apenas como amigo, isso pode fazer com que você nunca o chame de pai. Me perdoa, falei muito."
Depois do discurso de Iris, Lola ficou pensativa. Mas deu um sorriso para a sua amiga. De qualquer forma, ela se sentiu segura e viu que outra pessoa pensa quem nem ela.
SHEEEESHH!!
No mesmo instante em que falavam, as duas ouviram algo se movendo na moita. Ambas seguraram a espada e estavam prontas para sacar da bainha.
"Quem está aí?" Diz Iris.
"Vamos adentrar por ali, para investigar."
Iris concordou e as duas avançaram para floresta.
Atentas com tudo ao arredor, parecia que o ar estava mais denso mesmo. Uma sensação parecida de quando alguém usa algum feitiço, a sujeira no ar que fica depois de usar um círculo mágico.
"Fique esperta, Lola." Diz Iris.
"Sim..." Responde Lola.
As duas davam passos lentos, mas precisos. Seguravam a espada na bainha e não largavam a qualquer custo. A respiração das duas eram muito bem controladas, concentradas em não expor sua posição tão cedo.
"IAAAAAAAAHHH!"
FLINK!
Atrás de Lola, ela ouviu espadas se chocando. Quando se virou, viu a espada de Iris e outra se colidindo e disputando.
"Lola cuidado!" gritou Iris.
O homem que segurava a espada do lado oposto, vestia uma túnica preta e parecia ser e robusto. Mesmo por debaixo da túnica, seus músculos ainda eram bem aparentes.
Tch, tch, tch!
Lola ouviu passos atrás dela e tirou sua espada da bainha e colidiu com outra no mesmo momento. Dessa vez, era uma mulher. Ela tinha longos cabelos loiros que vazavam da túnica preta, igualmente do homem. Eles estavam juntos, isso não era dúvida.
"Hmph, parece que pegamos um peixe maior do que esperávamos..." Diz a mulher.
"Realmente um ouro perdido que tropeçamos sem querer." Diz o homem.
Lola e Iris ganham na disputa e empurram os dois para trás. Elas andam para trás e se chocam uma nas costas da outra. Uma estratégia de batalha básica que ensinavam na academia.
"Quem são vocês?" Pergunta Iris.
"Nós? hahahahaha. Por que iria te interessar se você vai morrer daqui a pouco. Mas isso não vale para você, Lola Silverstein!"
Ele sabia quem era Lola.
E chamá-la de Silverstein, já era um indicio que a briga de verdade não era exatamente dela. Eles estavam atrás de Aros. Mas isso não quer dizer que Lola não iria resistir. Afinal, por que eles queriam tanto implicar com Aros?
"O que vocês querem com Aros?" Pergunta Lola.
"Aros Silverstein? Bom, queremos ele morto sim. Se eles morressem o nosso plano iria funcionar direitinho. Mas com ele vivo, é um pequeno empecilho."
Plano? Que tipo de plano eles estavam querendo fazer? Se eles queriam Aros morto, provavelmente teria algo haver com destruir alguma coisa que pertencia ao lorde de Lálario. Mas Lola não quis pensar muito nisso e preparou sua postura de ataque.
"Não sei o que estão planejando, mas não vou ser uma simples isca para trazer Aros para cá. Terão que lutar comigo." Diz Lola.
Tanto Lola quanto Iris ficaram em postura de ataque encarando seus adversários. As duas eram muito fortes e não se mostraram com medo dos seus inimigos. A missão era erradicar eles e voltar para o acampamento para relatar tudo.
"Vamos Lola!" diz Iris.
"Sim!"
As duas deram uma arrancada em direção aos inimigos. Obviamente com um movimento previsível, eles bloqueariam sem muitas dificuldades.
FLINK!
Com as espadas cerrando uma na outras todos se encaravam e disputavam a força nos braços. Lola e Iris eram muito bem treinadas em força, nesse quesito não havia como perder.
Iris empurrou seu inimigo com a espada, e diferiu um golpe na horizontal em direção ao peitoral do homem. Mas ele defendeu de novo e tentou fazer a mesma coisa com ela, dessa vez, mirando no pescoço. Como Iris era muito bem treinada, defendeu também sem dificuldades.
Mas o homem jogou sujo. Ele disferiu um chuto na coxa de Iris, fazendo ela perder o equilíbrio. Na hora o inimigo achou a brecha e atacou horizontalmente em seu peito.
"Arghhhh!" exclamou Iris.
"IRIS!" gritou Lola.
Iris ajoelhada e agora com um corte, não perdeu seu olhar rígido. Ela voltou sua espada em uma postura defensiva esperando o próximo golpe.
Mas quando olhou para frente, o homem não estava mais lá.
"Desculpa garota, não estamos atrás de você." Disse o homem.
Após essa fala, Iris sentiu seu corpo mais pesado. Seus olhos estavam fechando e ela sentia seu apoio desmoronar. Seu joelho direito apoiado no chão não tinha mais forças, após isso seu joelho direito também desmoronou e ela caiu no chão.
"Veneno!?" Exclamou Lola.
O homem que pouco tempo atrás estava lutando com Iris, apareceu atrás de Lola. Assim ela estava cercada. A sua espada estava apontada para a mulher a sua frente, mas cercada, tinha que achar outro jeito de batalhar.
"Vamos garota, colabore e vem com a gente. É inútil resistir agora." Disse o homem.
"Nunca." Responde Lola.
Se Iris realmente tivesse sido envenenada, Lola teria que lutar com os dois rapidamente para tentar salvar a vida de sua colega. A Jovem estava tão preocupada que nem mesmo estava prestando atenção na luta.
"Então você que decide." Diz o inimigo.
O homem partiu para cima de Lola, com uma espada grande, ele ataca verticalmente em direção a Lola. Mas ela desvia perfeitamente e a espada do homem se colide ao chão criando uma cratera.
Lola posicionada corretamente dessa vez, tinha uma abertura. Então ela investe em uma estocada direita. Sua espada estava diretamente apontada para o inimigo. Seria um ataque certeiro.
TUUUUF!
"ARGHH!" grita Lola.
No instante que ela estava no ar, Lola sentiu um impacto na sua costela esquerda. Um chute havia a atingido com força. Era a mulher dos cabelos loiros. O impacto foi forte o suficiente para Lola ser deslocada no ar e jogada até colidir com uma das árvores ao redor.
"Argh!"
Lola cai no chão depois de se colidir na árvore. Sua visão fica meio turva e junto vem uma dificuldade de respirar assustadora. Quando ela olha para o chão, há sangue. Ela coloca a mão em seu rosto e lá tem um pequeno corte.
Ela havia sido atingida pelo homem, muito rápido.
Ela foi perdendo suas forças, seus braços não se moviam tão bem. Sua espada tava longe, não havia como pegar.
"Já nos divertimos demais, acho que não precisamos muito de você." Disse a mulher.
"Tem razão acho que Aros Silverstein não veria por causa de uma garota tão fraca." Diz o Homem.
Com visões meio embaçadas e apagadas. Lola sente seu corpo sendo arrastado. A floresta era grande, era isso que pensava. A grama da natureza era quase perfeita, também pensava.
Pouco a pouco, ela ouviu um som de água.
Água? havia água por lá?
Ela pensou apenas no lago grande que havia antes da pradaria das estradas. Impossível terem chegado lá tão rápido, ela pensou.
"Jogue ela na água mesmo." Disse a mulher.
"Certo." Respondeu o homem.
PLOFT!
Lola sentiu seu corpo ser engolido pela água. Seu corpo já não tinha mais forças para fazer um movimento e nadar até a superfície. Era assim, que ela iria morrer, pensou. Mas por quê deste jeito? Ela morreria de um jeito tão trivial assim?
"Isso nunca teria acontecido, se fosse ele..." Pensou.
Ele?
Ele quem?
Naquele momento a imagem de um garoto de capa azul surge na sua mente. Os cabelos negros e uma postura firme chamavam atenção. Não só isso, sempre que este menino aparece, uma aura forte também vem junto.
"Se eu fosse quem nem ele... teria conseguido proteger Iris." Pensou. "Ah... é mesmo... Iris."
Ela pensou por alguns instantes, que ali ela não podia morrer. Tinha que subir e salvar Iris de um possível envenenamento. Mas seu corpo não dava qualquer indício que fosse se mexer.
Ela afundava cada vez mais fundo.
"Droga... não quero morrer aqui.... não posso... não posso... por favor..."
Mas para quem ela pediria ajuda? Existe alguém que poderia lhe ouvir e salvar ela? Existe alguém que se importaria com ela justo nesse exato momento?
O menino da capa azul...
"Por favor me ajuda.... me ajuda... pai...