No meio da floresta um coelho cinzento corria entre os arbustos, em pouco tempo ele saiu da vegetação e se aproximou lentamente de um pequeno fio de água que se desvinculava do rio. Ele começou a beber enquanto suas orelhas estavam em atenção.
De repente seus olhos se alargaram em espanto e ele olhou em volta nervosamente, mas assim que ele fez menção de fugir uma lâmina fina de cor de sangue atingiu seu pescoço, separando sua cabeça do corpo.
Um vulto passou rapidamente pelo local e agarrou o corpo com suas garras, saltando em direção ao rio e desaparecendo entre as árvores. O vulto era uma mistura de cores cinza com toques vermelhos e azul aparentando carregar algo em suas costas.
No meio da floresta o vulto parou fixando seus pês ferais com garras no galho de uma árvore. Ele pegou o coelho e enrolou em algumas folhas largas e jogou em uma pequena caixa, feita de fibras vegetais, que ficava amarrada a suas costas e seus olhos verdes fixaram o horizonte.
Ele saltou por entre as árvores por um bom tempo até que alcançou um local aberto, saltando para o chão ele viu alguns cadáveres quase totalmente decompostos, não havia mal cheiro e até mesmo os animais carniceiros já não ficavam mais ali.
Ele continuou a caminha com uma lança de madeira com ponta de pedra ao mesmo tempo analisava tudo com seus olhos esmeraldas em busca de qualquer movimento ou anormalidade. Pouco depois ele encontrou esqueletos humanos com trapos presos as seus ossos roídos e quebrados.
Ele continuou caminhando por alguns minutos e alcançou uma vila, ela estava em decadência pelo clima e pela luta que havia ocorrido ali, quem sabe até animais ou bandidos não havia passado por lá em algum momento.
Sua caminhada continuou, mas não totalmente para a vila mais sim para uma casa mais afastada. Ela era uma casa modesta, tendo três cômodos, dois quartos e uma coxinha unida a sala, sua porta estava aperta com sua tranca e madeira destruídas.
Ele passou a mão sobre a madeira e entrou.
"Estou em casa…"
Vantru andou pela casa, olhou a mesa empoeirada, lareira ainda com galhos, as cadeiras jogadas ao chão, e andou até o seu quarto. Não havia muito além de uma cama simples, já rasgada em imunda, e um pequeno armário ao qual ele guardava suas roupas e outras coisas simples nas gavetas.
O armário, assim como a cama, havia sido rasgado e estava quase inteiro quebrado, suas portas quase caindo da estrutura e as gavetas quebradas. Ele suspirou e tentou achar alguma coisa útil nele, mas o máximo que ele achou foi panos rasgados, mesmo assim ele os pegou e colocou em sua cesta.
Depois de olhar mais algumas coisas em seu quarto e coletar o que ainda era útil ele seguiu para o quarto de sua mãe, Vaktia. Ele hesitou um pouco em abrir a porta, mesmo ela estando quebrada havia sido fechado, talvez pelo vento, podia ser apenas uma esperança infantil de que assim que ele abrisse ela estaria lá.
Ele fechou seus olhos por um instante enquanto abria a porta é no seguinte abriu para ver que ninguém estava lá. Vantru suspirou e abandonou sua ilusão infantil e andou pelo quarto, relembrando bons momento que teve com sua mãe, fazendo um leve sorriso surgir em seu rosto.
Ele se lembrava que quando era uma criança ainda menor dormia com ela, lembrava como ela o vestia e penteava seu cabelo, e como seus beijos de bom dia eram reconfortantes para o inicio de seu dia.
Ele passou a mão pela cama agora imunda de poeira e com algum mofo surgindo por conta do buraco no telhado, e abriu o armário. Ele era um pouco maior que o dele, mas tinha muitas gavetas a mais e ao abrir ele deu de cara com um espelho e se viu completamente depois de ao algum tempo sem se importa com saber em como ele estava.
Seu cabelo havia crescido é mudado para um tom vermelho e já estava passando um pouco do pescoço, seu pelo havia crescido e ganhado uma cor vermelha em suas pontas, mas nada para se preocupar, algo que ele notou também era que havia crescido um bom tamanha agora tendo 1,50 metros de altura e com uma boa massa muscular por conta de seu treinamento.
(Se ela visse meu cabelo assim com certeza o cortaria, haha…)
Ele pegou uma mecha e mexeu nela um pouco notando sua maciez, em seguida olhou os itens no armário em busca de qualquer coisa. Ele suspirou ao pegar um vestido dela e logo o colocou gentilmente no armário, mas ele acabou achando um manto azul ainda em bom estado o enrolou e colocou em sua cesta.
"Ela sempre gostou de azul, dizia que era uma cor cheia de boas energias*suspiro *."
Vantru andou pelo quarto um pouco mais e olhando em baixo do armário achou uma pequena portinhola, ela empurrou o armário e abriu ela. Um sorriso se formou no seu rosto ao ver o conteúdo, recipientes contendo medicamentos, ele sabia que sua mãe guardava medicamentos para emergências e que eles eram muito duráveis ao tempo, mas nunca sabia que tinha tantos.
(Ela sempre deve ter deixado muitos de reserva caso não tivesse como fazer, seja por conta do clima ou por conta da falta de plantas! Mãe, você era realmente boa!)
Ele saiu do quarto e pegou uma faca que estava jogada em uma pequena prateleira na parede. Vantru entrou nas outras casas, mas quase nada foi encontrado com exceção de algumas roupas velhas, utensílios de cozinha ou costura e outras banalidades, ele simplesmente jogou o que era mais útil na cesta e andou para o seu último local, a forja.
Andando até a casa do ferreiro não pode deixar de lembrar que ele e era uma das poucas pessoas que o tratavam bem, o velho Gui, como ele chamava, era um homem bem alto passando de 2,00 metros facilmente, com quase nem um cabelo, uma pele de um cinza escuro e bastante velho.
Mesmo estando velho ele ainda era muito forte e sendo o único ferreiro da vila sempre tinha trabalho para fazer, por isso Vantru tinha sempre algo a ajudá-lo. O velho Gui era bastante gentil com ele, talvez pela sua idade ou por apreciar a ajuda dele, ele até mesmo considerou ensina forja quando Vantru pediu.
A casa era dividida em duas partes, a forja era feita de blocos de pedra e ocupava a maior parte da construção, a casa em si era de madeira grossa e ocupava pouco espaço, sendo apenas uma sala/cozinha e um quarto que podiam ser apenas considerados funcional. Em fato o velho Gui dormia na forja muitas vez, algo que Vantru presenciava quando ele estava trabalhando e tinha que acordá-lo para fazê-lo se deitar na cama.
Ele caminhou primeiramente para a casa em si, que como esperava estava aberta.
(Ele deve ter saído com muita pressa! Espero que ele tenha conseguido se salvar… será que tem alguma arma guardada na forja!?)
A vila era pequena e quase não havia necessidade de armas propriamente tidas, o máximo que o velho Gui fazia era cuidar daquelas que os caçadores já tinham. Contudo ele sabia que Gui era um homem preparado, isso por conta de uma vez ele ter feito arreios e ferraduras a mais, o que deixou Vantru intrigado e quando foi perguntado o por que, respondeu que era melhor ter e não precisar do que precisar e não ter.
Com esse pensamento em mente Vantru começou a vasculhar a casa, mas não pode encontra muita coisa útil, com exceção de algumas moedas de prata e um grande manto de pele. Deixando a casa ele foi até a forja e tateou o chão ao mesmo tempo em que usava um pouco de seu Ji para vasculhar.
Ele continuou procurando até chegar na bigorna, em cima de um bloco maciço de pedra, e sentir que havia algo lá, ao tentar empurrá-la notou que era pressa ao chão.
(Ok, isso só pode significar que o que quer que ele tenha guardado esta embaixo dela. O grande ponto e se consigo levantar isso ou não…)
Vantru havia treinado seu corpo em todo o tempo em que esteve na floresta e por conta de sua cultivação, refinamento, seu corpo se desenvolveu muito mais rápido, mas ele ainda precisava treinar muito mais e cultivar por um longo tempo para realmente ficar forte.
Ele tentou empurrar de outras direções, mas não houve qualquer reação, ele não pode deixar de pensar o quão forte o velho Gui tinha que ser para levantar a bigorna presa ao bloco. Depois de se sentar para descansar, beber um pouco de água e comer um pouco de carne seca, que havia trazido.
"Como diabos ele conseguiu colocar algo aqui embaixo e como ele tirava?! Velho Gui… você… não me diga que eu tenho que levantar isso para pegar…"
Vantru mastigou a carne encarando a bigorna, logo depois ele olhou em volta buscando algo que pudesse usar de apoio e jogada ao chão havia uma placa não muito grande de ferro. Ele pegou ela e tentou usar como alavanca, mas para seu azar não havia uma fenda para ela entrar.
(Maldição! A rocha foi encaixada finamente no chão. Isso quer dizer que tenho que levantar com as mãos, até porque não tem nada aqui que possa me ajudar.)
Sem muita escolha Vantru agarrou a bigorna e começou a puxá-la para cima, sentindo o peso ele respirou profundamente, apertou os dedos cravando suas garras nela e continuou tentando.
Minutos se passaram e ele continuou tentando ergue, suas veias estavam saltando em seu corpo, gotas pesadas de suor escorriam de seu corpo e quando ele começou a sentir que estava se movendo seu corpo fraquejou.
Sentido sua força se esvair Vantru cerrou os dentes, focou sua energia em seus membros e usou até mesmo a energia de seu fragmento de cristal. Seus olhos se avermelharam e seus músculos saltaram.
Com um rugido ele ergueu a bigorna e rocha, jogando-as para o lado e caindo ofegante no chão com os membros doloridos. Vantru passou alguns minutos deitado no chão, mas logo estava de pé e olhou para o esconderijo do velho Gui, descobrindo com só tinha três coisas.
A primeira era uma sacola, belo som que fazia só poderia conter moedas, o segundo foi um martelo, do tipo que um ferreiro usaria, com uma marcação de GM nos lados, outro ponto de destaque eram o detalhes em prata semelhante a ondas ao longo dele.
Mas pelas memórias dele o velho Gui nunca usou um martelo assim, ele usava um martelo normal de ferro grande. Algo que Vantru pensou foi que o martelo poderia ser algo da família de Gui pelas letras gravadas.
Vantru deixou esses itens de lado, por hora, e se focou no terceiro ou melhor no que chamou sua atenção, logo abaixou existia um tipo de alça e quando ele a puxou pode ver o que estava por baixo. Havia uma lança de metal.
Vantru puxou a lança para cima e olhou ela, devia ter cerca de 1 metro, era surpreendentemente leve, possuía uma ponta em forma de seta, mas com um leve declive em ambos os lados e o mais incrível era que tinha um tipo de joia no meio dela, de uma cor esverdeada e seu cabo era de madeira prateada quase como se houvesse metal polido por cima dela.
Ele fez alguns movimentos com ela, girou ela e desferiu estocadas, cortes e giros com ela para ver como reagiria.
(Essa arma e incrível! Mas por que o velho Gui teria uma arma assim?! Se bem me lembro minha mãe disse que ele veio morar aqui cerca de um ano e meio depois de eu aparecer. Então ele era algum guerreiro ou mercenário, talvez um soldado dispensado?!)
Vantru segurou a lança enquanto tentava chegar a uma resposta, mas depois de pensar um pouco ele deixou de lado isso, no fim o velho Gui sempre foi alguém calado e nunca respondia muito as perguntas dele ou de ninguém, mas para uma vila pequena pouco importava pelo fato dele ser um bom ferreiro.
Ele deixou a lança no chão e abriu a sacola de pano, encontrando algumas dezenas de moedas de prata e cobre. Isso fez Vantru pensa o quão pão duro o velho Gui era, ele até mesmo ia a floresta caçar para não pagar, e sorriu com essas memórias dele reclamando dos preços das carnes e pães.
A outra coisa na sacola era um enrolo de papel, ao desenrolar ele viu que era algum tipo de carta e seu rosto ficou obscuro é com uma expressão frustrada.
"MERDA! Eu não sei ler essa língua!"
Vantru notou que nunca havia aprendido a ler o idioma desse mundo, Vaktia só pode ensinar o mais básico das letras e números, mas nunca pode ensinar algo mais complexo. Ele não pode ficar mais frustrado consigo mesmo por nunca ter perguntado ao velho Gui se ele poderia lhe ensinar, mesmo a vila sendo pequena e remota seria útil saber ler e escrever a língua comum.
Ele olhou o papel mais uma vez buscando qualquer luz, pouco depois ele viu as mesmas siglas do martelo nele, presumivelmente devia ser algo relacionado a família dele, e outra coisa foi um nome de uma cidade, Fynte, ele sabia desse nome apenas por ter ouvido sua mãe usar e montar em sua mente o que sabia para forma o nome.
(Agora eu tenho um local para ir, que provavelmente posso encontrar o velho Gui esteja! Mas em que direção fica isso?!)
Como nunca havia saído da vila, ele pouco sabia sobre as coisas, o máximo que ele sabia de quem saia era que era a cidade grande mais próxima da vila, mas sem ter ideia de que direção tomar, do quão próximo era ou mesmo se ainda estava de pé depois do ataque dos monstros, ele ainda estava perdido no que fazer.
(Hmmm, se eu seguir uma das estradas posso encontrar pessoas, mas antes disso preciso me fortalecer e agora tem uma arma de verdade para lutar!)
Vantru colocou sua cesta no chão e organizou os itens, usando um forro de cama como uma bolsa e colocou os itens danificados nela, assim como o coelho que tinha caçado mais cedo. Depois disso ele pegou sua lança de madeira, quebrou e usou alguns trapos e galhos para fazer duas tochas.
Ele saiu da casa com tudo que parecia importante e incendiou a casa, assim como toda a vila. Antes de sair ele fez uma reverência ao velho Gui e seguiu ate a sua casa, se ajoelhando.
"Mãe, esse filho agradece por tudo que fez! A partir de agora vou seguir meu caminho, mas sempre terei você guardada em minha alma, muito obrigado!"
Vantru a incendiou e foi embora deixando a vila se tornar cinza, impedido que alguém pudesse usar ela para fins nefastos, nem um criminoso ou monstro poderia fazer uso agora. Mesmo que pessoas comuns voltassem valeria mais reconstruir do que deixar o local aberto.