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Chapter 90 - O Mundo de Scott, parte 4: Ódio

"Observe, criança dos ventos. Perca sua força e caia perante à desgraça iminente. Somente aí você conhecerá sua fraqueza."

A voz que Max ouviu nas previsões de Angeline sussurrava em sua mente.

Ele estava em um vislumbre.

Max corria desesperado, suando e chorando. David estava caído no chão, ele via sombras se movendo em todas as direções.

-DAVID! NÃO! FICA ACORDADO!

Ele via apenas um corpo amarelado no chão.

-EU VOU MATAR VOCÊS! -A voz de Scott ecoou à distância.

Max acordou, terrivelmente assustado.

Ele se sentou na cama, e levantou logo após. Não tardou para correr atrás do seu amado suco de maracujá. Ele sorriu olhando para o suco: a cor lembrava o cabelo de Sherry.

Ele não esperou muito, sua ansiedade crescia mais e mais, e ele não sabia o quê esperar do dia que viria. Luci disse que algo ruim aconteceria. Ele precisava cuidar de David.

Um frio correu sua espinha quando ele pensou no vislumbre. Scott queria matar alguém. Ele lembrou do vislumbre que tivera no hospital com Joe. 'O Scott... Ele vai virar um assassino..."

Max subitamente sentiu ânsia. Ele correu para se arrumar, e saiu de casa antes mesmo do almoço. Sua mãe não protestou, ela via como o garoto estava animado por causa de Sherry nos dias anteriores. Mas talvez ele devesse se despedir dela, pois não sabia quando seria a última vez que a viria.

Ele correu pelas ruas do bairro rapidamente, e em menos de 5 minutos estava na frente da casa de David.

-DAVID! -Ele berrou.

Alguns segundos se passaram. Um homem apareceu no portão. Ele era baixo, sua barriga de chopp chamou a atenção de Max. Seu cabelo desgrenhado tinha a aparência de alguém que acabara de acordar, seus olhos castanhos se fixaram em Max.

-Bom dia! -Ele riu. -Quanto tempo, Max!

-Oi, seu Chuck! Como vai? -Max sorriu.

-Estou ótimo! Dia de folga é uma maravilha, a gente pode levantar a hora que quiser! Entra, garoto!

-Valeu!

Max entrou, e cumprimentou a família de David. Jesse lavava furiosamente a louça.

-Isso aqui agora é meu trabalho!? -Ela berrou na cozinha.

-É só uma louça, diacho! -Chuck gritou.

-Então por que você não lava!?

-Sai daí, eu lavo. Pelo amor de Deus, garota.

-Não, eu comecei a lavar e agora eu vou terminar!

-Oi. -Max acenou.

-Oi, Max! -Jesse sorriu. -Você cresceu. Veio buscar o vagabundo do meu irmão? Acorde ele, vai.

-Tá certo. -Max se virou para Chuck, que abria a porta do quarto de David.

David estava levantando ainda. Ele estava com Rodney na mão.

-Dia, Max. -Ele bocejou. Max bocejou junto, seguido por Chuck.

-E aí, cara. Sua irmã cresceu e ficou meio... Agressiva.

-Ela é biruta. -David riu. -Ela tá brava porquê tava indo lavar a louça, mas aí a mãe pediu enquanto ela já ia fazer, e ela baixou o capeta nela.

-Ah... -Max olhou para Rodney. -Queria ter a vida mais simples, igual a ele.

-Eu também. Se fosse um rato, não precisaria me preocupar com nada.

-É.

-Diabo, agora eu quero comer, mas não vou enquanto a Jesse estiver lá na cozinha. Ela vai bater em mim se eu sujar alguma louça enquanto ela lava...

-Relaxa, ela te ama. -Max riu. -Batida de amor não dói.

-Não mesmo. Mas quando ela bate com os pratos, dói. E muito.

Max riu, mas se preocupou por um segundo. Ela não machucaria ele. Mas... O quê aconteceria se ele se ferisse demais?

Ele pensou em Scott e Hector, e em como os dois idiotas quase morreram tentando enfrentar Atlas. Será que ele e David um dia fariam alguma idiotice daquelas?

David foi para a cozinha após algum tempo, e os dois ficaram conversando enquanto David comia.

-Cara, você já viu os braços do Scott como estão? -Max falou.

-Não. Me parecem normais.

-As cicatrizes que a Gra... Atlas deixou nele. Ele parece um guerreiro medieval.

-Cara, ele ficou muito assustador desde que ganhou as cicatrizes. Parece que ele sobreviveu a uma luta terrível. Bom, ele sobreviveu a uma luta terrível.

-É. Aquela mulher detonou o colégio todo. Um verdadeiro monstro.

-Um monstro mesmo. Ele me disse que até hoje tem pesadelos com ela.

-Pesadelos... -Max pensou em falar no sonho. -Você acha que o Scott gostava dela?

-Não. Ele me prometeu que gostava só da Myrella. Acho que ele tinha alguma afeição por ela. Tipo uma segunda mãe.

-Ah... Às vezes eu acho que o Scott não é tão babaca. Ele não viraria um assassino, não acha?

-O quê? -David ergueu a sobrancelha. -Óbvio que não. Por que ele viraria?

-Eu tive um sonho... -Max engoliu em seco. -Um vislumbre. Era com ele. Ele disse quê... Matou uma equipe da Gyazom...

-O quê? -David arregalou os olhos. -Me explica isso direito!

-Calma. -Max olhou em volta. -Isso foi depois que a gente foi salvo pelo Lâmina Dourada. Depois que a gente foi embora, eu fiquei uma semana tendo pesadelos. Mas em um desses pesadelos, eu vi ele. Uma sombra do Scott mais velho, ele disse quê foi atacado por uma equipe da Gyazom, e aí ele... Exterminou todos eles. Ele chorava no sonho. Ele me contou sobre fogo, sobre matar um cara, e sobre estar fora de si...

Max engoliu em seco, e olhou para David.

-Caralho... -David olhou para as torraras que comia, elas pareciam não ter mais gosto. -Parece algo muito sério. O Scott chorando... Ele não choraria nem cortando cebola. Você acha quê era um vislumbre mesmo, ou era um pesadelo?

-Eu sei quando tenho um vislumbre. Eu só contei isso pra você, mano, porquê você é quem mais entende ele. Segredo nosso, beleza?

-Cara, é claro. Não vou sair dizendo isso por aí. Ainda mais quando é com o maluco do Scott.

-É. -Max sorriu. -Acho que a gente precisa dar uma força. O Scott precisa sair da caverna de raiva dele.

-Precisa. -David riu. -Mas vamos, cara, vou me arrumar. Já volto.

David foi se arrumar, enquanto isso, Max foi assistir à televisão com Chuck.

Perto da hora do almoço, os dois saíram juntos. Chuck afagou os cabelos dos dois.

-Cuidado hein, não vão roubar os corações das gatinhas lá! -Ele riu. -Tchau, Max, tchau, filho. Te amo.

-Tchau, pai. -David sorriu. -Tchau, mãe, tchau Rodney, tchau Jesse. Eu amo vocês.

Max sentiu como se aquilo fosse uma despedida. Um terror profundo caiu sobre ele.

Os dois caminharam juntos até o shopping naquela tarde.

--

-CHEGA, PORRA, CALA A BOCA! -Gordon berrou. -EU JÁ FALEI QUE FAÇO O QUÊ EU QUISER!

-SEU NOJENTO! NOJENTO! -Camile berrou de volta. -NOJENTO!

-Parem de brigar na frente das crianças. -Scott falou. -Eu preciso sair, não incomodem eles.

Seus irmãos choravam no quarto, enquanto os pais brigavam na cozinha.

-CALA A BOCA, MOLEQUE! -Gordon aprontou para Scott. -OU VOCÊ NUNCA MAIS SAI DESSA CASA!

Scott quase ativou sua marca. Mas se fizesse isso, seria proibido de voltar para Arcádia.

-Só parem de gritar.

-VAI, VAI! SAI NO SEU PASSEIO! -Camile olhou para ele. -SOME LOGO E LARGA A GENTE AQUI!

-DEIXA ELE QUIETO! -Gordon bradou.

Camile se virou, e saiu dali, chorando. Gordon pegou um copo, e começou a beber café.

-Eu vou voltar antes de anoitecer. Não briguem na frente das crianças...

-Tudo bem. Desculpa, filho.

-Fui.

Scott se voltou para a saída, mas parou. Ele voltou e foi ao banheiro. No caminho, viu seu irmão abraçando a mãe.

Scott fechou a porta e se olhou no espelho. Lágrimas surgiram em seus olhos. Até onde aquilo iria? Será que ele viveria aquele inferno até o fim de seus dias?

Ele lavou o rosto e o secou com uma toalha.

'Filhos da puta.' Ele murmurou para si mesmo. 'Eu devia matar vocês dois. Inúteis desgraçados!'

Ele olhou para seu punho esquerdo. A marca Etérea havia respondido à sua fúria, se ativando. Ele respirou fundo, e pensou em Myrella. Será que ele seria assim com ela no futuro, quando estivessem juntos?

Será que eles dois ficariam juntos, ou ele teria de escolher entre ela e sua família? Ele sacrificaria qualquer coisa por seus irmãos. Fosse seu futuro com Myrella, fossem os Mirai, ou fossem as vidas de seus pais.

Ele afastou aquele mórbido pensamento. Ele pensava aquelas coisas horríveis desde a morte de Joe. Ele não conseguiu fazer nada, e queria descontar aquela frustração em alguém. As brigas entre seus pais só pioravam, assim como a raiva de Scott por eles.

Ele pensou em sua mãe. Ela não era ruim. Mas seu pai sim. Uma sede de sangue tomava conta de Scott quando o via bêbado, quando o homem começava a gritar. Mas ele não ousaria fazer nada, não podia destruir sua família assim. Tudo pelo bem de seus irmãos.

Ele suspirou. Saiu do banheiro, tomou um copo d'água e saiu.

No caminho, ele viu Tammy andando junto de Alex. As duas andavam na mesma direção que ele.

-Oi. -Ele disse quando passou por elas.

-Olha, ele sendo legal e dando oi! -Alex debochou. -Quê bicho te mordeu?

-Ah, vai se foder, Alex. -Ele acelerou o passo e foi para o shopping, sendo seguido pelas duas. Mas algo o incomodava.

Ele mandou Alex se foder. Por mais que ela fosse irritante, Scott não a odiava. Ele se odiava por um único e sólido motivo: estava sendo rude e babaca, igual a seu pai.