— Magia?! Existe magia?
— Vocês nunca viram magia antes?
Eles balançaram a cabeça.
— Então, como eu disse, magia é a manipulação da mana.
— Mana, eu não entendo o que é isso, pode me explicar?
— Ah, claro. Mana é uma energia que existe em nosso mundo, ela está presente e, como o ar, é invisível e inodora.
Em nosso mundo não existe mana, saber que algo assim existe aqui é incrível — pensou Begin.
— Você pode nos ensinar a fazer magia?
Raiju acenou com a cabeça duas vezes, claramente estava muito empolgada.
— Bem, eu sou medíocre como maga, mas acho que o básico não deve ser difícil de ensinar. A primeira coisa que vocês precisam fazer é absorver a mana do ambiente para dentro de seus núcleos de mana.
— Eh? Núcleo? O que é isso?
— Quando eu comecei a aprender magia, eu também não sabia o que era um núcleo. Bem, basicamente é um tipo de reservatório capaz de armazenar e distribuir mana, ele está dentro do corpo, mas é impossível de vê-lo, apenas durante o processo de meditação.
— Existe algo assim?!
— Pois é, também fiquei surpresa quando me falaram. A primeira coisa que vocês precisam fazer é se sentarem, vamos, sentem-se — assim que os dois se sentaram, continuou. — Agora, façam esta posição — ela se sentou em posição de lótus. — Esta é a melhor posição de meditação, pois facilita a circulação da mana pelos canais espirituais.
— Canal? Canal de quê?
— Esqueci de dizer, bem, eles são como as veias ou artérias, mas sua função é a distribuição de mana pelo corpo, eles também não podem ser vistos ou encontrados, mas, como a alma, existem.
— Ah, entendi, então, e agora?
— Então, agora vocês precisam sentir a mana que existe no ambiente. No ar existe o Oxigênio, o Nitrogênio, o Gás Carbônico e Gases Nobres, mas entre eles está a Mana, vocês precisam saber diferenciá-la...
— Pronto! — os dois disseram, interrompendo a frase da jovem.
— Hã? Já?! — Ela sabia que era verdade, pois conseguia sentir a mana fluindo para o corpo dos dois. A mana era invisível, mas conforme os sentidos de um mago cresciam, mais eles poderiam senti-la, quase como se de fato pudessem vê-la.
Assim que uma pessoa possa sentir a existência da mana, ela também poderá absorvê-la como se estivesse absorvendo o próprio ar, claro, poses específicas como a posição de lótus ajudavam a aumentar o influxo de mana.
— O que é isso? Que estranho... — comentou Kaila.
De fato, havia algo estranho acontecendo, a mana que estava entrando nos corpos deles estava saindo pelo outro lado, como se estivesse enchendo um recipiente furado, a mana entrava e saía do corpo tão rápido quanto.
— Isso é estranho, eu nunca vi algo como isso acontecer, até parece que vocês não têm um núcleo.
— Eh? Sério? — Begin não estava surpreso, no fim das contas, ele não era humano.
— Eu já ouvi falar de pessoas que nasceram sem um núcleo ou canais espirituais, mas isso deveria ser muito, muito raro, ver isso acontecendo e em duas pessoas de uma vez é surreal. Mas pode ser que não seja isso, talvez vocês tenham um núcleo, porém ele pode precisar de algum tipo de incentivo para despertar.
— Incentivo? Como?
— Não sei ao certo, mas acho que pode ser com remédios espirituais ou possivelmente alguém com grande controle de mana poderia fazer isso pra vocês, infelizmente, eu não sou capaz disso.
— Há algum lugar em que eu possa encontrar alguma dessas opções?
— Bem, remédios espirituais podem ser comprados, mas são muito caros, plantas espirituais podem ser achadas em terra, mas são coisas que são achadas e não buscadas, quanto ao último, os mestres em mana, você pode simplesmente ir para alguma academia de magia e pedir que um professor faça isso por você. Algumas academias possuem até itens capazes de fazer isso.
— Nós não temos dinheiro para comprar remédios, também não temos tempo para ficar procurando por plantas. Agora, essas academias, onde nós podemos encontrá-las?
— Bem, Asmigard possui cinco academias, a do Forte do Norte foi a que eu frequentei, mas a mais próxima, já que vocês não têm tempo, é a de Longyard, mas lá os requisitos são os mais rigorosos, talvez vocês não possam ingressar nessa academia.
— Estamos com pressa, então daremos uma chance a ela, onde fica Longyard?
— Longyard fica a quinze dias de viagem a cavalo ao sudeste daqui, mas saibam que essa academia não está recrutando sempre, por sorte eles começarão a recrutar daqui a alguns dias, imagino que deva dar tempo caso queiram ir para ela.
— Sério? Isso é muito bom.
— Espero que vocês tenham sucesso no que buscam.
— Muito obrigado, então vamos partir agora.
Raiju segurou nas mãos de Kaila e, pela primeira vez, disse algo:
— Muito obrigada. Adeus.
A chuva já havia parado, não era de se estranhar, pois eles ficaram conversando por mais de uma hora. Mesmo depois da saída dos dois, Kaila ainda estava em choque pelo o que ouviu Raiju pronunciar.
— Que voz bonita...
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Do lado de fora do seleiro.
Begin e Raiju estavam caminhando lado a lado.
— Raiju, sabe de uma coisa que eu só percebi agora?
— Hã? Não.
— Nós estávamos conversando no mesmo idioma, mas somos de mundos diferentes, curioso, não?
— Agora que você disse isso, eu também não tinha percebido, é realmente curioso. Era o idioma dos plebeus, não era?
— Sim. Agora, ela disse Sudeste, não é? Sudeste é pra cá... uma floresta...? Precisamos encontrar algumas frutas ou peixes, senão passaremos fome, estes corpos parecem estar muito mais dependentes de comida do que antes.
— Tem razão, já consigo sentir a fraqueza causada pela falta de alimentos. Este corpo é muito fraco.
Como não tinham tempo à disposição, eles correram para o interior da floresta, rumando ao sul. Apesar de o corpo humano ser inferior ao corpo de um dragão por milhares de vezes, o deles era em muito superior aos dos humanos comuns, o que fazia com que eles parecessem um carro em alta velocidade enquanto corriam.
Depois de algumas horas correndo, eles estavam começando a se sentir inquietos.
— Droga, esse sentimento não passa... — resmungou Begin.
— Há alguém nos observando, mas onde? — comentou Raiju.
De repente, eles conseguiram ouvir uma mudança na atmosfera, o vento havia mudado de direção e os sons das farfalhadas de folhas soavam estranhos.
— Está vindo!
Passos. Eles podiam ouvir passos se aproximando extremamente rápido.
— É rápido!
Eles correram, tentando sair da floresta, mas o fim estava longe de ser visto.
— Droga, é mais rápido do que a gente, temos que lutar!
— Então vamos!
Eles pararam e esperaram pela chegada do perseguidor, era a hora de ver quem os estava caçando.
Os sons de passos pararam, o tal caçador estava logo atrás de um arbusto, mas não dava para vê-lo ainda.
— Venha!
*Rugido*
Então, um rugido soou, seguido por um tigre pulando de detrás da moita. O tigre era maior do que os convencionais e não possuía pelos, ao invés disso, escamas de pedra.
— Que diabos é isso?
Sem esperar, o tigre pulou na direção de Begin.
*Estrondo*
Begin reagiu, socando a cara do tigre e o enviando voando contra um árvore. O soco fora forte ao ponto de quebrar a mandíbula rochosa do tigre.
— Doeu, droga.
*Rugido*
O tigre rugiu assim que conseguiu levantar, mas o som estava estranho, agora que estava com a boca deformada. Ele andou lentamente em direção ao casal, sua boca sangrava bastante, era algo medonho de se ver.
Então, outros três rugidos ecoaram ao longe, aparentemente havia mais tigres como esse vindo em direção a eles agora.
— Está de brincadeira? Tem mais desse bicho?
— Não podemos esperar que os reforços cheguem, vamos acabar com ele antes! — disse Raiju, então investiu contra o tigre ferido.
— Mm.
*Quebra*
Com a sola de seu pé, Raiju chutou a cabeça do tigre. O chute fora tão forte que o pescoço do tigre não suportou o peso e quebrou. O tigre caiu morto no chão.
— Idiota. Tome mais cuidado — gritou Begin ao ver que o pé de Raiju estava sangrando e que uma lasca de pedra tinha penetrado nele.
— Desculpe.
— Já estamos machucados por causa de um, se três vierem, eu não ouso imaginar o nosso destino.
— Tch. Não consigo pisar no chão — disse Raiju, com a perna ferida levantada.
— A escama do tigre entrou em seu pé, eu preciso removê-la ou o machucado ficará ainda pior.
— Tudo bem, vá em frente.
Raiju se apoiou no ombro de Begin, ele, então, segurou a perna ferida dela com uma mão e com a outra puxou a lasca de pedra para fora.
Raiju torceu o rosto e mordeu o lábio, a dor da pedra rasgando seu corpo era mais dolorosa do que uma faca dilacerando sua carne. Sangue escorreu de seu lábio ferido, mas isso a ajudou a se manter firme.
— Droga. Desse jeito não podemos lutar. O que eu fa-.
De repente, os três tigres que estavam correndo em suas direções pularam de detrás dos arbustos e cercaram os dois em uma formação triangular. A inteligência de tais feras deixou Begin irritado.