Raiju moveu seu braço com extrema rapidez e cotovelou Ozori, que perdeu o equilíbrio e cambaleou para trás, ele iria colidir com Begin, mas este desviou para o lado antes que isso acontecesse.
Antes que Ozori pudesse se recuperar, Raiju se virou e o socou no queixo, lançando-o para cima por quase dois metros. Quando ele caiu no chão, já estava desacordado.
— Ela nocauteou o assassino! — Disse um mercador que acabara de entrar na cidade mas que havia parado para ver o desenrolar da confusão.
— Que rápida! — Comentou o servo do mercador.
Os guardas se aproximaram, espanto estava estampado em suas faces.
— Você conseguiu nocautear o assassino que procurávamos com facilidade, quem é você?
— Raiju, A Drago— antes que terminasse, Begin a interrompeu.
— Ah, ela é minha companheira.
— Vocês estão juntos? — claramente decepcionado. — De onde são?
— Nós naufragamos há alguns dias e acabamos de chegar a esta cidade.
— Naufrágio? Hm... Uma pena, vocês não deviam cruzar esses mares sem uma equipe capacitada, poderiam ter sido mortos por monstros ou pior, assaltados por bárbaros.
— Pelo menos estamos vivos. Então, podemos entrar?
— Claro, mostrem as identidades de vocês.
— É... Então... Nós meio que perdemos quando nosso barco naufragou.
— Vocês o quê?! Sinto muito então, mas vocês não podem entrar sem antes comprovarem a identidade.
De repente, outro guarda se aproximou, colocou a mão no ombro do guarda anterior e disse:
— Deixa que eu cuido deles — disse o homem.
— Ah, Sargento Lou Tie! Saudações — disse o guarda.
— Amanhã eu irei visitar o meu irmão, então eu levo eles comigo.
— Se o senhor está dizendo, eu os deixo em suas mãos.
— Obrigado.
— Que isso, não precisa agradecer.
— Venham, eu os levarei até um lugar para passarem a noite, amanhã nós vamos fazer a identidade de vocês.
Como não tinham a identidade que os permitiria entrar na cidade, o casal não teve outra escolha além de seguir Lou Tie e seus arranjos. Normalmente, uma pessoa que não tinha identidade não seria permitida a entrar na cidade a menos que houvesse outra forma de provar seus antecedentes como ter contatos dentro da cidade que poderiam atestar sua identidade. Se essa pessoa não pudesse comprovar sua identidade, ela teria apenas duas opções: pedir que alguém com morada fixa na cidade assuma responsabilidade por seus atos ou ir a outra cidade na qual possa entrar e emitir uma identidade lá, então voltar em seguida.
Enquanto caminhavam pela cidade, Begin e Raiju olhavam para tudo com olhares de muita curiosidade, pois as construções que viam nessa cidade humana eram em muito superiores a as que haviam em seu mundo. Outra coisa que deixou o casal curioso foi o clima da cidade, as pessoas que andavam de um lado para outro pareciam muito alegres, como se não houvessem problemas, diferentemente de seu mundo, em que as pessoas estavam quase sempre sofrendo com algo.
Eles estavam bem distraídos enquanto caminhavam, então, nesse momento de distração, uma garotinha que passava correndo pela rua acabou trombando com Begin e sujando as calças dele com algum tipo de doce gelado e cremoso.
A garotinha caiu no chão e ficou um pouco tonta, pois o corpo de Begin era simplesmente muito rígido. Ela se levantou com dificuldade e se apressou a pedir desculpas.
— Me descul-cul... — enquanto pedia desculpas, a garota levantou o rosto para olhar para a face de Begin, mas. ao ver os olhos afiados dele e o semblante sério, sentiu-se amedrontada e à beira das lágrimas. Sua mandíbula tremia com o medo, pois Begin era muito assustador, uma bolha aquosa já havia sido formada no canto de seus olhos, então ela os fechou com medo.
Begin colocou a mão sobre a cabeça da criança, que tremeu ao sentir, acariciou a cabeça dela e disse:
— Está tudo bem.
A garotinha abriu os olhos vagarosamente e olhou para o rosto dele e o viu sorrindo, ele não mais parecia tão assustador quanto antes. A garotinha, agora despreocupada, curvou-se enquanto sorria docemente e saiu correndo em seguida como uma criança normalmente faria.
— As pessoas na cidade costumam ser muito educadas, mas não fique com raiva da garotinha, ela não fez por mal — disse Lou Tie.
— Eu não a culpo, sei como crianças são despreocupadas para tudo.
Apenas conseguir ver um sorriso sincero de uma criança já havia feito Begin sentir que havia ganhado o seu dia. Como um Dragão Ancestral e um rei, ele sempre prezou pelo bem de seu povo, mas não os via sorrir há muitos anos, não assim, por isso ver um sorriso de uma criança o fez se sentir tão bem.
— Você está corado — disse Raiju, tocando as bochechas de Begin com a ponta dos dedos.
— Estou? Eu não estava preparado para um clima tão agradável.
— Eu te entendo.
— Do que que vocês estão falando? — perguntou Lou Tie.
— Não é nada — respondeu Begin.
— Bem, chegamos ao lugar que eu queria — ao abrir uma porta de madeira, acrescentou. — Bem-vindos ao restaurante e hotel, Lua Crescente.
Ao verem o interior do lugar, Begin e Raiju ficaram muito surpresos e impressionados com o ambiente. Haviam bolhas luminescentes flutuando de um lado para o outro e iluminando o ambiente com uma luz celeste suave muito bonita, as velas que iluminavam as mesas possuíam um fogo especial que oscilava entre azul e roxo, que acrescentavam um charme ao local.
Vendo que Raiju e Begin estavam impressionados, Lou Tie disse:
— Este é um dos mais populares restaurantes da capital.
De repente, uma moça se aproximou do grupo, ela parecia ser uma senhora com pouco mais de trinta anos, mas sua aparência jovial não parecia em nada com um humano comum dessa idade, seu corpo maduro parecia ter sido modelado à mão, ela possuía cabelos lisos azuis que se estendiam até o meio de suas costas e eram quase tão belos quanto os cabelos roxos de Raiju, no entanto, em questão de bustos, essa senhora não perdia para a dragonesa do raios.
— Há quanto tempo, jovem Lou Tie, você havia dito que me pagaria uma visita, mas eu estava pensando que teria de ir em sua guarnição e tirá-lo de lá à força — disse a senhora.
— Madame Ling, sinto muito, ando muito ocupado ultimamente e não tive tempo de cumprir minha promessa, que tal hoje?
— Está combinado então. Esses dois, quem são?
— Esses são Begin e Raiju, dois jovens heróis que chegaram hoje em nossa cidade e não tem um lugar para ficar, como eles não têm identidades, eu os levarei para conhecer meu irmão amanhã e estava pensando em deixá-los passarem a noite aqui.
— Heróis?
— Você não vai acreditar, eles conseguiram dar cabo de um assassino procurado.
— Isso é verdade?
— Cada palavra.
— Interessante. Mas me diga, você continua gentil como sempre, hein?
— Você me conhece, eu já estive em uma situação parecida e fui ajudado na época, o mínimo que eu posso fazer é ajudar aqueles que passam pelo o mesmo que eu passei.
— Eu sei, você era bem pequeno quando meu pai o tirou das ruas. Bem, quanto a esses dois jovens, leve-os ao quarto de número dezoito, por sorte ele está vago, enquanto isso, eu vou para a suíte golden no andar vip, te encontro lá?
— Definitivamente — respondeu Lou Tie, corado.
Enquanto andavam para o quarto no qual passariam a noite, Begin iniciou uma nova conversa.
— Lou Tie, isto aqui é mesmo um restaurante e hotel? Digo, apenas um restaurante e hotel?
— Você tem bons olhos, rapaz. O restaurante é localizado nos primeiros andares, os quartos do hotel são localizados nos andares intermediários, *tosse* quartos especiais ficam nos andares superiores e um cassino/bar fica no subsolo.
— Quartos especiais? Sei...
Lou Tie corou ao ouvir o tom sugestivo de Begin.
Depois de um tempo, eles chegaram ao quarto. O quarto em si era simples, possuía apenas uma cama, um banheiro e uma sala de estar.
— Uma atendente chegará às oito horas para perguntar o que querem jantar, então esperem até lá.
Olhando para a cama, Begin e Raiju estavam corados e não se encararam.
— Eh... senhor Lou Tie...
— Hm? O que foi?
— É que... bem, nós não somos um casal.
— O quê?! Mas você pareciam tão íntimos juntos, o jeito que vocês olhavam um para o outro me fez pensar que eram um casal. Tem certeza que não são um casal? Ou vocês apenas não oficializaram ainda?
Neste momento, Begin e Raiju pareciam ter acabado de sair da praia sem usar o protetor solar de tão vermelhos que estavam.
— Enfim, independente da relação de vocês, vai ser difícil arrumar um outro quarto vago aqui, achar um pode se dizer que foi um favor da Madame Ling, então espero que possam dividir o quarto, pelo menos por esta noite.
Begin e Raiju se olharam por um momento e acenaram com a cabeça um pro outro e então desviaram o olhar. Eles concordaram em dividir o quarto por uma noite. Lou Tie se despediu do casal e foi direto para o andar superior encontrar a Madame Ling e resolver seus negócios pessoais.
A hora passou, eles já haviam jantado e estava na hora de irem dormir, mas como havia apenas uma única cama, não sabiam o que fazer. Havia um sofá na sala, mas era do tipo de dois lugares, o que era muito pequeno para um homem do tamanho de Begin dormir, mas ele ainda disse:
— Você pode dormir na cama, eu dormirei no sofá.
— Mm...
Como eles haviam acordado como dormiriam, Begin resolveu tomar o seu banho antes de dormir. Assim que ele saiu do banheiro, viu que Raiju estava deitada na cama virada para o outro lado, para não o ver. Então, ele foi até um armário e pegou algumas roupas brancas que haviam guardadas ali, aparentemente eram roupas reservas para casais que, por algum motivo, tiveram suas roupas danificadas ou sujas.
Begin não estava vendo, mas, por um momento, Raiju olhou em sua direção, mas ficou tão envergonhada de ver os músculos expostos dele que mudou de ideia e se virou na mesma hora. Depois de Begin, foi a vez de Raiju tomar o seu banho. Para dá-la privacidade, Begin resolveu esperar fora do quarto até que ela terminasse de se vestir.
Depois de voltar para o quarto, Begin viu que Raiju já estava deitada na cama, acobertada e virada para o outro lado, apenas os seus cabelos roxos e a ponta de sua orelha podiam ser vistos de sua posição.
Begin suspirou e então deitou no sofá. Acho que vou acordar com dores no pescoço — pensou ele.
Algum tempo depois, Begin, que estava dormindo, ouviu a voz de Raiju e abriu os olhos.
— Begin, você está acordado? — disse ela.
— ... Sim, aconteceu alguma coisa? — disse ele após hesitar por um momento.
— Não, nada, é que... eu estava pensando... sabe, não tem problema se você quiser dormir na cama, na verdade, ela é bem espaçosa.
Era uma cama de casal feita especialmente para casais com costumes de se movimentar bastante durante a noite, é claro que seria espaçosa.
— Você tem certeza? — ele estava com vergonha só de pensar em dormir ao lado dela.
— Só se você quiser... — a vergonha na voz dela era nítida.
Se ela estivesse mais perto, poderia ter ouvido o som da face de Begin queimando.
— Então, se você está dizendo, eu aceito...
Begin andou a passos lentos até a cama, carregando consigo o travesseiro que levara para dormir no sofá. Cada passo parecia levar décadas para ser concluído e o tempo parecia passar mais lentamente. Após uma boa quantidade de esforço e suor derramado, ele deitou na cama e se virou para oposto ao de Raiju, como estava com vergonha, não ousou puxar a coberta para se cobrir, então deitou sobre ela.
— Você pode usar a coberta, se quiser.
— Ah, então tá.
Begin levantou a coberta sem olhar para trás e se cobriu, mas ele estava com tanta vergonha que achou difícil dormir, mal sabia ele que Raiju estava em uma situação parecida, quiçá pior.
As horas se passaram e o dia chegou, no fim das contas, nenhum dos dois adormeceu.