O mundo me fere de diferentes formas.
Sempre preferi a natureza morta.
Eu fui estranho demais para você. Para minha família. Para a sua família.
Muito provavelmente, era para ser assim. Supostamente, é assim.
As paredes têm bocas e ouvidos. As suas paredes escutaram você dizer que queria se afastar. E as minhas contaram que você queria ir embora.
Como eu fiquei? Cabe a você pensar. Como coube a mim... Falar somente agora isso.
Que para os outros não importa e nem para você.
Olá, você ainda está aí?
Claro que não.
Não vejo o seu coração nas coisas que escrevi, nas fotos que tirei.
Não te culpo.
O que posso fazer além de reclamar? O que eu sei fazer além de reclamar?
Eu vi você voando de avião, sua família estava com você, subindo acima das nuvens, sentados ao seu lado.
Você sobrevoou a serra para além do horizonte, observou quão pequenas eram as montanhas aí do céu.
Para você... Foi como se fosse nada.
Você não viu, mas eu tentei subir a serra, no entanto não deu, meus passos eram menores que a montanha.
Então fiquei por baixo, não conseguia escalar e nem poderia voar.
Só podia ficar ali.
Todos os dias, você não vê. Mas. Eu pego o ônibus em direção a um lugar um pouco longe do que alguém pode chamar de casa.
Você não vê. Não tem ninguém sentado ao meu lado. O ônibus tem várias pessoas, essas pessoas emitem barulhos com suas bocas que impedem de ter uma ida e volta tranquila.
Eu consigo ver a montanha. Está longe. E mesmo longe ainda é gigantesca. As nuvens cobrem a montanha. A neblina cobre o chão.
Olá, eu ainda estou aqui.
A foto... Você não queria tirar...
Dói.
Mais do que deveria doer.
Como recordação. Eu ainda mantenho a foto comigo.
Olá. Você. Nunca. Esteve. Aqui.