Angústia...?
Tem moscas no meu quarto. Quando elas apareceram? Sobrevoam minha cama e pousam na minha pele. Parecem não se importar comigo, arrancam o que querem do meu corpo e voltam a sobrevoar. Esses dias notei que também tinham formigas. E assim como as moscas, não parecem dar a mínima pra mim. Escalam meu armário e sobem na minha cama. Não se dão o trabalho de sequer esperar que eu durma para morder e furar minha pele. Nem o quarto é meu, nem o corpo é meu.
Existem detalhes em cada frase. Existem sublinhas em todas essas sentenças. Eu vou chorar um pouco agora. Para não ter lágrimas para chorar depois. Eu vou gritar em silêncio agora. Para que eu não mate alguém amanhã ou acabe me matando. Será que as moscas e as formigas me veem como um cadáver? Eu também me vejo, então não tem problema. Tantos "Es", tantos "EUs".
As formigas têm cheiro, é um cheiro ruim. As moscas também. De vez em quando mato elas para ver se desaparecem, entretanto não funciona. Apenas espalham aquele odor pungente e repugnante. Eu também devo estar fedendo. Lembro de minha mãe falar isso. Lembro de sentir esse cheiro ruim vindo de mim. Lembro de perguntar para o anjo que agora já se encontra muito e muito longe se eu fedia. O rosto dela, do anjo, distorceu por leves milissegundos e logo após falou que não. Sujo, acho que estou sujo.
Quando me sujei?
Por que eu tenho que esperar tanto? Por que me enrolam dessa forma? Os humanos que aparecem fora do quarto costumam mentir muito, quando pergunto se querem sair comigo dizem sim e fogem quando o terrível dia chega. Os demônios fora do quarto entram e saem dele quando querem, mandam e desmandam. Fielmente acreditando que irão para o tão glorioso céu. Eu tenho muito ódio e estou querendo distribuir. É oito ou oitenta ou é para dentro ou é para fora. Ou eu choro ou mato e morro.