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Chapter 22 - Anjos Negros

Xo Bou estava parada na frente da Rainha enquanto a mesma se encontrava com o queixo erguido, como se necessitasse ver Xo Bou por cima, fazendo com que a jovem Princesa apenas fizesse uma breve mensura para a Rainha, que deu um riso nasal e se virou.

— Venha comigo! — A Rainha diz enquanto caminha na frente de Xo Bou fazendo com que a mesma trocasse um rápido olhar com sua irmã, que apenas balançou a cabeça em concordância.

— Sim, sua Majestade! — Xo Bou diz enquanto ergue a barra do vestido até uma altura considerável sem deixar a mostra seus tornozelos, enquanto caminhava pelo chão de pedregulhos até uma mesa circular feita de pedra.

— Sente-se! — A Rainha fala enquanto joga sua enorme saia para trás e uma jovem Dama de Companhia deixa entre elas em cima da mesa uma jarra de porcelana e umas pequenas e delicadas xícaras de chá.

Xo Bou apenas se senta enquanto que sua irmã mais nova ficava parada ao seu lado, em pé, pronta para correr dali a procura de Amir, ou de seu irmão se algo sair errado. Lótus não sabia se algo poderia sair do controle, mas era sempre bom estar prevenida e por isso que assim que Xo Bou se sentou ela pode observar que a irmã ficou tensa.

A jovem Princesa assim que sentiu as suas nádegas encontrarem o banco de pedra gelada, sentira apenas uma dor lhe atravessar a espinha, como uma flecha e ao ver que a dor ainda estava ali, a lembrando do que tinha acontecido na noite passada, Xo Bou apenas se remexera na cadeira a procura de uma posição que não lhe causasse mais dor do que ela já sentia.

— Está tudo bem? — A Rainha pergunta enquanto com o bule de porcelana enche a xícara delicada e pequena que se encontrava na frente de Xo Bou com um líquido fumegante.

— Sim, Rainha! — Xo Bou fala com um sorriso forçado porque a dor ainda estava lhe atravessando a espinha.

A Rainha apenas sorrira para Xo Bou enquanto enchia a sua própria xícara com o líquido fumegante e depois apenas erguera a mão, fazendo com que uma das Damas de Companhia que estava ali perto retirasse a bandeja com o bule.

— Posso lhe fazer uma pergunta, Princesa? — A Rainha pergunta enquanto leva aos lábios a pequena xícara e com olhos presos em Xo Bou passa a observar cada passo da jovem Princesa.

— Claro, sua Majestade! — Xo Bou fala enquanto pega a xícara e a leva aos lábios, ela sabe que a Rainha não a chamaria ali à toa, e se fosse possível a Rainha nem a convocaria para algo, já que a mesma odiava Xo Bou, o que fazia com que a jovem Princesa ficasse sem entender o porquê daquele ódio todo.

— Você por acaso está se envolvendo com Amir? — A Rainha pergunta observando os gestos de Xo Bou ao ergue a xícara, ela para a xícara a uns centímetros dos lábios, deixando um pequeno filete de chá deslizar pelo seu lábio inferior.

— Desculpe-me, Rainha, mas eu não consigo entender o porquê da pergunta! — Xo Bou fala enquanto tenta encontrar uma forma de sair dali o mais rápido possível.

Ela sabia que a Rainha tinha descoberto o que tinha acontecido na noite passada, Xo Bou se amaldiçoa enquanto que a Rainha apenas ergue a xícara com delicadeza e leva aos lábios. Ela tinha que sair o mais rápido dali porque a qualquer momento a Rainha poderia fazer algo contra ela, mas como que Xo Bou ia sair daquela armadilha que parecia uma teia de aranha?

— Eu ouvi dos empregados que Amir não dormira no quarto dele! — A Rainha diz enquanto com os olhos negros observa Xo Bou.

A Rainha queria encontrar um ponto fraco e usar isso a seu favor, mas ela não sabia qual seria o ponto fraco de Xo Bou, porque para ela a jovem Princesa não era uma ameaça até que os boatos de que Amir estava começando a se interessar pela jovem Princesa chegaram aos ouvidos da Rainha, fazendo com que ela temesse que seus planos para casar Amir com Cetrus fosse por água a baixo.

Ela também sabia que a jovem Princesa tinha voz ativa no Reino Imortal, assim como também sabia que se ela conseguisse fazer com que Amir quisesse o Trono, ele simplesmente conseguiria, já que Amir tinha muito poder político e militar.

— E a Senhora achou que ele estivesse no meu quarto? — Xo Bou pergunta com uma sobrancelha erguida e com um sorriso sarcástico nos lábios, deixando com que a Rainha não tivesse escolha senão estudar muito bem as próprias palavras.

— Na verdade não cheguei a cogitar que ele estivesse em seu quarto, mas sabe como são os empregados... Amam uma fofoca! — A Rainha diz enquanto sorri para Xo Bou, que apenas lhe sorri de volta.

— Sim, lembro-me que quando eu estava na Corte de meu pai humano os empregados sabiam de tudo e não tinham medo de falar! — Xo Bou diz enquanto leva aos lábios a xícara, onde o líquido antes quente, naquele momento se encontrava gelado.

Xo Bou coloca a xícara na mesa de pedra e com a mão esquerda passa por cima da mesma, deixando com que uma pequena fumaça vermelha deslize de seus dedos, fazendo com que a pequena xícara ficasse quente o bastante para que ela pudesse beber o líquido que se encontrava no seu interior.

— Então espero que você saiba que os boatos sempre correm pelos corredores a procura de alguém para ouvir! — A Rainha diz com um sorriso nos lábios enquanto Xo Bou apenas a observa com os olhos dourados, frios como o ouro.

— Claro que sei, Rainha, e tomarei todo o cuidado para que não se tenha boatos sobre mim sem fundamento. — Xo Bou diz enquanto coloca ambas as mãos contra a xícara de porcelana fumegante e a leva aos lábios.

— Então acho que é melhor você se afastar de Amir por um tempo, não acha? — A Rainha pergunta enquanto ergue o braço e chama uma das Damas de Companhia, que assim que se coloca ao lado da Rainha apenas pega a xícara que se encontrava em cima da mesa e sai.

— Acho que não, sabe, Rainha eu sou o tipo de mulher que pode muito bem se cuidar sozinha, ainda mais se tiver boatos a meu respeito por aí! — Xo Bou fala enquanto se ergue e desliza para fora da cadeira de pedra.

A Rainha apenas observa Xo Bou, que a olha com os olhos dourados frios e calculistas, ela sabe que a jovem Princesa estava à procura de algo para usar contra ela, e assim que viu algo a jovem Princesa apenas sorri para a Rainha.

— Acho que quem deve tomar cuidado é a senhora, Rainha, porque nem sempre um cavalo selvagem fica preso por muito tempo! — Xo Bou diz enquanto joga para longe a calda do seu vestido branco.

A Rainha foi deixada sozinha apenas olhando para o nada como se pudesse ver algo que não conseguisse, mas a mesma sabia que aquela jovem Princesa era perigosa e não se importaria de tirar ela do trono, ao se dar conta de que subestimou uma jovem Princesa a Rainha apenas pega a xícara que Xo Bou deixou para trás e a atira no chão, assustando suas Damas de Companhia que se encolhem com medo da Rainha e sua fúria.

— Chamem a Cetrus.... Agora! — A Rainha grita enquanto se ergue da cadeira de pedra com um olhar furioso.

As Damas de Companhia apenas acenas e saem à procura da jovem Cetrus, enquanto uma Rainha estava preste a fincar uma espada contra uma jovem Princesa.

Xo Bou e Lótus caminhavam pela trilha de pedregulhos com os olhos sempre alertas para qualquer possível ataque, elas sabiam que depois do que Xo Bou disse a Rainha não deixaria aquilo quieto, ela estaria sempre pronta para acabar com Xo Bou.

— Você não acha que ela tentaria algo contra você, acha? — Lótus pergunta enquanto para na frente da irmã com os olhos violetas preocupados.

Ela conseguira ver a raiva nos olhos da Rainha, conseguiu ver o mar de fúria e sangue que aquela mulher guardava dentro da alma e por isso Lótus temia que sua irmã tivesse feito com que o mar que antes estava calmo ficasse furioso, a ponto de atingir a qualquer um que visse pela frente.

— Não acho, tenho certeza! — Xo Bou fala enquanto olha para frente com os olhos dourados, ela sabia que assim que tinha dito aquelas palavras para aquela mulher sua vida estava em perigo. — Lótus, aquela mulher é perigosa e traiçoeira!

— Por isso que estou falando para você tomar cuidado! — Lótus fala enquanto cruza os braços embaixo dos seios e olha para a sua irmã. — Ela parecia pronta para lhe cravar uma espada!

Xo Bou apenas olha para a sua irmã e logo depois sem conseguir se conter dá uma risada, que deixa Lótus perdida, ela não sabe do que sua irmã tanto ria, mas sabe que naquele momento sua irmã estava planejando algo e ela esperava que fosse algo que não envolvesse vidas inocentes.

— Por que você está rindo? — Lótus se pergunta enquanto Xo Bou apenas com a palma da mão contra seu ombro a coloca do seu lado e passa a andar até o pequeno arco de pedra que tinha entre aquele jardim e a saída daquele palácio.

— Eu sei, Lótus, preciso tomar cuidado, tenho tido todo o cuidado desde que ela me chamara na sala do trono! — Xo Bou diz com os olhos dourados olhando para frente enquanto pensava se devia ou não se livrar daquela Rainha antes que fosse tarde demais.

Xo Bou sabia que daquele momento em diante tudo podia mudar, ela só não sabia para que lado estava indo aquele barco onde ela se encontrava. Há dias ela tinha reparado como todos a olhavam, como se a qualquer momento ela fosse atacar o pescoço deles e isso para ela era o que lhe dava mais prazer, saber que todos temiam ela e por isso não tinham coragem de fazer algo contra ela diretamente.

— Xo Bou? — Uma voz masculina lhe chama e ela apenas pisca.

Seus olhos dourados encontram os olhos negros de Amir que a olhava como se procurasse algo, e para ela foi como se tudo ao redor de ambos tivesse se desfeito e apenas eles estivessem ali.

— Princesa! — Uma voz feminina a chama fazendo com a mesma tenha que se virar.

Ao se virar Xo Bou pôde ver que ali na sua frente quem estava era Alina, com seus cabelos médios cor-de-rosa e com os seus olhos de sereia, ela apenas olha para Alina, que se curva na frente da mesma com o braço esquerdo por cima do peito, fazendo com que seus cabelos cor-de-rosa caíssem e lhe cobrissem o rosto.

— O que você está fazendo aqui? — Xo Bou pergunta enquanto observa bem a postura de Alina, que apenas se ergue e a olha com os olhos azuis.

— Ordem direta da sua mãe, a Rainha! — Alina diz enquanto com os olhos azuis desliza até Amir, que se encontrava parado ali, apenas observando Xo Bou.

Os olhos de Alina eram como os olhos de um gavião, não deixam passar nada e ela não tinha deixado passar o que ela estava vendo... Ela via como aquele homem olhava para Xo Bou e como a mesma o olhava, e por isso ela temeu pela vida da jovem Princesa.

— Preciso falar contigo, Princesa! — Alina diz enquanto se vira de frente para Xo Bou a fazendo olhar em seus olhos azuis.

Xo Bou apenas a observa, seus olhos dourados estavam tentando encontrar algo que ela via, mas ao mesmo tempo parecia que lhe fugia como pequenos camundongos de uma coruja, suspirando Xo Bou se vira sem dizer nada enquanto caminha para longe de todos eles.

Alina sabe que Xo Bou é com a mãe e por isso assim que ela começa a caminhar ela passa a andar em direção onde a jovem Princesa tinha se dirigido.

— O que você quer me dizer? — Xo Bou pergunta em um sussurro e olha ao redor, como se estivesse querendo saber se tinha alguém ali por perto.

— Você sabe que não pode se apaixonar pelo Príncipe, não sabe? — Alina lhe pergunta com os olhos azuis a observando em busca de pistas de algo que a mesma já sabia que era verdade.

— Quem disse que estou apaixonada por Amir? — Xo Bou pergunta com um sorriso de lado, seus ombros parecem ficar pesados, como se ela carregasse um peso que não era para estar ali.

— Até o chama pelo nome, Princesa? — Alina pergunta com um sorriso nos lábios enquanto Xo Bou que antes sorria se encontrava com uma fina linha de cor de rosa nos lábios.

— Sim, por quê? Moramos na mesma casa, nos vemos todos os dias e iria ficar chato eu o chamar de Príncipe e ele me chamar de Princesa! — Xo Bou diz enquanto pensa se devia ter calado a boca quando teve chance, mas ela não era o tipo de pessoa que deixaria algo assim passar, mas desde que ela conheceu Amir parecia que tudo para ela não era mais o mesmo.

— Você sabe que na Guerra um amor não pode existir, não sabe? — Alina pergunta se inclinado na direção de Xo Bou enquanto lhe sussurra no ouvido direito: — Não seja como a sua mãe, a ponto de sacrificar aquilo que lhe é mais importante por um homem!

Xo Bou apenas dá um passo para trás com os olhos arregalados enquanto observa Alina ali parada na sua frente com os olhos azuis da cor do mar frio e calculista, ela não sabe o porquê dela ter dito isso, mas Xo Bou sabia que ninguém falaria de sua mãe assim na frente dela.

— Minha mãe fez o que achou certo! — Xo Bou diz enquanto dá um passo à frente, suas mãos estavam em punhos ao lado do corpo, mas a fúria e o ódio que pareciam fogo em sua corrente sanguínea parecia não querer deixar aquilo passar em branco.

— Mas ela pagou um alto preço, não é, Xo Bou? — Alina diz enquanto com a mão esquerda atira o cabelo que se encontrava na curva do seu pescoço para trás, enquanto sorri para a mesma. — Nos duas sabemos que sua mãe pagou um preço alto, assim como você vai pagar um preço bem alto se você continuar deixando com que esse sentimento comece a criar raízes!

— Não fale o que você não sabe! — Xo Bou diz enquanto ergue a mão esquerda e com o braço em punho atira pequenas chamas de fogo azul contra uma árvore, que começa a pegar fogo.

— Eu estive lá, Xo Bou, vi o que sua bisavó foi capaz, vi sua avó se desfazer em pétalas, tudo isso porque elas foram tolas o bastante para não impedir que um sentimento como o amor criasse raízes. O amor é uma fraqueza e por isso lhe digo: Mate-o enquanto há tempo, porque quando esse sentimento tiver suas raízes fincadas, o preço que você vai pagar vai ser mais alto do que você espera!

Xo Bou apenas a olha enquanto a mesma a encarava com os olhos azuis lhe deixando claro que naquele momento ela não estava ali como uma amiga, mas sim como uma conselheira que estava lhe dando um conselho, suspirando Xo Bou se vira e tenta sair dali, mas Alina a segura pelo braço a fazendo virar o pescoço na direção dela.

— Xo Bou, eu sei que fui rude, mas essa é a verdade, o amor no tempo de guerra não existe, o que vocês sentem um pelo outro é apenas uma atração, uma luxúria que pode derrubar todo um império! — Alina diz enquanto Xo Bou puxa seu próprio braço para longe do aperto de aço de Alina e a olha com os olhos dourados em brasa.

— Eu nunca disse que o amava e nem vou amá-lo, sei da minha missão! — Xo Bou diz enquanto em sua mente ela apenas chorava...

Chorava porque sabia que a qualquer momento esse sentimento que ela tinha por Amir poderia ser sua ruína, algo que poderia ser usado contra ela, e algo que poderia quebrar Amir. Em sua própria mente Xo Bou sentia como se adagas afiadas tivessem se cravado em seu íntimo lhe perfurando e deixando sangrar.

Ela então se vira de costas para Alina, seu rosto parecia uma tela em branco esperando que pequenas e delicadas pinceladas lhe fossem atribuídas, mas assim que saiu das vistas de Alina a jovem Princesa deixara deslizar pela sua face uma pequena lágrima.

— Lembre-se de sua missão, Xo Bou, não deixe que nada a impeça! — Alina diz contra o vento que deslizava entre seus cabelos azuis.

Xo Bou caminhava por aquela estradinha de pedregulhos com a mente formigando de pensamentos sobre o que poderia acontecer se ela um dia chegasse a amar Amir de verdade com todo o seu coração, mas ela sabia que isso não poderia acontecer, já que ela tinha uma missão e por causa dessa missão ela encontrou Amir...

Ela apenas colocou na mente que sua missão vinha em primeiro lugar, mas assim que ela colocou os olhos em Amir, que a esperava embaixo do arco de pedra tudo parecia não existir, sua missão se transformou em pó, que deslizava pelo vento que lhe sussurrava palavras de que ela deveria se lembrar da sua missão e não se apaixonar... E foi naquela hora que Xo Bou soube que estava perdida, estava condenada e ela rezou por um breve momento para que sua morte não fosse lenta a ponto de se lembrar dos momentos em que ela vivera com Amir, e os momentos que estavam por vir.

— Estava me esperando? — Xo Bou pergunta com um sorriso e com o coração batendo forte contra seu peito.

Amir apenas a olha com os seus olhos negros a examinando, mas logo depois abre um sorriso, que para Xo Bou parecia o raiar do Sol, mas ela sabia que isso não poderia continuar, ela devia agir o mais depressa possível... Sua missão era mais importante que um sentimento tolo como o amor.

— Sim, então podemos ir? — Amir pergunta enquanto estende a mão para que Xo Bou a pegue, e assim que ela coloca a mão dela em cima da dele tudo perdeu o som e eles se perderam nos olhos um do outro, até que Alina que estava por perto forçou uma tossida, fazendo com que Xo Bou retirasse a mão dela da mão de Amir e com os olhos em pânico apenas sorrira para o mesmo.

— Podemos ir! — Xo Bou diz enquanto Alina apenas sorri pelo fato de que tudo estava indo como devia ser.

— Vamos! — Amir diz enquanto se vira e começa a andar.

Ele sabia que tinha algo de errado, algo que lhe dizia que aquela mulher com os olhos azuis e cabelos cor-de-rosa traria apenas notícias ruins, e isso pôde ser visto quando Xo Bou se afastara dele, como se ao colocar a mão dela por cima da dele ela tivesse se queimado.

— Amir? — Uma voz feminina o chama fazendo com que ele se vire.

Ali atrás dele num vestido vermelho estava Cetrus o olhando com os olhos de uma mulher apaixonada, o que fez com que Xo Bou sentisse como se pequenos e perigosos pássaros de fogo estivessem lhe picando a boca do estomago. Mas ela não podia fazer nada, apenas observar a situação que se encontrava na sua frente e esperar para que tudo que ela tinha que fazer desse certo.

— Aconteceu alguma coisa, Cetrus? — Amir pergunta enquanto pensa no que ela poderia querer, há algo nos olhos dela que o fazem temê-la, mas ele sabe que ela nunca seria capaz de fazer algo contra ele.

— Temos que ir! — Alina diz enquanto observa um pássaro vermelho lançar voou pelas nuvens brancas.

— Verdade, desculpe-me, Cetrus, mas eu preciso ir! — Amir diz enquanto passa ao lado dela, à deixando sozinha com os olhos arregalados, e ao passar do seu lado Alina apenas dá uma pequena risada.

— Princesa, acho que é melhor você tomar cuidado, porque a certos pássaros que poderiam cantar uma certa canção no ouvido do Príncipe! — Cetrus diz para Xo Bou quando a mesma passa ao seu lado, à fazendo parar e dar um passo à atrás a observando.

— Esse pequeno pássaro devia tomar cuidado para não ser abatido, já que sou uma ótima caçadora! — Xo Bou diz com um sorriso nos lábios fazendo com que Cetrus apenas aperte as mãos em punhos bem fechados. — Espero que repasse esse recado para o pequeno pássaro!

Xo Bou apenas passa ao lado de Cetrus, que numa raiva sem tamanho se vira fazendo com que o vestido rodopie ao seu redor e olha para as costas da jovem Princesa, como se ela pudesse lhe matar.

Ah, mas Cetrus não deixaria que ela conseguisse o trono, era para ser ela a Rainha e mulher de Amir, ela treinou a vida inteira para isso e não seria uma jovem Princesa imortal que lhe roubaria o trono e o homem que ela amava. Cetrus seria capaz de tudo para que Xo Bou nunca se sentasse no trono que era dela, nem que para que isso acontecesse ela fosse obrigada a colocar Amir contra Xo Bou.

Dando uma pequena risada Cetrus passou a rodopiar entre as pétalas da árvore que se encontrava do seu lado com os braços abertos.

— Você nunca terá o Amir e nem o meu trono, espere e verá, Xo Bou, eu a matarei antes mesmo de você ter conseguido gerar um filho! — Cetrus sussurra para o nada enquanto sorri, seu sorriso era doentio.

Amir e Xo Bou caminhavam pelas ruas de terra do Reino um do lado do outro, mas sempre tentando não se aproximarem demais para não deixar com que Alina, que estava atrás deles visse algo que os dois não queriam mostrar, mas Alina era esperta a ponto de ver as pequenas e quase apagadas linhas do Destino se entrelaçando, transformando aquele casal... E essa pequena linha parecia ser ofuscada por algo vermelho como o sangue.

— Eu já disse que não! — Eles conseguem ouvir uma voz masculina quase infantil falar ao virarem numa esquina e dar de cara com Lótus e um jovem brigando, eles pareciam discutir sobre um pequeno arranjo de cabelo que Lótus tinha na mão.

— Quem disse que seria você que vai comprar? Eu tenho dinheiro, seu principezinho! — Lótus diz com os olhos violetas em brasa quase se jogando em cima do jovem Príncipe pronta para bringar, que apenas ria da cara da jovem Princesa.

— Ora essa, sua Princesinha... — O jovem moço diz enquanto tenta não estrangular Lótus, que apenas lhe mostra a língua.

— Ok, já chega vocês dois.... Hoje não é dia de brigas, temos que ir, a Rainha já vai fazer o seu discurso! — Um jovem que se encontrava do lado dos dois diz enquanto se vira para ver Xo Bou, que apenas acena a cabeça para ele.

— Está na hora, Amir! — Xo Bou diz se virando para Amir, que apenas a olha e depois lhe dá um sorriso.

— Ok, Xo Bou, você vai ficar no palanque junto da Rainha porque ali ela não tentara nada contra você, e Lótus, você ficara entre as pessoas a procura de informações para nos ajudar, precisamos salvar aquela garota se quisermos saber a verdade! — Alina diz com os olhos azuis calculistas.

— Ok! — As duas dizem ao mesmo tempo e depois cada uma vai para um lado, deixando para trás Alina e Amir sozinhos.

— Você é o único capaz de salvar aquela garota e espero que a salve porque precisamos dela!

— Por que vocês precisam da Sang Ge?

— Isso não lhe interessa, Jovem Príncipe, o seu dever nesse momento é só salvar essa jovem mulher e mais nada!

Amir fica parado a olhando, seus olhos negros tentam entrar na mente daquela mulher que se encontrava na sua frente, mas a única coisa que ele conseguiu foi dar de cara com o vazio, por isso ele suspira e se vira saindo dali.

— Às vezes acho que era você quem deveria ser a Rainha das Sereias! — Uma voz masculina fala ao lado de Alina, que apenas olha e dá uma pequena risada.

— Por que você está aqui, Wang Xu? — Alina pergunta enquanto se vira para ver o homem todo de preto parado atrás dela com um sorriso.

— Achou que eu ia perder o espetáculo que isso vai ser? — Wang Xu diz, mas depois seu sorriso morre e em seu lugar se encontra uma linha reta. — Estou aqui para ver se vão cumprir com o prometido.

Wang Xu sorri logo depois de ter dito aquilo para Alina, que apenas o olha, seus olhos azuis analisam o homem na sua frente, mas o que ela faz é apenas suspirar pelo fato de que tudo estava se tornando uma teia de aranha onde os fios pareciam se juntarem para formarem um futuro, do qual ela não sabia se devia ficar feliz ou não.

Lótus caminhava entre as pessoas que lhe abriam espaço temendo tocar em um fio de cabelo dela ou em suas roupas, era como se ela fosse um monstro do qual todos temiam, as mães afastavam seus filhos pequenos que se encontravam fascinados por seus olhos violetas, os mais velhos apenas davam um passo para trás fugindo dela como se ela fosse a própria doença, mas ela conseguira ver alguns curvarem a cabeça em respeito a ela e os olhos deles mudarem de cor.

Uns olhos eram vermelhos, outros azuis, outros verdes, cada olho tinha um significado e Lótus sabia que há muito tempo, quando sua ancestral ainda andava por aquela terra tivera uma guerra que fizera com que muitos imortais fugissem para o mundo mortal e ali construíssem suas famílias.

Ela sabia a verdadeira história por detrás daquela guerra, mas mesmo que soubesse nunca poderia contar a ninguém, era um segredo de família do qual somente ela, sua irmã Xo Bou e sua mãe sabiam.

— Eu queria apenas comprar o arranjo de cabelo! — Lótus diz enquanto suspira para o nada olhando para frente.

— Por que não o compra? — Uma voz masculina diz ao seu lado, a fazendo virar o rosto para o lado e dar de cara com um homem de preto, seus longos cabelos negros pareciam cortinas negras e a máscara de tigre que ele tinha no rosto o tornava fascinante para aquela jovem Princesa.

— Porque não posso! — Lótus diz enquanto recomeça a andar em direção ao palanque, onde a Rainha estava sentada no seu trono com um sorriso na face.

— Aqui! — O homem diz colocando na mão de Lótus o pequeno arranjo que a mesma tanto queria junto com um pequeno papel.

— O que? — Lótus pergunta, mas aquele homem já tinha ido embora deixando para trás apenas a imaginação de Lótus sobre ele.

Quem seria aquele homem de preto? Por que ele a estava ajudando e por que naquele momento Lótus sentira foi um carinho especial por ele?

Ao ver que em sua mão tinha um pequeno papel dobrado ela apenas o desdobra e lê: A Salvação está na banca do Arranjo!

Lótus se vira para tentar encontrar o homem de preto entre as pessoas que passavam ali, mas ela apenas consegue ver fios negros deslizando contra o vento e logo depois pequenas luzes verdes brilharem onde ela tinha visto os fios pretos.

— Droga! — Lótus fala enquanto corre entre aquelas pessoas que a olhavam assustadas e davam passos para trás temendo a tocar enquanto corre.

Mira andava de um lado para o outro em seu quarto com as mãos de cada lado do corpo tentando pensar em uma forma de evitar a reunião que teria no salão do Trono, ela sabia que assim que Abhya e Derya entrassem as chances dela diminuíam, e por isso ela tinha que planejar algo, algo que fosse grande o bastante para que todos os olhares estivessem voltados para ela e não para seu pai e Kadar, algo que ninguém esperava, mas ela não conseguia pensar em nada, tudo que lhe vinha a mente eram coisas pequenas, como pequenos saques de cidades do Forte ou pequenas traquinagens dos Príncipes e Princesas imortais com os mortais.

— O que eu posso fazer para impedir essa reunião? — Mira se pergunta enquanto para de frente a um espelho de corpo inteiro que tinha ali.

Seus cabelos negros estavam com pequenos frizz e os seus olhos tinham grandes bolsas negras pelas noites mal dormidas, ela não conseguia tirar os olhos do espelho, mas naquele momento ela tinha que pensar em algo e não se preocupar consigo.

— Mira! — Ela ouve a voz de Yasmine lhe chamando por detrás da porta do seu quarto.

— Sim?

— Preciso falar com você, agora! — Yasmine diz abrindo a porta e dando de cara com Mira de vestido vermelho amassado e o cabelo despenteado. — O que aconteceu com você?

— Aconteceu que Derya quer fazer com que Abhya tire meu pai e Kadar do Conselho! — Mira diz enquanto passa a mão esquerda no cabelo a deslizando em direção a curva do seu pescoço.

— É verdade, já tinha até me esquecido dela! — Yasmine diz enquanto observa Mira andar de um lado para o outro.

— Ela vai tentar de todas as formas tirar meu pai do conselho por causa do voto dele!

— Mira! — Yasmine fala mas Mira estava mais centrada em falar para si mesma sobre o fato de que Derya era tão traiçoeira que tentaria algo contra seu pai.

— Ela vai tentar usar o fato de que meu pai tem um caso com o Kadar para tirá-lo do Conselho! — Mira fala com a ponta da unha entre os lábios vermelhos e os olhos voltados para o lado de fora, que naquele momento estava tão branco quanto uma tela em branco.

— Mira! — Yasmine diz enquanto respira fundo, ela sabe que naquele momento Mira não veria nada na frente dela a não ser a solução para livrar seu pai da humilhação pública, que seria o afastamento dele do Conselho.

— Ela pode tentar persuadir Abhya a tirar o Kadar também! — Mira diz enquanto com a mão em punho a bate contra a palma da mão.

— Mira! — Yasmine grita fazendo com que Mira a olhe com os olhos vermelhos arregalados e depois comece a piscar.

— O que foi, Yasmine? — Mira pergunta enquanto para no centro do quarto.

— Eu preciso lhe entregar uma coisa! — Yasmine diz enquanto puxa do decote uma pequena bolsinha vermelha com uma linha dourada a mantendo fechada e a mostra para Mira, que apenas olha.

— O que é isso? — Mira pergunta enquanto pega a pequena bolsinha e a abre.

— Uma das mulheres que trabalha aqui no Palácio me deu e disse para que eu a procurasse! — Yasmine diz enquanto se lembra da jovem de cabelos loiros que lhe parara no meio do corredor com os olhos castanho-esverdeados arregalados e lhe estendera a bolsinha.

— Mas porque ela pediu para que você me entregasse? — Mira fala enquanto desfaz o pequeno laço da linha dourada e vira a bolsinha, fazendo com que uma pequena pérola branca quase transparente deslizasse para a palma da sua mão.

— Uma pérola?

— Não qualquer pérola, mas sim uma de lembranças! — Mira diz enquanto pega a pequena pérola branca e a leva até o centro do quarto. — Essas pérolas brancas eram usadas antigamente, não sei por que ainda exista uma dessas.

— Elas são tão raras assim? — Yasmine pergunta enquanto vê que Mira estava com a pérola na mão esquerda e pronta para a jogar no chão.

— Sim, a última pérola branca fora a de minha ancestral, ninguém sabe onde ela está até hoje, alguns dizem que ela sumira porque não queria que uma nova guerra começasse, outros dizem que é porque a Pérola Branca tem as últimas memórias da Rainha e por isso o Antigo Rei a jogara no Mar da Inocência! — Mira fala enquanto se perde em pequenas lembranças de sua mãe lhe contando a história da Rainha.

— Mar da Inocência? — Yasmine pergunta enquanto vê Mira erguer o braço para jogar a pérola contra o chão.

— Sim, o Mar que faz fronteira entre o Mundo Imortal e o Mundo dos Deuses! — Mira fala enquanto atira a Pérola Branca contra o chão, que se desliza em pequenas e brilhantes partículas e logo depois foram puxadas outra vez, causando uma grande luz branca.

E enquanto via aquelas lembranças Mira tivera seu coração partido, ela não conseguia acreditar no que via, para ela aquilo não podia ser real... Todas aquelas lembranças lhe apunhalaram como adagas afiadas e envenenadas, como ela podia ser tão tola a ponto de não ver aquilo? Como podia ter deixando algo como aquilo passar em branco quando ela fora avisada há anos atrás?

— Mira? — Yasmine a chama com os olhos em lágrimas pelas lembranças que aquela Pérola Branca mostrava.

— Yasmine, espero que esteja preparada porque vamos ao Conselho! — Mira fala enquanto pega uma escova de pelos naturais e começa a pentear seus longos cabelos.

Naquela hora Mira vestira sua roupa de Rainha e em seus olhos se podia ver o brilho de algo que há tempos não se via naquela mulher... Ali naquele quarto Mira estava se preparando para usar a arma mais poderosa que ela poderia ter encontrando...

Não era o que diziam: O que vale uma vida se pode salvar outros milhares?

Mais naquele momento Mira não queria saber de salvar outros milhares de vida, o que ela queria saber era de salvar seu pai e Kadar.

— Vamos! — Mira diz com um sorriso nos lábios e em seus olhos a determinação de acabar com a pessoa que estava naquelas lembranças.

Derya estava caminhando pelo corredor do Palácio de Kon com os olhos meio que perdidos, como se estivessem caminhando sem direção, ela apenas caminhava até que virou numa curva do corredor e se vira do lado de fora, embaixo do arco de gelo que dividia o Palácio do pequeno jardim de gelo que se tinha no fundo do castelo, muitos diziam que fora naquele jardim que a Rainha conhecera o homem que amara e o que lhe causa sua morte, outros dizem que a Rainha, juntamente com o Rei de Kon da época fecharam um acordo para evitar uma guerra e para que ela pudesse fugir com o homem que amava, mas ninguém sabia a verdadeira história da Rainha e seu amor, por que a Pérola Branca que tinha as lembranças dos dois se perdera a muito tempo, quando ainda os Deuses caminhavam pelo Mundo Imortal.

— Conseguiu? — Uma voz feminina diz.

Derya com seus olhos perdidos no nada apenas acena para a pessoa que estava parada na sua frente.

— Esse jardim tem tanta história, sabia, Rainha Derya? Foi aqui que a Rainha fora assassinada, é o que dizem, mas nesse mesmo jardim vamos fazer história também, quer dizer, nenhuma de nós duas, já que não podemos revelar quem somos! — A mulher diz com um sorriso nos lábios fazendo com que Derya apenas acenasse com a cabeça.

— Você sabia que a Antiga Rainha do Reino de Umlilo se apaixonou por um dos homens da Reino de Kon? — A Mulher pergunta para Derya.

— Não! — Derya responde enquanto com os olhos perdidos no nada apenas via o branco da neve.

— Pois é, a Rainha agora tem sua chance de ser feliz! — A Mulher diz enquanto com a mão erguida faz com que pequenos flocos de neve deslizem pelo chão.

A mulher apenas erguera a mão a deslizando no ar em frente à Derya, que pisca os olhos e sente seu corpo sem força, a fazendo cair na neve e a mulher a sua frente apenas sorri pelo fato de que a Rainha Derya nunca se lembrará de que fizera parte da história como era o que ela tanto queria.

Ela sabia que o maior sonho de Derya não era conquistar Abhya ou Yin Chang, mas sim fazer parte da história e ela iria fazer, mas não naquele momento, mas sim em outro no qual nem ela poderia escapar.

E com um sorriso nos lábios a mulher se desfizera em pequenos vagalumes enquanto Derya abria os olhos e apenas via o branco da neve contra seu rosto e sua mente em branco, ela só conseguia ver a brancura da neve e mais nada, Derya suspira tentando forçar sua mente a pensar, mas nada lhe vem à mente.

Ela não sabia o que estava fazendo ali e nem como chegara ali, nem o que tinha feito há alguns minutos atrás, e como diabos ela fora parar ali?

Já que aquele jardim é um dos locais ao qual todos evitam devido aos rumores, rumores esses que causavam medo em Derya, a fazendo ficar o mais longe possível daquele jardim pálido como a neve e sem vida.

Derya se vira sem ver que na sua frente pequenos vagalumes deslizavam no ar em direção as nuvens e para bem longe daquela Rainha, que não se lembraria de nada

do que acontecera, nem se forçasse a mente a pensar.