Quando Li Wei abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi um teto de concreto rachado, com fios expostos pendurados como cobras mortas. A luz fraca de uma lâmpada fluorescente piscante iluminava o ambiente, revelando paredes sujas e marcadas por grafites que ele não conseguia decifrar. Ele estava deitado em uma cama de metal enferrujada, com um colchão fino e desgastado que cheirava a mofo e desinfetante barato."Onde estou?" Li Wei murmurou, sentindo uma dor latejante em sua têmpora. Ele tentou se sentar, mas uma tontura súbita o forçou a deitar novamente. Suas mãos tremeram ao tocar o rosto, e ele percebeu que estava suando frio.Antes que ele pudesse processar o que estava acontecendo, a porta de metal enferrujada ao fundo da sala se abriu com um rangido agudo. Uma figura entrou, vestindo um uniforme militar verde-oliva, com botas pesadas que ecoavam no chão de concreto. O que mais chamou a atenção de Li Wei foi o rosto da pessoa: uma mulher de cabelos curtos e prateados, com olhos azuis gelados que pareciam perfurá-lo."Finalmente acordou," ela disse em um tom neutro, quase robótico. "Pensei que você nunca voltaria."Li Wei franziu a testa, tentando entender. "Quem é você? Onde estou?"A mulher cruzou os braços e inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando um animal de laboratório. "Você não se lembra de nada, não é? Típico.""Lembrar do quê?" Li Wei perguntou, sua voz falhando um pouco. Ele olhou ao redor novamente, tentando encontrar algo familiar, mas tudo parecia estranho e hostil. "Isso é algum tipo de brincadeira? Meus amigos estão por aí?"A mulher de cabelos prateados soltou um riso curto e sem humor. "Amigos? Aqui não há lugar para amigos, apenas sobreviventes. E você, Li Wei, é um dos poucos que ainda respira."Li Wei sentiu um frio percorrer sua espinha. "Como você sabe meu nome?""Porque eu fui designada para cuidar de você," ela respondeu, aproximando-se da cama. "Meu nome é Elena. E você, infelizmente, é parte de um experimento que deu errado.""Experimento?" Li Wei repetiu, sua voz quase um sussurro. "O que você está falando?"Elena olhou para ele por um momento, como se estivesse decidindo o quanto revelar. "Você está em uma instalação subterrânea, Li Wei. Um lugar onde coisas que não deveriam existir foram criadas. E você, querendo ou não, faz parte disso agora."Li Wei sentiu seu estômago embrulhar. "Isso não faz sentido. Eu estava... eu estava em casa. Era véspera de Ano Novo, eu estava bebendo com meus amigos..."Elena interrompeu-o com um gesto brusco da mão. "Isso foi antes. Agora, você está aqui. E se quiser sair vivo, vai precisar seguir minhas instruções."Antes que Li Wei pudesse responder, um som estrondoso ecoou pelo corredor, fazendo as paredes tremerem. Ele sentiu o chão vibrar sob seus pés, e a lâmpada acima dele balançou, projetando sombras grotescas nas paredes."O que foi isso?" Li Wei perguntou, seus olhos arregalados de medo.Elena olhou para a porta, seu rosto impassível. "Eles estão vindo. Temos que ir.""Quem está vindo?" Li Wei insistiu, mas Elena já estava se movendo em direção à porta, sem olhar para trás."Se você quer respostas, vai ter que acompanhar," ela disse, sacando uma pistola de coldre na cintura. "Mas aviso: se você ficar para trás, não vou voltar para buscá-lo."Li Wei hesitou por um momento, mas o som de passos pesados ecoando no corredor o fez tomar uma decisão. Ele se levantou da cama, sentindo suas pernas vacilantes, e seguiu Elena pela porta.O corredor era estreito e mal iluminado, com paredes de concreto nuas e tubulações expostas. O ar estava pesado, com um cheiro metálico que fazia Li Wei sentir náuseas. Ele tentou manter o ritmo de Elena, mas suas pernas ainda estavam fracas, e ele tropeçou várias vezes."Onde estamos indo?" ele perguntou, ofegante."Para um lugar mais seguro," Elena respondeu, sem diminuir o passo. "Mas não se engane: seguro é uma palavra relativa aqui."Eles viraram uma esquina, e Li Wei quase colidiu com Elena quando ela parou abruptamente. À frente, uma porta de metal estava aberta, revelando uma sala cheia de equipamentos que ele não reconhecia. Monitores piscavam com gráficos e números que não faziam sentido, e máquinas zumbiam baixinho, como se estivessem vivas."O que é isso?" Li Wei perguntou, olhando ao redor com uma mistura de fascínio e medo."O que sobrou do experimento," Elena respondeu, caminhando até um dos consoles e digitando algo rapidamente. "E, se tivermos sorte, talvez possamos usá-lo para escapar."Li Wei estava prestes a perguntar o que ela queria dizer quando outro estrondo sacudiu a instalação, mais forte desta vez. Ele ouviu gritos ao longe, seguidos por tiros."Eles estão aqui," Elena disse, sua voz tensa. "Temos que nos apressar.""Quem está aqui?" Li Wei insistiu, sua voz subindo de tom. "Por favor, me diga o que está acontecendo!"Elena olhou para ele, e pela primeira vez, ele viu algo além de frieza em seus olhos: uma sombra de medo. "Você realmente não se lembra, não é? Do que eles fizeram com você?"Li Wei balançou a cabeça, sentindo uma onda de pânico subir em seu peito. "Não... não me lembro de nada."Elena suspirou, como se estivesse lutando consigo mesma. "Então vou te dizer: você foi parte de um experimento para criar soldados superiores. Mas algo deu errado. Muito errado. E agora, aqueles que nos colocaram aqui estão tentando limpar a bagunça."Li Wei sentiu suas pernas amolecerem. "Soldados superiores? Isso é loucura...""Loucura ou não, é a nossa realidade agora," Elena disse, pegando um dispositivo pequeno e metálico de uma das mesas. "E se não quisermos ser apagados junto com o resto, temos que sair daqui."Outro estrondo, mais perto desta vez. Li Wei ouviu vozes gritando em uma língua que ele não reconhecia, mas o tom era inconfundivelmente hostil."Vamos!" Elena ordenou, empurrando-o em direção a uma porta no fundo da sala. "Não temos tempo para mais perguntas."Li Wei seguiu, seu coração batendo forte no peito. Ele não sabia onde estava, nem por que estava lá, mas uma coisa era certa: ele não queria descobrir o que aconteceria se ficasse para trás.Enquanto corriam pelo corredor, Li Wei mal podia acreditar no que estava acontecendo. Tudo parecia um pesadelo, mas o cheiro de mofo, o som dos tiros ao longe e a dor em suas têmporas eram muito reais."Elena," ele chamou, ofegante. "O que vai acontecer com a gente?"Ela olhou para ele por um breve momento, e ele viu algo em seus olhos que o deixou ainda mais assustado: dúvida."Se tivermos sorte," ela disse, "vamos sobreviver. Mas não conte com isso."E então, eles viraram outra esquina, e Li Wei viu algo que o fez parar de respirar.À frente, no final do corredor, havia uma criatura. Era grande, com membros longos e desproporcionais, e uma pele que parecia brilhar sob a luz fraca. Seus olhos eram como fendas, e quando se virou para eles, Li Wei sentiu um medo primitivo tomar conta de seu corpo."O que... o que é isso?" ele sussurrou, sua voz tremendo.Elena levantou a pistola, mirando na criatura. "Isso," ela disse, "é o que deu errado."E então, ela apertou o gatilho, e o som do tiro ecoou pelo corredor, marcando o início de uma fuga que Li Wei nunca poderia ter imaginado.