Parte 1 – A Operação
A cidade de Hipton nunca dormia, mas sua insônia não era saudável. Era febril. Ruas molhadas refletiam néons piscando, um caos de fumaça, corrupção e medo. Nos becos, traficantes sussurravam acordos sujos; nas esquinas, a polícia passava sem ver — ou apenas fingia não ver. Aqui, a justiça não era cega; ela simplesmente escolhia quando fechar os olhos.
Naquela noite, Ryan Dawson não fechava os seus.
Ele estava dentro de uma van estacionada em um beco sem saída, observando o relógio. Faltavam três minutos.
Do outro lado do vidro embaçado pela chuva, o armazém 24B se erguia como um monstro de metal enferrujado, suas luzes piscando como olhos semicerrados. Lá dentro, criminosos bebiam, jogavam cartas e vendiam a alma de Hipton pedaço por pedaço.
No banco do motorista, Ethan McAllister, chefe de polícia, mexia no rádio, procurando uma frequência limpa.
— Tá nervoso? — perguntou, sem olhar para Ryan.
— Sempre fico antes de uma operação dessas. — Ryan ajustou o coldre no peito, sentindo o peso da arma contra as costelas. — Grotto não é qualquer um.
Alberto Grotto. Um nome que fazia até os criminosos mais calejados hesitarem. Dono de redes de tráfico, esquemas de lavagem de dinheiro e um império sustentado sobre cadáveres, ele era a cabeça da serpente que sufocava Hipton. Mas hoje, essa serpente perderia a cabeça.
A operação era simples no papel: invadir o armazém, capturar alguns de seus capangas e conseguir provas que colocassem Grotto atrás das grades. Mas Ryan sabia que nada em Hipton era simples.
Dois minutos.
O rádio chiou.
— Equipe Um, posicionada. — A voz do agente Coleman veio abafada pela interferência.
— Equipe Dois, pronta para o sinal. — respondeu outro agente.
Ethan puxou a máscara tática sobre o rosto e segurou firme sua arma.
— Vamos nessa.
Parte 2 – Ataque ao Armazém
O armazém era um colosso de metal enferrujado, cercado por um pátio de contêineres empilhados. Luzes fracas piscavam sobre os portões, iluminando a chuva que batia no asfalto rachado. Ryan e Ethan se moviam como sombras, suas botas pisando firme, mas silenciosamente. A equipe tática avançava pelos flancos.
Ethan ergueu a mão, sinalizando a abordagem furtiva. O primeiro agente da equipe tática avançou e, em um movimento rápido, sufocou um dos guardas com uma gravata, derrubando-o sem alarde.
Então, algo deu errado.
Um brutamontes de jaqueta de couro olhou para trás no exato momento em que Ethan tentava se aproximar.
— POLÍCIA! — gritou, puxando uma pistola.
O ar se encheu de tiros. Criminosos puxavam suas armas e se abrigavam atrás de caixas. Ethan se jogou atrás de um contêiner, sentindo estilhaços de madeira voarem quando as balas atingiram uma pilha de caixotes próximos.
Ele puxou a arma e espiou pela lateral. Um sujeito magricela, de boné virado para trás, tentava fugir por uma porta lateral.
— Não deixa ninguém sair! — Ethan gritou pelo rádio.
Ryan correu para interceptá-lo e o derrubou com um chute na perna, desarmando-o em um movimento rápido.
A equipe tática abriu fogo de cobertura enquanto Ryan avançava para o centro do armazém, chutando uma mesa e derrubando dois criminosos.
O combate durou pouco mais de três minutos, mas na adrenalina do momento, pareceu uma eternidade. Quando o último tiro foi disparado e o eco das balas se dissipou, o chão estava coberto de corpos — alguns vivos, outros não.
Ryan se aproximou de uma mesa revirada. No meio do caos, ali estava o prêmio: um notebook aberto exibindo transações financeiras e uma maleta cheia de documentos com registros de movimentações ilegais. Provas irrefutáveis.
Ele pegou o rádio.
— Temos o suficiente. Grotto tá ferrado.
Parte 3 – Queda de um Império
A prisão de Alberto Grotto foi um espetáculo.
A polícia cercou o restaurante de luxo La Matriarca, onde o chefão do crime jantava com a família. Quando Ethan e Ryan entraram no salão principal, Grotto sequer tentou fugir. Apenas os olhou com desprezo enquanto os policiais o algemavam.
— Vocês acham que isso acaba aqui? — Ele sorriu de canto enquanto era empurrado para fora. — Prender um homem não muda nada. A cidade precisa de mim.
Ryan não respondeu. Apenas o observou ser levado. Mas algo no olhar de Grotto o incomodou: uma certeza silenciosa de que ele ainda tinha cartas na manga.
Ele ignorou o pressentimento.
Naquela noite, Hipton viu um de seus maiores criminosos ser colocado atrás das grades. Foi uma vitória para a justiça.
Mas vitórias em Hipton nunca duravam.
Parte 4 – Momento Fatal
Duas horas depois da prisão de Grotto, Ethan e Ryan estavam no estacionamento da delegacia. Ethan encostou-se ao capô do carro e abriu uma garrafa de uísque.
— Isso merece um brinde. — Ele sorriu, estendendo a garrafa para Ryan.
— A gente só ganhou uma batalha, Ethan. — Ryan pegou a garrafa, mas não bebeu. — A guerra ainda tá longe de acabar.
— Claro, sempre o certinho. — Ethan riu e deu um tapa amigável no ombro dele. — Mas me deixa curtir esse momento, pelo menos hoje.
Ele deu meia-volta, puxou as chaves do bolso e destravou o carro.
Por um instante, tudo ficou silencioso.
Então, o mundo explodiu.
A explosão veio de dentro do carro.
Uma bola de fogo engoliu Ethan antes que ele pudesse reagir. O impacto jogou Ryan para trás, o ar fugindo de seus pulmões enquanto ele batia com força contra outro veículo estacionado. Seu corpo latejava, os ouvidos zuniam.
Ele piscou várias vezes, tentando entender o que havia acontecido.
O carro de Ethan não existia mais. Apenas uma carcaça retorcida e em chamas.
— Ethan! — Ryan tentou se levantar, mas suas pernas falharam.
Ele se arrastou pelo chão, ignorando a dor. Mas já sabia a verdade. Não havia nada a ser feito. O fogo consumia tudo.
Ethan estava morto.
A visão se turvou. Ryan não sabia se era por causa da fumaça ou das lágrimas que caíam sem que ele percebesse. Ele cerrou os dentes, o coração batendo descontrolado, um turbilhão de dor e ódio crescendo dentro dele.
Então, sua mente se cristalizou em um único pensamento:
Alguém pagaria por isso.
Ryan não descansaria até encontrar os responsáveis pela morte de Ethan.