Daniel respirou fundo, os dedos apertando a lateral dos óculos VR FayConnection como se, de alguma forma, aquilo pudesse ancorá-lo à realidade. O silêncio antes do caos durou menos de um segundo. Assim que o dispositivo ativou, o mundo ao seu redor implodiu. Sua sala não desapareceu de maneira suave ou gradualEla foi engolida, rasgada para longe, como se um buraco negro a tivesse consumido em uma única golfada voraz. As paredes, os móveis, até o cheiro familiar de poeira e café velho foram arrancados da existência, substituídos por um turbilhão de luz e sombras que giravam em torno dele com uma fúria impossível. Daniel tentou gritar, mas não tinha certeza se ainda possuía uma boca. Seu corpo se dissolveu.Ou, pelo menos, foi essa a sensação horripilante que o atingiu com brutalidade. Ele não estava apenas caindo; ele estava sendo desmontado, peça por peça, átomo por átomo, pensamento por pensamento. Havia uma dor fantasma, um arrepio profundo que percorreu sua espinha mesmo quando ele não sabia mais se tinha uma espinha. Era como ser sugado para dentro do vácuo, como se cada parte de si estivesse sendo separada e reorganizada por uma força incompreensível. O tempo deixou de existir. Cada milissegundo se estendia como uma eternidade, e ainda assim passava rápido demais para ser compreendido. Ele não conseguia sentir seus braços, suas pernas, não conseguia sequer ter certeza de que ainda era Daniel. Havia apenas fragmentos dispersos de sua consciência, pulsando e vibrando em meio ao colapso absoluto da realidade ao seu redor. Então, de repente, um som, um eco profundo, reverberante, como o estalo de um trovão dentro de um abismo sem fim. As luzes se distorceram, contraíram-se ao redor dele, esmagando-o em um ponto minúsculo, como se o universo estivesse tentando costurá-lo de volta à existência.