A estrada estava deserta. O vento frio cortava a pele de Lain enquanto ele caminhava para casa, as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta surrada. O céu nublado escondia as estrelas, e os postes de luz piscavam de maneira irregular, como se a própria noite tentasse apagar qualquer vestígio de civilização.
Ele suspirou. Não gostava de andar sozinho tão tarde, mas o trabalho de meio período no café da cidade não lhe dava escolha.
Foi então que sentiu.
Um arrepio subiu por sua espinha, uma sensação estranha de que algo estava errado. O silêncio ao seu redor parecia denso, pesado demais.
Um estalo.
Lain se virou, mas não viu nada. Apenas o vento balançando as árvores ao lado da estrada.
— Só minha imaginação… — murmurou para si mesmo.
Deu mais um passo.
E foi quando a dor veio.
Algo cortante perfurou seu pescoço. O choque o paralisou, e antes que pudesse reagir, um peso esmagador o lançou ao chão. Seu corpo tremia, e sua visão escureceu por um instante. Ele tentou gritar, mas uma mão fria tapou sua boca.
A pressão no pescoço aumentou, e então… o calor se esvaiu. Algo estava drenando sua vida.
Lain sentiu o coração desacelerar.
O mundo parecia distante, sua consciência escapando como areia entre os dedos. Mas, no momento em que a morte parecia inevitável, a pressão parou.
Um vulto se ergueu diante dele.
Olhos vermelhos brilhavam na escuridão. Um homem alto, de longos cabelos prateados, o observava com um olhar indecifrável. Seu rosto era pálido, e uma cicatriz descia de sua sobrancelha até o maxilar.
— Você… sobreviveu — disse o homem, sua voz rouca e carregada de surpresa.
Lain mal conseguia respirar. Seu corpo estava fraco, mas algo nele gritava que aquele homem não era comum.
— Você não deveria estar vivo… mas talvez isso seja um sinal do destino.
O homem se ajoelhou ao lado de Lain e encostou a mão fria em seu peito. Uma onda de poder percorreu seu corpo, e sua visão clareou o suficiente para perceber que algo estava errado com o estranho.
Ele estava morrendo.
Seu corpo tremia, e seu rosto pálido começava a perder o brilho.
— Me escute, garoto… Eu sou Ezra, o último de minha linhagem… E não posso permitir que meu legado morra comigo.
Lain tentou falar, mas sua garganta estava seca.
Ezra fechou os olhos por um momento antes de encará-lo com intensidade.
— Você foi escolhido. Meu poder agora pertence a você.
Antes que Lain pudesse entender o significado daquelas palavras, o homem afundou os dentes em seu pescoço novamente. Mas, desta vez, a dor foi diferente.
Seu sangue queimava.
Cada célula de seu corpo parecia estar se desfazendo e sendo reconstruída. Ele arquejou, sua visão ficou turva, e então, a escuridão o engoliu por completo.
E assim, naquela noite fria e solitária, Lain deixou de ser humano.