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Chapter 2 - Capítulo 2 – A Fome

O mundo girava

Lain abriu os olhos de súbito, um peso esmagador apertando seu peito. O ar ao seu redor parecia diferente, mais denso, carregado de cheiros que ele nunca havia notado antes. Cada som, por menor que fosse, vibrava em sua mente como se estivessem amplificados.

Seu corpo estava diferente.

Ele se levantou devagar, percebendo que não sentia mais frio, nem cansaço. Seus músculos estavam estranhamente leves, como se sua carne fosse feita de algo além do humano. Mas, acima de tudo, algo dentro dele queimava com intensidade.

Fome.

Não uma fome comum, mas algo primitivo, profundo. Seu estômago não roncava, mas cada fibra de seu ser clamava por algo que ele não queria admitir.

Sangue.

— Você acordou mais rápido do que eu esperava.

A voz grave e enfraquecida veio de trás dele. Lain se virou e viu Ezra, encostado em uma árvore, seu corpo ainda mais pálido do que antes. Ele parecia exausto, como se estivesse se segurando nos últimos momentos de sua existência.

— O que… aconteceu comigo? — A voz de Lain saiu mais firme do que ele esperava.

Ezra soltou um riso fraco.

— Você renasceu. Um novo corpo, uma nova existência. Bem-vindo ao que significa ser um vampiro.

A palavra bateu forte na mente de Lain. Vampiro. Ele sentiu seu coração — ou a falta dele — pesar com a realidade que agora se desenrolava diante de si.

— Isso é um pesadelo — murmurou.

— É a sua vida agora.

Lain apertou os punhos. Seu instinto gritava para negar, para correr, para buscar uma explicação racional. Mas o que havia acontecido naquela noite? A mordida, o frio, o vazio… ele não poderia negar.

— Você me transformou — acusou ele, olhando para Ezra com olhos cheios de confusão e raiva.

O vampiro milenar balançou a cabeça.

— Você acha que eu fiz isso por escolha? Eu estava morrendo, garoto. Se eu não passasse meu poder para alguém, ele desapareceria para sempre… e eu não podia deixar que isso acontecesse.

Lain deu um passo para trás, sentindo uma raiva crescer dentro dele.

— Então você me usou?

Ezra riu, mas a tosse que veio depois mostrou o quão frágil ele estava.

— Talvez. Mas agora você precisa lidar com isso.

Lain queria gritar, queria negar tudo. Mas então… o cheiro de algo doce invadiu seus sentidos. Ele olhou ao redor, seus olhos captando detalhes que antes eram invisíveis.

Ele sentia o cheiro de pessoas.

Na cidade, a algumas ruas dali, ele conseguia ouvir batidas de coração, o fluxo de sangue correndo em veias… e aquilo o fez estremecer.

Ele virou o rosto rapidamente.

— Eu não quero isso.

Ezra o observou por um longo momento antes de responder.

— Não importa o que você quer. Isso faz parte de você agora.

Lain respirou fundo, tentando conter o desespero que crescia dentro dele.

— Deve haver outro jeito.

— Existe. Mas nenhum deles é fácil.

Lain olhou para ele com uma expressão dura.

— Então me ensine.

Ezra suspirou, forçando-se a ficar um pouco mais ereto.

— Existem duas formas de sobreviver sem perder a sanidade. A primeira… é caçar humanos.

Lain sentiu um arrepio de nojo percorrer seu corpo.

— E a outra?

Ezra sorriu de canto.

— Encontrar sangue de outras fontes. Alguns vampiros sobrevivem com bolsas de sangue roubadas de hospitais. Outros preferem se alimentar de animais, mesmo que seja um substituto fraco. Mas… — Ele o encarou com intensidade. — Nenhum desses métodos sacia completamente um vampiro.

Lain fechou os olhos, tentando processar.

— Você quer dizer que… a fome nunca desaparece?

Ezra assentiu.

— Só é controlada. Mas nunca vai embora.

O peso daquelas palavras caiu sobre Lain. Seu peito parecia apertado, mas ele sabia que não era por falta de ar. Era a verdade esmagadora de que sua humanidade havia sido arrancada dele.

Mas ele não cederia tão fácil.

Ele ergueu o olhar para Ezra, a determinação queimando em seus olhos recém-renascidos.

— Então eu vou aprender a controlar isso.

Ezra riu, um riso rouco e cansado.

— Boa sorte, garoto. Você vai precisar.