A lua sangrenta pairava sobre o campo de batalha, testemunha silenciosa do massacre iminente.

Ryuzen Kael estava cercado. À sua frente, dezenas de guerreiros o fitavam com olhos repletos de ódio e medo. Atrás dele, um exército sem fim, uma onda inescapável de lâminas e lanças apontadas para seu coração. O vento carregava o cheiro acre de sangue e cinzas, um lembrete cruel de que aquele era o fim.

Seu corpo estava coberto de ferimentos. Sangue escorria de um corte profundo em sua testa, manchando o cabo de sua espada. Mas mesmo à beira da morte, seus olhos permaneciam inabaláveis, frios como o aço que empunhava.

Um sorriso irônico se formou em seus lábios.

"Então, é assim que termina?"

Entre os inimigos, um homem trajando uma armadura ornamentada deu um passo à frente. Seu rosto estava oculto sob um elmo dourado, mas sua voz transbordava arrogância.

"Você deveria ter aceitado sua posição, Kael. O mundo não precisa de alguém como você."

Ryuzen riu. Uma risada rouca, cansada, mas carregada de um desprezo absoluto.

"O mundo nunca precisou de mim... mas eu nunca lutei por ele."

Ele ergueu sua lâmina. O ar ao redor estremeceu. Sua espada brilhou, exalando uma aura cortante, afiada o suficiente para partir até o próprio destino.

Os soldados hesitaram. Eles sabiam.

Eles sabiam que, mesmo sozinho, mesmo à beira da morte, aquele homem ainda poderia cortar qualquer coisa.

"Matem-no!"

O grito do general foi a fagulha que incendiou o massacre.

Os guerreiros avançaram, gritos de guerra ecoando pelo campo.

Ryuzen fechou os olhos por um breve instante.

Respire.

Seus músculos se enrijeceram.

Sinta a lâmina. O fluxo do vento. O ritmo das batidas do coração.

Ele abriu os olhos. E então, moveu-se.

Sua espada dançou no ar. Cortes invisíveis preencheram o campo de batalha. O chão se partiu. O vento uivou. Homens tombaram sem sequer perceberem que estavam mortos.

Mas ele era apenas um contra milhares.

A lâmina inimiga perfurou seu peito.

Seu corpo vacilou.

Outro golpe.

E mais outro.

Sua visão ficou turva. Seu sangue manchou o solo.

Então... esse é o fim?

Seus joelhos tocaram o chão.

Ele olhou para o céu.

"Se houver outra vida… minha lâmina ainda cortará este destino cruel?"

A escuridão o envolveu.

E tudo se apagou.

…Mas então, ele abriu os olhos novamente.

O cheiro de sangue e ferro havia desaparecido.

A sensação do chão frio e enlameado foi substituída por uma pedra úmida e irregular. Ryuzen piscou algumas vezes, tentando entender o que estava acontecendo.

Ele estava dentro de algo que parecia uma caverna. No fundo, uma fenda flutuava no ar, pulsando como se estivesse viva.

Atrás dele, o silêncio absoluto. À sua frente, a escuridão.

E então, uma voz ressoou dentro de sua mente.

Aviso: Você foi abençoado pelo Deus da Criação.

Ryuzen congelou.

O que foi isso?

Ele levou uma das mãos ao peito. O ferimento mortal… não estava mais lá.

Aviso: Partículas dimensionais foram adicionadas ao seu corpo para suportar a passagem pela fenda.

Seus olhos se estreitaram.

"Quem diabos está falando?!"

Nenhuma resposta. Apenas o silêncio, denso e sufocante.

Ele respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos.

Eu morri… disso eu tenho certeza.

Lembrou-se da lâmina perfurando seu corpo, do calor do sangue escorrendo, do peso de sua espada escorregando de suas mãos.

E, no entanto, ali estava ele. Vivo.

Isso é um sonho? Não... parece real demais para ser um sonho.

De repente, a voz ressoou novamente.

Aviso: Saia pela fenda se quiser viver.

Ryuzen olhou para a fissura flutuante.

Ela pulsava suavemente, como se estivesse esperando por ele.

Seguir em frente… ou morrer de verdade?

Seu corpo ainda sentia o peso da batalha, o cansaço de sua última luta. Mas algo dentro dele dizia que aquela era uma nova chance.

E ele nunca foi do tipo que desperdiça uma segunda oportunidade.

Com um último olhar para a caverna escura, ele avançou.

Para onde aquele caminho o levaria? Ele ainda não sabia.

Mas uma coisa era certa.

Ryuzen Kael não estava disposto a desistir de sua vida tão cedo.