O tempo passou, e Arthur não conheceu descanso.
Desde o dia em que decidiu seguir o caminho dos caçadores, sua rotina tornou-se brutal. Lorenzo não poupava esforços para levá-lo ao limite, testando não apenas sua força física, mas também sua mente. A dor se tornou sua companheira. O frio, o calor, a exaustão—tudo fazia parte do processo.
Mas ele não desistiu.
O garoto que antes mal conseguia erguer uma lâmina agora se movia como um verdadeiro guerreiro. Sua pele ganhou cicatrizes, seus músculos endureceram, e sua determinação se afiou como uma lâmina.
Porém, Lorenzo nunca pegou leve.
Ele sabia que um caçador não sobrevivia apenas com força bruta. Precisava de resistência, estratégia e, acima de tudo, de um espírito inquebrável.
Os Testes de Resistência
— Corra.
A voz de Lorenzo era firme, sem espaço para questionamentos.
Arthur arfava, o peito queimando enquanto corria pela floresta densa. O suor escorria pelo seu rosto, e sua respiração vinha em ofegos irregulares. As folhas e os galhos se misturavam em sua visão, e cada passo parecia um golpe contra suas pernas fatigadas.
— Você está fugindo ou caçando?! — a voz de Lorenzo ecoou atrás dele. — Um caçador que fica para trás vira presa!
Arthur cerrou os dentes. Ele não era uma presa.
A primeira vez que treinou resistência, desmaiou depois de uma hora de corrida. Quando acordou, Lorenzo não demonstrou compaixão.
— De novo.
E assim começou.
No início, Arthur pensava que era impossível. Seus pulmões queimavam, seus músculos doíam, e a fadiga tentava dominá-lo. Mas algo mudou dentro dele. Com o tempo, aprendeu a controlar a respiração, economizar energia e ignorar a dor.
Agora, aos treze anos, conseguia correr por horas sem parar.
Mas Lorenzo não se impressionava facilmente.
Uma manhã, ele jogou um saco pesado nas costas de Arthur.
— Hoje você vai correr assim.
Arthur tentou erguer o saco e quase caiu para trás.
— O que tem aqui? Pedra?
— Pedra, ferro… algumas coisas que vão te ajudar a ficar mais forte — Lorenzo respondeu, sorrindo.
Arthur resmungou, mas não questionou.
Os primeiros passos foram torturantes. O peso parecia dobrar a gravidade sobre seu corpo. Seus pés afundavam no chão, e sua respiração tornou-se ofegante em poucos minutos. Mas ele não parou.
A cada treino, sua resistência crescia. Até que, um dia, Lorenzo assentiu satisfeito.
— Agora sim. Está começando a parecer um caçador.
O Desafio da Sobrevivência
Na noite mais fria do inverno, Lorenzo levou Arthur até o coração da floresta. A lua mal iluminava o caminho, e o vento cortante fazia seus ossos estremecerem.
— Aqui está seu desafio.
Lorenzo jogou uma adaga aos pés dele.
— Sobreviva até o amanhecer.
Arthur olhou para a escuridão ao seu redor. Nenhum abrigo, nenhuma comida. Apenas ele e as sombras.
Ele não protestou. Apenas pegou a adaga e observou enquanto Lorenzo desaparecia na escuridão.
A noite parecia interminável.
O farfalhar das folhas, o estalar de galhos secos… e o mais preocupante, os olhos brilhantes entre as árvores.
Predadores estavam à espreita.
Arthur não poderia simplesmente se esconder. Precisava de calor e segurança.
Ele reuniu gravetos e tentou fazer fogo, mas suas mãos tremiam de frio. Depois de várias tentativas frustradas, uma pequena chama finalmente surgiu.
O fogo trouxe conforto, mas também chamou atenção.
Arthur ouviu o rosnado antes de ver os olhos vermelhos brilhando na escuridão.
Um lobo.
Ele estava magro, faminto.
Arthur segurou a adaga com firmeza.
O lobo avançou.
Arthur esquivou, mas o animal era rápido. Sentiu a dor de um corte profundo no ombro ao rolar pelo chão.
O lobo rosnou e preparou-se para outro ataque.
Arthur respirou fundo. Se não reagisse agora, estaria morto.
Quando o lobo saltou, Arthur girou o corpo e cravou a lâmina no flanco do animal.
O lobo caiu, soltando um uivo fraco antes de se debater e, por fim, silenciar.
O garoto ficou ali por um momento, sentindo o sangue quente escorrendo de seu ombro e o frio da manhã cortando sua pele.
Ele sobreviveu.
Quando Lorenzo voltou, encontrou Arthur sentado ao lado do corpo do lobo.
— Bom trabalho. Mas da próxima vez, evite se machucar.
Arthur apenas sorriu, cansado.
Primeira Luta Contra Humanos
Aos treze anos, Arthur já acreditava estar preparado. Mas Lorenzo sempre tinha um novo desafio.
— Sua próxima lição é contra um inimigo que pensa.
Eles estavam em uma vila quando um grupo de bandidos apareceu.
— Vá — Lorenzo cruzou os braços. — Quero ver como você lida com isso.
Arthur hesitou. Estes não eram feras ou animais selvagens. Eram homens.
Os bandidos riam.
— O que é isso? Um garoto brincando de guerreiro? — zombou um deles.
Arthur não respondeu. Apenas se moveu.
O primeiro golpe veio rápido. Arthur desviou, girou e desferiu um chute na lateral do joelho do inimigo, que caiu gritando.
O segundo tentou agarrá-lo, mas Arthur mergulhou no chão e rolou para trás dele, desferindo um golpe na perna.
O terceiro recuou, surpreso. Arthur avançou. Com um movimento preciso, desarmou o bandido e o derrubou.
Os três estavam no chão em menos de um minuto.
Lorenzo sorriu.
— Agora sim.
O Último Teste de Lorenzo
Aos quinze anos, Arthur já não era mais um garoto frágil. Seus olhos tinham a determinação de um verdadeiro caçador.
— Há apenas mais um teste — disse Lorenzo.
Arthur esperou.
Foi então que Lorenzo atacou.
Sem aviso. Sem restrições.
Arthur defendeu o primeiro golpe por instinto. A lâmina passou a centímetros de seu pescoço. Lorenzo não estava pegando leve.
O duelo foi brutal. Arthur esquivava, atacava, mas Lorenzo sempre parecia um passo à frente.
Até que, pela primeira vez, Arthur o surpreendeu.
Ele fingiu um ataque pela esquerda, mas girou no último segundo e acertou Lorenzo no peito com o cabo da espada.
Lorenzo recuou.
Silêncio.
Então, um sorriso apareceu no rosto dele.
— Você passou.
Arthur caiu de joelhos, exausto. Mas sorrindo.
Ele venceu.