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Chapter 5 - Capítulo 5 - Justiça

Dentro do caixote de madeira, a mulher de olhos prateados segurava a cruz-espada. Enchendo os pulmões de ar, ela declarou com firmeza:— Se não me soltarem em dez segundos, eu faço isso.Do lado de fora, Lyra e Ajax trocaram um olhar significativo. Ambos adotaram posturas de combate: braços à frente do corpo, joelhos flexionados, queixos abaixados e olhares atentos. A tensão pairava no ar enquanto o tempo da contagem se esgotava.Quando os segundos terminaram, a figura da mulher emergiu do caixote como uma sombra silenciosa, espreitando o mundo exterior. Seus olhos de prata analisaram rapidamente os dois oponentes. Então, ela assumiu uma postura similar à deles, mas com diferenças sutis: a mão esquerda ligeiramente à frente da direita, dedos preparados para agarrar qualquer ataque iminente, ombros relaxados, pronta para agir.Por um momento que pareceu eterno, os três ficaram em um impasse. Ninguém queria dar o primeiro passo, ninguém queria revelar suas cartas.Lyra não conseguiu se conter por muito tempo e foi a primeira a iniciar o confronto. Começou com um chute alto, executado com a perna esquerda, mas a figura de preto evitou o golpe ao se jogar para trás. Ajax entrou na luta para apoiar Lyra na recaptura do alvo, projetando seu corpo para frente em uma tentativa de agarramento. No entanto, foi recebido com uma joelhada que fez sangue escorrer de seu nariz. O comentário da figura misteriosa quase o incomodou:— Vocês são muito amadores no combate corpo a corpo. Acho que suas habilidades lhes trouxeram conforto demais.Diferente de Ajax, Lyra deixou-se afetar. Pela primeira vez, alguém estava zombando de sua capacidade. Determinada, ela se preparou para lançar uma onda de gelo. Ao perceber os movimentos da maga, a mulher — que antes era Deimos — investiu rapidamente. Ajax, desta vez, conseguiu agarrar sua perna, acreditando que poderia detê-la até que o ataque de Lyra a alcançasse. Mas ele não contava com a força impressionante da adversária. Em um movimento explosivo, a mulher o chutou para longe, embora o ataque de gelo de Lyra já estivesse formado.Diversos espinhos de gelo voaram em direção à mulher, que bloqueou os projéteis com o braço direito. O impacto deixou marcas claras: queimaduras criogênicas se espalharam pela pele congelada. Por um momento, seus olhos se arregalaram e as pupilas assumiram um formato de fenda. Lyra aproveitou a brecha para partir para o ataque, conectando socos no rosto, nas costelas e no plexo solar da adversária. A dor e o estado do braço incapacitado permitiram que os golpes de Lyra fossem eficazes, fazendo com que a oponente cuspisse sangue.Lyra esboçou um sorriso, mas este logo se desfez ao presenciar algo que a fez estremecer. A jovem de olhar furioso, ignorando completamente a dor, segurou seu braço ferido e, com um movimento brutal, arrancou-o de forma grotesca. O som seco do rompimento fez Lyra recuar um passo, incrédula com a insanidade daquela cena.Porém, o que deveria ser um espetáculo sangrento tomou um rumo ainda mais perturbador. Em vez de sangue, um líquido negro e viscoso escorreu da ferida, pulsando como se tivesse vida própria. A garota desviou o olhar por um instante, os lábios se comprimindo em uma linha tensa, enquanto suas mãos vacilaram brevemente antes de relaxarem ao lado do corpo. Ainda assim, permaneceu imóvel, permitindo que o fluido negro continuasse a jorrar.O líquido escuro cessou abruptamente, e no lugar onde antes havia um braço mutilado, um novo membro começou a se formar, esculpido em um instante de puro caos. Quando o processo terminou, o braço recém regenerado ergueu-se até a altura da sobrancelha, punho cerrado em desafio. O gesto, carregado de intenção, foi seguido por uma declaração cortante:— Eu lhes dei cortesia o bastante.De repente, as mudanças no corpo da garota se tornaram ainda mais visíveis. Manoplas feitas de um metal escuro envolveram suas mãos, o material reluzindo com uma aura ameaçadora. Extremidades afiadas como lâminas surgiram dos dedos e punhos, enquanto padrões intrincados pulsavam em tons de verde, ocasionalmente atravessados por um brilho roxo quase etéreo. Em seus pés, botas pontiagudas complementavam a transformação, exalando a mesma energia sinistra.Lyra sentiu o peso da realidade desabar sobre ela. Aquilo não era mais um confronto qualquer, um mero imprevisto. A batalha havia escalado para algo muito maior — um duelo de vida ou morte.Antes que a situação se agravasse ainda mais, Ajax surgiu de forma repentina, interrompendo o momento com um gesto claro. Uma de suas mãos estava esticada na vertical, enquanto a outra repousava na horizontal, formando um "T" no ar."Tempo. Nos rendemos. Acabou." Sua voz era firme, mas carregava um tom descontraído, típico dele.Lyra, no entanto, não conseguiu esconder sua frustração. "O que você está dizendo? Temos que levar ele... ela... isso com a gente!"Ajax suspirou, o olhar cansado refletindo a tensão que parecia se acumular em cada segundo. "Você acha que conseguimos levar isso com a gente sem termos que matar? Quero dizer, ela cresceu um braço novo. E essas manoplas..." Ele indicou com um leve movimento de cabeça. "São diferentes das minhas. Talvez seja porque nossos estilos de luta têm algo em comum, mas dá pra ver de longe: aquele metal está vivo. Faz parte dela."Ele fez uma pausa, como se escolhesse as palavras com cuidado, ou talvez apenas estivesse farto da situação. "Olha, se você quer morrer lutando, é com você. Eu, por outro lado, aceito minha derrota."Lyra hesitou por um instante. Ajax não era a mente mais brilhante que ela conhecia, mas era alguém que respeitava os próprios limites. Se ele admitiu a derrota, era porque realmente não conseguia se imaginar vencendo a criatura à sua frente. O silêncio que se seguiu durou alguns segundos, embora tenha parecido uma eternidade, até ser quebrado pela voz da figura responsável por toda a tensão que pairava no ar."Para onde planejam me levar e por quê?" disse ela, num tom severo, como o de um parente mais velho repreendendo uma criança.Dessa vez, foi Ajax quem tomou a dianteira da situação e respondeu:

"Queremos levá-la para Alt Zufluchts, o lugar onde vivemos. Lá aprimoramos nossas habilidades, desenvolvemos novas ciências e buscamos compreender o desconhecido. O objetivo... bom, nosso objetivo seria entender mais sobre a sua natureza. Já ouvimos algumas histórias: de um garoto fantasma que viveu por tempo demais, de um bárbaro com olhar de sangue e de uma mulher espectral. Como deve ter percebido, somos magos. É da nossa natureza destruir mitos e estabelecer fatos."

"Entendi. Vocês nos veem como objetos de estudo... Certo, vou com vocês até esse ninho de ratos. Mas, se eu não gostar do que encontrar lá, corto o mal pela raiz."Ajax parecia mais relaxado agora, e até esboçava um sorriso modesto no rosto.

"Viu só, Lyra? Problema resolvido."