Chapter 2 - Mentiroso?

Desde que me entendo por gente, eu vivo nessa torre. Sei coisas sobre ela, mesmo que ninguém nunca tenha me falado, como se tivessem plantado informações na minha mente. Nunca conheci ninguém e nunca conversei com alguém, mas isso não me afetava ou, pelo menos, não me afetava até então. A solidão era minha companheira constante, e eu havia me acostumado com ela.

O fato de eu ser criado para ser o maior desafio que um planeta iria enfrentar significa que eu iria lutar com alguém forte. Eu pensei que isso me divertiria, mas por vários anos ninguém veio. Eu, pelo menos, podia ver o que acontecia na torre: aventuras de várias pessoas, emoções como alegria, tristeza e medo eu presenciei, mas nunca vivenciei.

A mais ou menos uns 800 anos atrás, o próximo planeta em que a torre surgiu foi a Terra. Eu fiquei intrigado ao ver seres que pareciam comigo. Eu pensei que finalmente alguém iria vir ao meu andar, mas isso não aconteceu. Eu pensei que esses seres seriam iguais a mim, mas eles são frágeis. Foi a primeira vez que eu vi uma raça depender tanto de armas e do sistema, mas mesmo com esses fatos eles terminaram o 69º andar.

Eu já não ligava mais para a torre, meu propósito ou qualquer outra coisa tediosa. Pensei que ia ficar isolado para sempre, mas um dia ela apareceu, caindo do céu. Eu sabia que ela não ia sobreviver, então criei um prédio para amortecer sua queda. Sua queda foi de apenas 50 metros, e mesmo assim isso a afetou. Quando me aproximei, era uma mulher. Ela parecia ser nova, usava uma armadura desgastada, tinha um cabelo castanho, curto, e olhos azuis. Ela parece do mesmo tamanho que eu.

A garota já estava desacordada há uns 5 minutos. Ela provavelmente acordaria em pouco tempo. Eu me perguntei o que aconteceu para ela vir para esse andar. Duvido que veio da forma convencional, mas quem liga! Finalmente posso conversar com alguém. Oh! Ela está acordando. Ok, seja simpático, a educação é a base de um vínculo social.

Ela está olhando para mim. Ok, vou me aproximar. Por que ela tá fazendo essa cara? Está assustada com algo? Não importa! Seja gentil. - Você está bem? Você caiu do céu do nada e me deu um baita susto.

Após conversar com ela, parece que entendi tudo. Ela veio por um atalho fantasma. Falei para ela que em um mês ela poderia ir embora, já que era tempo suficiente para eu criar uma pedra de teleporte, mas na verdade eu posso criar uma pedra agora. Mas eu não quero perder a chance de ser amigo dela. Mas será que estou fazendo o certo? Quando eu via outras pessoas nos outros andares e tinha uma pessoa que mentia, elas sempre ficavam chateadas. Mas está tudo bem, não tem como ela descobrir.

Antes, ela perguntou meu nome. Eu tenho um, mas não gosto dele. Kachisabi é um nome bem merda.

Kachisabi, momentaneamente perdido em seus pensamentos, se recupera e olha para Ninsun. Ela parecia preocupada e assustada, com uma expressão de desespero no rosto. Kachisabi pensou que era pela altura do prédio, mas logo ela afirmou que seu coração não estava batendo. Kachisabi deu uma pequena risada, como se estivesse tentando aliviar a tensão.

Ninsun olhou para ele sem entender e perguntou se ele sabia o motivo. Sua voz tremia de medo e incerteza.

- Claro que seu coração não está batendo, um espírito não precisa disso.

Kachisabi se vira e aponta para onde Ninsun estava deitada, e quando ela se vira, ela pode ver o seu próprio corpo sem vida. O corpo estava imóvel, com os olhos fechados, como se estivesse dormindo. Mas Ninsun sabia que não era assim.

- Que porra é essa?!

Ninsun estava totalmente incrédula e assustada ao ver seu corpo, como isso poderia ter acontecido? Ela morreu em que momento? Sua mente estava perturbada, e ela não conseguia pensar com clareza.

Kachisabi percebe que ela não está bem. Ele se aproxima dela e tenta acalmá-la.

- Relaxa, você não tá morta de verdade.

Ninsun fica ainda mais confusa, ela não se sente nem um pouco aliviada com as palavras de Kachisabi. Ela olha para ele com desespero, procurando respostas.

- Como não tô morta? Meu corpo tá bem ali, caralho!

- Calma, Ninsun. Quando se entra num atalho fantasma, você é meio que considerado parte dele.

Ninsun franze a testa, tentando entender o que Kachisabi está dizendo.

- Parte do atalho?! Você disse que a torre conserta os atalhos fantasmas. Seguindo essa lógica, então eles são erros que não deveriam existir, certo?

Kachisabi assente com a cabeça, como se estivesse confirmado o que Ninsun disse.

- Bem... sim.

Ninsun começa a se sentir cada vez mais ansiosa, como se estivesse presa em uma armadilha.

- Porra... então quer dizer que a torre vai me apagar?

Kachisabi tenta acalmá-la novamente.

- Espera, Ninsun. Você tá precipitando as coisas. Você não vai ser apagada.

Ninsun olha para ele com desconfiança, como se não acreditasse no que ele estava dizendo.

- Não? Mas você disse que a torre ia consertar o atalho.

Kachisabi suspira, como se estivesse tentando explicar algo complicado.

- Sim, por isso mesmo. Nesse momento, ela tá analisando. Ela vai perceber que você não faz parte dele.

Ninsun começa a se sentir cada vez mais confusa, como se estivesse perdida em um labirinto.

- Então quer dizer que eu vou voltar pro meu corpo?

Kachisabi hesita por um momento antes de responder.

- Bem... sim, mas isso tem que ser manualmente.

Ninsun começa a se sentir cada vez mais frustrada, como se estivesse presa em uma situação sem saída.

- Porra, que burocracia do caralho! Quando penso que tá resolvido, tem mais coisa. Explica isso aí.

Kachisabi tenta explicar novamente, mas Ninsun está cada vez mais impaciente.

- Você agora está na sua forma original, ou seja, sua alma. Uma alma não pode voltar pro seu corpo depois de morto, mas essa regra não se aplica na torre.

Ninsun olha para ele com desespero, como se estivesse procurando uma saída.

- Então eu posso ou não posso voltar? E meu corpo? E se ele apodrecer?

Kachisabi tenta acalmá-la novamente, mas Ninsun está cada vez mais ansiosa.

- Calma aí, haha. São muitas perguntas. Eu não posso contar muita coisa, por isso você vai ter que confiar em mim. Em um mês ou menos, você estará melhor que antes. Pode confiar.

Kachisabi afirma com confiança que daria tudo certo, seu olhar brilha com uma certeza que parece inabalável. Mesmo Ninsun vendo esse brilho, ela estava preocupada, uma sensação de insegurança que não conseguia sacudir. Ela queria, pelo menos, relaxar sua mente, encontrar um pouco de paz em meio àquele caos. Mas seria impossível nesse lugar, onde a ansiedade e o medo pareciam impregnados no ar.

Além disso, outra coisa a incomodava, uma sensação que não conseguia ignorar. Ela não tinha total certeza, mas instintivamente algo na sua mente dizia: "Ele está mentindo". A ideia surgiu tão rápido e inesperadamente quanto um raio. Ninsun tentou afastá-la, convencer-se de que estava sendo paranoica, mas a sensação persistia, como uma voz sussurrando em sua mente.

Ela olhou para Kachisabi, tentando ler sua expressão. Ele parecia sincero, mas Ninsun não conseguia sacudir a sensação de que havia algo escondido por trás de suas palavras. Ela sentiu um arrepio na espinha, como se estivesse caminhando sobre gelo fino. Qual era a verdade? O que Kachisabi estava escondendo? Ninsun sabia que precisava descobrir, antes que fosse tarde demais.